PDV Bella

Terminei o banho, que foi bastante demorado, e ouvi o barulho que as crianças faziam ao entrar em casa.

Me arrumei logo e me preparei pra enfrentar as ferinhas, durante o banho tinha tomado minha decisão, essa situação era insustentável e já que papai estava precisando de ajuda na empresa, poderia unir o útil ao agradável e me afastar de todos esses problemas de uma vez.

Desci as escadas e dei de cara com os dois rindo e brincando de pega-pega na sala. Resolvi entrar na brincadeira também, só eles conseguiriam me alegrar hoje.

Cheguei por trás e agarrei Tony pelas costas.

–Mamãe, assim não vale. A Sophie vai me pegar. – Reclamou ele, com a carinha mais linda do mundo.

–Segura ele mesmo, mãe. – Sophie gritou vindo em nossa direção.

Assim que ela se aproximou a agarrei também.

–Manhê, deixa eu pegar o Tony, aí eu ganho o jogo. Vai, por favor.

–Nada disso, não solto nenhum dos dois. – Falei rindo e eles se entreolharam.

–Ah, então é guerra? – Perguntou Tony.

Sorri pra ele, e logo em seguida os dois gritaram:

–ATAQUE DE CÓCEGAS. – E se viraram pra mim fazendo cócegas, comecei a rir e logo perdi as forças e os soltei, eles continuavam em cima de mim, e eu não conseguia parar de rir.

–Me rendo, tudo bem vocês ganharam. – Levantei as mãos, ainda rindo, e eles finalmente pararam.

–Viva, nós ganhamos, somos demais. – Sophie disse e eles bateram as mãos em comemoração.

–Isso aí, ninguém pode com a gente. – Falou Anthony.

Apesar de amar os dois com todas as minhas forças, tinha plena consciência de que eles não eram as crianças mais quietinhas do mundo. Eles gostavam, e muito, de uma bagunça. Não conseguia entender como Dani conseguiu ficara aqui por tanto tempo, já vai completar 1 ano, e a maior parte das babás não aguenta sequer 6 meses.

–Tudo bem, vocês já brincaram o suficiente, vão os dois pro banho, já. – Falei, sorrindo.

–Não, mãe, a gente não precisa de banho. – Falou Tony.

–É, nós estamos limpinhos. – Completou Sophie.

–Então tá, mas só quem tem direito a um pedação enorme de bolo de chocolate, é quem toma banho. – Falei, tentando convence-las a tomar banho e também tentando agradá-las o máximo possível.

Eles olharam pra mim, com os olhinhos brilhando, e saíram correndo imediatamente para tomar banho.

A última coisa que ouvi foi o Tony gritando:

–O meu vai ser o pedaço maior.

Ri com a atitude dos dois, a vida é tão mais fácil quando se é criança e não se tem preocupação com nada.

Esperei que eles terminassem o banho e coloquei o tão esperado bolo de chocolate em cima da mesa. Assim que viram saíram correndo em minha direção.

–A gente pode comer agora? Já tomamos banho. – Os dois sorriram e não tinha como recusar alguma coisa pra eles.

–Agora que estão limpinhos podem sim. – Respondi e eles foram em direção aos pratos.

Depois que terminaram, decidi que era hora de ter a tão esperada conversa com eles.

–Tony, Sophie, venham aqui. Precisamos conversar. – Falei chamando-os para a sala, onde eu estava.

–A gente fez alguma coisa errada mamãe? – Sophie perguntou logo.

–Claro que não meu amor, só preciso conversar algumas coisas com vocês. Sei que já estão bem grandinhos pra entender. –Continuei, sem muita certeza ainda do que iria falar.

–Então, o que foi? – Perguntou Anthony.

–É que, eu e o seu pai, tivemos uma discussão, coisas de adultos, e a gente achou melhor cada um morar na sua casa agora. – Falei tentando tornar a situação o mais simples possível.

–Então, vocês vão se separar? – Perguntou Sophie.

–É querida, a gente vai se separar. –Respondi.

–Mas eu não quero que vocês se separem, eu gosto de morar aqui com os dois. – Falou Anthony.

–Eu também não quero. – Completou Sophie.

–Olha meus amores, essa é a melhor solução pra nós, seu pai também acha.

–Mas aí a gente vai ter que morar com quem? – Perguntou Tony.

–Com quem vocês querem ficar? – Perguntei temendo a resposta, mesmo não acreditando muito que eles quisessem ficar com Jacob.

–Eu quero ficar com você mamãe. O papai nunca tá em casa, vai ser chato ficar sozinho aqui com a Dani. – Respondeu Sophie de imediato. E logo em seguida Tony falou:

–Eu também quero, não vou ficar aqui nessa casa sozinho. – Sorri aliviada pra eles.

–O pai de vocês pode nos visitar a hora que quiser, então vocês não vão deixar de vê-lo. –Conclui.

Eles acenaram com a cabeça, mas não estavam muito satisfeitos. Decidi deixar a parte da viagem pra depois, não queria assustá-los com tantas noticias de uma vez.

–Agora podem ir brincar. Vão. – Falei tentando agir normalmente.

Eles saíram e fiquei refletindo sobre o que ia acontecer, até que ouvi o barulho de um carro se aproximando. Provavelmente era Jacob, mas ele não passaria nem sequer mais uma noite nessa casa.

Esperei pacientemente na sala até que ele entrasse.

–Oi querida, está mais calma? – Perguntou ele ao entrar.

–Nem venha com isso Jacob, já falei que nosso casamento acabou. –Respondi.

–Esperava que você tivesse mudado de ideia, mas pelo visto não aconteceu. –Comentou ele.

–Não aconteceu e nem vai acontecer, agora suba e arrume as malas, não quero você aqui nem mais um dia. – Disse friamente.

–Não vou me mudar, essa casa também é minha, você não tem o direito de me expulsar daqui. – Disse ele com raiva.

–Você perdeu qualquer direito que tinha quando me traiu com aquela desclassificada. A única coisa que eu não entendi até agora foi o porquê. – Confessei.

–Eu vou te dizer porquê, porque simplesmente eu não aguentava mais, nunca pensei em me casar, não estava nos meu planos, até você engravidar e eu ser praticamente obrigado a me casar. – Não acreditava no que estava ouvindo, mas mesmo assim me mantive forte e não expressei nenhuma emoção. – Até achei que pudesse dar certo, e que seriamos uma família feliz, mas eu tinha 18 anos, não conhecia nada da vida, e com uma mulher e filhos, dificilmente conheceria.

–Você acha que tudo aquilo só foi difícil pra você? – Perguntei, já extremamente irritada. – Mesmo tendo que me desdobrar pra terminar o colégio e a faculdade e ainda cuidar de duas crianças pequenas, não me arrependo nem por um minuto. Anthony e Sophie foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida.

–Não estou dizendo que não os amo. Só disse que não foi isso que imaginei pra minha vida. – Respondeu ele conseguindo me irritar ainda mais.

–Saia da minha casa, agora. – Ordenei em tom sério.

–Não vou sair, essa casa é tanto minha quanto sua. – Ele parecia decido.

Nesse momento toda dúvida que eu ainda tinha sobre a mudança pra NY tinha sido desfeita.

–Tudo bem, se você não sai, saio eu. E Anthony e Sophie virão comigo. Meu pai me ofereceu um emprego em NY e eu resolvi aceitar. – Comuniquei minha decisão a ele.

–Você não pode afastá-los de mim.

–E não irei, pode visita-los quando quiser. E a partir de agora, pode aproveitar a sua vida como quiser, sem mulher e nem filhos para atrapalhar.

(Foto: Anthony e Sophie)