O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 6
Pode me chamar de Capital.




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Em nosso distrito, Jason e eu nos conhecemos aos Seis anos numa situação deprimente. Eu havia recebido a carta de que meu último parente biológico – um tio de terceiro grau chamado Locki – havia morrido “por causa de uma grave doença”. E aquilo significava apenas uma coisa para mim: A Capital havia vencido.

Sozinha no mundo, sem esperanças, lutando para continuar em pé e não me matar eu mesma.

Por que estavam fazendo aquilo? Por que me queriam viva, e não morta? Mataram a todos, menos a mim. O que eu havia feito? De todos eu era uma das poucas que nunca havia difamado a Capital... Mas eu tinha que sofrer por ser filha de quem o fez. Por que mataram eles ao invés de mim? Eles fizeram algo, eu não. Por que não fazê-los sofrer em meu lugar? Um tiro na cabeça, ser engolida pelo fogo... Qualquer coisa! Não doeria menos?

No final da carta, a proclamação do meu confinamento.

“Devido à falta de parentes para cuidar da menor Anna Madison, ela ficará definitivamente sob a custódia do Abrigo para Órfãos do Distrito Quatro de Panem”.

Isso não é bom.

Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Foi a única coisa em que consegui pensar.

Não queria ficar lá. Nunca quis, para falar a verdade. Se não tivesse tentado fugir cinco vezes nos primeiros sete dias que fiquei lá, ninguém ao menos saberia que eu existo. Aquele tio era minha última esperança e mesmo assim a Capital o matou sem dó.

Naquela noite, como em muitas outras, eu não dormi, ocupada demais sentindo minha solidão se espalhar cada vez mais por meu corpo. Mas dessa vez não tinha escapatória. Eu não poderia levantar da cama e abrir a janela numa tentativa de fugir e correr para a praia e, por alguns minutos, tudo ficaria bem. Eu ficaria no Abrigo. Cercada por pessoas que odeio e que me odeiam de volta.

Eu me abraçava, sentindo como aquilo era triste e solitário. Não ter alguém para quem correr quando tudo desmorona ao seu redor. O mundo virava cinza, ou às vezes embaçado, pelas lágrimas que não paravam de correr por meu rosto. Fosse o que for... Tudo o que eu queria era morrer e acabar logo com tudo aquilo. Afinal, eu não tinha mais nada a perder, tinha?

Então, tentando ao máximo parar de gemer de dor, abri a porta devagar e pedi a uma das tratadoras um prato de comida. Pedi peixe, porque sabia que viria garfo e faca. Com muito mau humor ela foi pegar meu prato e levou-o até meu quarto. Murmurei algo como querer comer sozinha. Como se precisasse de alguma desculpa melhor para ela me deixar no quarto comendo no escuro e ir assistir a uma de suas novelas fúteis da Capital.

Eu faria mesmo aquilo? Olhei para meu prato. O peixe estava bonito. E eu estava com fome. Ou era meu coração vazio? Não... Meu estomago roncava. Peguei o garfo e comi o peixe. Que grande suicida eu era.

Depois da refeição olhei para a faca e com as mãos trêmulas eu a peguei. Limpei o peixe que tinha nela, para morrer de um jeito ao mínimo digno, e apontei para minha barriga, na altura do umbigo. Não. Eu apenas ficaria lá, machucada, até morrer por Hemorragia. Mirei o coração. Não tinha erro. Por um momento pensei se aquilo era o certo a fazer. Quase soltei a faca, mas me obriguei a pensar em todos os meus sonhos destruídos, todas as esperanças acabadas, todas as perdas.

-É isso. – eu murmuro para mim mesma.

Quando a faca fez o primeiro movimento ouvi passos no corredor e a porta já se abria. Dois olhos azuis me encaravam, assustados.

-Não faça isso. – O desconhecido disse.

Lágrimas começaram a cair novamente.

-Por que não? – Eu fechei os olhos, a faca ainda em mãos, tremendo.

-Eu também perdi tudo. – Ele disse, talvez porque não tinha desculpas melhores.

-Isso é problema seu. – Eu respondi rudemente.

-É assim que resolve os seus? – Ele rebateu impaciente.

-A Capital faz assim.

-Hm... Prazer, Capital. Meu nome é Jason Clin. – Ele estendeu sua mão.

Eu olhei para ele assustada e por algum tempo continuamos assim. Então eu soltei a faca e ri. Depois de alguns segundos tentando decidir se minha loucura fazia algum sentido ele sorriu para mim, satisfeito.

Eu me sentei de pernas cruzadas no chão e ele fez o mesmo.

-Anna Madison. Capital é só apelido.



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