Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan
Notas iniciais do capítulo
Agradecendo a fidelidade dos leitores e os reviews!
Pessoal, pode ficar descansado porque ainda estamos beeeeeem longe de terminarmos de postar.
Apotecário.
A jovenzinha mais nova bebeu a caneca de suco de melão com vontade. Devorou o pão recheado em segundos e arrotou timidamente dentro de sua jaula no espaço vazio que antes ocupava o Apotecário Real de Undercity. Por ordens da Rainha Banshee, todas as atividades foram para a terra desconhecida de Northrend, separando o time de cientistas em Nova Agamand e Venomspite.
- Quer mais? – perguntou Sorena com a voz funda e um leve sotaque familiar.
- Na-não, tou bem aqui chefia, pegar comida só de noite... – limpando a boca. – Escuta... Precisa me pagar não, só me livra dessa prisão e tamos quites...
- Irei, mas ainda preciso dos seus serviços... – a cara da prisioneira foi de desconfiança. – Fique tranqüila, ninguém vai saber que foi você.
- É isso que uma ladina sempre espera, chefia... – tomando o resto do suco e colocando as coisas na devida ordem e entregando a elfa sombria com máscara de madeira no rosto.
- Eu necessito muito daquele bastão... É muito valioso para meus planos e...
- Olha chefia, não quero ser mala, mas essa coisa de roubar bastão mágico da Rainha Morta-viva ali dá medo sacas? Você chegou a ver o que ela fez ali na Ponte? Ela botou o céu pra cair em cima do bichão que atrapalhava a galera! – e cruzando os braços. – Eu não quero me meter com esse povo aí. Vai que me transforma em sapo...
- Sylvanas faria coisas piores antes de te dar esse fim... – a ladina olhou bem para a elfa.
- Chefia... – ela começou mostrando os grilhões pesados nos pulsos e tornozelos. – Me soltar daqui é moleza. Até eu consigo fazer isso sozinha. Mas caramba! Já viu as coisas estacionadas aí fora? E a quantidade de guardas?
- Você é uma ladina experiente, criança. Já provou uma vez.
- É, sim claro! E o cara com escudo acertou em cheio na minha cabeça. Isso dói sacas? – a elfa esbravejou impaciente e se afastou. – Chefia, você tá bem? – a prisioneira estranhou pela elfa se contorcer tanto e falar sozinha no salão vazio. – Chefia...? Dá pra falar baixo por que alguém pode...? – uma bola de energia negra circulou a elfa e a fez gritar em uma voz muito diferente. – Por mil macacos mancos taxidermistas!! – a prisioneira gritou quando uma aura se despejou da boca da elfa e seu corpo foi elevado do chão. Uma aparição translúcida deslizou do chão e recitou uma canção baixa e triste. O corpo da elfa foi encolhendo até uma posição fetal. Quando a canção já terminava, alguém se prontificou a recolher a elfa indefesa do círculo de magia. – Mas o quê...?! – a prisioneira remexeu seus grilhões em desespero. Sabia muito bem com o que eles estavam mexendo. Com a Morte, com a Parada do Tempo. Tirou seu canivete multi-uso e abriu os grilhões das mãos e depois dos pés. Quando foi abrir a jaula, dedos finos quase furaram sua bochecha.
- Olhe só quem eu encontrei... – disse uma voz que fazia suas pernas tremerem todas as noites desde que saíra de Howling Fjord. – A pequena Lady Annie...
- Eeerrr... Oi aí Mistress Carrie... Como vai indo? Quanto tempo né? – a meio-elfa foi se afastando e fechando os grilhões em seus pulsos e tornozelos, sentando quietinha no chão e escondendo seu canivete. A nerubiana a encarava maléficamente, de cima abaixo e com um gesto rápido de suas quelíceras, ela tomou o canivete escondido, assim como quebrara a corrente que unia os pulsos.
- Saudades de você também, Annie... – e puxando uma das correntes para si, pegou a garota pelas pernas com as quelíceras disfarçadas debaixo da saia. – Não sabe o quanto eu senti falta...
- Mesmo?! – a ladina engolia em seco e tentava ver o que acontecia ali atrás da jaula. Alguém segurava a elfa no colo e a levava para longe através da ponte de ligação do Apotecário para o outro lado dos esgotos. – E-eu não sabia que... que... aaaaaiiii, calminha aí Mistress...! – o par de quelíceras fechava ameaçadoramente em volta de uma das pernas da garota. – Vamos conversar!
- Diga logo que pacto fez com Sylvos Windrunner e eu te deixo só do joelho pra cima...
- O quê?! – a garota gritou tremendo o queixo e sentindo a dor pungente do rasgo feito pelos “dentes” da aracnídea. – Gaaaaaah!!
- O que combinou com Sylvos Windrunner? Desembucha!! – a garota meio-elfa gritava de dor e aflição, sentia a carne de seu fêmur sendo raspada.
- E-eu não sei quem é esse cara!!
- Resposta errada!! – o rasgo desceu para o joelho e fez a prisioneira se segurar bem nos ombros da nerubiana, tentando se livrar do aperto. Uma das mãos de Mistress Carrie enganchou em volta de seu pescoço. – Diga-me o que ele planejava e eu não considero a sua pessoa estripada ao meio... – a garota pegou fôlego e tentou aplacar a dor na perna respirando fundo. Ofegante e com lágrimas nos olhos, ela confessou.
- Ele queria um bastão mágico! Ele queria um bastão mágico! Pelamordedeos ele queria um maldito bastão mágico!
- E qual era esse bastão mágico? – pressionando as unhas no pescoço da garota.
- Era o bastão da Rainha Morta-viva!!
- Dama Sombria, seja gentil com Vossa Majestade... – fazendo carinho no rosto afogueado e torcido em sofrimento da ladina. – E o que mais ele queria?
- E-ele não me falou nada! Só me deu as instruções de como entrar aqui e pegar o bastão!! – exclamando alto quando o par de quelíceras desprendeu de sua perna. Mistress Carrie a colocou calmamente no chão e limpou seu rosto com um lencinho de renda que guardava em sua bolsa de mão.
- E estamos vendo o quanto foi bem-sucedida...
- O desgraçado não me informou que estavam sob ataque!! – se contorcendo no chão e segurando a perna ferida.
- Quanto ele te pagou dessa vez?
- 300 moedas de ouro...
- E você aceitou sem pestanejar...?
- Eram 300 moedas de ouro, poxa vida! – resmungou a meio-elfa. – Eu faria qualquer coisa por 300 peças de ouro!
- Eu sei que você faria qualquer coisa por algumas moedas de ouro, milady Annie... - murmurou a nerubiana bem perto do rosto da garota no chão.
- Vai se ferrar! - ela exprimiu a dor e se inclinou para verificar o ferimento. – Você acabou com a minha perna!! – gritando de horror e depois socando o chão. – Eu juro por tudo que é divino nesse maldito mundo que se eu não conseguir mais andar, eu volto no tempo e piso nos malditos ovos que sua mãe de chocadeira te expeliu!! – uma grossa tira de tecido sedoso foi enrolado em volta da boca de Lady Annie e sem ela poder falar, se encolheu para não se aproximar demais da nerubiana que chegava perto.
- Eu sei que você pode fazer isso, minha escrava particular... – e se abaixando um pouco em seu abdômen coberto por um fino vestido preto e vitoriano, a aracnídea cortou o pedaço da calça que Lady Annie usava e tapou o ferimento com uma outra tira grossa de tecido especial. A dor na perna foi apaziguando quase que imediatamente e Annie sentiu-se anestesiada aos poucos, seus olhos de uma cor de cobre girando devagar nas órbitas e sendo aconchegada por uma rede de fio feito na hora por Mistress Carrie, a enrolou como um pacote humano e a pendurou no teto da jaula. Com a maestria dos Nerubianos, ela montou uma teia tão grande em volta da jaula que Lady Annie jamais iria conseguir fugir dali. – Minha pequenina escrava fujona... – alisando os cabelos acobreados da jovenzinha. – Agora vai me dizer realmente o que aconteceu? – esticando suas mãos finas para o rosto desacordado da prisioneira e acariciando suas pálpebras com movimentos circulares.
Sorena se debatia freneticamente em uma convulsão. Quem a segurava foi obrigado a colocá-la no chão e lidar com a situação.
- Não temos tempo. Faça agora! – a figura etérea de Aelthalyste passou pela parede e se moldou ao corpo convulso de Sorena. Logo a Clériga-mor do Culto das Sombras Esquecidas gritou esganiçadamente e se abandonou a hospedeira. – O que houve?
- Fogo!! Fogo e chamas!! – a banshee gritava histéricamente. Sylvanas tomou a cabeça de sua sobrinha nas mãos e fechou os olhos.
- Isso vai doer mais em mim do que em você, acredite.
Undercity anos atrás.
Um corpo decrépito se debatia dentro de um esquife de mármore. Esmurrava o tampo, tentava gritar, mas sua garganta estava cheia de coisas rastejantes, baratas talvez. Sentia falta de suas funções corporais, o coração batendo, os pulmões chiando, mas seu estômago roncava. Roncava tanto que se apoderara de seu cérebro e de sua vontade. Queria comer, algo vivo e quente e cheio de vida e drenar cada gota de sangue e rasgar pele, carne e ossos com os dentes, queria tanto que fosse Serenath debaixo de seus dentes. Um grito finalmente saiu e ele teve a impressão que algo ali não funcionava mesmo. Era sua mandíbula.
- Acorde, Sylvos. Não temos todo o tempo do mundo. – disse alguém familiar tirando o tampo do esquife. Suspirou sem ar em alivio, era sua irmã-gêmea.
- Sylvanas... – ele levantou do lugar e a abraçou com força. – E-eu tive um sonho ruim...! – dezenas de carcaças ali prenderam a atenção na cena dos irmãos abraçados. A agora Rainha dos Abandonados afastou o irmão com rudeza e se colocou na frente dele.
- Bem-vindo a Undercity, Sylvos. – ela anunciou mostrando o salão vazio de um lugar que possivelmente seria a Sala do Trono no futuro. – Nosso futuro lar será esse... – alguém perto dele e ajeitou uma mandíbula de ferro, costurando em sua estrutura óssea do rosto e encaixando perfeitamente.
- Fale um pouco Sylvos... – perguntou o cadavérico Franklyn Lloyd com um olho implantado, seu mestre em mecânica que o ajudava em sua oficina em Tranquillien.
- O que está acontecendo...? – ele perguntou abismado com o lugar onde estavam. – Onde estamos?
- Ruínas de Lordaeron. – disse Sylvanas dando algo familiar ao irmão. O anel com o brasão da família. – A guerra lá em cima acabou por enquanto... – ela disse com um brilho feroz no olhar. – Mas aqui vamos nos estabelecer como nação, como Abandonados. – Sylvos se colocou de pé e sentiu os ossos das juntas rangerem. A sensação era horrível.
- Quanto tempo eu fiquei fora?
- Alguns meses...
- E fui aonde? – a pergunta fez Sylvanas levantar uma sobrancelha para ele.
- Monastério Escarlate e... nossa casa...?
- Oh, sim... – ele se lembrou subitamente e com um estalo na mandíbula, ele tentou correr, mas Sylvanas o parou no mesmo instante.
- Não há como voltar, Sylvos.
- Serenath!! – ele murmurou sentindo a força que Sylvanas o segurava. – Ela está...? Está...? – olhando ao redor e tentando identificar algum rosto conhecido. Todos ali na sala estavam mortos. Sem exceção.
- Ela fugiu... Eu a fiz escapar antes que... – o irmão a olhou com desconfiança. – A Praga invadiu nossa casa, mamãe e Lirath... Papai quis colocar fogo em você...
- Não... Não... – ele murmurava perdendo a força nas pernas.
- Sylvos, eu preciso que você entenda. Meses passaram desde a última vez que nos encontramos... Muitas coisas mudaram e... – agora o irmão-gêmeo chorava baixinho, apertando o anel da família bem perto de onde era seu coração. O braço era de outra pessoa, remendado as pressas durante a viagem para Lordaeron. – Não podemos mais ser o que éramos, entendido? Sylvos... Por favor não chore...
- Minha Serenath, minha Myrtae...
- Elas estão seguras. Me encarreguei disso pessoalmente... – e encarando o anel em suas mãos, ele não conseguiu mais se reconhecer.
- Pela Luz do Sol, Sylvanas... No que nos transformaram...?
- Éramos mortos sem livre-arbítrio, caro irmão... Agora somos os Abandonados. E nossa meta é nos vingar daqueles que fizeram isso conosco...
- Vingança... – repetiu Sylvos ainda não acreditando no mundo em que acordara. – Eu quero vingança...
- E teremos, mas tudo a seu tempo... – Sylvanas sussurrou em seu ouvido e o beijou no rosto costurado.
- Eu quero a minha filha, Sylvanas... Quero saber o que houve com Myrtae... – a Rainha Banshee colocou o anel no dedo do irmão.
- Tudo a seu tempo, Mestre Derris...
- O quê me chamou?! – ele se virou ofendido.
- Não podemos mais nos chamar pelos nomes de batismo. Eu o nomeio de Mestre Derris, Chefe do Apotecário Real...
- E como eu devo chamar você agora? – ele disse com um sorrisinho fingido. – Arthas Menethil? – Sylvanas sorriu de volta com ferocidade.
- A Rainha Banshee. Ou como muitos estão dizendo: “A Dama Sombria dos Abandonados.”
- Poético.
- Você nunca gostou de livros, caro Derris... – o gêmeo entrou no jogo de palavras.
- E nem Vossa Majestade...
Em Brill dias atuais.
- Mas que maldição... Por que isso acontece? – Immie cochichava com um cavalo esquelético. – Toda vez que ele faz algo bobo, eu acho fofo! Isso é ridículo! Eu sempre detestei essas coisas!! – o cavalo relinchou concordando. – Olha só pra ele! Tão humano e... Pela Luz, era da Aliança! – Oxkhar estava na competição de pegar maçãs no balde. Seu rosto estava totalmente molhado com água das tinas de maçãs flutuantes. As crianças de Orgrimmar ganhavam a disputa.
- O campeão não é de nada!! – um menininho ralhou.
- Heeeey!! – o rapaz pegou o menino provocador no colo e o girou devagar. – Você que tem estômago de ferro!!
- Lok’Thar, companheiro! – exclamou o menino fazendo um gesto de reverência ao ser colocado no chão.
- Ai pela Dama Sombria... – Immie abaixou a cabeça sentindo todo seu corpo amolecendo aos poucos. Estava imaginando sobre sua possível maternidade em algum dia no futuro casamento. – Ele está transformando o meu cérebro em pudim de ameixa!! Não posso deixar isso acontecer! E como farei se isso piorar e afetar minhas prioridades?! – se levantando cheia de orgulho próprio e vaidade. Caminhou em passos resolutos em direção a ele. – Oxkhar, eu preciso falar com você... – uma menininha orc órfã estava no chão, joelho ralado, chorando copiosamente.
- Calma mocinha... A dor vai passar... – dizia Oxkhar.
- Oxkhar...? – o rapaz segurou a menina no colo para confortá-la.
- Immie pode me ajudar nessa? – o humano fez uma careta cômica. – Perdi os meus poderes desde que saí da Ordem. Eu só posso dar um esparadrapo, mas não aliviar a dor...
- Ahn? Ah!! – a clériga se abaixou e viu o ferimento. – Olá mocinha bonita... – disse com um sorriso gentil.
- Ta doendo tia clériga... – a menina disse chorosa. Immie ativou seu poder de cura nas mãos e passou-as de leve no joelho ralado.
- Logo irá passar... Quem ganhou a competição? – perguntou Immie para a menina se distrair da dor.
- Kratos ali... – a machucada apontou para o garoto orc com um moicano esverdeado na cabeça.
- Está melhorando? – a menininha fungou e concordou. Oxkhar a balançava no colo para que ela se sentisse calma.
- O que você gostaria de falar comigo, Mi? –a menininha abraçou Oxkhar com ternura. Imladris abriu a boca para introduzir o assunto da separação.
- Queria que você fosse meu papai, tio Ox Campeão de Orgrimmar... – o coração de Immie se contorceu de dó. Ox sorria para a menina.
- Bem... Seu papai eu não posso ser. Mas posso te ajudar a crescer enquanto eu estiver em Org... Se a matrona deixar, posso te ensinar umas coisas, sabe? Ler, escrever e caçar...
- Eu quero muito sim, tio Ox! – Imladris suspirou alto e todas as imagens que afastara de sua mente minutos atrás voltaram com uma intensidade anormal. Imaginava Oxkhar com filhos imaginários, dois meninos com nome de Ding e Grats, uma casinha em Tirisfal Glades, o calor do abraço de Ox todas as noites quando fossem dormir juntos, na mesma cama e...
- Immie, você está bem? – perguntou ele ninando a menina que já pestanejava de sono. – O que queria falar? – a clériga suspirou novamente, mas cansada de batalhar contra algo que estava já estampado em sua testa. Inclinou-se devagar e beijou Ox com carinho.
- Eu ia dizer o quanto eu te amo... – remarcando as últimas palavras com beijinhos.
- Como é que você adivinhou o que eu tava pensando...?
Ruínas de Lordaeron.
Um casal se afastava um do outro com gestos bruscos. O mais alto, cabelos vermelhos e portando um uniforme diferente em verde escuro e amarelo tentou pegar a mão da esposa.
- Me deixe ir!
- Por que essa cisma com os mortos-vivos?! – reclamou Vigia Lethvalin em tom agressivo, Kalindorane se livrou do puxão.
- Eles eram nossos compatriotas! Nossas famílias, lembra? Perderam a vida para nos defender. Muitos de nossos irmãos estão lá dentro!
- Você ainda acredita nessa bobagem? Que eles irão gostar de nós mesmo assim?
- Tive a certeza ontem... – ela ajeitou a mochila de viagem nas costas e continuou caminhando para dentro da imensa construção entrada para os elevadores da cidade dos Abandonados.
- Ela pode ser a nossa ex-líder, mas não quer dizer que continue nos adorando. – Kali virou-se imediatamente e o olhou bem.
- Um líder não se torna líder por gostar de seus súditos... Se torna líder por sua capacidade de manter a ordem, a paz e o progresso.
- Vou convencer chefe Halduron a te tirar dessa missão estúpida! – ele gritou para ser ouvido, mas Kali já havia entrado no segundo pavimento onde jazia o túmulo do Rei Terenas. Pegou o elevador com segurança e respirou fundo para essa nova vida que decidira ter. A carta dentro de seu bolso da jaqueta mostrava o quanto a Rainha Banshee se importava com os Farstriders. O quanto queria proteger Silvermoon e não deixar mais nada de mal acontecesse aos Elfos-do-sangue. Ao atravessar em passos largos e rápidos pelo Trade Quarter e subir as escadas para a ponte, ela se sentiu como a Arqueira mais privilegiada de Azeroth. Ela seria a nova representante dos Farstriders em Undercity.
Cubículo quarto de Imladris – War Quarter.
A clériga abriu a porta cantarolando uma música e rindo por Oxkhar se mostrar todo importante e imponente com sua fantasia de pirata fajuto na frente do grupo de Farstriders lá em cima, mas ao ver Aelthalyste tentando possuir o corpo de Sorena, ela deu um grito de assombro. Uma mão fria e esverdeada tapou sua boca com delicadeza e falou ao seu ouvido.
- Derris está aqui. – disse Sylvanas Windrunner apenas, soltando a clériga devagar e esperando ela retomar o controle.
- M-mas... O que está...? – e lembrando-se das maneiras, reverenciou a Rainha com respeito. – Uma boa noite Vossa Majestade... As festividades do Hallow’s End foram um sucesso... – tentando arrumar a bagunça em seu quarto e jogando livros dentro do closet ou enfiando por debaixo da cama. Depois foi a sua Mestra em transe repousando de tanto e tantos instantes no corpo trêmulo de Sorena Atwood. – O que houve? – colocando a mão livre na testa da amiga.
- A presença de Derris está incorporada nela há horas. Não quer deixá-la voltar. – Imladris fez menção de purificar a aura de Sorena, mas Sylvanas chiou em reprovação.
- Já tentamos. Não funcionou. – disse apenas. A Rainha estava atrás da porta, braços cruzados e roupa muito bem arrumada. Imladris não pode se mover por alguns segundos ao vislumbrar como a banshee se vestira exatamente do mesmo jeito que um dia a salvou na Cicatriz Letal quando era pequena.
- Estou tentando expulsá-lo com possessões intrusivas...
- Pode acabar com ela, Mestra... Pela Luz... – acariciando a testa cheia de suor de Sorena. – A alma dela pode nem estar mais ao alcance... – Sylvanas soltou um chiado irritado.
- Maldito...
- Por que Mestre Derris faria isso...? Ele sabia dos riscos de possuir o corpo de alguém que ainda possui alma... – a Rainha desviou o olhar para uma estante. – Ainda mais a Sorena que é sensível a essas manifestações... – pegando as mãos da mais nova e testando algumas magias de cura.
- Dama Sombria... – Aelthalyste levitou até perto de Sylvanas. – Precisamos fazer algo antes que...
- Se ele ousar fazer o que eu estou pensando... – ela confessou em um sussurro bravo. – Chame Cyssa. – Aelthalyste passou pela parede e deixou Imladris com a Rainha. Um silêncio desconfortável pairou sobre o cubículo. A clériga praguejava para si mesma pela bagunça que deixara, por sua roupa estar ainda cheia de fiapos brancos por culpa da roupa ridícula de Ox.
- Embaixador Thristan veio com nossa comitiva...
- Eu já o esperava. – respondeu Sylvanas para dentro. E com um suspiro impaciente, ela abriu a porta. – Chame o seu paladino. Ele que vai resolver isso e não Cyssa. – Imladris sentiu como se uma corda invisível houvesse pressionado sua garganta e sua habilidade de falar fora extirpada de seu ser.
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