A Nova Saga escrita por FehViana, Hawtrey


Capítulo 10
A Profecia


Notas iniciais do capítulo

Gente, essa eu postei na pressa, entao dever ter alguns errinhos. bjos



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Acordei agradecendo aos deuses pela noite sem sonhos. Levantei-me ainda sonolenta e olhei em volta tentando por a visão em foco. A cabana não tinha muita coisa, mas era confortável. Além da cama, tinha um criado-mudo e uma poltrona onde estava minha mochila.

Abri a porta olhando para o horizonte, o sol esta dando seus primeiros sinais, mas minha atenção voltou-se para duas figuras a beira do lago, Ártemis e um cara loiro, aparentemente sério que reconheci do meu sonho. Seu irmão, Apolo.

Ele estava agitado e gesticulando muito enquanto falava. Eu já tinha ouvido falar que ela e o irmão brigavam muito por sua grande diferença. Ártemis sempre séria e Apolo não sabe a hora de parar de brincar. Mas agora ela parecia… preocupada.

Apolo começou a andar de um lado para o outro e eu pude jurar que vi uma lágrima. Ártemis ─ por mais inacreditável que possa parecer ─ estava consolando-o. As caçadoras começaram a aparecer, a deusa apontou para o céu e Apolo desapareceu.

Ártemis me viu e andou até mim.

─ Você pode se banhar no lago, pegue uma toalha e depois volte para se trocar aqui. ─ Disse ela sombria.

Assenti, ela me lançou um olhar de preocupação e se foi.

Tomei meu banho de roupa mesmo, assim como todas as outras caçadoras. De que me importava se eu não era uma? Algumas delas já me olhavam de forma… diferente. Mas qual é mesmo o motivo? Ah sim, lembrei: eu não sou uma caçadora, apenas fui treinada como uma. Isso foi injustiça com elas? Por quê? Foram elas que escolheram a eternidade e aversão ao sexo masculino. Será que estão arrependidas? Estou começando a desconfiar que sim.

Dispersei meus pensamentos e sai da água com o corpo mais leve. Decidi que o melhor a fazer é ignorar. Elas acham que Ártemis esta sendo injusta? Nunca vou entender essas caçadoras…

Segundo dia não poderia ter mais surpresas, poderia? Só os deuses dirão. O que mais me aguarda nesse destino de ser filha de Ártemis? Foi com essa pergunta em mente que me juntei à deusa pela primeira vez no dia.

─ Tivemos uma grande surpresa ontem, não foi? ─ Questionou-me.

─ Uma surpresa e tanto. ─ Concordei.

─ O evento de ontem me fez lembrar uma característica minha quase esquecida.

─ Quase? Quem lembra?

─ Eu, ora. ─ Ela disse indignada e eu segurei um sorriso.

─ E qual é essa característica sua “quase” esquecida?

─ A magia da lua.

─ Anh… E como isso funciona? ─ Perguntei confusa.

─ Me diga você, já que a usou ontem. ─ Respondeu ela indiferente.

─ Como assim eu já usei? Nunca usei magia.

─ Certo. Então me explique como a sua flecha atravessou o tronco de uma árvore.

Ok. Agora ela me pegou. Dei de ombros.

─ Tudo o que sei é que vi a flecha brilhar.

─ Exatamente, você transferiu a força lunar para a sua flecha.

─ Mas como se no horário em que estávamos a lua ainda não havia aparecido?

─ Me diga a eletricidade que usou para carregar a caneta que atingiu aquela menina veio de alguma fonte perto de você? ­─ Gelei quando ela disse isso.

Ela ficou me olhando e esperando a resposta. Eu balancei a cabeça negativamente.

─ As correntes elétricas fluem de você do mesmo modo que magia da lua. Só precisam ser controladas. Vamos treinar isso hoje. Venha.  ─ A deusa saiu andando rumo a floresta.

─ Aonde vamos? ─ Perguntei.

─ Vou lhe ensinar a caçar, de verdade. ─ Ela respondeu firme.

Fomos por um caminho de trançados de raízes e pedras. O lugar me lembrava o bosque do acampamento, porém era menos assustador. Eu ouvia barulho dos pássaros, de animais se movendo e… se arrastando, não ouvia monstros ou coisa parecida, mas alguma coisa me dizia que havia alguns por ali.

Estava tão distraída com meus pensamentos que só percebi que Ártemis havia parado quando dei uma topada em uma pedra na entrada da clareira. A sorte era que eu estava de tênis.

─ Você, por ter a minha benção, nasceu com os sentidos mais apurados, a visão, a audição e, principalmente, o olfato. Só precisa treiná-los… e prestar mais atenção. ─ Ela olhou para o pé que eu bati com indiferença.

Puxei-o para traz.

─ Tudo bem, eu sou um pouco desastrada e perco o foco as vezes. ─ Admiti envergonhada. ─ Como faço para melhorar?

─ Esse já é um bom começo, reconhecer e falar do problema. Mas eu não sou Atena e não estou nem um pouco afim de uma terapia agora. ─ Ela disse abanando a mão e eu não pude evitar de sorrir. ─ Então vamos para a prática.

De repente, eu ouvi um barulho vindo de todos os lados. Parecia que estávamos cercadas.

─ Descubra de que lado vem, é apenas um.

Pronto. Agora acabou tudo. Era impossível descobrir, como eu iria saber?

Instintivamente, eu fechei os olhos procurando de onde viria os barulhos mais intensos. Era inevitável não prestar atenção em tudo, eu ouvia vários tipos de sons, mas ainda não conseguia distinguir de que lado vinha, até que…

─ Vem de traz. ─ Eu disse.

Ártemis sorriu e estalou os dedos, no mesmo instante o barulho cessou.

─ Como descobriu? ─ Ela se aproximou.

─ Eu podia ouvir vários sons nos cercando, mas eram iguais. Esse era o único som diferente, além de que eu senti um cheiro estranho vindo de lá.

A deusa assentiu

─ Quando estamos caçando devemos prestar atenção em tudo, nos sons, nos cheiros e, também, no chão.

─ Como assim no chão? ─ Perguntei me sentindo confusa como sempre.

─ Você sabe como a cobra acha sua presa?

─ Ela fareja com a língua.

─ Sim, mas quando sente que está perto ela vai pelas vibrações da terra e assim sabe o local exato para atacar.

─ Então, de algum modo, temos que ser como as cobras?

─ Mais especificamente no seu modo de caçar.

De repente uma caçadora apareceu do lado de Ártemis e disse-lhe algo que não escutei. Ela estava assustada.

─ Terei que resolver um pequeno problema, Tatiana ficará aqui com você. ─ Ela disse apontando para caçadora. ─ Fique com isso por precaução.

Minha “mãe” me deu a adaga de ontem e voltou pelo caminho que viemos já preparando seu arco.

Tatiana sorriu, a única que sorriu para mim até agora.

─ A senhora Ártemis pediu para que eu terminasse seu treinamento.

─ Claro. ─ Eu disse morrendo de curiosidade. ─ O que houve lá?

─ Anh… Nada que ela não resolva. ─ Ela disse tentando esconder a preocupação.

─ Sei…

─ Então vamos continuar né?! ─ Tatiana me cortou rapidamente. ─ Fique ali no meio.

Ela apontou para o centro da clareira, me posicionei neste local esperando seu próximo comando.

─ Você vai ter que confiar nos seus instintos, deixe que eles te guiem.

Ela foi para perto de uma árvore e apertou uma pequena saliência no tronco, assim que ela afundou e eu ouvi vários ferros rangendo.

eles estão meio enferrujados… ─ Ouvi ela sussurrar.

Um arrepio percorreu minha coluna, olhei para a esquerda e me joguei o mais rápido que pude no chão, evitando que uma lamina gigante me cortasse ao meio.

─ Está querendo me matar? ─ Gritei para ela.

─ Faz parte do seu treinamento. Foi o que sua mãe disse. ─ Tatiana respondeu.

De cada lado vieram mais cinco laminas do mesmo tamanho da primeira, tanto da esquerda quanto da direita, estavam em forma de uma ponta de flecha, uma no meio e outras duas de cada lado. Eu estava me sentindo num filme do Indiana Jones que, pra encontrar o tesouro perdido, precisa passar por varias armadilhas. A única diferença era que não tinha nenhum tesouro e eu iria virar picadinho.

A primeira lamina chegou mais rápido do que as outras, era a mais baixa também, por isso não tinha como eu escapar jogada no chão. Pensei em correr até onde Tatiana estava, mas assim que dei um passo a frente, uma parede de lanças subiu a um metro de distância e foi circulando até fechar.

A lamina passou rente as minhas costas, raspando o chão e por pouco não me acertou. As outras chegaram logo após, vinham alinhadas para se cruzarem onde eu estava, pulei em cima da que vinha em minha direção e agarrei o ferro que a segurava. Pendurada nela olhei para o alto procurando o que a prendia e me surpreendi ao ver uma armação de ferros que parecia muito segura, apesar da ferrugem. Vi também que as laminas estavam voltando e era a minha chance de aterrissar sem ser morta.

Assim que já tinha passado das outras lanças e a que eu estava se aproximou o máximo do chão eu pulei.

─ Você não pode subir nelas. ─ Tati me alertou.

─ E você queria que eu fizesse o que? ─ Indaguei irritada. ─ Afinal qual o objetivo disso?

─ Atenção. Desvie das laminas sem toca-las, use seus instintos e antecipe aonde elas vão passar.

Eu assenti e ela apertou novamente o “botão”.  Deixei que meu subconsciente assumisse meus movimentos, ou pelo menos tentei.

Vi a primeira lamina descer, percebi que ela passaria no mesmo lugar que eu estava e pelo som, era rápida. Recuei e senti o vento ser cortado a minha frente, muito perto.

Os ferros rangeram de novo e varias laminas vieram dos dois lados, como da primeira vez, com uma delas mais rápida e mais baixa logo a frente do lado direito. Meu subconsciente parecia saber o que fazer, mas a minha parte consciente queria entrar em pânico.

Fui rapidamente para frente e ela passou, mas as outras estavam quase coladas a ela, saltei por cima da segunda ficando na direção da que vinha da esquerda. Ela era um pouco mais alta, então a minha primeira tática funcionou. Atirei-me no chão.

O grande problema desse treinamento é que não basta você passar pelas laminas apenas uma vez, elas voltam.

─ Vlacas ─ xinguei quando uma lamina passou de raspão pelo meu braço, formando um pequeno corte.

Podia ser maior, não é?         

─ Vai acabar se matando.  ─ era a voz da pessoa que provavelmente vai me odiar pela eternidade. ─ Se bem que seria um favor a humanidade.

Por um milésimo de segundo, eu olhei pelo canto do olho para Thalia e me desconcentrei, com certeza foi um erro. Não sei porque, mas algo me fez olha-la por inteiro, quando virei para encara-la senti uma dor letal no meu estomago. Isso não é bom...

Olhei para baixo e o vi meu próprio sangue se espalhar por minha roupa e manchar minhas mãos. Tudo começou a rodar e de repente ficar em pé tornou-se um desafio. Sem forças, desabei no chão sentindo a dor aumentar.

─ Viviane! ─ gritou Tatiana, vindo ao meu encontro.

Vi o desespero em seus olhos, tentei não ligar para isso, seria pior. De relance vi Thalia paralisada de olhos arregalados.

─ Pelos deuses! Thalia chame Ártemis!

Minha visão pode estar turva, mas Thalia nem se mexeu.

Minhas forças iam se esvaindo cada vez mais, tudo parecia muito longe, os pedidos de ajuda de Tatiane iam ficando cada vez mais baixos. A ultima coisa que eu vi foi os olhos aterrorizados de Thalia.

Senti o vento bater em meu rosto e logo me vi em um lugar completamente desconhecido. De um lado havia uma colina iluminada apenas pela luz da lua, do outro havia uma caverna que parecia deserta. No começo não entendi o que eu estava fazendo ali, observando o nada, e estava quase tomando um caminho igualmente desconhecido quando ouvi vozes femininas vindo de dentro da caverna. Hesitei em entrar, o que me espera lá dentro?

Ignorando a razão, entrei em passos lentos e silenciosos. De longe pude ver a iluminação de uma fogueira, me aproximei ainda mais, dessa vez guiada pela curiosidade. Era apenas uma fogueira simples que foi totalmente ignorada por mim diante das duas mulheres que conversavam ao lado.

A primeira eu não consegui identificar, pois estava de costas para mim e usava um capuz, com certeza ela não queria ser reconhecida por nada e nem ninguém. Mas a que mais me chamou atenção foi a mulher com quem conversava.

Não era nem uma deusa Olimpiana que eu conheça, ou ao menos uma deusa menor, mas bem que parecia ser uma. Usava um manto azul escuro que possuía uma textura muito parecida com fumaça, duvidei que poderia pegar em sua roupa, impressionante mesmo, dava a impressão que toda a escuridão a sua volta se unira para vesti-la. Seu cabelo também não ficava para trás, eram brancos e muito longos, na verdade não pareciam ter fim, quando chegavam em sua cintura, transformavam-se em pura luz, como se o chão não fosse suficiente para contê-lo.

─ Não sabe o que esta fazendo ─ disse ela com a voz suave.

─ Eu tenho plena consciência dos meus atos. Não espera que eu a obedeça sempre, ou espera? ─ questionou a mulher encapuzada.

─ Espero que você veja a realidade insistiu a mulher serena Ouça a voz da razão e dê um fim a essa criança.

Ananke! indignou-se a mulher encapuzada Não posso fazer uma calamidade dessas!

Ora Beatriz, você não se importa com essa criança! exaltou-se a tal da Ananke Só está com ela até o presente momento porque recebeu ordens para isso.

Como pode ser tão cruel? questionou Beatriz fazendo Ananke revirar os olhos com indiferença Eu amo essa criança e é graças a ela que agora posso fazer algo de útil de novo. Algo que pode salvar a todos.

Não me venha com sentimentalismo mulher cortou Ananke irritada Nós duas sabemos que você nunca foi boa em salvar pessoas ou qualquer outro ser existente.

Não e só porque você é a deusa do Destino que pode querer muda-lo!

Muda-lo? desacreditou a deusa soltando uma risada fria em seguida, fazendo-a ecoar pela caverna É essa criança que virá para mudar o destino, eu só quero manter tudo como está. O destino nunca deve ser alterado ou as consequências podem ser piores do que o previsto...

Meu sonho se desfez. Me vi deitada em uma cama macia, olhando para o teto de uma cabana, as paredes rodeadas de peles e cabeças de animais selvagens. Ouvia vozes, tentei sentar para poder ver melhor o local, mas não deu muito certo, senti tontura e uma forte dor em minha barriga.

─ Calma, você ainda está muito fraca. ─ Avisou Tatiana me forçando a deitar novamente.

─ O… o que aconteceu comigo? ─ Perguntei atordoada.

─ Você foi atingida por uma das laminas. Foi um ferimento grave. ─ Ela disse parecendo triste ou… envergonhada. ─ Desculpa.

─ Não foi culpa sua. ─ Falei forçando-me a lembrar do que aconteceu. ─ Eu me desconcentrei com… alguma coisa.

─ Com alguma coisa? ─ questionou Tatiana ─ Que coisa?

Digo ou não digo? De modo geral Thalia é culpada. Mas foi um acidente, não foi?

─ Não me lembro bem. ─ Por mais que ela me odeie eu não iria entregá-la.

─ Agora que você acordou. ─ Ela se virou e pegou um copo cheio. ─ Beba isso.

Ela me ajudou a sentar, a minha barriga doía muito, como se estivesse com uma ferida aberta, mas não parecia nem ter sido machucada. Bebi todo o conteúdo do copo sem questionar. Senti um gosto familiar e logo descobri o que estava bebendo. Néctar.

─ A senhora Ártemis disse que lhe faria bem, para recuperar a força e passar a dor.

E sendo uma deusa, estava certa.  Eu não sentia dor, nem indisposição. Estava tão bem quanto antes de apagar. Ao lembrar disso, as imagens do sonho vieram em minha cabeça, eu não sabia dizer se tinha sido reais ou apenas um sonho como os outros.

─ Por quanto tempo eu apaguei?

─ Mais ou menos, a tarde toda. Já são quase oito horas.

Nossa. Nem pareceu tanto tempo...

─ Se sente melhor? ─ questionou Ártemis entrando na cabana.

─ Ah sim ─ confirmei imediatamente ─ Nem parece que uma lamina quase me matou.

─ Não foi assim tão feio... ─ comentou Tatiane.

Ártemis sentou-se na cama e séria avisou:

─ O seu treinamento acabou. Arrume suas coisas, pois irá voltar para o Acampamento dentro de poucos minutos. Não quero reclamação.

─ Por que voltar agora? ─ questionei confusa.

─ Que parte do “Não quero reclamação” você não entendeu? ─ irritou-se a deusa.

─ Tudo. Não estou reclamando, estou questionando algo ─ rebati ─ Tudo dentro dos meus direitos.

Ela bufou, revirando os olhos em seguida. Levantou-se inquieta, e me fitou cruzando os braços.

─ Quíron quer que você volte imediatamente para o Acampamento ─ informou ela ─ Disse que você ficou longe tempo demais.

─ Foram apenas dois dias ─ defendi.

─ Eu sei ─ concordou a deusa indiferente ─ Eu posso ate ignorar Quíron, mas não posso confrontar o próprio Zeus. Ele concorda com Quíron.

─ Então não tenho escolha ─ conclui suspirando.

Por que estão com tanta pressa?

─ Seja rápida ─ apressou Ártemis, em seguida me deixando sozinha.

O Acampamento parecia ser o mesmo. Ou quase. Pela expressão de todos algo deve ter mudado. Mas eu nem tive tempo de questionar isso com ninguém. Quíron foi mais rápido.

─ Que bom que esta bem ─ aliviou-se ele quando ficou a minha frente.

─ E por que eu não estaria? ─ perguntei.

─ Soube que se feriu em um treinamento e que o Acampamento das caçadoras foi atacado e…

─ Espera ─ interrompi ─ O acampamento das caçadoras foi atacado?

─ Você não soube? Pensei que estivesse lá ─ confundiu-se Quíron recuando.

─ Não. Eu estava em um lugar próprio para treinamento ─ respondi como se fosse o obvio. O que para mim é.

─ Tudo bem. Não se preocupe com nada ─ pediu ele respirando fundo ─ Esta tarde, vá dormir.

Não se preocupar? Dormir? Como ele quer que eu faça isso!?

Deitada na cama, apenas encarei o teto.

Por mais que eu tentasse, tinha certeza que não ia consegui dormir. Muita coisa havia acontecido e tendo TDAH isso se tornava impossível.

Levantei tentando não acordar Jason. Pensei em ir para a praia, mas ouvi o barulho das harpias vindo de lá e logo mudei de ideia.

Entrando no anfiteatro vi uma menina de aparentemente nove anos sentada a beira da fogueira, ela usava um vestido marrom simples e um graveto para cutucar as brasas, parecia solitária.

Caminhei até ela e sentei-me ao seu lado, o seu cabelo caia pelo rosto de modo que ficava difícil ver sua expressão, ainda assim eu pude ver um sorriso em seus lábios. Ela deixou o graveto de lado e começou a brincar com as chamas, passava o dedo por dentro delas em um rápido movimento.

─ Não tem medo de se queimar? ─ Perguntei.

─ O fogo não é uma ameaça, o modo como o utilizamos é que pode ser perigoso. ─ Ela respondeu. ─ Não devia estar na cama?

─ Sim, mas você também está aqui. ─ Retruquei.

─ Mas eu não tenho horário para dormir.

Só então ela se virou para mim e pude ver seus olhos. Eram cheios de fogo, mas era um fogo bom, me lembrava o natal na  casa da minha avó, as festas de tios ou primos e as reuniões de domingo. Me fazia lembrar a família.

─ Héstia. ─ Arquejei.

Me curvei da melhor forma que pude e ela sorriu.

─ Poucas são as pessoas que vem falar comigo na primeira vez que me veem, procuram-me apenas quando necessitam da minha ajuda. Mas quem está vindo é para falar algo importante… com você. ─ Com estas palavras ela rompeu-se em chamas e desapareceu.

Rachel entrou no anfiteatro e sentou-se ao meu lado como se já soubesse que eu estava ali.

─ Sem sono? ─ Perguntou.

─ Sim, muita coisa na cabeça. E você?

─ Eu estava dormindo, acordei com o espirito de Delfos falando para eu vir aqui e…─ Ela parou de falar e desfaleceu.

─ Rachel. Acorda, Rachel. ─ Eu disse segurando-a.

Aos seus pés juntou-se uma fumaça em tom de esmeralda. Rachel ficou ereta e abriu os olhos, mas estes já não eram os seus, eram da cor verde-florescente. De sua boca começou a sair a mesma fumaça que a circundava. Uma voz rouca e antiga, que me lembrava muito o sibilar de uma cobra, começou a falar.

A oeste, uma criança irão buscar,

Com sorte, mais de uma vida devem salvar,

Para o sucesso, céu e submundo se unir precisarão,

Mas voando em metal despencarão,

Com ajuda, o que procuram há de se achar

E três para o acampamento devem voltar.

Ao terminar a ultima palavra, ela desmaiou. Parecia que todas as suas forças haviam sido consumidas, assim deixei que ela dormir um pouco na arquibancada. Em minha cabeça as palavras da profecia pesavam, juntamente com os sonhos.

Vi uma mulher grávida ─ aparentemente com 8 meses ─ sendo levada por dois monstros estranhos.

Mulher grávida.

─ Espero que você veja a realidade insistiu a mulher serena Ouça a voz da razão e dê um fim a essa criança.”

Criança.

“A oeste, uma criança irão buscar”

Com isso, eu adormeci.


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