Não podia dormir. A noite era fria, mas sentia um calor correndo pelo meu corpo. Não conseguia esquecer JunHyung por um segundo sequer.

   Revirava na cama, nervosa e ansiosa para o amanhecer. Tinha cede, misturada com um frio na barriga aterrorizante, como um pressentimento.

   A cena repetia-se dentro de mim milhões de vezes. Havia sido meu primeiro beijo, e mesmo não tendo sido com o amor da minha vida, ainda sim eu tinha gostado. Gostado muito.

   Cada toque, cada sensação surgindo vagarosamente, a respiração e presença de JunHyung, que me fazia sentir segura.

   Caminhei até a cozinha em busca de água, sem querer, chutei o pé da mesa, gemendo de dor.

_ Ta tudo bem? – era SoonHyun.

_ Aham. – ainda gemia.

   Ela apenas permaneceu me encarando.

_ Não, não está. – confessei. – Aconteceu uma coisa que... Ai Deus... – o frio na barriga novamente, apenas por lembrar.

_ O que? O que aconteceu? – aproximou-se.

_ O clipe... Por causa do clipe, JunHyung precisou me beijar e...

   Omma pulava histérica calando seus gritos.

_ Sério? Como foi? Ah, eu sei quem é ele! É o que faz as rimas legais... o do hip-hop, não, rap, sei lá... AAISH, ele definitivamente tem um bom rosto, é atraente e...

_ Omma, não esta ajudando muito! Estou muito confusa e... Não sei, não consigo esquecer! Foi meu primeiro beijo. – confessei envergonhada.

_ AAH, que linda você! Isso é completamente normal... Suas mãos vão soar imediatamente sempre que se lembrar, e eu sei, é uma indescritível sensação.

_ Mas omma, é normal ter beijado alguém desejando que fosse outra pessoa? Não consigo parar de pensar em Onew por um segundo, e eu sei que foi um beijo apenas para o vídeo, o que faz com que eu me sinta pior... Que tipo de garota Onew pensara que eu sou?

_ Aish... está mesmo pensando nisso? Vivemos em tempos modernos garota! Não pense mais assim... – alisou meus cabelos. – Espere pelo lançamento do vídeo e veja a reação dele, sem sofrer por antecipação. Tudo ficará bem... – encaramos uma a outra.

_ O que ficara bem? – Kiseop apontou descabelado na porta, com olhos incomodados pela luz forte da cozinha.

_ Porque não esta dormindo? – omma perguntou um tanto irritada. – Depois é um sacrifício te acordar!

_ Aish... se vocês duas não gritassem tanto, talvez eu não tivesse acordado! – retrucou. – Do que tanto falam afinal? – dessa vez, encarou-me.

_ Não vai acreditar filho... – ela dirigiu-se até ele, contando-lhe um segredo.

   Não. Ela não faria aquilo! Não contaria nada sobre a nossa conversa para Kiseop.

   Kiseop encarou-me friamente, com olhos arregalados e concentrados em um pensamento. Piscou freneticamente, passando as mãos por seus olhos, dirigindo-se imediatamente à seu quarto.

_ Ué, acho que ele não achou legal... – Lee SoonHyun encarou-me confusa.

_ Omma, o que contou a ele? – curiosa.

_ Ah, contei a novidade... – olhou-me atenciosamente. – Disse sobre ter perdido o seu primeiro beijo com o Jun lá...

_ Omma! Porque contou? – pasma.

_ Ué, não podia? – permaneci pensativa. – A Ana, preciso ir dormir ou não conseguirei acordar amanhã. Durma bem. – apenas saiu, deixando-me ali, encostada na mesa, morrendo de vergonha de Kiseop.

   Achei melhor sossegar meu facho e ir dormir. Precisava estar sem olheiras para a gravação do dia seguinte. Tentei não pensar muito no que aconteceria na gravação. Relaxei apenas, ignorando todas as questões não respondidas.

__

   O celular berrava ao meu ouvido. Mal conseguia raciocinar.

   Arrumei-me rapidamente, estava atrasada. Faltavam 15min para as oito horas, e eu ainda precisava secar o cabelo, calçar os tênis e tomar café da manhã.

   Fiz tudo rapidamente, dirigindo-me para a cozinha.

_ Ya, cadê seu uniforme? – era Kiseop.

_ Hoje não vou à escola. – expliquei distraída.

_ Porque não? – ele pegava o leite na geladeira, descalço.

_ Cadê seus sapatos? – perguntei.

_ Responda a minha pergunta, por favor? – ele encarava-me de maneira irônica.

_ Aish... hoje é o ultimo dia de gravação de ‘On Rainy Days’. – expliquei sem o mínimo de atenção.

_ Porque não contou sobre o vídeo? – curioso.

_ Ué, porque contaria? O que iria dizer? “Boa sorte Ana, fico feliz por você” não faz muito o seu feitio. – encarei-o certa do que estava dizendo.

_ Ta, mas você não vai hoje! – concluiu.

   Eu apenas ri. Nada fazia sentido naquela conversa.

_ Pode vestir seu uniforme! – aproximou-se com um bigode de leite. Eu ri de sua face engraçada. – Ta rindo de que? – estava irritado.

_ Nossa Kiseop, que mau humor! Limpe esse bigode de leite, tchau. – dei as costas. Esperaria por JunHyung na calçada. 

   Passaria pela porta de entrada, quando inesperadamente Kiseop segurou-me pelo braço.

_ Ya! – foi tudo o que pude dizer, surpresa.

_ Por favor Ana, não vá! Diga que não pode, que está passando mal ou algo assim. Só não vá! – ele implorava.

   Olhando Kiseop bem de perto, percebi que seus olhos estavam mais inchados do que o normal, como se ele tivesse ido dormir chorando, como eu costumava fazer.

_ Mas Kiseop, porque eu não iria? – não entendia todo aquele drama.

_ Tem razão. – ele soltou meu braço. – Talvez você goste de ser molestada por aquele idiota! – encarou-me sério.

_ Ya! – com fúria, estava decidida em acertá-lo com um soco em seu peito, mas ele segurou meu punho com mais força, aproximando-se de mim lentamente. – Me solta!

_ Pra que? Pra você ir se entregar para aquele babaca? É bom que ele entre aqui pra eu arrebentar a cara dele em um soco só... – cerrou o punho livre.

_ Pode me soltar. Não tem ninguém aqui pra me humilhar... – soltei tais palavras inconscientemente. Kiseop arregalou os olhos e soltou-me imediatamente.

   Permanecemos nos encarando. Eu arrependida por ter dito aquilo, não fazia sentido dizer, eu já havia perdoado-o. E ele arrependido pelo que havia feito no passado.

   Os olhos vidrados de Kiseop, agora se concentravam na janela. Ouvi uma buzina de carro, era JunHyung.

   Olhando-o pela ultima vez, como uma despedida, abri a porta

_ Ana, por favor, não vá... – foi o que pude ouvir ele dizer antes de sair.

   Estava tensa. Era hora de encarar meus sentimentos de frente.

_ Bom dia! – ele disse, também um pouco tenso. Abriu a porta do carro para eu me sentar, sempre como um cavalheiro. Enquanto ele dava a volta no carro, pensava em assuntos diferentes, caso o silêncio tomasse conta. Não consegui pensar em nada até que ele entrasse.

   Ele seguiu caminho, concentrado na direção. O silêncio estava me matando, se pelo menos o radio estivesse ligado, mas não...

   JunHyung inclinou-se para frente, encarando o céu. Eu apenas observava seus movimentos.

_ É, estávamos contando com uma chuva natural para a gravação de hoje, mas pelo que vejo, teremos que improvisar mesmo. – ele finalmente disse.

_ C-como farão para que chova no clipe? – perguntei insegura.

_ Chuva artificial! – encarou-me nos olhos pela primeira vez. – Chamaremos o carro de bombeiro. – explicou finalmente o que eu queria saber.

   Chegamos enfim ao local. A gravação seria ao ar livre, em uma rua que havia sido interditada somente para o clipe.

   Fazia frio. Não me agradava muito a ideia de ter que ficar ensopada diante daquele vento, eu soprava impiedoso, mas eu faria. Acabaria logo com aquilo.

_ Que bom que chegaram! – ShinHo. – Ana, hoje está mais bonita! Vá se trocar com calma, gravaremos as parte solo dos meninos primeiro. Espere ali com as outras garotas. – ordenou-me.

   Apenas fui.

   Lá, as garotas exalavam beleza e entusiasmo. Senti-me um tanto inferior, mas tratei de ignorar esse sentimento, olhando-as amistosamente.

_ Ya, realmente beijou JunHyung? – uma delas perguntou sentando-se ao meu lado.

   Aquela pergunta havia me chocado, de modo que não sabia como responder.

_ A-ah, sim. – esfreguei as mãos para esquenta-las.

_ É uma sortuda! Mas então, como é? – perguntou-me curiosa.

_ Normal. – tremi apenas por lembrar-me da sensação.

_ Aish, como é esnobe! Mal o beijou e já está querendo menosprezá-lo... francamente! – partiu, deixando-me ali sozinha, sem entender.

   JunHyung aproximou-se com luvas em suas mãos, sorrindo.

_ Não ligue pra ela! Coreanas geralmente são dramáticas... – ele ria pra mim. Eu apenas conseguia desejar ter aquelas luvas em minhas mãos. – Quer as luvas? – ele percebeu que eu olhava para elas.

   Calei-me por um segundo.

_ N-não! Fique com elas. – disse.

_ Você é uma péssima mentirosa! Primeiro você mente dizendo que meu beijo foi apenas “Normal” – imitou minha voz. – Depois diz que não quer essas luvas mesmo secando-as com tanta ferocidade! – ele riu de minha expressão surpresa. – Eu estava observando você e percebi que tinha frio nas mãos, de modo que peguei essas luvas pra você. – deixou as luvas em meu colo, partindo. Me deixou ali, digerindo aquelas palavras.

   Desejei ser um tatu, cavar um buraco e me enterrar. Ele me ouviu dizendo que seu beijo havia sido apenas normal! AAAH! Surtei silenciosamente.

   Todas as garotas filmaram na chuva com seus respectivos pares, e eu estava ali, prestes a congelar enquanto JunHyung gravava algumas cenas sozinho na chuva.

   De pouco em pouco, as meninas foram sendo dispensadas enquanto eu esperava ali até a minha vez de gravar. Aquilo me deixava cada vez mais nervosa. Acho que a espera e a expectativa era o que matava mais.

_ Ana! – ShinHo me gritou, eu havia dormido um pouco sem perceber. – Enxugue essa baba e venha gravar. – todos riram.

   OMO! Baba? Onde? Aaaaish!

   JunHyung já estava todo molhado, olhava pra mim tremendo de frio, com lábios roxos e provavelmente gélidos.

_ Ok, Chiao Ana, você vai passar por essa parte aqui correndo. – o diretor explicava-me pelo computador. – Chegando neste ponto, você vai se encontrar com ele, e vai abraça-lo. A ideia é que vocês se beijem novamente, mais se não tiver condições, tudo bem.

   Olhei para JunHyung, que me encarava também. Tremi só de pensar em beijá-lo novamente. Não conseguiria fazer sem desmaiar, então, não faria.

_ Então, você acha que da pra fazer? – o diretor perguntou.

_ Fazer o que? – estava confusa. Ele falava da cena, ou do beijo?

_ O beijo criatura! Acha que consegue? – todos me encaravam.

_ Ah, eu tenho que responder isso agora?

   JunHyung gargalhou nervoso.

_ Aish... apenas vá lá e faça o que conseguir... – ele havia cansado de me explicar.

   Começou a “chover” sobre mim então. Os pingos d’agua eram atingidos pelo vento, e ao tocar minha pele eram como pedaços de gelo. Congelei.

   Fiz como o combinado. Tentei correr o mais graciosamente possível em direção a JunHyung, e ele esperava-me a um extremo da rua. Seus olhos eram fixos em mim, e eu me sentia cada vez mais nervosa conforme me aproximava.

   Abracei-o enfim. Meu corpo encostou-se a seu peito duro como pedra, e ele abraçou-me pela cintura. Encostei minha cabeça em seu ombro, abraçando forte seu corpo que apesar de molhado, era quente.

_ Me desculpe. – ele disse baixo em meu ouvido, passando a encarar a fundo meus olhos. Seus lábios estavam roxos de frio.

   Desculpar pelo que? Não havia sentido para desculpas.

   Inesperadamente, Jun agarrou-me mais forte, pressionando meu corpo contra o dele. Sua boca tocou minha testa, percorrendo por meus olhos, nariz e finalmente pousando em meus lábios.

   Senti-me tremendo novamente. As cambalhotas em meu estomago iam e vinham, enquanto eu estava completamente envolvida por seus toques.

   JunHyung mordeu meu lábio inferior, subido sua mão até meu pescoço, beijando-me mais a fundo.

   Não consigo explicar a sensação. Chovia frio em nossos corpos, mas sentia-me quente. O corpo de JunHyung atingia-me como um escudo, e protegia-me do frio.

   Espontaneamente, minhas mãos percorriam por seu corpo também. Com uma mão pousada em seu peito, caminhava com a outra em sua nuca, fazendo com que ele me apertasse mais para si. Senti como se nossos corações estivessem se abraçando.

   Ele inclinava-se sobre meu corpo, e me beijava de uma maneira que eu não conseguia cessar. A cada segundo, explorava uma parte diferente de meu corpo, sem faltar-me com respeito.

   Desta vez, segurando-me forte pelos braços, Jun olhou em meus olhos, que abriam-se lentamente, como se eu estivesse acordando de um sonho bom, e sorriu discretamente. Seus lábios gélidos seguiram até o pé de meu ouvido, e ele beijou ali. Paralisando-me. Não conseguíamos nos soltar, ainda abraçados, ele acariciava minhas costas, e eu, seu pescoço. Estava envergonhada.

   Como voltaria a encarar naturalmente as pessoas que estavam ali vendo. Odiei-me por envolver meus sentimentos em uma coisa profissional. Sabia que daquele momento em diante, passaria a enxergar JunHyung de maneira diferente, e temia que ele não sentisse o mesmo.

   Meu coração estava confuso. Minha cabeça explodiria.

   Não sabia o que sentia por Onew, não sabia o que sentia por Jun, não sabia de nada.

   Ainda abraçada a ele, pensava em como agiria depois dali. Em como ele passaria a me enxergar depois daquilo. Eu sabia que havia ficado nítido para ele, que eu o queria.  Já eu, não sabia como interpretar seus movimentos, não sabia nada sobre aquele tipo de coisa.

   “Aish! Porque tudo tão confuso?” – martelava em minha cabeça.

_ Você pode me soltar se quiser. – ele brincou.

   Encarei seus olhos novamente, sem palavras.

_ Calma. Me desculpa por confundir seus sentimentos, mas eu realmente quero você! Vou me esforçar pra isso – ele permanecia encarando meu rosto. – de modo que por favor, tenha olhos pra mim... – segurava meu rosto em suas mãos. – Eu prometo protege-la sempre. E eu sei que seu coração bateu por mim, da mesma forma que o meu bateu por você... – encerrou selando nossos lábios por uma ultima vez.

   Chorei discretamente. Ninguém pode ver, meu rosto estava todo molhado, mas eu chorava de felicidade. Não acreditava. Enfim, ouvia tais palavras, perdi ligeiramente o chão.