- Acho que você se esforçou bastante... – Futoji disse, analisando Denis ferido ao chão. – Ao menos é o que acho!

          Denis estava coberto de sangue ao chão, com uma estaca atravessando suas entranhas de forma dolorosa e várias outras que conseguira desviar estavam envolta de si. Não enxergava direito pelo sangue que caía de um corte encima de seus olhos. Ele então arregalou os olhos e começou a tremer enquanto Marc terminava de regenerar sua mão com a ajuda de Futoji.

          - O-o que é isso?! – exclamou com dificuldade por seus ferimentos. – Que energia... Monstruosa...

          - Marcus. – Futoji chamou sério ao sentir a Aura.

          Marcus assentiu e no momento em que levantava as mãos para esmagar Denis, o chão abriu-se diante de Denis, e um Despertado saltou dele.

          Yudai.

          Os olhos azuis imediatamente se voltaram para o que estava no chão, e o agarrou quando este começou a cair quando saiu pelo buraco criado, então o atirou para trás. Denis gritou em surpresa e dor enquanto praticamente voava, quando alguém o agarrou antes que batesse ao chão.

          O Desperto Yudai se virou, ficando de lado para ambos, tanto Denis quanto para Marcus, então olhou ligeiramente para Hideo, que estava ofegante e cansado, parecia estar se esforçando muito, que assentiu, enquanto segurava a espada de seu irmão. Virou então somente seu rosto para Marcus, enquanto suas mãos alongavam-se, tornando-se grandes lâminas que passavam seus joelhos, curvas como uma foice, mas brancas por serem da mesma couraça que cobria seu corpo. Flexionou os joelhos fazendo as triangulações sobre estes se abaixaram, mostrando que seus joelhos eram feitos dos mesmos músculos que seu pescoço, quase se ajoelhando e estendeu levemente os braços para o lado, suas asas retesadas.

           - Você Despertou. – Futoji disse. – Ficou melhor assim do que aquele rapaz bonito que você era antes, mas... – cerrou os olhos. – Tem alguma coisa errada com você... 

           Yudai disparou a tal velocidade que sumiu diante os olhos de Marc, que quando viu, estava diante de seu rosto. Yudai então atacou a tal velocidade que seus braços eram apenas um borrão, então com um bater de asas, se afastou enquanto o sangue começava a correr.

           - Ai! – Marcus berrou. – Como você consegue?!

           - Agora que vi! Para de ser idiota e se mova Marcus! – Futoji gritou para ele. – As lâminas desse braço dele! Elas têm lâminas menores e imperceptíveis grudadas, e ele se move a uma velocidade constante altíssima! É uma máquina de destruição! Agora que vi, eles conseguiram fazer em minutos o que a Ordem não conseguiu em anos! – apontou então para Hideo. – Se quiser derrotá-lo, acabe com o que não está se movendo!

           - Mas hã? P-por quê...?

           - Ele controla a mente humana do irmão enquanto o corpo Desperta! – exclamou

           Denis se retesou quando escutou tais palavras e virou-se para Hideo, porém, foi aí que Denis entendeu a magnitude da coisa.

           Os olhos de Hideo estavam agora num azul gelo e felinos que brilhavam levemente, como os olhos de um Despertado, apesar de seu corpo humano. Trazia o cenho franzido e os dentes cerrados em claro sinal de esforço, o suor cobria-lhe levemente a face pálida, num, esforço invisível para Denis. Os olhos pareciam-lhe, ao mesmo tempo, serem deslocados e combinarem com as feições de Hideo, deslocados, pois remetiam a uma bestialidade a qual Hideo não possuía, porém, pareciam combinar pois eram claros como tudo mais no rapaz, dando-lhe uma gélida aparência.

           Sobressaltou-se quando um estrondo fez-se ouvir e uma chuva de estacas começou a cair sobre eles. Hideo não podia quebrar a concentração para não deixar Yudai Despertar verdadeiramente, enquanto Denis estava ferido demais para desviar uma mínima estaca. Mas quando elas estavam prestes a atingi-los, todas foram cortadas em pedaços em pleno ar e Hideo e Denis foram atingidos apenas por uma chuva de pequenos cacos cilíndricos. Uma estaca maior surgiu da palma da mão de Marc e quando veio na direção de ambos, Yudai apenas surgiu na frente de ambos e abriu a asa esquerda.

           A estaca apenas tocou a superfície penosa da asa com um barulho metálico e caiu no chão.

           - Hã? – Marcus balbuciou. – Como você... Sua asa deveria ser arrancada!

           - Tsc. Você é resistente. – Futoji bufou entediado, completamente deslocado diante a ação.

           Yudai apenas saltou novamente em direção a Marcus e o rodeou a uma velocidade incrível, cortando tudo o que encostava. Arrancou as duas mãos e fez cortes profundos nas costas. Com um bater de asas extremamente rápido, voou de volta a frente de Marcus e este ergueu os dois braços para esmagá-lo com estes, Yudai cortou a ambos completamente em cinco pedaços. Quando Marc gritou, entreabriu os lábios esculpidos, revelando os dentes pontiagudos e brilhantes, tão afiados quanto navalhas, mesmo que não fosse sua intenção, a língua de um vermelho tão vívido quanto sangue destacou-se no momento em que a abriu, e então falou num tom de voz rouco e bestial:  

           - Isso vai ser pelo Lorien e pela Lua.

           Girou no ar e atravessou o local abaixo do queixo de Marcus, abrindo um imenso buraco, que porém, não sangrou. Marcus gritou e Yudai pousou os pés na parede atrás dele e anunciou:

            - Vou cortar a sua cabeça agora.                          

            Disparou a uma velocidade inacreditável, mas quando estava prestes a arrancar a cabeça de Marcus, algo o prendeu, envolvendo seu corpo completamente e impedindo seus movimentos, então o suspendeu a quase cinco metros do chão.

            - Yudai! – Hideo gritou enquanto começava a diminuir sua Aura, enquanto a de Yudai o acompanhava. Praticamente colocando rédeas em seu irmão, laçando-o e puxando-o de volta para sua forma meio humana.

            - Ora... Eu até gostaria de dar a vitória para vocês. – Futoji disse. – Mas não vou deixar matarem o meu amante... Demorou muito para eu encontra alguém que não quebre como ele...

            Denis exclamou ao ver o braço esquerdo de Futoji erguido e se desfazia a partir de seu antebraço, sendo então formado por lâminas acinzentadas. Ele ainda sorria, mas seus olhos estavam felinos e em um tom de bronze amendoado e profundo. Sua imagem então pareceu se dividir e formaram-se mais e mais lâminas, que destruíram tudo o que restava do castelo abandonado, enquanto centenas de lâminas fincavam o chão, outras centenas se elevaram e formaram um corpo humano gigantesco listrado, pelo mínimo espaço entre cada lâmina, maior do que a montanha que estava ali perto. Seu cabelo era feito por lâminas e do topo de sua cabeça até o fim da coluna descia uma crista prateada de lâminas pontiagudas que brilhavam a luz do sol. Não possuía pernas, seu corpo só ia até um pouco abaixo da cintura e se abriam, cravando-se ao chão, deixando-o sustentado como um polvo, mas com centenas de pernas ao invés de oito.

            Ele sorriu com os lábios brilhantes e olhou de cima para Denis e Hideo que agora lhe eram minúsculos.

            - Ah... Eu não queria mostrar minha forma Despertada agora. – disse. – Não agora que há alguém por perto medindo minha força.

            Ambos exclamaram. Não tinha ninguém ali além dos três. Isto é, alguém dentro de suas áreas de percepção.

            - Vocês dois fizeram o que a Ordem quer há séculos. – continuou. – Se tornarão as crianças de cabelos dourados aos olhos da Ordem se descobrirem que conseguiram fazer a Ligação de Mentes com perfeição.

            Ambos exclamaram novamente, mas Yudai sabia do que ele estava falando. Marcus cuspiu sangue, envolvido em algumas lâminas de Futoji, que se virou para ele e disse com uma voz doce:

            - Sinto muito se demorei, mas fico com problemas se você morrer, porque esse garoto é o primeiro além de você que não se quebrou ao ser envolvido por minhas lâminas. – se virou então e jogou Yudai que já havia voltado a ser um híbrido ao chão, que estava gravemente ferido. – Uma dica para você: Seu corpo quando Desperta fica intacto, mas seu corpo humano continua com os mesmos ferimentos que você recebeu antes do Despertar e vice-versa, portanto, você terá que se curar nessa forma.

            Virou-se então para Denis e Hideo e disse:

            - Considerem-no um presentinho pelo companheirismo que vocês demonstraram, pois foi por ele que vocês lutaram bravamente contra Marc. Mas não vão atrás das duas Senhoras do Abismo só por causa da Ligação de Mentes, pois elas não são tão boazinhas como eu.      

            E no segundo seguinte, ele havia desaparecido.

***************

            Arquejei diante a dor no momento em que fui jogado ao chão. Minha barriga doeu insuportavelmente pelos ferimentos da tortura que sofri antes de Despertar, assim como minhas duas pernas. Todo meu corpo ainda doía talvez como efeito colateral do Despertar, porém – agradeci a tudo por isso. – o cheiro de Hideo e Denis não parecia mais tão suculento como era antes, era apenas normal. Não me trazia fome. Minha cabeça girava, tudo doía, vários pontos dela tornavam-se cada vez mais escuro, minha respiração estava se tornando pesada e difícil. Ou eu morreria ou perderia a consciência. Torcia que, se acontecesse algo, que acontecesse o último.

            - Como algo tão grande pode sumir tão rápido?! – Denis exclamou atrás de mim. Ouvi depois um som molhado e nauseante, acompanhado por um gemido de dor vindo de Denis.      

            Senti-me repentinamente cansado, mas foi algo estranho... Parecia que estava e não estava cansado, meu corpo doía, mas o cansaço... Parecia quase como se fosse uma sensação emprestada. Eu sentia-o, mas algo me dizia que o cansaço não era meu. Como...?

            Mexi meus dedos dentro dos tênis que saíram inteiros. Parece bobagem, mas me sentia melhor tendo dedos nos pés.

            - Talvez ele tenha somente desfeito o corpo de lâminas e lançou-se para outro lugar. – Hideo disse e veio até mim. Estava cansado, o suor escorria por seu rosto, então se abaixou e pegou em meus ombros, fazendo-me sentar. Pareceu-me que tudo rodou mais vertiginosamente diante mim por causa da dor no momento em que me sentei. Hideo por algum motivo arquejou. – Você está mais que péssimo. – disse e então limpou o sangue de meu rosto com a manga de seu casaco, que tornou-se completamente vermelho.

            - E-eu sei. – arquejei, tentando ignorar a dor, mas era tanta que era impossível. Dor de ser espancado, de ser estaqueado, de ter Despertado e por não ter conseguido ter feito nada para salvar Lua e Lorien. – O menor, Marc, primeiro nos espancou e depois estaqueou enquanto Futoji assistia tudo e mandava-o colocar mais ou bater mais. – pisquei um pouco para não perder a consciência. – Lua morreu depois que ele bateu no pescoço dela e Lorien Despertou devido aos ferimentos... Mas ele não conseguiu ferir Marc e então foi esmagado. – Fechei os olhos, tentando manter a lembrança longe de minha mente. – Depois disso ele foi atrás de vocês e eu comecei a...

            - Tudo bem. – Denis disse. – Não precisa dizer mais nada, não se esforce. Se Hideo pode controlar seu Despertar agora, o único risco que você tem é morrer. – parou e pensou um pouco. – Acho que não é o melhor momento para tentar se curar, pois você acabou de voltar de um Despertar, então seu controle sobre sua Aura pode estar adulterado.

            - “O único risco que você tem é morrer”. – Hideo ironizou chateado. – Você deveria escolher melhor suas palavras, que calma foi essa que você disse?

            Apenas assenti ao mesmo tempo em que Denis bufava em resposta e então escutei algo como se viesse do fundo de minha mente:

            Isso está ficando cada vez pior.

            Pisquei. Eu não havia pensado nisso, mas de onde veio?

            O que diabos está ficando cada vez pior? - pensei.

            Hideo enrijeceu e me olhou de forma estranha. Sua mão apertou meu ombro com tanta força que se tornou mais uma dor diante todas as dores que eu sentia, meus olhos brilharam de uma cor estranha, talvez fosse – como tudo mais – a dor. Denis nos olhou de forma estranha.

            - O que foi? – perguntou ao ver nossas expressões.

            Yudai? - A voz igual a minha veio a mim novamente, e então entendi. Ah, não me diga que...!                                   

            Espera aí, Hideo, você está na minha cabeça?!- Praticamente gritei por pensamento e Hideo balançou a cabeça.

            - Ei gêmeos, o que foi?! – Denis perguntou, ficando claramente preocupado.

            - Parece loucura – falei. – mas você acreditaria se eu dissesse que estou escutando a mente do Hideo?

            Fala sério! Já não basta termos de nos aturar desde o útero, agora até na mente?! - A voz de Hideo veio novamente na minha cabeça.

             Parece que sim. – observei por pensamento, e senti o desgosto dele, mas também pude sentir uma preocupação tão grande voltada para mim que quase me encolhi. – Parece que estou sentindo até suas emoções.

             Ele trincou os dentes e Denis nos encarou, sem saber o que dizer, claramente estupefato e então disse:

             - Pode ser... Um efeito colateral dessa Ligação de Mentes que ele disse. Faz até sentido. Ligação de Mentes para controlar a mente humana um do outro e então ficam com telepatia um com outro pela ligação. – opinou, coçando a cabeça.   

            - Pois é, mas agora tô sentindo o que ele tá sentindo. – Hideo arquejou. – Como você aguenta tanta dor?!

            - Esse é o problema, eu não aguento. – falei sem forças para rebater. – E... E o Larry?!

            - O menino elástico? – Hideo perguntou e assenti. – Ele me encontrou e pensou que eu fosse você, então me contou sobre o que aconteceu, então vim para cá.

            - Você queria se suicidar? – perguntei exasperado.

            - Eu disse a mesma coisa que você. – Denis observou então se aproximou e senti algo. Parecia que alguém pegara minha Aura e a dirigia para meus ferimentos. Me retesei e senti Hideo fazer o mesmo, até que os ferimentos começaram a esquentar e a dor diminuir gradualmente, agora o que restava era ainda era muita dor – porém mais suportável – e cansaço. Dor deixa você cansado? Acredito que sim.

            - Você está fechando os ferimentos dele? – Hideo perguntou.

            - Só estou controlando sua Aura para que se cure um pouco sem que perca o controle. – Denis disse. – Já eu forçar alguém por conta própria é outra história.

            Hideo ficou em silêncio, mas disse por pensamento, um tanto hesitante:

           Você não acha estranho a Ordem te mandar para uma missão dessas logo depois de voltarmos da Terra?

            Acho, e muito. – respondi. – E Lorien e Lua eram problemáticos, acho que tentaram se livrar de nós.

             Senti que ele concordava comigo.

            Mas e aquele menino?

             Talvez tenham ligado com o fato de monstros normalmente têm membros elásticos, então pensaram provavelmente que ele chegou perto do Despertar, apesar de sua idade.

             Hideo bufou e Denis reparou que tivemos uma conversa muda. Era estranho, será então que não poderíamos mais esconder nada do outro?

             Parece que não. – Hideo disse em minha mente diante o que eu pensara, fazendo-me bufar.

             Se tivesse forças, levantaria, graças a Denis agora eu estava melhor, os ferimentos não fecharam completamente, conseguia me mover, mesmo que minimamente, mas sabia que levantar era outra história... Para minha surpresa – e descontentamento – Denis acabou por me carregar em seu colo.

             - Ei!

             - Você não está em posição de protestar. – repreendeu. – Eu por um acaso tenho cara de mula de carga? Eu deixaria Hideo te carregar se ele não tivesse com uma cara de quem está prestes a desmaiar! 

              Hideo... Aquela coisa que te atacou aquele dia, aquela coisa negra... Ela voltou a te atacar?

              Não. – respondeu. – Agradeço por isso. Por quê a pergunta?

               Nada, só curiosidade.

             Eu queria voltar para tentar resgatar ao menos corpo de Lua, que estava mais inteira do que os restos esmagados do Despertado Lorien – tirando que estava completamente esburacada e espancada, como eu estava momentos atrás, e ainda estava - mas havia destroços enormes na entrada e estávamos tão exaustos que desistimos – aqueles dois não me deixaram usar minha Aura de maneira alguma para que não me tornasse um peso morto. Depois disso voltamos para a floresta para voltarmos para a cidade. Segundo Hideo, ele mandara Larry voltar para lá, e era quase impossível que ninguém da cidade tivesse visto um monstro maior que uma montanha.

             Quando estávamos quase chegando à cidade, senti uma Aura de guerreiro, mas era parecida com a de Lionel, pois ela era extremamente fraca e fraquejava ocasionalmente, então de vez em quando se espalhava, mas eu conseguia sentir o ponto em que vinha. Ela tinha o cheiro de... Matas, florestas úmidas, mas não se misturava com os cheiros da floresta, suas particularidades eram diferentes... Virei a cabeça com esforço, e quando vimos, o híbrido mais alto que eu já vira apareceu.

             Ele deveria ter, sem exagero, uns dois metros de altura, talvez um pouco mais, e usava uma camisa de botões negra colocada para fora da calça de tecido escuro, mas o que me chamou a atenção foi seu rosto. Ele era pálido e sem expressão, mas sobre seu olho esquerdo, na verdade, sobre toda a face esquerda dele era quase completamente coberta por um tapa-olho que era quase como uma grossa faixa negra. Seu cabelo ia até os ombros e parte de seu cabelo era jogado sobre o tapa-olho, cobrindo e escondendo quase que completamente o tapa-olho. Essa parte era um pouco mais curta, indo até um pouco abaixo do queixo. Lembrei-me do que Lionel dissera há uma semana.

             Quem é esse cara? – Hideo pensou.

              Ele é Raban, o número cinco. – respondi. – Reconheço-o pelo tapa-olho, ele é da geração de Lionel, ele era o antigo número dois.

              Hideo ficou tenso ao meu lado, e então Raban se aproximou de nós, me olhou de um modo que me deixou amedrontado e perguntou:

              - O que aconteceu?

              Ninguém falou nada, ele passava um ar de... Poder que nos fazia ficar calados. Parecia que passava uma majestade que ninguém se atreveu a falar nada. E sua altura não ajudava nada, pois passava um ar ainda mais superior a ele.              

              Eu me sinto pequeno. – Hideo disse a mim e tive que concordar com ele. Hideo quase na altura de seu cotovelo, e eu ainda no colo de Denis. Aquilo era humilhante.

               Raban suspirou e rolou seu único olho a mostra.

               - O que aconteceu agora a pouco para que o Abissal se mostrasse?

               - Nós quase derrotamos um aliado dele. – falei. – E ele o salvou antes que morresse.

               - Somente isso? – disse. – E o que o garoto disse sobre a captura? E você?

               - Você encontrou o... – comecei, mas então ele cravou os olhos em mim de uma maneira que me fez ficar calado.

               - Ele chegou esbaforido na cidade no momento em que eu passava por lá. – anunciou. – O fiz contar o que aconteceu, mas parece que vocês já deram seu jeito de sair da confusão. Mas e quanto ao grupo inteiro?            

               - O único que sobreviveu foi o líder da missão, o Yudai. – Denis disse cautelosamente, maneando em minha direção com a cabeça. – E no final nós... Três lutamos contra o Despertado que era auxiliado verbalmente pelo Abissal.

               - Com os ferimentos de um dos gêmeos, acredito que ele não deve ter ajudado em muita coisa. – disse, mas nos olhou de um modo que eu soube que ele sentira o momento em que Hideo me controlara para que minha mente continuasse humana. Ele deveria saber como localizar o que fizemos, pois fizera parte de uma das experiências. – Ou ao menos, não deveria conseguir nessa forma.

               Escutei que, junto com o meu coração, os corações de Denis e Hideo deram uma batida descompassada.

               - Ele conseguia prever os movimentos e nos avisava. – Hideo disse.

               - Entendo... – disse de maneira ainda fechada e séria, completamente apático. – Mas mesmo assim, não conseguiram sair ilesos.

               - Tivemos que resgatá-lo primeiro para então conseguirmos seu auxilio. – Denis respondeu tenso.

               Ele apenas soltou algo como um bufo e se virou.

               - Creio que seja melhor vocês voltarem para a cidade, pois um híbrido chegar por lá desesperado logo após sair chama a atenção. – disse de costas para nós. – E logo após aparece um monstro maior que uma montanha.

               O que me assustou um pouco foi que Denis voltou a curar meus ferimentos de modo que eu conseguiria andar, e me pôs no chão. Quase comentei que ele poderia ter feito aquilo antes.

               Ele começou a andar na direção da cidade e nós simplesmente o seguimos. Aquele ar de autoridade que ele passava era o suficiente para nos manter quietos, mas de vez em quando ele esfregasse seu olho esquerdo por cima do tapa olho, como se estivesse algo o incomodando. Durante alguns momentos, sua Aura parecia esquentar, como a de um Despertado. Provavelmente deveria ter algo a ver com sua irmã.

               Quando chegamos à cidade, havia “apenas” uma multidão no esperando, todos ali temerosos com o abissal que há pouco tempo havia aparecido e não pareceram se tranquilizar ao ver o meu estado e o de Denis. Hideo era o mais inteiro e Raban não contava, pois ele sequer havia participado da luta.                                    

              - O que foi aquilo?!

               - Vai nos matar?!

               - Temos que sair da cidade então!

               - Fiquem calmos! – Raban anunciou. – O monstro que vocês viram já foi embora, e a cidade não está na rota dele!

               Deu para ver a tensão das pessoas sumir quase que imediatamente, e aos poucos a multidão ir se dissipando, então escutei algo. Passos rápidos, duas pessoas estavam correndo. A Aura de hortelã de Larry estava do outro lado da cidade, mas vinha para cá rapidamente, mas passos humanos vinham correndo até nós.

                Raquel apareceu correndo. Dava para ver que havia tomado um banho e vestira uma camisa de mangas compridas branca um tanto justa e uma saia negra até os seus joelhos que era colocada por cima de sua blusa, presa com um cinto. Ela correu até Raban e o abraçou, enquanto muitas pessoas a encaravam, incrédulas.

                - Raban!