Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 12
Capítulo 12




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Vilarejo de Fairbreeze.

Ela estava caída no chão, como doía quando acordava na realidade, mas desta vez não. Sabia muito bem quem era, sabia muito bem do que ela era capaz para conseguir o que queria... Seu pai havia avisado sobre a miséria da família e sair para caçar um tesouro escondido entre o povo élfico do leste seria arriscado demais. Como era difícil se conter, como era difícil deixar que as emoções tomassem conta de seu coração e mente... Sabia que teria que acordar logo, deveria atender o chamado de alguém que ouvia bem longe.

 - Será que ela tá viva?

 - Claro que sim, está respirando...

 - Já vi um do Flagelo fingindo que estava vivo para nos atacar...

 - Flagelo não entraria aqui sem levar uma flecha no meio do olho...

 - Aliás, essa coisa estranha que você carrega aí pra todo lado é um deles...

 - Mentira! Ele é diferente! Tem personalidade!

 - Vamos! Parem de brigar, vai incomodar a paciente... – uma mulher alta e silenciosa em seus movimentos enxotou os meninos que discutiam sobre a natureza da desconhecida. Trouxe uma bacia reluzente com água quente e remédios em frascos. Ela despejou alguns dentro da água e esperou o vapor tomar conta do ar. Sorena estava entretida em mais uma de suas visões do passado, sua mente recapitulava cada passo dado, cada palavra dita e às vezes memórias se digladiavam para continuarem permanentes, algumas nem eram memórias, mas ilusões, outras eram pertencentes a outros. Seus olhos se tornavam estranhamente cinzentos nessa hora e fixados em algum lugar, como se a vida ali fora não significasse nada para ela. – Como estamos hoje, jovenzinha? – perguntou a clériga amarrando ungüentos nos pulsos da jovem e friccionando. Isso pareceu ter efeito no espírito de Sorena, que piscou várias vezes e se mexeu na cama como se estivesse acabando de acordar de um sono ruim. – Vamos... Respire um pouco, vai fazer bem... Eriol, me ajude aqui... – pediu ela para o jovem desengonçado. Ele pegou a bacia de água quente e colocou no chão perto do corpo da elfa semi-consciente.

 - M-muita luz... – resmungou Sorena cobrindo os olhos.

 - E desde quando Sol é ruim? Vivemos e respeitamo-lo por várias gerações... – a elfa abria as cortinas do terceiro andar do edifício espiralado dos Elfos do Sangue na Floresta Eversong.

 - Tia Artemísia, ela não é daqui...

 - Eu soube... – esfregando o ungüento no braço direito de Sorena e subindo até o ombro. – Não é sujeira...? – disse ao mirar o braço e o pano úmido. As tatuagens estavam contrastantes com a pele morena de Sorena. Uma delas chamou atenção da clériga Artemísia.

 - São tatuagens... Kalí as viu, achou que era feitiçaria... Há nomes de coisas e números em vários lugares... – indicando o outro braço. – Há mais no outro e acima dos... dos... ahn... – tentando se expressar. – No busto...

 - Como sabe disso, jovem Eriol? – perguntou a clériga com um tom intimidador na voz, ele se encolheu e olhou para o chão envergonhado.

 - Já disse... Kalí a revistou e viu as tatuagens... Parece que foram feitas por ela mesma...

 - Sim, foram... – concluiu a clériga verificando o outro braço e abaixando um pouco a colcha de dormir de tecido liso e aconchegante. – Interessante... – na parte acima dos seios havia palavras em língua comum dos humanos: "Serenath & Sylvos meus pais."

 - Ox ficou comigo também...

 - Ox?

 - É o Dragon Hawk... Mas ele está mortinho... Foi reanimado com a magia dela, acho eu...

 - Interessante... – respondeu a clériga lançando uma magia de cura.

 - Por que ela estava em Tranquillien...?

 - Vai ver que era para descansar...

 - Não é um lugar bom para tirar um cochilo, pode ter certeza...

 - E você desobedeceu Kalí novamente se aventurando em lugares proibidos, não? – a magia de cura não fazia efeito sobre o corpo da jovem na cama. – Interessante... – Eriol quis exclamar algum palavrão, odiava quando a clériga Artemísia começava com seus "interessantes" por aí. – O jeito é deixá-la em repouso... e esperar até ela falar novamente...


Uma jovem elfa arqueira observava a entrada e saída da Casa de Cura da Clériga Artemísia, o movimento no pequeno quarto de hóspedes acima da varanda era nulo, silêncio se espalhava nos dois pavimentos acima. Entrou sem ser percebida no quarto maior (Apesar de estar com o braço direito quebrado) e encontrou a visitante desconhecida limpando suas mãos na bacia. Marcas de grandes unhas estavam em parte do nariz e o olho esquerdo estava coberto por ataduras. Por um instante, Kalí se conteve, observou a necromante misteriosa ir até a janelinha e soltar um chiado de apreciação. Estava trêmula e visivelmente sofrendo fisicamente, mas se manteve na janela observando o Sol alto do final da tarde na Floresta Eversong.

 - Será que estou no Paraíso...? - disse a desconhecida sem pressa alguma em tirar suas ataduras do olho machucado.

 - Acordou então? – perguntou Kalí entrando no quarto com receio. – Temia que morresse antes de fazer minhas perguntas.

 - Ahn... Perguntas...? - disse debilmente. – Eu que deveria começar as minhas... Estou no Paraíso? Morri e caí neste lugar maravilhoso?

 - V-você está em... na Floresta Eversong... Mas não respondeu a minha pergunta! O que fazia em Tranquillien, estrangeira? – disse Kalí impaciente.

 - Era esse o nome do vilarejo?

 - Qualquer elfo sabe disso!

 - Eu não sou qualquer elfo... E para sua informação, eu estava passeando...

 - Passeando?! – e depois rindo com sarcasmo. – Ninguém passeia por Tranquillien... A não ser os mortos-vivos do Flagelo!

 - Hey, não precisa ficar brava... Falo com toda sinceridade de meu coração: Não faço a mínima idéia de como cheguei até lá. Apenas me lembro de desmaiar em Undercity e de repente sentir muita dor naquela casa.

 - Era a casa dos Windrunner, nossos mais valorosos heróis...

 - Mesmo?! – a elfa feiticeira foi até ela e segurou sua mão com carinho. – Era lá a casa de Sylvanas? – Kalí concordou com receio, o aperto em sua mão foi afrouxando, viu que os olhos da elfa giraram nas órbitas, segurou-a com o braço bom antes de cair em outro desmaio. Colocou-a sentada na cama, Sorena abriu os olhos novamente e descansou as mãos machucadas em seu colo, uma camisola de dormir de cor tangerina estava a cobrindo por inteiro. Nunca vestira algo tão leve e sedoso na vida. – Consegui encontrar o lar de meus ancestrais? Isso é bom... – riu ela sem forças. Tossiu logo após, Kalí se afastou por precaução. – Acha que estou com o Flagelo? – zombando da cara da elfa mais velha. – Minha devoção é com a Rainha dos Abandonados... – mostrando uma marca no ombro esquerdo perto do coração. – Mas meu coração repousa aqui, acho eu...

 - Você é... um daqueles mortos-vivos... Abandonados?

 - Não, não! Não morri... Ainda... – sorriu para o chão. – Vai demorar um bocado... Você sabia que os kaldorei podem chegar a mais de 300 anos? Conheci um xamã que tinha mais de 10 mil anos... – comentou bobamente.

 - Por que está aqui? Qual é a sua missão? – Sorena abanou as mãos como se quisesse afastar a pergunta de perto. – Qual é seu nome? Quem é você?

 - Calma, calminha... Calma... – pediu ela com cara de sono. – E fale mais devagar... O Thalassiano que aprendi era muito vago... Você perguntou...?

 - P-por que você está aqui? – Sorena pensou um pouco antes de responder.

 - Ahn... Acho que... Minha Rainha, Sylvanas, você sabe... Quis que eu visse alguma coisa... Na verdade ela me fez ver muita coisa... Hey... banshees não tem o poder de possuírem os corpos dos mortais? Aiai... – reclamou ela caindo devagar na cama fofa e massageando as costas. – Deve ter sido isso...

 - Isso o quê?!

 - Eu não sabia como chegar aqui... Acho que ela me possuiu e me trouxe... Belo modo de mostrar seu afeto fraternal... – se encolhendo na cama e grunhindo. Kalí reagiu indo para as escadas, chamou a clériga Artemísia. – Um teletransporte, um túnel de ida, um buraco retrátil, qualquer coisa! Um zepelim de gnomo maluco, agora possessão...? Muito grata minha Senhora...

 - Oh, você acordou finalmente? E o que faz aqui Kalí? – a elfa arqueira não soube responder. – Onde é a dor, menina? – Sorena se contorcia na cama e resmungava palavras de poder. – Esqueça criança! Tentei magia de cura em você e de nada adiantou.

 - Eu funciono ao contrário! – exclamou Sorena se debatendo, Kalí ficara incomodada com o sofrimento da elfa mais nova.

 - Por favor, deixe-me acabar com o sofrimento dela...? – pediu Kalí sarcasticamente pegando sua espada curta da cintura. Artemísia a olhou irritada e foi acudir a enferma.

 - Deixe-me, deixe-me! Eu me curo sozinha, eu me viro sozinha!

 - Criança! Deixe-me ajudá-la!

 - Deixe-me!! – gritou Sorena com os olhos avermelhados. E grunhiu de dor até o efeito de uma das palavras de poder acabar. Vapor escapava de sua pele e gotas de sangue pingavam de seu nariz.

 - Pelo Sol que nos ilumina, o que foi isso...? – perguntou Kalí com os olhos arregalados de terror.

 - Magias de cura não funcionam mais com ela... – concluiu Artemísia com lágrimas nos olhos... – É possível que ela esteja com o Flagelo desenvolvendo em seu corpo... – Sorena tinha ainda os olhos avermelhados e limpava o sangue como podia. A luz do Sol que adentrava o quarto a incomodava seriamente. Kalí aprontou a adaga e avançou para ela.

 - O que você trouxe com você, maldito Flagelo do Rei Lich?!

 - Kalí, por favor...! – pediu Artemísia chorando. Sorena se desvencilhou das mãos habilidosas da arqueira e se escondeu em um canto escuro do quarto, suspirando de alívio.

 - Não é o Flagelo, sua tola... – resmungou Sorena para Kalí atenta a qualquer movimento suspeito dela. – É a minha devoção...!

 - Cara clériga, ela trouxe o Mal vindo de Undercity! Deixe-me joga-la além das fronteiras! – o rosto de Kalí estava ruborizado.

 - Retire o que disse!! – gritou Sorena pulando em cima de Kalí e a esganando no chão. As duas estavam engalfinhadas terrivelmente, dois guardas vieram controlar a situação. Artemísia chorava baixinho sentada na cama. – Retire o que disse, sua infiel!! Retire sua ofensa!!

 - Vocês e sua Rainha Invisível!! Escória!! Imundos!! Ainda servem ao poder do Inimigo, mas fingem estar libertos!! – um dos guardas recolheu Kalí do chão, ela massageou o pescoço com vigor. Sorena tapava os olhos pelo Sol vindo da janela.

 - Pelo sacrifício dela é que estamos vivos!! – exclamou nervosamente Artemísia. As duas pararam de vociferar, olhando para a clériga. – Vocês crianças não entendem... Não viram o terror da Segunda Guerra... Digladiam-se como animais selvagens, mas sequer sabem o que passamos aqui!!

 - Minha mãe morreu pelas mãos do Flagelo, clériga Artemísia! Eu sei do que se trata! – protestou Kalí muito ofendida.

 - Sua mãe morreu de desgosto! – silêncio na sala.

 - Alguém, por favor, pode fechar as cortinas...? – pediu uma Sorena encolhida no chão se arrastando para debaixo da cama. Seus pés foram os últimos que todos viram entrar e ali ficou. Estava recebendo mais visões, aquelas alucinações estavam acabando com seus nervos. E o Sol não ajudava com o raciocínio. Deveria dormir um pouco e se esquecer do que realmente era.


 - Arcanista Helion! Olha só! – exclamou Eriol empolgado com a nova troca de penas do Hawk Ox. – Está mudando! Está mudando! – o Arcanista lia um grosso tomo sobre animação artificial, mas tudo era um mistério.

 - Mas como esse bichinho pode sobreviver? Mudar de penas? – Hawk Ox pulava em volta de Eriol e bicava a barra de suas calças. O garoto correu por alguns metros e o animalzinho o perseguiu até tropeçar e ficar estático no chão.

 - O que houve...? Ele morreu? – Eriol foi até ele. – Hey Ox... Levante... – as asinhas do Dragon Hawk se agitaram. – Está vivo! – Helion se aproximou e sentou-se ao lado do corpo miúdo do bicho reanimado. Tirou-o do chão com esforço.

 - Ele pesa... Mais do que um Dragon Hawk de seu tamanho...

 - Estranho... – Helion começou a afastar as penas douradas da asa, depois as avermelhadas da barriga e dorso. Havia um pequeno buraco abaixo da asa esquerda, o Arcanista tocou algo que estava ali dentro e retirou o dedo rapidamente. – O que foi Arcanista?

 - Há algo muito poderoso ali dentro... – e afastando mais as penas, retirou uma redoma de vidro redonda de dentro do peito do pássaro morto. – Uma flor... – e correu para seus livros empilhados em um banco ali perto. – A raríssima "Luz de Elune"...

 - Ahn? Uma flor da deusa Elune?

 - Dizem as lendas que Elune plantou esta flor onde as maiores tragédias haviam acontecido em toda história de nosso universo... Uma das flores foi ofertada a Senhora Azshara, mas ela a levou para o fundo do Mar... Incrível...

 - E o que tem?

 - Menino, se esta flor veio até nós, é porque Elune quer nos dizer alguma coisa...

 - E o que seria...? – o Arcanista deu um cascudo na cabeça do garoto.

 - Como se a Deusa iria deixar um pergaminho com as instruções! Menino tolo...

 - M-mas o senhor sempre me fala que é para eu perguntar quando estou com dúvida...? – Helion escrevia um pergaminho rapidamente sem prestar atenção na agitação de Hawk Ox em cima de sua mesa de estudos.

 - Menino Eriol, leve esta mensagem ao Santuário. Mestre Windrunner irá se interessar por este caso.

 - O botânico Windrunner? – perguntou o menino contrariado. – Ele é meio… o senhor sabe…

 - Apenas vá! Sem demora!

 - E se eu encontrar uma daquelas ervas daninhas raivosas?!

 - Peça para um guarda o acompanhar…

 - Odeio escolta…

 - Quando aprender a se defender, aí sim poderá sair sozinho… - Eriol foi em passos pesados para o Guarda Real que ficava de prontidão ali na frente da estradinha principal para o vilarejo de Fairbreeze. Hawk Ox ficou pulando em cima da mesa, feliz por poder se mover livremente. Arcanista Helion mirava a florzinha lilás dentro da redoma de vidro, ela exalava uma aura igualmente lilás e minúsculas faíscas que saíam de seu centro pareciam como estrelas.


                Kalí saiu da Casa de Cura e se manteve calma por algum instante, depois descontou sua irritação cerrando os punhos com força, até as unhas machucarem as palmas de suas mãos. Respirou lentamente, fitando o Sul, onde Terras Fantasmas se encontravam. Logo sua atenção foi presa naquela criaturinha enérgica que a desconhecida trouxera e que seu irmão mais novo havia adotado como bichinho de estimação. Andou até o Arcanista Helion e teve a surpresa de ver que a criaturinha crocitava balançando as asas como se quisesse falar que alguém se aproximava.

 - Arcanista Helion…

 - Jovem Kalí…

 - Desculpe-me o incomodo, mas estou curiosa quanto os pertences da desconhecida… - disse indicando a Casa de Cura.

 - Igualmente. Os artefatos que ela trouxe são verdadeiros achados!

 - Clériga Artemísia disse-me que ela possa estar carregando o Flagelo em seu corpo.

 - Sim, talvez… Mas é óbvio que Sylvanas a mandou… Consigo sentir a magia dela daqui…

 - E isso não é perigoso?

 - A despeito de que muitos pensam, cara arqueira… Sylvanas Windrunner continua em meu coração como uma valorosa líder e respeitável dama… Não deixaria as aparências influenciarem em minhas opiniões, ainda mais em tempos incertos como estes. Ela infelizmente morreu para nos proteger e poucos se lembram disso… Assim como Alleria e Vereesa…

 - Mas ela é a…

 - Rainha ou não dos condenados mortos-vivos, não me interessa. Todos os tomos que pertenciam aos nossos ancestrais nos vilarejos destruídos pelo Flagelo foram recuperados pelos servidores de Undercity. E muitos voltaram para cá e para seus legítimos donos, ou pelo menos para os túmulos de seus donos… - Ox soltou um barulho absurdamente alto e o seu bico caiu. O bichinho ficou fitando a parte do corpo em cima da mesa e deu um olhar sem órbitas para o Arcanista. – É… acho que terei um longo trabalho com esta invenção dos Abandonados… - pegando o bicho nos braços e andando devagar por causa do peso.

 - Ele está morto! Como pode pesar tanto?

 - Essa é a questão, cara Kalí! – e com a ajuda de um guarda, subiu as escadas para a casa de Cura. Kalí suspirou indignada e foi fazer o que sabia de melhor: Vigiar as fronteiras das Terras Fantasmas.


                Eriol já estava cansado de subir as escadas para o Santuário Sudoeste ali perto, era uma caminhada curta, mas cheia de degraus. O guarda ao seu lado era silencioso e o tilintar de sua armadura nobre fazia o jovem sentir-se pequeno e fraco. Ao chegarem ao final das escadas, o guarda advertiu:

 - Ficarei por perto, jovem Eriol Willfire. Se precisar de ajuda, é só chamar.

 - S-sim senhor… - respondeu ele temeroso pelo tamanho do escudo do guarda. Foi em direção ao Santuário. – Como gostaria de voltar a morar em Silvermoon… Lá pelo menos tinha muros…

 - Muros não garantem nada, menino… - resmungou uma voz a sua frente. Era o botânico Windrunner. – O que quer aqui?

 - Mensagem do Arcanista Helion…

 - Eles vivem me incomodando com perguntas… "Por que disso? Por que daquilo?", como se eu já não tivesse trabalho bastante aqui… - lendo o recado no pergaminho e indo para dentro do edifício espiralado.

 - No que o senhor trabalha, senhor Windrunner?

 - No que eu trabalho?! Ora, ora, alguém interessado no que esse "velho maluco" anda pesquisando? Incrível… - respondeu ele rancoroso. – Não é assim que me chamam? Velho caduco, maluco, desagradável, desesperado?

 - N-não senhor… - mentiu Eriol para apaziguar a conversa. O velho elfo apontou para vasos de planta.

 - Trabalho com plantas… É isso que quer saber? Trabalho com a terra. Terra ruim da Dead Scar, terra boa do vilarejo, terra fértil das Terras Fantasmas já que está cheia de "vida" de nossos amigos mortos… - Eriol observava o "laboratório" feito a céu aberto do velho. Havia vasos de diversos tamanhos, tubos com líquidos de cores variadas, algumas plantas estavam plantadas no chão em volta do edifício, outras eram suspensas com arame e suas raízes ficavam à mostra. – Ninguém leva a sério… se eu fosse um xamã, aí sim teriam respeito, mas não… Esqueceram das tradições, ficam bitolados nessas porcarias de magia arcana e poços de puro poder… Como se aquelas coisas fossem trazer nossa paz de volta…

 - O senhor leu o recado?

 - Já estou indo meu jovem! Oras! Sempre apressados! – e fazendo gestos de magia, animou uma trepadeira densa, que espalhou gavinhas por todos os lados e cobrindo o laboratório em um emaranhado vivo. A trepadeira tomou forma de um sentinela e caminhava rapidamente em volta do edifício. – Não tenho aprendizes, muito menos os guardas gostam de chegar aqui. Tenho que me valer delas… - indicando as suas plantas. – Boas meninas! Voltarei! Apenas uma visitinha aos fracos de mente… Miolos fritados pela paranóia… Calminha Vee, voltarei para te dar mais vitamina… - falando com uma planta de grandes folhas vermelhas. – E você, Lee... Nada de atrapalhar o Sentinela! Ele é bonzinho conosco! – esta era um vaso cheio de flores verdes esmeraldas. – Garoto, o que faz aqui? Vamos logo! – empurrando Eriol para as escadas. O guarda apareceu. – Oh, mais um enlatado? Tudo bem... – descendo as escadas com desdém e resmungando coisas. – Eu sei me defender bem, ora! Ainda duvidam? – o guarda dava olhadelas para Eriol como se o avisasse que o velho Windrunner estava falando nonsense novamente.



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