.

Maio de 2006

"Amor é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas,
sem esperar que a pessoa que você ama, te ofereça as batatinhas dela."

(Chrissy, 6 anos)

...

“Para Edward.” ri com falta de ar enquanto ele continuava me fazendo cócegas.

Estávamos deitados na grama do nosso parque preferido em Chicago, onde passávamos os dias de folga da faculdade com nossa família.

“Só paro quando escutar o que quero ouvir.” riu da vermelhidão concentrada em minhas bochechas e girou nossos corpos ficando por cima. “Não vai dizer?”

Balancei a cabeça negando.

Ele então concentrou as cócegas em minha barriga onde sabia ser meu ponto fraco, me deixando sem forças de tanto rir.

“Quero ouvir você dizer: Edward, meu amor. Eu te amo e você é o mais lindo e mais gostoso.” riu da sua própria frase idiota.

“Eu.. falo” murmurei com dificuldade e ele parou, esperando.

“Edward, meu amor...” empurrei-o de cima de mim e sorri malignamente. “Você é um crianção.” levantei correndo, o que foi ridículo, já que ele me pegou com tanta facilidade.

Empurrou-me e caímos novamente na grama.

“É tão bom estar assim com você, amor." sussurrou mordiscando minha orelha. Tremi com a sensação de seus dentes e sua língua em minha pele. “A coisa mais boba ao seu lado se torna o melhor momento do mundo.”

“Eu acho o mesmo, amendoim.” rimos do seu apelido de criança. Eu sempre implicava com ele por conta da sua mania de comer amendoim todo dia antes de dormir.

Ficamos alguns minutos somente aproveitando a compainha um do outro.

“Edward?” chamei depois de algum tempo em silêncio.

“Hum?” resmungou cheirando meus cabelos.

Sorri.

“Eu te amo, você é o mais lindo e mais gostoso.” ele jogou a cabeça para trás em uma gargalhada.

“Eu sabia que você iria me obedecer alguma hora.” murmurou convencido.

“Ah, cala a boca.”dDei um tapa em seu ombro e fechei os olhos, aproveitando seu carinho em meus cabelos.

“Amendoeira?” sussurrou com um sorriso em sua voz.

“Sim?” resmunguei ainda de olhos fechados.

“Eu te amo e quero me casar com você.”

.

Fevereiro de 2007

“O amor foi quando descobri que ela necessitava de um coração,
então eu disse: Te dou o meu, pois é por você que ele pulsa”.
(Richard 6 anos, para Vanessa, 5 anos)

...

Escutei vagamente alguém me chamando, mas o sono estava tão bom e vinha dormindo tão mal nas últimas semanas.

“Bells, amor.” Senti uma mão acariciando meus cabelos levemente. Abri os olhos para encontrar dois orbes verdes me fitando com preocupação. “Eu te pedi que não dormisse aqui, porque nunca me escuta?” sussurrou fracamente.

“Por que eu te amo e não vou sair de perto de você.” alisei seus cabelos, antes cheios e com vida, agora poucos e frágeis.

“Não gosto de te ver se sacrificando tanto por minha causa.” me olhou triste. “Não é justo.”

Revirei meus olhos.

“Isso não é um sacrifício, é amor.” respondi. ”Então pare de desmerecer o que sinto, porque isso me deixa triste.”

Olhou-me com uma expressão de dor, o que fez com que me arrependesse automaticamente das minhas palavras.

“Eu não gosto de vê-la triste.” calançou a cabeça, fitando um ponto fixo na parede branca do quarto de hospital.

Essa era minha rotina há um mês, desde quando descobrimos que Edward estava com Leucemia linfóide aguda, a LLA. Tinha algum tempo que ele se queixava de dores e fraqueza, mas teimoso, se recusava a procurar um médico. Tive que recorrer a seus pais para obrigá-lo e só conseguimos convencê-lo por conta de um desmaio no campus da Faculdade.

Quando me deram a notícia de sua doença, eu me senti... Inútil. O médico disse que ela estava avançada e as chances de ele se recuperar mesmo após o transplante de medula eram poucas. Me recusei a fraquejar. Por que sempre foi assim, se um caísse o outro também cairia. Eu precisava ser forte, por ele. Nunca chorava em sua frente, só nos raros momentos em que me ausentava de seu quarto.

Estava magro e quase não tinha mais cabelos devido à quimioterapia, mas ainda era o mais lindo do mundo para mim. Senti sua mão apertar fracamente a minha. Não conseguia desviar meus olhos de seu rosto.

"Obrigada..." murmurou. "Por não me abandonar... Você é o que há de mais importante na minha vida, Bells. Eu sempre vou amar você..." sentia meus olhos enchendo de lágrimas a cada palavra sua. "Por todas as primaveras."

“Eu nunca te abandonaria. Somos a madressilva e a aveleira, lembra?” sorri entre as lágrimas lembrando-me do dia em que ele pegou um dos meus clássicos para ler. Tristão e Isolda era meu livro preferido e na época estava fazendo um trabalho para faculdade sobre ele.

“Somos.” deu um pequeno sorriso. “E vamos estar juntos sempre, não importa o que aconteça.”

“Você não vai morrer.” eu não queria chorar, mas não consegui evitar. Quando ele notou minhas lágrimas, seus olhos ficaram úmidos.

“Não importa.” sussurrou levando minha mão até seus lábios. “Ainda estaremos juntos.”

.

Março de 2008, tempos atuais

When You're Gone - Avril Lavigne
*link da música no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_R95CkWaLNo

...

“Você vem conosco agora, Bella?” Alice perguntou.

“Não, acho que vou ficar mais um pouco.” observei Carlisle colocando Esme no carro.

“Certo.” me abraçou. “Não demora.”

Assenti silenciosamente e observei-a ir em direção ao carro onde seus pais a esperavam. Me virei novamente para o lugar do qual não havia tirado os olhos na última hora.

"Edward Anthony Masen Cullen

03/04/1984

15/03/2007

Amado filho e esposo.”

Um ano que o havia perdido. Um ano sem o amor da minha vida e um vazio constante e irremediável.

Não havíamos nos casado, mas era assim que nos sentíamos e foi assim que resolvemos escrever em sua lápide.

Porque eu seria para sempre dele.

Lembrei-me do último dia que o vi com vida.

....

Flashback ON

Os dias viram anos quando eu estou sozinha
E a cama onde você deitava, está arrumada ao seu lado.

“Oi amor.” meus olhos se encheram de lágrimas. Ele estava muito mal e os médicos avisaram que poderia morrer a qualquer momento.

Passava a maior parte do tempo dormindo por conta dos efeitos do remédio para evitar que ele sentisse muita dor e era raro vê-lo acordado.

“Ei.” sorriu fracamente. “Vem aqui.” sua voz estava baixa e fraca e era preciso estar perto para escutá-la. Me aproximei mais dele, que fez um gesto com a mão como se pedisse silenciosamente que eu a segurasse. “Eu te amo.” murmurou. “Muito. Pra sempre”

Prendi um soluço.

“Eu sei.” respondi. “E eu também amo você, sempre.” não consegui segurar e comecei a chorar fortemente.

“Não chora, Bells.” pediu com o cenho franzido e uma expressão de dor que estava me matando. “Não faz isso comigo. Eu não aguento ver você assim.” ele deu um pequeno soluço estrangulado.

“Desculpa.”

“Eu não vou te abandonar.” murmurou. Deitei minha cabeça em seu peito e me virei para ele. “Eu vou estar com você sempre. Eu prometo.”

Quando você parte, meu coração despedaçado sente saudades
Quando você parte, as palavras que preciso ouvir
Pra sempre me fazer superar o dia e fazê-lo ficar bem
Eu sinto saudades.

O vi fechar os olhos e derramar mais algumas lágrimas enquanto eu o acompanhava com as minhas próprias.

“Eu queria ter mais tempo com você, amor.” sussurrou ainda de olhos fechados. “Mas estou feliz com o que a vida me deu, eu não poderia ter sido mais feliz do que fui ao seu lado.” abriu os olhos e me fitou intensamente. “Você é o que tenho de mais importante e isso é tudo o que eu poderia pedir. Então não esqueça nunca de qualquer forma eu sempre estarei amando você, sempre. Eu prometo. Por todas as primaveras.”

Flashback OFF

...

E então ele morreu.

Edward cumpriu sua promessa, nunca me abandonou. Deixou-me uma parte dele que eu levarei para sempre. Alguns dias depois da sua morte, descobri que estava grávida.

A gravidez passou despercebida porque com todo o estresse eu não tive nenhum dos sintomas convencionais. Nessie nasceu e foi o único motivo desde que ele partiu para que eu não desabasse totalmente. Sempre que olhava para ela, via Edward, em cada pequeno detalhe.

Tudo que eu faço, me lembra você
E as roupas que você largou, estão espalhadas pelo chão
E elas cheiram igual a você, eu amo as coisas que você faz.

Me consumia até hoje o fato de não ter descoberto antes e ter dado a ele a notícia, porque eu sabia no fundo do meu coração que ele teria ficado muito feliz. Por mais estranho que fosse, a cada momento que passava, sentia nossa ligação mais forte. Edward sempre estaria comigo, em minhas lembranças, em Nessie e em meu coração.

Eu tinha consciência que a dor da sua ausência estaria presente todos os dias, pelo resto da minha vida, isso nunca mudaria, da mesma forma que meu amor seria constante. Não importava o que o futuro me reservasse, meu amor sempre estaria com ele, e isso era tudo.

Coloquei a amendoeira em flor que estava segurando desde casa, quando a peguei no seu caderno de anotações, junto com outras flores em seu túmulo.

Sentei-me em frente a sua lápide.

"Ei amor.” sorri entre as lágrimas. “Você faz falta, sabe. Queria que você estivesse aqui para ver nossa filha crescer. Ela é tão linda, é tudo seu, não puxou nada de mim, a não ser o jeito desastrado.” ri lembrando das vezes que ela caia e esbarrava nas coisas tentando começar a andar. “Eu terminei meu livro Edward, ele foi publicado e muita gente gosta dele.”

Parei um momento lembrando do quão difícil foi acabar o livro após perdê-lo.

“Eu queria que você estivesse aqui. Ás vezes eu acordo no meio da noite assustada procurando você, como se houvesse acordado de um pesadelo terrível e precisasse ter certeza que ele não era real. Mas aí você nunca está lá para me abraçar e dizer que foi apenas um sonho ruim e então eu choro desejando que isso pudesse ser verdade de alguma forma.”

Levei as mãos aos olhos enquanto soluçava.

“Você faz tanta falta, Edward. Eu sei que de alguma forma você me deixou nossa filha porque sabia que eu não iria suportar sua ausência. E só por isso que eu não desisti. Porque ela é meu pedaço de você amor, e eu sinceramente acho que é a única razão de ainda continuar viva. Você vai ser sempre minha melhor lembrança. E enquanto respirar, continuarei te amando.”

Passei mais algumas horas no cemitério e quando já estava anoitecendo voltei para casa dos Cullen onde estava morando. Esme e Carlisle me pediram com tanta esperança que ficasse com eles que não pude recusar. Queriam sua neta por perto porque como eu, sentiam que ela era uma parte de Edward.

“Mama.” Nessie veio engatinhando em minha direção quando abri a porta e encontrei os Cullen na sala.

Todos me fitaram com olhares tristes e Esme derramou algumas lágrimas silenciosas ao notar meus olhos inchados e vermelhos.

“Oi meu amor.” peguei-a no colo enquanto dava a Esme um pequeno sorriso. “A mamãe te ama, sabia?

Ela olhou-me diretamente com os mesmos olhos verdes e então sorriu, o mesmo sorriso do pai.

Prendi um soluço que se formava em minha garganta e mordi os lábios para não chorar na frente dela.

“Pequena.” Emmet a chamou quando notou meu estado. “Vamos com o Tio Emm e a Tia Rose comer chocolate?” Nessie imediatamente foi para seus braços, animada.

Dei a ele um olhar agradecido.

Na mesma hora Alice e Esme vieram me abraçar, chorando enquanto Carlisle permanecia sentado no sofá e me olhava triste e de alguma forma, reconfortante.

“Eu sinto a falta dele.” sussurrei.

“Nós também, meu amor.” Esme respondeu . “Meu filho te amava muito e isso nunca mudará.”

Subi até seu quarto, precisava desse momento. Peguei seu caderno de anotações mais uma vez e deitei na cama, abraçando-o contra o peito.

“Obrigada por cada momento, por cada dia ao seu lado.”

Eu o amaria pra sempre. Cada dia. Enquanto respirasse.

Por todas as primaveras.

.

FIM

.

"Eu não sei se a vida é maior que a morte,
mas o amor foi maior que ambas." (Livro Tristão e Isolda)