Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 3
Capítulo 2 - A Refém


Notas iniciais do capítulo

Segundo cap on ^^
Espero que gostem.



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Bip! Bip!

- Yudai, desliga esse alarme dos infernos! – a voz abafada de Hideo ajudou a me acordar.

Grogue e ainda com os olhos pregados pelo sono, tateei em busca do despertador, desligando o alarme. Mas, peraí, ele ligou sozinho? Ontem ele não apitou.

- Ei, aquilo é uma mochila? – Hideo disse enquanto tirava o travesseiro da cabeça, ao mesmo tempo em que eu me preparava para voltar a dormir.

Levantei um pouco a cabeça, ativando minha visão noturna, aos poucos as coisas se tornando azuis e tomando diferentes tons, e acabei vendo algo que parecia uma mochila, pousada no chão ao lado da escrivaninha.

Com o que pareceu um grunhido, me levantei sem vontade alguma, indo até lá, e tateei só para ter certeza. Sim, era uma mochila. Suspirei. Parece que algum curador da Ordem entrara aqui enquanto dormíamos, colocara a mochila e ligara o despertador.

- Hideo, se estiver com a visão noturna, desative-a. – avisei. – Eu vou ligar a luz.

Ouvi um resmungo e acho que ele escondeu a cabeça sob o travesseiro novamente. Desativei minha visão noturna e liguei a luz, fazendo meus olhos doerem. Ainda estava escuro do lado de fora, e escutei um grunhido insatisfeito de Hideo.

Em cima da mesa, havia apenas um bilhete, no qual estava escrito:

Yudai. Cidade de Nero, ao norte. Catorze dias, missão de Caça em grupo. Não estará no comando.

- Então? – Hideo perguntou com voz abafada.

- Missão de caça. – Gemi. – Pra mim.

- Boa sorte. – disse, e ouvi-o girar na cama. – Agora pode, por favor, apagar a luz?

- Sim senhor, só um instante. – respondi, enquanto abria o guarda roupa, pegando uma roupa. Conhecendo o pessoal, eles haviam colocado roupas dentro da mochila, junto com mantimentos.

Peguei duas camisas, um casaco, calça jeans, meias, tênis, desliguei a luz e fui ao banheiro, escovei os dentes e tomei um banho para me ajudar a acordar, e então me vesti, colocando a camisa azul de mangas curtas por cima da branca de mangas compridas, e vesti o casaco preto.

- Tchau. – Hideo disse sonolento enquanto eu saía do quarto.

Desci até a cozinha, um pouco distante do refeitório, para pegar algo para comer no café da manhã. Abri a porta e não encontrei Zack lá, só alguns de seus ajudantes, que me deram uma olhada, meio assustados, então me deram pão com manteiga e uma xícara de café, e voltaram aos seus afazeres.

Comi rapidamente, saindo de lá, fui para a saída a qual era mais próxima aos portões da Ordem. O que separava o prédio principal, que parecia ser um enorme prédio quadrado feito totalmente de pedras, com várias torres quadradas e plataformas do portão que era uma enorme faixa ao fundo era um igualmente imenso gramado. Tudo aqui era feito em proporções gritantes, o prédio de pesquisas, onde também ocorriam as cirurgias, era gigantesco, muito mais alto que o prédio onde ficávamos, porém, muito mais estreito do que este.

Do prédio principal, saía uma ponte coberta que passava sobre o lago, e ligava ao prédio dos aprendizes, igualmente grande, já que lá tinham os dormitórios dos novatos e as áreas de treinamento. Eu passei por maus bocados lá quando era um aprendiz.

Tive de pedir para abrirem os portões, coisas enormes que eram abertas por engrenagens, e quando finalmente abriram-nas, saí na imensidão. Grande parte da Ordem era uma planície, mas ao fundo, a floresta começava como uma faixa negra.

Todos os lugares por onde eu vou, sempre tem uma floresta à vista, os únicos lugares onde as árvores não dominam são as áreas das cidade, as quais ainda assim, eram rodeadas por florestas, as estradas, mesmo que asfaltadas, são cercadas por árvores. Aqui, é assim. A natureza é o mais minimamente mudada pela ação humana.

Em parte, o medo de monstros causa isso, pois normalmente, eles pegam aqueles que adentram demais nas florestas, e acabam tomando suas peles e assumindo seus lugares na sociedade, enquanto silenciosamente matam outras pessoas para se alimentar, e depois é o momento em que nós entramos. Os híbridos eram chamados, localizavam o ser.

O que tornava nosso trabalho ainda mais odioso é que, quando matávamos o monstro, a família da pessoa que ele matara para assumir era expulsa da cidade, e se, por exemplo, sobrasse apenas uma criança, ela era entregue à Ordem.

Ando muito rápido. Meu passo normal é o ritmo de uma corrida regular de uma pessoa normal, logo, chego à borda da floresta, adentrando-a rapidamente. Não havia trilha alguma, e as raízes e galhos quebravam sob meus pés, eu também não me importei em não fazer barulho. A possibilidade de haver alguém ali, naquele momento, que era mais ou menos cinco e meia da manhã, era bem remota.

Bocejei várias vezes, para mim, não havia dormido o suficiente. Depois de algum tempo, quando eu já sabia ter percorrido uma boa distância, mesmo que em pouco tempo, o sol começou a nascer, surgindo sob as colinas repletas de árvores, dando uma bela visão. Comecei a me dirigir para onde sabia ter a beira de uma espécie de pequeno penhasco, com a terra batida e o gramado abaixo dele coberto de neve, para depois começar uma nova floresta novamente.

Continuei andando por mais algumas horas, passando por algumas árvores nuas, em contraste com algumas que continuavam com suas folhagens verdejantes. Chutei a neve a minha frente. Ela estava começando a derreter. O inverno estava acabando, mas continuava levemente frio. Uma coisa que devo admitir é que só uso casaco por mero capricho, pois podemos controlar a temperatura de nossos corpos. Por isso que ontem, no telhado, eu tomava cuidado para a neve não derreter em minhas roupas.

Encontrei uma pedra, e espanei a neve que estava sobre ela, sentando sobre ela, tirando a mochila das costas. Era uma mochila preta de viagem, bastante discreta. Abri-a, vendo o que tinha dentro. Algumas roupas, um saco plástico, um saco de dormir escuro, um pacote de bolacha, outro com pedaços de carne seca, uma garrafa térmica de plástico, fósforos.

Suspirei, peguei três bolachas, fechei tudo e joguei a mochila nas costas novamente, mordiscando algumas bolachas enquanto andava. Estava acostumado com aquilo, era sempre assim toda vez que saía em missão, sempre íamos a pé, mesmo que fossemos para o outro lado do continente, acabávamos chegando um pouco mais devagar do que vários automóveis, como carros, isso quando apenas andávamos, quando corríamos, chegávamos bem mais rápido.

Adentrei novamente no meio da floresta, não iria me perder mesmo, sabia para onde estava indo.

Depois de um tempo, quando iniciou uma decida, escorreguei sentado sobre a neve, seria muito mais rápido assim do que descendo normalmente, e levantei rapidamente quando cheguei ao final. Limpei a calça e a mochila e continuei seguindo em frente.

Em certo momento, quando pisei em outro galho sob a fina camada de neve, um animal apareceu correndo. Era pequeno e parecia a mistura de um beagle com um coelho, se me lembro bem, era chamado de bungle, um nome bem feiosinho. Tipos como ele são normalmente usados como bichos de estimação, embora existam os selvagens. Ele deu uma parada, me olhou com os olhos castanhos e foi embora, saltitando por entre a mata.

Acabei achando, logo após isso, um lago com uma crosta de gelo média sobre ele. Aproveitei para pegar água, socando a camada de gelo para quebrar, depois acabei protestando por causa da temperatura. Enchi a garrafa, mas não bebi a água imediatamente, guardando-a novamente na mochila.

Foi quando senti como se fossem pontos em um radar.

Virei a cabeça por instinto, aqueles pontos, eram com certeza. Auras. Aquilo era o que permitia localizar tanto os monstro quanto os híbridos. As dos monstros são especialmente gélidas, e tem um gosto estranho e metálico.

Logo depois veio um grito agudo e infantil.

Xinguei baixo, e comecei a correr até as árvores começarem a se tornar um borrão, para o local onde as Auras se moviam para a mesma direção. Puxei o cordão com o pingente com meu símbolo que usava no pescoço, pressionando-o, e rapidamente ele se alongou, tornando-se uma longa e pesada espada que é chamada de “claymore”. Um humano só a consegue utilizar com as duas mãos, mas apenas necessito de uma.

Corri até a trilha da beira do penhasco e lá estava. Os dois monstros usavam as formas de dois homens altos, um usava um sobretudo marrom e um chapéu da mesma cor e o outro usava um casaco cinza e calças da mesma cor, e eles estavam segurando o que me pareceu ser uma menina.

Assoviei, apenas para chamar sua atenção, e o de cinza se virou, o rosto já retorcido, e um sorriso grotesco surgiu em seu rosto, revelando os dentes afiados.

- Ei, híbridos tem cheiro e gosto melhor que humanos. – ele disse para o outro.

Não vai ser hoje que vou virar ração não.

Ele, do lugar que estava, saltou sobre mim, e acertei um chute em sua cara. Ele recuou por um segundo, urrando, já que esmaguei seu nariz para dentro da cara. Aproveitei o momento para cortá-lo ao meio.

Escutei seu corpo se desintegrar, mas já estava direcionado ao outro. Dei só um passo à frente e ele agarrou a menina, tentando usá-la como escudo. Os olhos azulados da menina estavam arregalados e seus pés pendiam a vários centímetros do chão.

Aquilo me deixou irritado e nervoso. Irritado por ele ser covarde o suficiente para usar um escudo, e nervoso porque, se eu errasse minimamente, ela é que poderia sair machucada. Então, olhei para a altura. Ele a segurava na altura de seu peito, mais ou menos.

Fiz o arriscado mais seguro no momento. Arranquei, correndo para trás do monstro mais rápido que sua visão acompanharia, e quando ele começou a se virar apenas, usei apenas a ponta da claymore para arrancar sua cabeça.

Seu corpo imediatamente começou a virar pó, e a menina caiu com pesadamente no chão. Ela era magra e pequena, com a pele clara e cabelos negros ondulados até seus ombros. Ela estava usando um casaco curto, um suéter lilás, uma saia curta, calças por baixo da saia e botas. E ela aparentava estar muito assustada.

E ela começou a chorar.

- E-ei. – gaguejei, sem saber o que fazer.

Ela continuou chorando e olhei um pouco envolta, vendo uma bolsa de viagem – bem pequena, aliás. – jogada num canto, e mais a frente, outras duas, que deveriam ser as que os monstros levavam.

Peguei a menor, que era muito leve, e presumi ser dela, e voltei lá, onde ela ainda estava chorando. Não podia culpá-la. Num momento quase foi devorada, no outro foi usada como escudo, isso deveria deixar a pessoa num extremo estado de choque.

- Ei. – falei novamente, me ajoelhando ao seu lado e pousando a mão em sua cabeça. – Não precisa mais chorar, eles não vão fazer mais nada.

Terminei de dizer aquilo e ela me abraçou, soluçando.

Tenho que admitir, fiquei meio sem reação. Meu costume já é ver os humanos saírem correndo quando me vêem, ou só me olhando assustado, mas uma humana, criança mais ainda, me abraçar deliberadamente é novidade.

Só depois de um tempo foi que fui me tocar que tinha que fazer alguma coisa. Acabei retribuindo o abraço e perguntei:

- Qual seu nome?

- Raquel... – respondeu, um pouco mais calma.

- Bom... Raquel, o que você estava fazendo com aqueles dois?

- Eles me obrigaram... Eles me acharam quando eu tinha oito anos, e sempre me obrigavam a seguir eles, eles me batiam, mas essa foi a primeira vez em que...

- Hã? Quantos anos você tem?

-... Dez.

Ela é tão pequena que aparenta ter uns oito anos. E ainda mais, se eles estão com ela desde os oito, ou melhor, estavam, então... Aqueles dois batiam nela, então ela era, digamos, o brinquedinho deles?

Ainda meio atordoado tanto com o abraço quanto o pequeno resumo do que acontecera, levantei e disse para ela fazer o mesmo, enquanto pegava minha mochila. Se aqueles dois a obrigavam a acompanhá-los, então ela deveria ser órfã, e portanto, não tinha para onde ir.

Ela me olhou meio curiosa, e percebi seu olhar. Seus olhos ainda estavam molhados, mas ela não demonstrava medo. Só uma curiosidade infantil.

- O que foi? – perguntei.

- Você parece novo. – disse com simplicidade.

- Hã?!

- Você parece ser novo. – repetiu. – Qual o seu nome? Quantos anos você tem?

- Me chamo Yudai. – respondi. – Tenho catorze... Quer dizer, quinze anos.

- Por isso é que você parece novo. – ela disse. – Já vi dois antes, mas eles aparentavam ser adultos.

Entendi que ela estava se referindo a híbridos.

- Hm, como eles eram, Raquel? – perguntei, me abaixando para pegar a sacola dela. Se ela não tinha ninguém, eu teria que levá-la ao menos até a cidade mais próxima.

- O homem era alto, muito alto, uns dois metros. – ela disse. – Ele tinha o cabelo até os ombros mais ou menos e parte dele caía sobre o olho direito dele, e dava pra ver que ele usava um tapa-olho negro que parecia mais uma faixa grossa.

Nunca vi ninguém com essa descrição, mas já conseguia sentir até imponência.

- A moça que eu vi não era tão alta. Ela era bonita, o cabelo dela era bastante ondulado, chegando a ser quase cacheado, bastante longo. Se me lembro, chegava nos quadris dela.

Aquela descrição lembrava...

Balancei a cabeça, não era hora de lembrar do que ocorrera naquele dia.

- Bom, eu nunca vi ninguém assim. – menti em parte. – Hã, você não ficou chocada com os dois ali atrás?

Ela maneou a cabeça negativamente. Outra raridade, que estranho. Expliquei pra ela que durante os próximos dias então, ela iria acabar me acompanhando. Ela aceitou rapidamente e me pareceu ficar feliz. Estava chegando a me sentir deslocado em relação à alegria que ela estava demonstrando.

Bom, parece que eu teria companhia.




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Notas finais do capítulo

Agora a fic está andando de verdade, prometo o próximo cap logo!



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