Asas Do Destino escrita por Isabelle


Capítulo 5
Senkou


Notas iniciais do capítulo

NA: música do cap. Senkou
http://www.youtube.com/watch?v=49EES8eQA44&feature=results_video&playnext=1&list=PL2DFDD118900FFD39



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Aas do Destino

Capítulo 5 –

                    Senkou

               Takashi estava sem palavras. E Aya agora sabia que estava no meio dos garotos novamente.

- Francamente! Kami tem um senso de humor doentio! – Aya fala exasperada. – Onde está a Dra. Sakamoto?

- Minha esposa não pode vir. Pediu que eu a acompanhasse até o hospital.

- Mamãe está trabalhando!

- E você quem é pequenina? – Aya perguntou abaixando-se para falar com a criança.

- Sou Hoshi! A estrelinha do papai. – respondeu toda risonha.

- Sou Aya. – a garota sorriu e a fez um carinho no cabelo da menina, tão parecida com o pai.

- Vamos então? – Takashi nem sabia mais o que falar.

Caminharam em silêncio  até o carro, o trajeto até o hospital também foi silencioso. Quando Aya desceu, se despediu de Hoshi. Ao pegar sua mala apenas disse.
             - Não vou dizer nada. Conheci o marido da minha chefe hoje, na rodoviária, o Sakamoto-san, Saga está morto, com certeza. – Aya tinha tristeza na voz e no olhar. Takashi apenas silêncio.

Aya estava desolada. “Covarde!” ela cumpriria sua promessa, e por mais que amasse os dois, jamais poderia interferir. Entrou no hospital se perguntando por que estava ali afinal das contas. Qual era seu papel nesse emaranhado todo? Ela não sabia. Enfim, ela ficaria atenta. Sentia
que não estava ali por acaso.

A semana começava bem tanto em Tóquio quanto em Sapporo. Shou fora instalado confortavelmente em seu quarto na casa dos Kazamasa. Sua mãe jamais o perderia de vista novamente. Em Sapporo, uma certa médica repensava seu trabalho.

Keiko acordou cedo naquele dia. Desvencilhou-se dos braços do marido com cuidado, ele ainda poderia dormir um pouco mais. Ele ficara com Hoshi quase a noite toda, os pesadelos da filha estavam piorando, apesar da psicóloga que já estava frequentando. Ficou olhando para o loiro por um tempo. Ela o amava, e muito.

Levantou-se. Andou pela casa sentou-se a mesa do escritório que o marido mantinha em casa. Nunca tinha aberto aquelas gavetas. Nunca tinha feito tantas coisas durantes aqueles seis anos que estava com o marido. Riu-se. Parecia mais uma daquelas mulheres ciumentas que ficavam monitorando o celular, o computador. Procurando vestígios
de traição. Não estava Takashi nunca a amou, ela sabia disso, então ele nunca a traiu. Essa era a verdade.

Já ia fechando a gaveta quando algo brilhou e chamou a sua atenção, uma corrente, puxou da gaveta.  A joia muito bonita, um kanji preso nela: “Shou”.  Ela sorriu. Lembrou-se de uma parecida que
vira semanas antes, kanji diferente “Saga”. Quem era Saga? Essa era a pergunta da médica. Não havia dúvida, eram joias gêmeas. Recolocou no lugar. Não queria pensar no que significava. Voltou para a cama e se aconchegou ao marido que a recebeu com carinho, mas frio. Jamais
sentiria nada além daquilo, carinho.

Keiko mudou seu ritmo. Trabalhava menos. Agora com Aya dividia muito dos seus afazeres, a garota era ótima, aprendia as coisas rápido. Passava mais tempo com sua família, e aos poucos aprendeu a bagunçar a casa com Takashi e Hoshi.

Em um desses dias que estava em casa, acabou usando o tablet do marido que estava no sofá. Notou que tinha um clip em espera. Curiosa acessou a página. Era uma música do Alice Nine, voltou no começo.

- “Para o meu mais caro amor... Saga...” 

Curiosa com a dedicatória antes da música, ela começou a acessar informações da banda. Na formação atual nenhum Saga. Então fez uma pesquisa de imagens. Quase desistia quando viu a foto de um garoto de dezessete anos. Ficou parada diante da foto. Não sabia o que fazer. Ela podia preencher as lacunas com certeza. Era uma história muito triste com certeza, lembrava-se do olhar de Shou naquele dia em que o conheceu.
E de suas palavras acerca do kanji.  Era com certeza um grande amor. Um amor que ela nunca teria. Disfarçou uma lágrima. Takashi a observava de longe com um sorriso nos lábios. Ele ficaria com ela até o fim com certeza. Então apagou sua pesquisa e voltou a brincar com a filha e o
marido.

Keiko não conseguiu esquecer a história dos kanjis. Tão pouco que seu triste marido um dia amou e foi feliz com alguém. E com certeza a intolerância e o preconceito haviam terminado com tudo aquilo. Ela sofria agora. E lembrava-se dos dias de completa inocência. O que não daria para não saber nada daquilo. O que não daria para esquecer toda aquela história.

Um mês de terapia não  afastaram para que os pesadelos da pequena a deixassem em paz. Em uma noite em que eles foram mais sofridos para Hoshi, Takashi apertou-a junto de si e pediu que a filha falasse. Entre soluços e desespero ela disse apenas:

- Não quero que mamãe morra. Quando as pessoas morrem, nós nunca mais podemos nos encontrar. Foi assim com passarinho que tinha na escola. Minha professora disse que ele morreu. E nunca mais ele cantou para nós.

Takashi olhou para a esposa que estava na porta do quarto. Keiko tinha lágrimas que tentava disfarçar. Ela se aproximou de Takashi e abraçou a filha nos braços do marido.

- Filha, mamãe nunca vai deixar você. Mesmo que um dia você não me veja, eu estarei sempre com você. Vai bastar fechar os olhos. E vai me ouvir cantar pra você.

Apertou seus dois tesouros. Dormiram agarradinhos naquela noite. Depois disso Keiko tirou férias, as primeiras de sua vida. Tudo aquilo era sua culpa, negligenciara sua filha. Mas lá no fundo ela sentia que não tinha muito tempo. Sua saúde estava bem mas um sentimento estranho apossou-se dela. “E se Hoshi estiver certa?”

Sentou-se no escritório do marido, era noite e ele dormia. Naquela noite tudo estava calmo, menos o seu coração. Abriu a gaveta. O kanji ainda estava ali. Lágrimas escorriam de sua face, ela se perguntava se era justo ela impedir um amor daqueles. Um amor que estava tatuado a fogo nos dois homens. Ela deveria acordar o marido e mandá-lo atrás do amor da vida dele, e amar loucamente enquanto ainda havia tempo. Mas
ela não tinha coragem, amava Takashi e morreria sem ele. Se ao menos ela
ficasse sabendo de tudo aquilo no começo não seria tão difícil. Apaixonou-se
pelo marido depois. Provavelmente depois de vê-lo sorrir para Hoshi. Pegou papel e caneta e escreveu. Separou o que escreveu em dois envelopes.  Colocou dentro da bolsa e voltou a dormir.

- Tudo bem Keiko? Hoshi?

- Dormindo meu bem...

- Você está... Chorando? – Takashi não se lembrava de ter visto a esposa chorando, ela sempre tão prática e inatingível. – Você está bem meu amor?

- Takashi... Meu querido “Shi”, quero que saiba que eu te amo demais. Muito mesmo, sei que sou uma péssima esposa, mas eu o amo. Sempre te amei... Meu amor o seguirá sempre. – riu secando as lágrimas. – Mesmo que não me veja.

- Meu bem eu sei disso, e você é uma esposa adorável. E você vai me deixar somente quando estiver bem velhinha, de bengala e cabelos brancos, ou vamos partir juntos, porque eu não saberia viver sem você. Não fique preocupada tenshi, são apenas sonhos de criança.

Abraçou a esposa e chorou por dentro. Ele não pode dizer que a amava também. Não poderia mentir. Não esse sentimento. Amava apenas uma pessoa, duas, Hoshi e Shou. Mas, tinha muito carinho por Keiko, e doía vê-la triste assim. Amou a esposa naquele dia como nunca havia amado antes. Nem ele soube como pode.


oOo



          Shou debatia-se em um pesadelo intenso. Gritava o nome de Saga, acordou suado nos braços ainda fortes de seu pai, sua mãe apareceu logo com um chá quente para o filho.

- Calma filho! Você está bem? – perguntou Misato secando o suor do rosto do filho.

- Sim kaa-san, foi só um pesadelo. – pegou o chá e tomou, realmente precisava se acalmar.

- Quer nos contar? – o pai perguntou, ele ouviu bem o nome de Saga do quarto.

- Saga estava desesperado. Ele gritava “Salve minha estrelinha” e sumiu. Não me lembro do resto. Pai não entendo... – lágrimas corriam dos seus olhos.

- Filho acha mesmo prudente fazer o show em Sendai? Está pronto? – perguntou Misato preocupada.

- Estou bem. Foi só um sonho idiota. – Shou estava com raiva, não conseguia esquecer Saga.

- Estamos contigo filho, sabe que pode contar conosco, sim? – o pai segurou o rosto do filho, fazendo com que olhasse em seus olhos.

Shou sorriu e abraçou os pais. Sim ele sabia que poderia contar com eles sempre.

oOo

Semanas depois um grande negócio que a firma na qual trabalhava, o levaria para os Estados Unidos, por alguns dias. Não era a primeira vez que o serviço exigia. Com Keiko de férias ele ficava mais calmo com relação à Hoshi. Queria até que as duas o acompanhasse, mas Keiko descartou a hipótese, esperaria ele em Sendai. Eles poderiam ficar na
praia com Hoshi. A pequena não conhecia o mar, e ela tinha amigas que há muito tempo não via.

Keiko colocou as últimas bagagens no carro com a ajuda de Aya. O marido havia viajado no dia anterior. Então ela pegou uma pequena caixa com uma linda cerejeira pintada à mão, pertencera a sua mãe. Ali ela havia colocado as cartas que escrevera no começo do mês. E mais uma joia que mandara fazer exatamente igual à de Shou e de Saga. Mas com o seu Kanji e uma estrela ligada a ele. “Keiko” e Hoshi estariam juntas pela eternidade. Entregou a Aya.

- Aya quero que guarde essa caixa. Se puder não abra por favor. Eu confio em você. Abra apenas se alguma coisa me acontecer. Não se preocupe. Não está acontecendo nada. Só me prometa seguir a risca minhas instruções sim? – Keiko tinha um sorriso fraco na face.

- Está bem. Nem vou te encher de perguntas! E se alguém me perguntar de você no trabalho direi que você está em alguma montanha no Tibete e que lá celular não funciona! Divirta-se! Descanse bastante e volte logo, aquele hospital não é o mesmo sem a senhora! – Aya abraçou a chefe. Mais que chefe, sua amiga.

Aya sabia que algo estava acontecendo mas não sabia bem o que era, mas não trairia a amiga. Guardou a caixa consigo.

Keiko e Hoshi se instalaram em um hotel e trataram de começar a curtir as férias. Filmou a filha caminhando para o mar gelado. Tirou mil fotos. A pequena com o dedinho na boca fazendo cara feia com o gosto do mar. As duas correndo pela praia, uma das amigas de Keiko filmou, gracinhas para o pai que estava longe.

Keiko colocou as imagens no e-mail do marido assim que voltaram ao hotel e finalmente colocou a pequena para dormir. Falou com o marido, até dormir. Tudo era tão diferente.

No dia seguinte ela iria com a filha visitar uma das amigas que morava em uma casa bem próxima a praia, curtiram a praia próxima ao hotel pela manhã e depois de um almoço bem divertido pegaram o carro e foram para seu passeio.

Durante o trajeto, Keiko começou a sentir o carro balançar. Era muito forte, um terremoto. Mas, este era muito mais forte que todos ao qual passara. Olhou para o mar. Virou o carro e começou a voltar para o hotel o mais rápido que podia, desviando de carros e postes que caiam. Hoshi estava em pânico. Keiko tentava acalmar a pequena cantando para ela, aos poucos ela foi se acalmando.

“Olha, estamos entrelaçados

A voz do amigo ecoou no coração

Com lágrimas, não se enxerga o caminho

Levante-se agora! Olhamos para o mesmo céu

Não estamos sós

Não precisa carregar tudo

Conta com os outros, acredite agora nos laços

Eles não se desmoronam, não desaparecem”

Keiko contudo não gostava do via. Precisava sair dali. Ventava muito. Seu instinto dizia que deveria chegar ao hotel o quanto antes.

oOo

Alice Nine se  apresentaria em Sendai em dois shows. Um no dia onze e outro no dia doze, teriam o domingo para turismo. Shou gostava de ficar horas caminhando ou simplesmente olhando o mar. Faria bem a ele, seria o primeiro show depois de sua quase morte.

Chegaram ao hotel pela hora do almoço, teriam pouco tempo para almoçar e ensaiar para logo mais a noite. Mal chegaram ao local do evento e o motorista voltou para o hotel. Sentindo o terremoto. O local do evento não era muito seguro. Não conseguiram ir muito longe, o transito ficou caótico. Então desceram e foram correndo para o hotel. Ficaram junto com os outros hospedes na calçada ou na rua mesmo enquanto o tremor diminuía. Os garotos nunca haviam sentido nada com tamanha
magnitude.

Minutos depois foram instruídos a entrar. Um funcionário gritava, que havia perigo na rua. Um caos se instalou na recepção não havia energia no prédio. Com muito custo, os funcionários do hotel, que por sorte não estava lotado, conseguiram explicar que deveriam subir para o último andar. Um Tsunami havia atingido a costa de  Sendai e em poucos minutos atingiria a cidade. Subiram para o último andar onde funcionava um restaurante todo envidraçado que dava para ver o mar ao longe. Por sorte o hotel ficava mais na parte periférica da cidade, bem longe do mar.

Do vidro puderam ver a onda chegando, era devastador. A natureza em fúria, em toda a sua força. Arrastando casas, carros, tudo que se colocava a sua frente, água e lama invadiram a cidade com um força arrasadora. Nada sobreviveria aquilo.

Shou nesse momento pensou em tudo que passara desde que conhecera Saga. Puniu-se, deveria estar preocupado com sua mãe, com seu pai. Mas não estava. Pensava em Saga, em como o amava, depois de tantos anos. De tanto silêncio.

oOo

Keiko parou o carro era impossível continuar, o hotel estava a algumas quadras de onde estava. Quando o terremoto parou se sentiu mais aliviada. Mas logo depois as pessoas começaram a correr para lugares altos. Ela conseguiu entrar em uma casa mas essa foi levada
pela água. Três ocupantes na casa um casal e um bebê. Sem saber o que fazer eles conseguiram sair pela janela do segundo andar e com muita esforço alcançar o telhado. Alguns minutos a correnteza a empurrou a casa para frente. Alguma coisa bloqueou a navegação delas, por ironia Keiko reconheceu o hotel em que estavam hospedadas.

oOo

Shou olhava passivo o desastre a sua frente. Não movia um músculo, seu único pensamento era Saga e seu pedido, “Salve minha estrelinha”. Algo o tirou do seu torpor. Chamou os amigos. Precisavam descer alguns andares. Chamou um dos funcionários do hotel com uma chave mestra. Ninguém entendia o que ele queria mas não questionaram. Seguiram Shou que pediu para abrir um dos quartos.

- Aqui não dá tem que ser no andar de baixo. – disse correndo para fora do quarto.

Shou olhou pela janela, não poderia descer mais um andar ele estava inundado. Olhou para o telhado e gritou para o moço para que passasse as crianças. Olhou para Keiko e a reconheceu. Shou se dependurou na sacada, Tora e Nao seguravam suas pernas. Pegou o bebê e voltou para dentro puxado pelos amigos. Nesse momento parte do
teto cede o rapaz cai, e não consegue voltar ao telhado.

- Doutora me ajude com a garotinha, tem que levantá-la o máximo que puder. – Shou gritou para Keiko.

Nesse momento a moça que estava ao lado de Keiko se atira tentado alcançar os braços de Shou. O rapaz consegue com algum esforço segurá-la, os outros o ajudam a voltar. A moça desesperada grita pela filha. Shou percebe que não tem tempo o movimento começa a soltar a casa do seu enrosco.

- Doutora vamos lá! Você consegue! – Shou grita novamente.

- Filha agora é sua vez, tem que ser forte, agarre o moço e não solte, entendeu? – Keiko abraça e beija a filha. – kaa-san te ama muito. Nunca se esqueça disso tenshi!

Keiko levanta a filha o mais alto que pode equilibrando a pequena suspendendo ela pelas perninhas. Hoshi agarrou um dos braços de Shou, ao perceber que não havia mais tempo, Shou grita:

- SEGURE MINHA MÃO!!!

- NÃO DÁ... CUIDE DE SAGA E DE HOSHI, SÃO MEUS TESOUROS! AGORA SÃO SEUS!


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