A Tempestade escrita por hgranger


Capítulo 7
Capítulo 7 - Propostas


Notas iniciais do capítulo

Sempre me revoltei com o fato de Edward se tornar um banana em algumas passagens do texto da Meyer. Quebrei minha cabeça tentando imaginar o que ele passou seis meses fazendo, e porque ele foi tão evasivo ao dizer a Bella o que ele andou fazendo, quase como se estivesse constrangido.

O que foi acontecendo na minha cabeça foi isso aqui. Do que vocês gostarem, o mérito é meu, e o que não gostarem é culpa da minha irmã gêmea má! :)

Um grande beijo a todos que continuam fielmente acompanhando a saga de Edward longe de Bella.



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"Load up on guns
Bring your friends
Its fun to lose
And to pretend
She's overboard
Myself assured
I know I know
A dirty word

(...)

With the lights out its less dangerous
Here we are now
Entertain us
I feel stupid and contagious
Here we are now
Entertain us

(...)

I'm worse at what I do best
And for this gift I feel blessed
Our little group has always been
And always will until the end"

Smells like teen spirit - Nirvana

 

 

 21 de setembro

Duas e meia da manhã. Eu estava novamente no escritório de Edward Glove, sentado no sofá. A música agora era diferente, um blues moderno, mas ainda assim em um volume bem discreto. Me perguntei se as músicas que Glove escolhia refletiam seu estado de espírito ou eram mais uma estratégia... Para nos fazer acreditar que elas refletiam seu humor, e nos induzir a alguma expectativa ou conclusão. Glove estava sentado perto de mim, postura impecável, pensativo. Eu estava esperando sua resposta. Por fim, ele se dirigiu a mim.

“Bem, Edward. A situação se tornou um pouco mais complicada do que eu imaginara a princípio. Mas eu já havia previsto que isso poderia acontecer, e tenho uma proposta a lhe fazer.” A primeira parte do discurso não me surpreendeu. Glove era um renomado jogador do xadrez das situações políticas, portanto realmente já deveria ter pensado em vários caminhos possíveis desde que eu chegara na cidade. Essa era uma das explicações para seu sucesso no controle da sociedade vampírica mais influente da América, e para o respeito que os Volturi tinham por ele. Segundo Carlisle – eu conversava com ele diariamente, para pedir conselhos e entender melhor o ambiente, - eles tratavam Glove como um igual, entre quatro paredes; a idéia de vassalagem era para os de fora, para reforçar a hegemonia dos velhos vampiros no velho continente.

Mas eu não esperava que ele tivesse uma proposta para me fazer.

“Suzanne concordou em recebê-lo apenas daqui a um mês, quando ela realizará uma festa para nossa comunidade. Não é um evento incomum, essa reunião acontece de uma a três vezes por ano... É um momento de convivência para nós enquanto grupo. É um momento para congregar forças, julgar pequenas disputas, reforçar alianças. É também um evento que requer uma logística impecável, e isso requer uma dedicação contínua por muitos dias, para que nada desagradável aconteça, caso alguém se descontrole. A recusa de Suzanne em conversar com você até lá não é completamente justificada, afinal, é apenas uma conversa, e poderia ser feita por telefone... Mas segundo nossas regras, ela tem total direito de determinar esse tempo. E como é a primeira vez que ela será anfitriã do evento, isso significa muito para ela.”

Seguiu-se uma pausa, e me senti impelido a responder. “Compreendo perfeitamente, senhor Glove. E estou disposto a aceitar a decisão da senhorita Worchester. Talvez ela tema que a conversa comigo possa ter alguma conseqüência inesperada, acabe interferindo com os preparativos do evento. É uma preocupação válida.” Tive que me segurar para não demonstrar o grau de ansiedade que me corroia desde que eu conversara com ela ao telefone. Um mês? Para Suzanne, um mês não significava nada. Ao menos para um imortal, depois de algumas décadas. Mas eu aprendera a ver o tempo de uma forma diferente, depois de Bella. Para um mortal, um mês era uma vida, e para mim... Cada dia era uma agonia que se arrastava, era um dia de vazio e escuridão, da qual eu tinha que submergir para poder interagir com a cidade e seus habitantes.

Percebi, em meio a meus devaneios, que Glove pareceu bastante satisfeito com minha resposta.

“Você é um observador excepcional, Edward. E compreende as filigranas das regras que mantêm nossa sociedade coesa. Em situações normais, eu lhe pediria que se retirasse da cidade quando as setenta e duas horas expirassem, para retornar no dia da festa. Eu desconfio inclusive que esse seja a vontade de Worchester. Mas nesta situação... Eu tenho uma outra proposta. Se estiver disposto a ouvi-la.”

Acenei com a cabeça, curioso. Desta vez Glove não me oferecera nada para beber, para minha surpresa e gratidão. Ele com certeza percebera meu desconforto na noite anterior.

“Você pode permanecer em New York por tempo indeterminado, como meu convidado. Contanto que integre o grupo que faz a segurança da cidade. Você trabalharia com Axel, tendo livre acesso a todos os distritos e territórios de caça. Você tem um dom raro e extremamente útil. É claro que, trabalhando na equipe de Axel, você estaria autorizado a utilizá-lo livremente.”

Eu mal acreditava no que estava ouvindo. Eu era um recém-chegado, um vampiro novo, inexperiente, e ele estava me oferecendo um cargo de confiança, e me permitindo acesso aos pensamentos dos outros vampiros da cidade? Seria a influência e amizade de Carlisle? Ou uma armadilha? Ou algo pior?

Não me preocupei em esconder meus pensamentos dele. Ultimamente as coisas não me importavam nem abalavam o suficiente, e a cada dia que passava eu me sentia mais inconsequente. A ausência de Bella me transformava. Desejei que ela estivesse aqui... Ao lado dela eu me sentia mais forte, mais capaz, e aqui eu me sentia um grão de areia no oceano. Eu não queria me envolver com aqueles jogos, eu não queria integrar nenhum grupo, eu não queria ter que pensar em nada... A vida com os Cullen tinha sido muito boa para mim, mas desde que eu deixara Bella, nada mais me motivava. Desde que eu chegara em New York, eu passava os dias sentado no sofá do quarto do Hotel, com a televisão ligada, deixando as imagens e sons se misturarem ao meu redor, sem que fizessem nenhum sentido. Não estava nublado o suficiente para que eu pudesse sair, e eu não tinha vontade. Eu ficava sentado, e as memórias me invadiam, e eu repassava todos os meus momentos desde que a conhecera, como se fosse um filme, rodando de novo, e de novo... No início as memórias me tranqüilizavam, porque eu me lembrava do início, de quando ela ainda não estava machucada, de quando ela descobrira o que eu era e me aceitara, o dia na clareira, o beijo. Os beijos. Os abraços. As noites que eu passara ao lado dela, velando seu sono, ouvindo seus monólogos noturnos, ouvindo ela chamar meu nome. E eu fantasiava, sonhava com uma vida ao lado dela, e quando meus pensamentos chegavam neste ponto, eu invariavelmente me lembrava de sua expressão quando eu disse que iria deixá-la, da dor e da confusão em seus olhos, e da forma encolhida no escuro e na chuva, e de como eu me sentira impotente, culpado, destruído por dentro. E toda a dor voltava. Ao mesmo tempo.

E quando eu voltei novamente de mais este devaneio, percebi que Glove me observava atentamente. Fiquei aturdido. Como eu pudera ser tão imprudente? Como pudera me expor daquela forma?

“Não se preocupe, Edward. Não está entre minhas pretensões usá-lo. Seria uma descortesia para com um velho amigo, e seria uma descortesia mesmo que não fosse. Se fizer uma análise do meu curriculum, verá que isso não está entre minhas características.” Ele sorria de forma minimamente irônica. Ele sabia que estava sendo ambíguo, que eu não podia ter certeza de que ele tinha lido meus pensamentos, e aquilo parecia diverti-lo. Mas ele não me deixou no ar por muito tempo.

“Tomei a liberdade de conversar com Carlisle sobre suas motivações na cidade, e ele, devido à confiança em minha pessoa, e devido à nossa antiga amizade, se permitiu quebrar um pouco sua privacidade e me colocar a par, por alto, sobre o que aconteceu. Carlisle está preocupado com sua presença aqui, e nisso está sendo muito sábio. Seu sofrimento faz com que fique imprudente, e alguns de nós estão aqui há séculos, aperfeiçoando nossos talentos e nossa capacidade de sobreviver. Com o tempo ficamos entediados... E a presença de vampiros de fora pode atrair atenções indesejadas. Estou sendo claro?”

Ele estava falando de Suzanne. Vi a imagem dela em meus pensamentos, sem que tivesse feito nenhum esforço nesse sentido. Bonita, elegante, feroz. Fria. Era um rosto que eu nunca esqueceria, mesmo que chegasse a nunca mais vê-la: a pele pálida perfeita, o rosto de menina-mulher emoldurado por cachos castanhos curtos, olhos esmeralda, de gato, lábios cheios com um sorriso cínico. Os pensamentos de Glove não eram planos; mesmo as imagens vinham matizadas das emoções que ele imprimira a elas ao longo dos séculos. Percebi que não era eu quem lia seus pensamentos. Ele estava colocando os dele em minha mente. Eu já tinha esquecido que a mente de Glove era silenciosa. Me assustei um pouco ao perceber as implicações do poder que ele tinha... A extensão de seu poder.

“Ela vai tentar envolvê-lo em alguma espécie de jogo. Eu não tenho o poder de impedi-la diretamente... Mas posso lhe dar ferramentas para enfrentá-la.”

Ele se ergueu graciosamente, e andou um pouco pelo escritório, olhando para fora, para a noite, como se perdido em pensamentos. Senti vontade de ver mais imagens de sua mente organizada, inteligente. Mais uma vez ele me fascinava.

“Ela pode ler pensamentos, como eu. Não é tão talentosa quanto você, mas se você não aprender a se proteger, ela vai ver Isabella em seus pensamentos de imediato. Eles estão impregnados dela. Se você não compreender e controlar o que está acontecendo, ela estará em risco redobrado. Suzanne seria capaz de raptá-la ou matá-la, apenas para causar sofrimento a outro vampiro, pelo simples prazer de ter alguém para desafiá-la. E ela não está acostumada a perder. O desafio a estimula.”

Compreendi a extensão do problema. E de súbito outra compreensão me veio, e deixei que minha indignação transparecesse em minhas palavras.

“O que o fez mudar de idéia? Quando eu saí daqui da primeira vez, eu não tinha nenhuma informação. Mas você me deixou ir, com o numero de telefone dela, e a intenção de contatá-la o quanto antes. E se ela tivesse decidido me encontrar na mesma noite? O que teria acontecido?”

Ele demorou um pouco para responder. Quando o fez, a voz estava fria, distante. Percebi que eu havia sido insolente, e me concentrei em pedir desculpas mentalmente pelo tom de voz que eu havia usado.

“Eu tenho preocupações demais para poder me concentrar em assuntos menores, que não são pertinentes à minha cidade. Quando você saiu daqui pela primeira vez, não era para mim nada além de um vampiro jovem, buscando vingança por uma coisa tola, sendo estúpido o suficiente para se arriscar a entrar em uma cidade desconhecida, cair nas garras de Worchester, e ter fé de que conseguiria sair livremente, com informações pelas quais não tinha nada a oferecer. Eu não podia admirar alguém assim. Não podia tomar partido.”

“Mas agora pode?” Me senti invadir por um sentimento indefinido.

“Posso.” Ele me olhou diretamente, atravessando todas as minhas proteções.

“E o que fez com que mudasse de idéia? Por que agora eu sou diferente?”

“Eu tenho observado você.”

Simples assim. Aquilo me assustou. Nas últimas noites eu me sentia observado, embora tivesse atribuído a sensação à paranóia de estar em uma cidade hostil. Se ele tinha me observado sem que eu notasse... Meu respeito e temor por ele aumentavam. Eu me senti um pouco enfurecido por ter sido tão ingênuo, como ele bem havia me pontuado, e de repente eu queria ser alguém digno da atenção dele.

“E o que fez com que tivesse interesse em me observar? Eu ter sido criado por Carlisle?”

Ele sorriu. “Não, Edward, embora isso pudesse ser suficiente. Foi o seu olhar.”

Fiquei em silêncio.  Ele voltou a se sentar ao meu lado, e continuou me encarando.

“Eu não podia tomar partido de um desconhecido que fosse fraco e inconsequente. Mas seu olhar o traiu. E o que eu encontrei em você foi força, lealdade a seus ideais, e bondade.  Você também é um guardião próspero. Eu me reconheço em você.” Aquilo me surpreendeu.

“Vou ser honesto com você. Esse seu relacionamento com Isabella... É perigoso para ambos. Irresponsável. Pode levá-los à morte. Fez com que sofressem, reduziu sua força... E eu não consigo ver nada de bom nisso. Ainda assim você tem forças para enfrentar Worchester. Mas não sozinho.”

Continuei em silêncio.

“Ela tem me causado problemas sistematicamente. Não quis que isso acontecesse com você. Minha proposta é uma forma de tomar partido indiretamente. Eu lhe dou poderes para enfrentar Suzanne, você me auxilia na defesa da cidade. Eu estarei de olho nela, Axel também. E você tem muito a aprender conosco. Se você quiser sobreviver junto a Isabella.”

Baixei os olhos, encabulado. Ele sabia coisas sobre mim que nem eu mesmo queria reconhecer. Mas era verdade; a cada dia a vontade de voltar para ela me inundava; ela brilhava para mim como um farol, como um guia na noite que havia se tornado a minha existência.

“Ela lhe dá força. Mas é também sua maior fraqueza. Isso não pode ficar exposto para Worchester. Você compreende?”

Acenei, incapaz de articular palavras. Sem Bella eu existia apenas pela metade. E estava cansado de lutar contra o que eu sentia, de calar, abafar. Cansado de negar que eu a queria. Mais uma vez a culpa voltou a me derrubar, as lembranças de Bella sob a chuva.

“Eu posso ajudá-lo, Edward, se você me permitir. Eu realmente admiro sua persistência. Talvez o que nos separe realmente sejam os anos que existem entre nós. Eu o vejo, agora, e lembro do que um dia eu fui. Você está em uma trilha auto-destrutiva... Seria uma perda lastimável se algo de ruim lhe acontecesse.”

Eu estava realmente cansado. A cada minuto aumentava a minha vontade de confiar em Glove, de aceitar a oferta, de esquecer... Mas a lembrança de Bella me puxava de volta, me recolocava em perspectiva.

“O que o senhor me sugere contra Suzanne, senhor Glove?”

Ele sorriu.

“Primeiro, ela não pode ver a extensão do seu sofrimento.”

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Quando deixei o escritório de Glove, perto do nascer do sol, eu estava mais leve. Afinal, eu agora tinha outros objetivos. Eu iria trabalhar com Axel na defesa da cidade. Eu teria o direito de ir e vir. Eu tinha permissão de ler os pensamentos ao meu redor. Eu tinha um plano mais bem traçado para manter Bella em segurança, longe de Victoria. Eu tinha aliados...

E eu não me lembrava de nada do que tinha acontecido na floresta após ter dado adeus a Bella.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Comentários construtivos, análises, elogios e tomates podres, fiquem à vontade.



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