Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 1
Prólogo - Transformação


Notas iniciais do capítulo

História criada por mim, universo criado por mim, personagens meu, portanto, não plagie!
Fui muito criteriosa comigo mesma ao fazer este cap, aliás, a fic toda, pois pretendo lançá-la futuramente como um livro. Por isso, dêem apoio moral à autora, deixem reviews construtivos no fim do capítulo...



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     O silêncio imperava na sala ampla e espaçosa de seis paredes, as quais eram completamente pintadas em cinza e negro. Possuía cerca de cinco portas duplas de aço enegrecido e um elevador de portas negras, as quais estavam de guarda dois homens altos e musculosos, com uniformes negros de traços em vermelho, detalhados, vários emblemas pregados no tecido resistente, capacetes escondendo quase que completamente suas faces. Em todo o recinto, haviam-se apenas sofás grandes e espaçosos, negros e escuros como tudo mais, posicionados em frente à única e imensa janela do local, que demonstravam a altura vertiginosa de onde se encontravam, estando nos sofás acomodadas, em média, vinte crianças assustadas, tensas e temerosas.

         Várias choravam silenciosamente, soluçando ocasionalmente, devido à ameaça anterior de que seriam punidas se fizessem pirraça, enquanto outras apenas fitavam ou encaravam nenhum lugar em especial, apáticas e inexpressivas, porém, em seu interior, um turbilhão de sentimentos, o medo e a raiva sendo as mais presentes ali. Apesar de tantas situações divergentes, a tensão era palpável naquele local.

       Todas trajavam casacos, cachecóis, luvas, pela proximidade do inverno, o frio presente na sala. Mas não era o frio natural, provindo da estação. O que enregelava o cômodo, fazendo com que calafrios percorressem pelos corpos infantis, era o frio provindo do medo e do desconhecido.

        Todas as crianças ali eram órfãs. Haviam sido injustamente, dadas por sua cidade, Deditio, como pagamento a divida que a cidade tinha com aquela organização, que por todos era considerada maldita. Os órfãos, porém, apesar de se sentirem injustiçados e enraivecidos com a situação, mantinham-se calados justamente pelas duas figuras que estavam isoladas no canto do sofá, junto com um garoto um pouco mais novo que os dois, de cabelos castanhos – avermelhados, quase ruivos.

        Aquelas duas figuras, haviam sido os únicos de todos ali que haviam sido arrancados de sua família, para entrar numa vida que, por muito pouco, não se pareceria com o inferno literal, onde a cada minuto sua vida e existência poderiam estar em risco. Serem seres temidos e repudiados por todos, serem odiados, porém, necessários para a sobrevivência de seu povo.

        Eram gêmeos idênticos, possuíam em torno dos dez anos de idade, apesar de serem pequenos e magros demais para sua idade. Suas peles pálidas de alabastro, levemente coradas nas faces, contrastavam intensamente com os cabelos que, de tão ruivos, eram vermelho - vivo. Um estava sentado com as pernas abraçadas e, ocasionalmente, tossia, revelando que seu estado de saúde não estava bom, o outro, estava sentado perto dele de forma um tanto protetora. Os olhos azuis extremamente claros, levemente prateados, quase brancos de ambos, fitavam o chão.

        Sobressaltou a todos quando o som do elevador se fez ouvir. O som mínimo iniciou a batida descontrolada do coração de cada uma das crianças ali presentes. A hora estava chegando, não havia como fugir de lá. Morrer como um ninguém ou virar uma arma.

        Não havia muita escolha.

        Entre a vida ou a morte, o que você escolheria?     

        Logo do elevador saíram dez homens, todos trajados como as sentinelas. Um se separou do resto do contingente e verificou uma sala, abrindo apenas uma porta, espiando o que para as crianças era invisível. Moveu afirmativamente a cabeça para alguém que estava ali e fechou a porta, fazendo o mesmo nas quatro restantes. Por fim, disse uma ordem para os homens e cada um pegou uma criança, que lutava, esperneava e chorava, mas não conseguia subjugar a força do soldado.

        Nenhuma queria deixar de ser humana.

        Por fim, os dez arrastaram duas crianças para cada sala, sendo que a último ganhou um tapa por conseguir morder o soldado.

        O mais velho dos gêmeos, aproximou-se ainda mais do irmão. Este fechou os olhos, o rosto escondido entre os joelhos, porém, logo os abriu e o virou para o garoto de cabelos arruivados, e disse:

        - Não precisa se culpar por estarmos aqui. – falou com voz fraca devido ao acesso de tosse que veio logo após.

        - Claro que sim. – o moreno respondeu apático, os olhos mirando o chão. – Se não fosse pelo meu pai ter sido morto pela coisa, ninguém estaria aqui.

        - Talvez estivessem. – Interviu o mais velho, começando a bater de leve nas costas do caçula, enquanto balançava levemente a franja repicada de cima dos olhos, sendo que seu comprimento era até os olhos.

        - Acho que esse não é o melhor momento pra se consolar. – disse com uma frieza incomum aos seus nove anos de idade. – Já que estamos prestes a deixar de sermos humanos.

        - Encare que iremos perder a metade dela. Talvez melhore um pouco. – observou o gêmeo mais novo após mais um acesso de tosse.

        O menino desviou o olhar, olhando para os próprios pulsos cerrados, abrindo-os lentamente, revelando um par de brincos em forma de gota, azul água com pedras cravejadas no topo e na base. O sangue seco ainda presente ali, trazendo-lhe memórias assustadoras banhadas em sangue e impotência, a qual nada poderia fazer enquanto a possuidora daqueles objetos era assassinada sem dó e piedade à sua frente. Em sua mente, o peso da raiva de si mesmo pesava-lhe mais do que qualquer carga. Covarde, era o que tudo parecia gritar para si. Manter-se escondido enquanto sua irmã era assassinada à sua frente.

        Um dos gêmeos percebeu aquele brinco, porém, não disse nada. Soube imediatamente que eles tinham um valor sentimental incontestável.

        Os minutos se arrastaram, aumentando a tensão daqueles que estavam ali, esperando sua vez, sem qualquer alternativa ou consolo, sendo encarados pela face espelhada dos capacetes das sentinelas, que pareciam zombá-los pelo fato de que não poderiam fazer nada. O medo, o medo de não sobreviver, o medo de se tornar algo que todos temiam, medo da morte horrenda que provavelmente teria se tornasse-se uma criatura como aquelas. Corpos aparentemente humanos, capacidades de monstros, monstros que vivem para eliminar outros monstros, olhos vermelhos, com um brilhante e assustador brilho sangrento, o cabelo branco emoldurando a aterradora e aterrorizante visão, que trazia o medo irracional a qualquer um que a visse, apesar de seus corpos e expressões humanas.

        Não queriam tornar-se seres como esses.       

        Após mais um acesso de tosse que deixou sua garganta queimando, o menino ruivo soltou as pernas e pousou a cabeça no ombro do mais velho. Estava mais pálido que era o normal para si, suas mãos começavam a tremer, mas não eram de nervosismo, o que alarmou ao seu irmão. Pouco antes de terem sido entregues àquele lugar, haviam saído do hospital por um grave ataque de epilepsia por parte do gêmeo que estava com sua saúde debilitada. Um pouco atrapalhado, rodeou o ombro do outro para pousar as costas de suas mão na testa de seu irmão, e depois desceu para o pescoço, vendo que a temperatura não estava normal.

        - Que sorte você tem. – murmurou sarcástico.

        - No momento você está tão sortudo quanto eu. – retrucou de maneira um tanto fraca.

        - Não nesse caso. – disse enquanto mirava as luvas verde escuras de tricô que usava.

        - Você nunca é sortudo nesse caso Hideo, só eu. – respondeu.

        Fechou os olhos, deixando sua mente vagar para pensamentos que sabia que mais tarde seriam dolorosos. Como seria quando seu pai descobrisse que ambos haviam sido arrancados de sua mãe para irem para tal local? Ficaria nervoso? Ficaria raivoso? Sabia que iria preocupar-se imensamente com os filhos, mas... Será que seu pai sentiria medo de ambos, se sobrevivessem? E sua irmã mais nova?

        Tinha apenas cinco anos... Prometera brincar com ela quando voltasse para casa.

        Uma promessa que jamais iria conseguir cumprir.

        Sua mãe, como estaria? Foram os guardas da cidade que haviam arrancado-os dela, impedindo-a de qualquer ato que poderia ocasionar no impedimento de seus filhos serem levados, qualquer resistência que demonstrasse era inútil diante a força dos soldados que a seguravam. Deveria agora estar martirizando-se por não ser capaz de salvá-los do destino maldito, de não poderem nunca mais ter uma vida normal.            

        Hideo, o mais velho ia falar algo quando um par de portas foi aberto com certa violência. Pareceu que todos prenderam a respiração ao mesmo tempo ao verem as macas passarem, com os corpos inconscientes cobertos por grossos tecidos enegrecidos, os quais seria impossível ver qualquer incidência de luz uma vez cobertos com eles.                                                                

        As sentinelas retornaram, e dessa vez, seus escolhidos foram justamente os gêmeos. Ao contrário das primeiras crianças, eles não lutaram ou espernearam, para o desgosto daqueles que gostavam de ver as crianças lutando, não falaram nada, pois, de que adiantaria? Lutando ou não, iria acontecer a mesma coisa com ambos.

        Ficaria tudo bem, pensou um, enquanto eram arrastados por não conseguirem acompanhar os passos rápidos dos soldados para a sala fria e escura, iluminada apenas pela luz acima das macas, a qual estavam dispostas várias figuras vestidas em mantos negros, uma das figuras não deveria ser muito mais velha do que aos gêmeos, ao lado de outra figura, que, macabramente diante a iluminação, limpava um bisturi sujo de sangue, ficaria tudo bem enquanto estivessem juntos, como sempre ocorrera.

         O rugido ameaçador vindo das profundezas da sala sobressaltou a ambos, mas todos ali agiram que imensa naturalidade. Com dificuldade, conseguiu avistar na penumbra uma coisa: Uma jaula. Não conseguiu identificar o que esta preso ali, ou melhor, o que estavam presos ali, somente viu os guardas, com alguns tiros de longe, logo silenciarem os monstros.

         Os guardas grosseiramente os puseram sobre as macas desconfortáveis de ferro, demonstrando-se indiferentes diante o peso de ambos, prendendo seus braços e pernas com correias firmemente presas, impossibilitando qualquer movimento de ambos para que pudessem fazer. A luz aumentou intensamente, e alguém segurou a cabeça de um dos garotos, o mais novo, então forçou seu maxilar a abrir-se, colocando ali um minúsculo comprimido esverdeado, fechando então sua boca, forçando-o a engolir aquele corpo estranho.

         Sua visão turvou-se, sua mente tornou-se nebulosa e vaga, não conseguindo pensar com clareza. Sua vontade era de olhar para seu irmão, procurando algum apoio, algo que pudesse ajudá-lo, mas sequer isso era capaz. Enquanto sua mente escurecia completamente, um único pensamento passou-lhe pela mente:

         Iriam sobreviver?     




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Notas finais do capítulo

Espero que gostem da introdução.
Reviews, por favor! óò