Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 29
Capítulo 28 - Lucidez


Notas iniciais do capítulo

Yeah gente, o momento que vocês estavam esperando... O quê? Leiam para saber! XD



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       Chuva.

       Sinceramente eu estava ficando cansado disso. Chuva, chuva, chuva. Ah, é mesmo. Eu tinha que me lembrar de que era primavera, e que a primavera e o verão são as estações que tentam matar os Darneliyanos afogados. 

       Mas não significava que estávamos parados.

       Basicamente fazia um dia desde que havíamos saído de Mars. Paramos numa caverna, dormimos lá, e quando a chuva começou, basicamente deixamos nossas coisas lá e saímos de armadura. Quer dizer, claro que estávamos nos molhando, mas ao menos a armadura não atolava na lama.

       Já que tudo o que falássemos seria ouvido por todo o grupo, Susana estava irrealmente quieta atrás de mim. Sério, ontem eu me perguntei onde era o botão de desligar dessa garota, ou onde eu tirava sua bateria. Ela simplesmente não parava quieta e parecia muito falar alguma coisa com Raquel, que tentava ao máximo mantê-la quieta.

       Estou com um pressentimento quanto a isso. – Hideo disse.

       Qual? – perguntei e tentei espiar em sua mente, mas ele bloqueou o pensamento.

       Não digo. – riu. – Você me mataria se eu dissesse.

       Ah não, já começou, então termine.

       Claro que não. Não vou arranjar briga com o número 1. – ironizou.

       Eu havia descoberto que poderíamos nos agredir mentalmente. Há três anos Hideo sem querer deu um jeito de dar meio que um soco em minha mente que me rendeu uma enxaqueca por dois dias. Eu poderia fazer isso com ele.                              

       Não, nem pense nisso.

       Já pensei. – bufei e lhe dei um soco mental. Consegui ver que ele ficou tonto. Sua cabeça começou a latejar.

       Ei!

       Nesse exato momento, a Aura do Despertado. Tinha cheiro de... Tomate. Chegava a doer no meu nariz, era enjoativo. – Depois eu quero que você me diga. – respondi e o senti concordar fracamente. Ele estava com enxaqueca.

       - Espalhem-se. – falei. – Está se aproximando.

       Não era o melhor local para se lutar contra um Despertado. As árvores eram fechadas, ou seja, muito próximas uma das outras, e por causa da chuva, o terreno estava lamacento, o que com certeza poderia atrasar os movimentos. Dei uma olhada ao redor e vi a melhor maneira de aguardar o Despertado.

        - Escondam-se atrás das árvores e tentem suprimir suas Auras o máximo que puderem. – falei.

        Com um rápido movimento, todos os três foram para trás de três árvores que, inteligentemente, eram bastante afastadas uma das outras, deixando-me sozinho, sem me esconder. E essa era a intenção.

        A Aura de tomate estava se aproximando em alta velocidade, como se houvesse sido lançado por um canhão. Estava a mais de dois quilômetros, mas na velocidade que se aproximava, chegaria em menos de dois minutos.

        Cada vez mais... Mais... Mais...

        Saltei e somente senti o vento passando por debaixo de meus pés, e uma vala criou-se na lama e escutei o som de algo batendo numa árvore. Olhei por cima do ombro e vi a árvore caindo de lado. Mal pousei tive de saltar novamente pelo ataque repentino. Talvez fosse por isso que estava causando tanto problemas, sua velocidade talvez valesse mais que sua força e tamanho. Se bem que ele não era tão pequeno, deveria ter um pouco menos de 1,80, pois eu consegui ver que era mais baixo do que eu.

        Peguei meu símbolo e o transformei numa espada, então com um braço, segurei um galho da árvore sobre mim. Me icei para sobre ela e o Despertado foi tão rápido que sequer escalou-a, mas correu sobre a árvore correndo e veio em direção ao galho em que eu estava. Pus minha espada em frente ao meu corpo e um som metálico. Ele havia a mordido, mas continuava movendo-se no mesmo lugar a ponto de ser apenas um borrão indistinto à minha frente. Faíscas saíam pela fricção do metal que formava minha espada e seus dentes. Meus braços queimavam por deixá-lo no lugar e minhas pernas por causa dos saltos, mas me mantive firme.

        Joguei meu braço para o lado e ele se soltou de minha espada, batendo na árvore ao lado. Saltei de cima da árvore em direção à lama e o Despertado tentou me atacar por trás e praticamente saltei numa cambalhota para trás e cravei a espada em algum lugar de seu corpo. Um rugido e ele parou no lugar.     

        Ele parecia um gato amarelo enorme que no lugar de patas dianteiras possuía duas asas e sua cauda era um verdadeiro chicote de ferro. Ele ficou parado por um tempo até começar a se balançar de modo furioso para me tirar de cima dele. Vi Diego olhando por trás da árvore a qual estava escondido, e assenti para ele. Ele ergueu o polegar em sinal afirmativo e soltei minha espada. Fui lançado de cima do Despertado e girei para pousar de pé na lama.

        Quando o Despertado começou a se recuperar, Diego agiu, e para minha surpresa, ele não usou uma Claymore. Era...

        Um skate?

        Bom, ao menos foi um ataque bem sucedido, pois ele acertou bem a cabeça do gato/pássaro e tirou minha espada de suas costas, atirando-a em minha direção. Peguei ela pelo cabo antes que fosse muito longe e percebi que o skate prateado que ele transformara sua espada não tocava o chão.

        - Diego, um... Skate? – Raquel perguntou.

         - Problemas? Deu certo, não deu? – respondeu.

         Bom, acho que ele tinha razão. As garotas saíram de trás das árvores e percebi que Susana tinha um arco prateado e mirava certeiramente na cabeça do Despertado, mas no momento em que a atirou, ele correu e vi a flecha vindo em minha direção. Ergui a mão e peguei a flecha quando sua seta já estava prestes a riscar o meu capacete. 

         - Sinto muito! – ela exclamou.

         - Tudo bem, eu sei que você não ia mirar em mim.

         Saltei quando senti a Aura do Despertado vindo novamente em minha direção. Talvez ele quisesse acabar primeiro com o comandante da missão. O problema é que dessa vez ele alçou voo atrás de mim.

         Ele abriu a bocarra em direção a mim, demonstrando os dentes absolutamente ameaçadores. Usei o Corte Imaginário, tirando a espada e transformando-a numa espécie de corda e me puxei em direção a um galho numa velocidade na qual o Despertado não poderia me acompanhar. Vi os olhos cor de rosa piscarem sem entender como eu de repente me direcionara para baixo.

         - Como você fez isso?! – Diego exclamou.

         - Longa história, cuidado com ele!

         Ele deu um jeito de se mover e atirou seu skate em direção ao borrão que era o Despertado. Ele foi como um míssil giratório bem em sua direção, só que um imprevisto: O Despertado se virou e abriu a bocarra.

         E... O engoliu?

         Eu normalmente esperaria o skate atravessá-lo diante a velocidade em que foi atirado, mas... O Despertado apenas se sacudiu e soltou um rugido.

         - Meu símbolo! – Diego exclamou.

         - Tome! – gritei para ele diante o trovão que ribombou e atirei minha espada para ele.

         - Ei, mas essa é a sua!

         Ignorei-o e fui correndo em direção ao Despertado. Ele se virou para mim e começou a rugir. Só começou, pois cortei seu maxilar com o Corte Imaginário.

         Admito que foi uma cena nojenta vendo-o com a língua pendurada pelo pescoço, mas balancei a cabeça e vi o skate de Diego se precipitando por sua garganta. Não hesitei em por minha mão por sua garganta e puxar o skate numa mistura de baba e sangue. Bom, ao menos ele estava impossibilitado de me morder.

         - Que nojo! – Raquel exclamou, e com razão.

         Diego apareceu atrás do Despertado e desferiu um golpe cortando uma de suas asas. Os olhos do Despertado se arregalaram e sua cauda moveu-se mais rápido que Diego.

         - Cuida... – Comecei, mas não deu tempo.

         O Despertado prendeu Diego ao chão, que para minha surpresa, não deu sequer um grito de dor. O capacete quebrou-se e ainda mais para minha surpresa, ele não demonstrava dor. Seu rosto estava impassível, o sangue escorrendo por seu queixo, talvez a única coisa que o denuncia-se eram seus olhos.

         Novamente utilizei minha Aura e cortei sua cauda. O Despertado me olhou com tanto ódio que se ele não estivesse sem o maxilar, provavelmente teria me devorado. Ele tentou me acertar com uma de suas patas, mas fui mais rápido do que ele, e corri em direção a Diego, tirei a cauda que o prendia ao chão e praticamente derrapamos na lama.

         Tirei o capacete para poder falar com ele.

         - Você está bem?!

         - Sou do tipo regenerativo, cura rápida. 

         Assenti e me virei a tempo de ver Susana – que estava atrás de nós - acertar uma flecha bem no peito do Despertado. Ele rugiu e se virou para nós três, e no lugar da asa arrancada começaram a crescer lâminas como a que formava sua cauda, que se esticava como se fossem tentáculos de ferro.

         - Vish. – Diego disse fracamente ao meu lado.   

         Comecei a me preparar para usar o Corte Imaginário novamente, quando Susana exclamou atrás de mim:

         - Tape os ouvidos!

         Comecei a me virar para ela para perguntar o porquê daquilo, mas senti a Aura de baunilha de Raquel elevar-se e talvez a voz mais maravilhosa que eu já escutara começar a cantar:

           “Anjo guerreiro, que do escuro formou-se.

          Diz-me teu nome e guerreiro tornou-se

          Não fique triste, estou tão bem

          Que você surgiu ao meu lado também.

         

          Anjo ou guerreiro, por onde estavas?

          Na escuridão onde a noite acaba?

          Se tu viste é porque és meu anjo?

          Não! Por favor, não se vá estranho anjo.

          

          Durante a noite que cai aos meus pés

          Tua que sabe fazendo refém

          Teu coração tão puro que

          Faz de conta que ele não bate aqui.

                

          Nos teus olhos eu vejo o luar

          O teu cheiro eu sinto no ar

          Meu coração ferve diante de tal beleza

          Eis aqui diante a minha fraqueza.

         

          Leve contigo, um pouco de calor

          Nessas entrelinhas que canta com fervor.

          Deixo contigo uma flor

          Entre as pétalas, um beijo de amor.”

         O quê?!            

         Pisquei atônito e senti Hideo se lançando contra minha mente de cabeça. No sentido figurado, óbvio, mas ainda assim. Porém, Raquel continuou.

           Havia uma noite tão escura de se ver

           Não tinha horizonte, nem para onde correr

           Havia dois homens espreitando o luar

           E uma garotinha sozinha a andar

          

           Mas sozinha inteiramente ela nunca estava

           Pois sentia uma figura, um alguém ao seu lado

           Embora, porém, não pudesse ouvi-lo

           Ela sempre podia seguir e senti-lo

           Enquanto ela andava, os estranhos encontrou

           E a noite silenciosa com um grito cortou

           E a sombra desse alguém finalmente ela achou

           E um desses homens machucou

           E a garotinha raptada foi

           Pelo bandido, o homem que sobrou

          E o guerreiro atrás dele correu

          Na estranha noite escura de se ver

          Não tinha para onde ela correr.

          O bandido assustado então a menina tomou

          Entre os braços um escudo dela formou

          O guerreiro então nervoso ficou

          E a cabeça do bandido com um só golpe rolou

          A menina assustada começou a chorar

          Mas seu anjo guerreiro começou a abraçar

          Ela perguntou se para longe ele iria

          E ele falou que para sempre ao seu lado estaria      

         Essa não é a música que ela cantava de vez em quando?! – exclamou e entendi a quem ele se referia. 

          Eu até responderia, mas acho que tanto eu quanto Diego piscamos diante a voz. Imagine a voz mais maravilhosa que você já escutou cantando. Agora multiplique por 10. Talvez chegue próximo ao que escutávamos, e ainda mais: Parecia ter um imã na voz, parecia quase que ela queria que nós nos aproximássemos e...

          Susana atingiu um bom chute em mim.

          Quase fiquei irritado, mas vi seus ouvidos tapados e lembrei-me do que ela exclamara para mim antes de Raquel começar a cantar. Pisquei e senti Hideo tirando minha audição.

          Como você faz isso?!

          Só escute o que passo a você. – respondeu. – Não escute nada que esteja aí.

          Ele começou a me passar as lembranças de algumas músicas da Terra na época da Ludwings, que de fato era ótimo para não escutar a música que Raquel cantava, então olhei para Diego, que havia tapado seus ouvidos. Arrastei-o até a árvore a qual Susana estava escondida, que me encarou incrédula por estar ignorando a música. Virei e vi o Despertado parecendo grogue e hipnotizado. Ele começou a andar lentamente, mas bateu com a cabeça diversas vezes na mesma árvore, fazendo a madeira estalar.

          Ele está um verdadeiro babaca. – Hideo disse sobre a lembrança da música, que se eu me lembrava bem, era de uma cantora chamada... Como era mesmo? Ah, parecia que seu nome Beyoncé. É, acho que era esse o nome dela. Nunca me liguei muito para descobrir o nome dos cantores da Terra, embora diversas vezes tivesse me pego lembrando de suas músicas.

          Covardia acabar com ele agora?

          Acho que ela quer que você acabe com ele agora.

          Simplesmente transformei o Corte Imaginário em diversas espadas, as cravei em suas costas e duas. O Despertado se retesou, mas então puxei a todas ao mesmo tempo.

         Sua cabeça rolou pelo chão, gradativamente transformando-se em uma cabeça loira de uma mulher.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeee hell yeah! Como a Hileane disse: Depois de cinco anos, a Raquel deve ser a mocinha dos sonhos do Yudai. Convenhamos, ela é muito bonita ^^
Só não vou garantir nada que eles fiquem juntos... ;)