Pokémon Fantasy escrita por Lawliette


Capítulo 4
Capítulo 3: Uma nova Amizade


Notas iniciais do capítulo

Aaah! Desculpem a demora! Estive muito ocupada (na verdade estou) com a escola, por isso, quando tive tempo, mas eu meio que consegui escrever quando tive tempo, só que oo meu vicio incontrolavel de ler fics me fez enrolar, e não pude nem ao menos revisar o cap, então, desculpe pelos erros, tentarei arrumar quando tiver tempo.



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Growlithe olhou em volta, assustado. Estava num lugar estranho, com coisas imensas, mas ele sabia que era um quarto. Não fazia ideia de onde estava, e a única coisa que se lembrava antes de entrar naquela estranha esfera era de um Pokémon e um homem gritando uma ordem para ele. Depois, veio uma dor horrível e um brilho vermelho o envolveu.

Observou o quarto, e viu um garoto humano de cabelos castanho claro e olhos também castanho, porém extremamente escuros, observando-o com surpresa e admiração. Ao seu lado, havia uma caixa e uma garota humana de cabelos vermelhos lisos como seda o observando com curiosidade aparente. Ele recuou assustado, e começou a rosnar. Sentiu medo daqueles humanos. O que estavam fazendo lá? Será que iriam levá-lo embora para aquele lugar estranho, onde tudo era branco? E o mais importante: Onde estava?

O garoto de olhos escuros aproximou sua mão dele, e o cão tentou mordê-la, mas ele a retirou rapidamente, por puro reflexo. Mesmo estando num lugar diferente e com pessoas diferentes, não confiava em humanos. Não em humanos como os que conhecera.

- Um Growlithe. – Disse a garota de cabelos de seda, arqueando as sobrancelhas. – E eu que pensava ser um Eevee ou algo parecido.

O cão bufou, alerta. O garoto se aproximou dele e Growlithe recuou novamente, assustado. O que ele iria fazer? Tentou fazer alguma coisa além daquilo, mas o medo o dominava. Afinal, era a primeira vez que via aquelas pessoas e aquele estranho quarto, sendo que antes ele jurava estar num campo. Olhou nos olhos do menino, e sentiu ainda mais medo. Rosnou para ele.

- Ei... – Murmurou o garoto, baixinho. – Como vai?

- Quem são vocês? – Bradou o cão, na espera que a raiva encobrisse o seu medo. – E onde eu estou?

- Você está na minha casa. – Disse o menino, de forma suave. Seus olhos brilhavam com um prazer estranho. Growlithe não gostou daquilo. – Eu sou o Satoru, e essa é Clair.

Satoru e Clair. Growlithe já havia ouvido esses nomes diversas vezes antes, principalmente o primeiro, porém não se lembrava de onde. Satoru era um nome estranho para um humano. De tantos que ouvira, esse era o mais incomum, porém mais falado. O nome era sempre mencionado, porém seu dono nunca estivera por perto. Seria uma pessoa importante?

- Sua casa? – Perguntou o cão. O garoto confirmou. A humana de cabelos de seda não dizia nada, apenas observava os dois com curiosidade.

- Não vou te fazer mal nenhum. – Continuou Satoru. - Eu agora sou o seu treinador.

- Treinador? Porque eu tenho um treinador agora?

- Quando uma pessoa captura um Pokémon, ele passa a ser o treinador desse Pokémon. Mas eu não sou só seu treinador. Sou seu amigo também.

Growlithe mordeu o lábio. Ele provavelmente não tinha escolha. Sabia que aquela estranha esfera podia pegá-lo de novo, e o garoto poderia levá-lo aonde quisesse, por mais que ele protestasse. Mas ainda não queria acabar sendo machucado, de qualquer forma que fosse.

- Você promete que não vai me machucar? – Perguntou o cão. Sabia que estava sendo ingênuo, mesmo assim, poderia tentar.

- Prometo. – Respondeu o garoto. A outra menina ainda os observava, parecendo estar surpresa ou sem entender.

- E ela? – Growlithe apontou para a menina de cabelos de seda, com desconfiança.

- Clair? – Perguntou o garoto, com um sorriso. – Ela não vai fazer nada, e se fosse, eu não iria deixar.

Satoru aproximou a mão novamente, a palma aberta. Growlithe farejou sua mão, sentindo seu cheiro. Ele cheirava a roupa limpa, café e chocolate, bem forte e doce. Finalmente, ele permitiu que a mão trêmula do menino humano pousasse sobre sua cabeça. Desconfortável, o menino teve que sair de cima da cama e se sentar no chão, onde pode acariciar o filhote. A outra garota se sentou ao seu lado, parecendo insegura. Alternava olhares entre o garoto e o Growlithe. Ele bufou, e deixou que a garota também o acariciasse. Ela cheirava a chuva, e uma estranha mistura de flores e terra molhada, como se ela pertencesse à natureza.

O Pokémon achava estranho um humano entendê-lo. Ele sabia que, lá no fundo, por mais que falasse com os humanos, eles não responderiam, pois não entendiam sua língua, e sim latidos. Então, porque um humano se destacava entre os demais? É claro, tudo isso era muito estranho, principalmente o fato de ele saber coisas, mas ao mesmo tempo não lembrar. Resmungou alguma coisa quanto aquilo, e o garoto perguntou:

- Você está com fome?

- Estou. – Respondeu ele, e o olhar de admiração de garoto se tornou um olhar de preocupação.

- Então vamos para a cozinha. Depois, eu vou levar você para conhecer uma amiga minha.

- Você quer dizer Larysse? – Perguntou Clair.

O menino se levantou e pareceu aflito, e sua voz vacilou quando respondeu:

- Sim. Tem algum problema?

- Não, não. Pode ir, e volte antes de ficar escuro. – Ela fez uma pausa para se levantar também. Eles pareciam gigantes aos olhos do pequeno Pokémon. – Satoru... Você estava falando com o Growlithe?

O cão levantou as sobrancelhas. Então quer dizer que a humana dos cabelos de seda não o entendia e não sabia que o garoto sim? Isso era interessante. O garoto não respondeu, apenas saiu do quarto, e Clair foi atrás. O cão hesitou por um momento, mas foi, trotando atrás dos humanos. Passaram por um corredor com várias portas, e desceram umas escadas, onde os levou a sala, e depois, à esquerda havia uma porta branca, que o garoto abriu, deixou Clair e o cão entrarem, depois entrou ele mesmo e a fechou. Parecia uma sala de hospital, pois tudo era branco, porém ainda mais cheio de coisas. Growlithe não sabia onde já tinha visto alguma dessas duas coisas. Na realidade, não se lembrava de muita coisa. Lembrava que era um lugar horrível.

Na cozinha, o garoto pegou uma tigela e a lavou, e depois de secá-la, colocou o que parecia ser ração de Pokémon. Mesmo a tigela já lavada, ainda nutria um leve cheiro de outro Pokémon, provavelmente algum felino. O cão cheirou a comida, mas a fome falou mais alto. Atacou a comida com ferocidade que se igualava a sua fome. Havia dias que não comia. Desde antes de se ver batalhando com o Pokémon de um homem que o colocara numa Pokeball, e de algum jeito, o fizera vier parar na casa de Satoru.

Fez uma nota mental de perguntar aquilo para ele mais tarde, e com os ouvidos, percebeu que Satoru estava tomando pegando alguma coisa do armário também. Ouvia o som de uma torneira sendo aberta, e logo depois, mãos, com unhas longas pintadas de preto colocaram uma tigela de água ao lado de Growlithe. Ele lambeu a tigela até não sobrar mais nada, e depois bebeu água, satisfeito.

- Satoru. – Novamente a garota de cabelos vermelhos falou. O garoto fingiu não ouvir. Olhava para Growlithe, diretamente em seus olhos, porém o observava como se olhasse através dele. – Você estava conversando com o Growlithe?

- Growlithe, vem comigo. – Disse Satoru, como se Clair não estivesse ali. - Vou lhe apresentar minha amiga Larysse e o Pokémon dela.

E sem falar com Clair, o garoto saiu da cozinha. Clair imediatamente foi atrás dele, chamando-o pelo nome. Growlithe os seguiu, curioso. Satoru abriu a porta e saiu correndo para a rua, no momento deserta. Clair gritou seu nome, mas ele não voltou. Growlithe, curioso, passou pela garota e foi atrás do menino, correndo até alcançá-lo e ficar diante de seus pés. Bateu na porta com o nó dos dedos e entrou, sem esperar resposta. Growlithe foi junto, e os dois sumiram na casa. Com suas orelhas grandes, o Pokémon pode ouvir uma ultima vez a voz de Clair gritando pelo nome do garoto, mas não a ouviu seguindo-os.

A casa era bonita, grande, e bonita. Eles estavam no que parecia ser uma sala bem arrumada, com uma grande TV de tela plana embutida na parede estava ligada, exibindo um programa onde havia um garoto dando uma ordem para um Pikachu, mas não parecia ser uma batalha. O cão achou estranho. Sentada no sofá, havia uma garota de cabelos castanhos claros desarrumados que olhava para Satoru um pouco assustada. Ao seu lado, havia uma Pichu pequena, tão pequena eu quase não dava para ver que estava ali. A garota se levantou, arregalou os olhos ao notar o Growlithe, e em seguida, olhou para Satoru.

- Mas o quê? Você já ganhou seu Pokémon? – Perguntou ela, surpresa. – Quando isso aconteceu?

Satoru tomou fôlego, mas mesmo antes de responder, Larysse já estava fora do sofá, andando aos tropeços na direção dele. Ela vestia um pijama com estampa de um Pikachu dormindo, com uma Pokeball ao lado dele. A Pichu saltou do sofá e ficou ao seu lado, assim como o Growlithe estava aos pés do garoto desconhecido. Sentiu-se estranho de parecer já ser amigo de Satoru.

A pichu o encarou com avidez enquanto Satoru explicava a situação sobre Clair à garota, a qual ele descobriu que seria Larysse. Encarou-a de volta, e deu um leve sorriso, se sentindo meio bobo por fazer isso. Ela não retribuiu. Os garotos ainda conversavam acima deles, quando a Pichu falou:

- Quem é você?

Imediatamente, como se puxados por uma estranha força que os ordenava dar atenção aos Pokémons, baixaram os olhos e se calaram.

- E-eu... – Começou Growlithe, hesitante, como que com medo de Khurtnney. – Eu sou o Growlithe. E você?

- Khurtnney. – Respondeu ela, e então apontou para Satoru. – Ele vai ser seu treinador?

Growlithe hesitou, raspando uma patinha no chão. O som de suas unhas aranhando levemente o assoalho pode ser ouvido.

- É... Acho que sim. E ela, é sua treinadora?

- Sim. – Assentiu ela. – Ela também pode nos entender.

- Por quê?

A pichu não soube responder. A pergunta pairou no ar, sem nem Pokémons nem Satoru ou Larysse pudessem responder. Growlithe se sentiu desconfortável com o silencio e o olhar de Khurtnney sobre ele, por isso, ficou grato quando a garota humana falou:

- Vamos todos para o meu quarto, lá você me explica melhor sobre isso.

Com essas palavras, todos seguiram Larysse para o quarto dela, subindo as escadas e finalmente chegando. Desta vez, a única coisa que bagunçava o quarto era a cama e escrivaninha, onde a primeira estava desfeita, com os cobertores jogados para um lado. A escrivaninha tinha vários papéis jogados e espalhados, com esboços de desenhos da menina, e várias bolinhas de papel estavam em cima, assim como vários lápis, borrachas, uma caneta onde ao invés de ser como as outras, tinha uma borracha no lugar da ponta. Fora isso, o quarto continuava arrumado. Growlithe gostou do ambiente estranho, diferente do quarto se coisas com o qual se encontrava antes. Este parecia mais cheio e mais confortável.

Ela se sentou na cama desarrumada e Satoru se sentou ao seu lado. Larysse pegou a Pichu no colo para que ela pudesse subir, mas Satoru não fez o mesmo. O Pokémon se sentou aos pés do garoto.

- Pronto, agora não teremos nenhuma interrupção de pais perguntando para mim o que há de errado comigo enquanto conversamos com esses dois Pokémons.

Satoru assentiu, e mesmo assim sentiu-se na obrigação de se desculpar:

- Desculpe por vir aqui tão cedo, Larysse, mas Clair me perguntou sobre eu estar conversando com o Growlithe, e bem... Se eu contar sozinho, ela vai rir de mim.

- Não tem problema. – Ela deu de ombros. – Então quer dizer que ela já chegou? Como ela é?

Antes que o menino pudesse responder, Larysse o cortou:

- Isso não importa agora. – E então, ela se voltou para o Growlithe. – Então você é o Pokémon de Satoru! Como vai?

O cão se surpreendeu com a pergunta, e engasgou Logo se recuperou, e olhou para a menina meio que sem reação. Segundo a Pichu, ela podia entendê-lo, não é?

- Uh... Vou bem. – Respondeu ele, apreensivo. - Você é a Larysse?

- Sou. Eu quero ser uma coordenadora Pokémon, que participa de batalhas para mostrar a graça deles. – Ela se voltou para Satoru: - Ele veio no pacote?

- Sim. – Assentiu o menino. - A Pokeball dele tinha um Seal de fogo. Ah, por falar nisso, ganhei várias Pokeballs, uma Pokedex, vários Seals e acho que uma caixinha para guardar insígnias, mas ainda não vi para confirmar se era mesmo. Além de cintos para guardar as pokeballs.

- Caramba! – Exclamou Larysse. – Para quem disse que ia chegar só um Pokémon, ganhou bastante coisa, não acha? Por acaso seu pai está fazendo alguma coisa que eu8 não saiba?

Satoru se mexeu na cama. Seu rosto de repente ficou pálido, como se tivesse visto um fantasma. Larysse pareceu não notar, mas Growlithe achou estranho. E quem seria o pai de Satoru? Seria um homem gentil, como o garoto vinha se mostrando até agora?

- Como vamos contar para Clair sobre a gente? – Perguntou o menino, como se tentasse mudar de assunto.

Larysse hesitou em responder. Mordeu o lábio. Khurtnney olhou para ela, e novamente, repetiu a pergunta que estava na mente de Growlithe:

- Por que só vocês entendem a gente e os outros não?

Novamente a pergunta pairou no ar, sem reposta. Os dois ficaram calados, imersos em seus próprios pensamentos. Um silêncio desconfortável pairou sobre o quarto. Desconfortável, Satoru procurou se distrair com qualquer coisa. Observou o quarto, até procurar algo que o interessasse. Como se percebesse o silêncio do garoto, Growlithe cortou o silêncio:

- Como eu fui parar na sua casa, Satoru?

- Hum? – Perguntou ele, meio confuso. – O que quer dizer?

- Quero dizer, eu estava num lugar, e depois alguém me capturou, e quando fui ver, estava em um lugar completamente diferente. - Tenho certeza que aqui é outro lugar, até o ar é diferente... Aqui não é Hoenn, é?

Satoru sorriu ao ouvir aquilo. O Pokémon não gostou daquilo e bufou, virando a cara.

- É claro que não. Estamos em outro continente, Sinnoh. E você chegou aqui por uma coisa chamada correio...

- O que é isso? – Perguntou Khurtnney.

A partir daí, começaram a responder perguntas de Khurtnney e Growlithe, e com a ajuda das meninas, Satoru explicou para ele sobre os treinadores, as batalhas em busca de insígnias, que eram o símbolo de poder, a liga, e durante sua narração, fez questão de ressaltar a glória, a fama e o poder. Passaram a maior parte do tempo conversando com os Pokémons, e ficaram para o almoço. Growlithe gostou de passar o dia na casa daquela garota e gostou de conhecer os pais de Larysse, que eram pessoas gentis e o tratavam bem. Mesmo eles não podendo entendê-lo como as crianças faziam, pareciam entender exatamente o que ele queria e como agradá-lo. Quando fora a ultima vez que alguém o tratava bem daquela maneira? Não soube dizer, mas resolveu não se importar com aquilo.

Além disso, gostou bastante das histórias que Larysse, Satoru e até Khurtnney contavam. O garoto parecia gostar mais de treinar e provar seu poder, enquanto a garota preferia mostrar a beleza e graça dos Pokémons em competições que se chamavam Contests. Mostravam também para os dois pokémons os programas de TV que tratavam sobre aquilo, e o cão ficou deslumbrado. Na TV, um grande Nidoking travava uma batalha contra um Charizard, e no canal de contests, uma linda Eevee demonstrava com graça e precisão seus movimentos.

Era extremamente fácil conversar com os três. Logo o cãozinho se esqueceu de onde viera e o que teria acontecido antes de ser capturado, esqueceu de Clair e esqueceu principalmente que não era normal um humano entender a fala Pokémons. E é claro, as crianças também se esqueceram das coisas. Mais precisamente, Satoru se esqueceu de que seu pai chegaria cedo em casa e ficaria por um tempo antes de sair de novo, para só voltar a noite, então não voltou para casa para esperar seu pai. Era a primeira vez que isso acontecia.

Quando ele e Growlithe ficaram para o almoço, não se importaram de voltar e avisar o pai onde estavam. Apenas ficaram lá, e quando esgotou o assunto, Larysse mostrou para os Pokémons seus desenhos e começou a falar animadamente sobre eles e sobre outros desenhos de pessoas na internet que mais pareciam profissionais, reclamando que queria desenhar como eles. Mesmo nenhum de seus amigos entendendo exatamente, a menina começou a falar sobre coisas relacionadas a desenho, como técnicas e pinturas. Mais tarde, Larysse mostrava a khurtnney como desenhar um Pikachu enquanto os meninos assistiam.

Ficaram também até escurecer, e só quando eram quase oito da noite, eles ouviram a voz de Clair chamar lá de fora. Growlithe estava gostando de ficar ali com Larysse e Khurtnney, então saiu meio emburrado com o menino de volta a casa de Satoru, acompanhados de Clair. Desta vez, andaram mais lentamente, e o Pokémon pode observar melhor a rua, iluminada por vários postes de luz. Era a primeira vez que via uma rua. Casas coloridas com grandes quintais, uma ao lado da outra, algumas com portões grandes, outros pequenos, também de diferentes cores. Na frente de cada uma, uma caixa de correio. Em uma das casas, uma amarela, grande e com sacada tinha uma caixa de correio de madeira, em forma de casa.

Logo estavam na casa do menino, uma das mais bonitas por ali, com grande quintal de grama verde, como se fosse um enorme tapete fofinho. Tinha dois andares, e no ultimo, uma sacada com uma espécie de porta de correr de vidro, na cor negra. Curioso, se perguntou o que o pai de Satoru fazia para ganhar tanto dinheiro.

Sem se preocupar muito com aquilo, entrou na casa, seguindo Satoru a trote. Este seguiu até a cozinha, com Clair em seu encalço. Provavelmente estava com fome.

Ao entrar, se deparou com um homem alto, metido numa camiseta branca amassada e calça pretas. Estava descalço, e seus cabelos castanhos estavam bagunçados. Uma franja caia sobre seus olhos, assim Omo Satoru. O homem tentava inutilmente movê-la para trás, porém sempre caia. Tinha uma expressão vazia, como se estivesse imerso em pensamentos. Ao ver aquele homem, Satoru parou, surpreso.

- Pai... - Murmurou ele, sua voz quase inaudível. – Pai...

O Growlithe estranhou, porém observou. O homem não respondeu ao garoto, porém lançou um olhar demorado para o Pokémon. Assustado, ele desviou o olhar, virando a cabeça, observando o azulejo da bancada. Tinha uma mancha azul nele, e esta mancha se parecia bastante com uma ave voando.

- Satoru. – era o homem falando. Tinha uma voz grossa, autoritária, porém cansada. – Ficou o dia inteiro fora, não é?

- Pai... – Repetiu o menino, de cabeça baixa, sua voz cada vez mais baixa. Como se estivesse prestes a chorar, continuou: - Desculpa pai, eu perdi hora... Eu me esqueci completamente, desculpa.

Growlithe olhou para ele. Lágrimas escorriam de seu rosto. Ele franziu o cenho, confuso. Se aquele homem era seu pai, que tipo de pai poderia ser? Apenas com uma frase fazer seu filho chorar. Será que era um pai ruim?

- Vem comigo. – Disse o homem. – E traga seu Pokémon.

O pequeno cão se assustou. O menino limpou o rosto, fungou e assentiu. O homem seguiu na frente, passando por Clair, e Satoru o seguiu. Growlithe não queria, mas seguiu o menino também, com medo do que poderia acontecer.

***

- Thomas é um cara mal?

- O que? – Perguntou Satoru, franzindo o cenho. Que tipo de pergunta era aquela?

Growlithe estava na caminha improvisada que o garoto fizera para ele, e estava lambendo uma sujeira em sua pata dianteira. Seus pêlos estavam bagunçados, e ele preferia que estivessem arrumados. Satoru, ao contrario dele, estava preocupado em procurar roupas e o essencial para a viagem, embor anão fosse acontecer necessariamente hoje. Quando ouviu a pergunta do Pokémon, parou de remexer em seu guarda-roupa e olhou para o cão.

- Thomas é ou não um cara mal? - Perguntou novamente o cãozinho, agora lambendo a outra pata.

- Não! – Respondeu o garoto rapidamente. – Por que quer saber disso?

- Por causa de ontem. – Respondeu ele, simplesmente. – Que tipo de pai faz...

O garoto o interrompeu:

- Não aconteceu nada ontem!

- Mas...

- Nada! E não comente com ninguém! Nem com a Khurtnney e nem com a Larysse!

- Tudo bem. – Resmungou o cão, aborrecido. - Eu só fiz uma pergunta.

- E isso lá é pergunta que se faça?

- Hunf... – Aborrecido, o cão virou a cara. – É hoje que vamos sair com Clair e Larysse para comprar as coisas para sairmos?

- Sim! – respondeu o menino, animado com a troca de assunto. – Só precisamos de pouca coisa e umas coisinhas para a Larysse, e aí podemos sair.

- Mas vamos sair hoje, ou amanhã?

- Amanhã. Por quê? Está ansioso?

- Quero é ver a loja. Nunca vi uma.

- Ah, é? – O menino deu uma risadinha enquanto tirava uma blusa do guarda-roupa.

Growlithe bufou, obviamente insatisfeito com a insinuação do menino. Colocou suas patas na frente do corpo, e deitou a cabeça por sobre elas, observando o garoto arrumar as coisas enquanto cantarolava uma música qualquer. Será que Growlithe queria mesmo ser o Pokémon de Satoru? Será mesmo que queria sair em uma jornada, batalhar com outros Pokémons e acabar por ser famoso? A ideia era tentadora, mesmo que não chegassem realmente a ficarem famosos.

Mas o que mais o incomodava no momento, era o fato do pai do garoto estar ensinando aquelas... Coisas ao filho. Sim, ele queria proteger o menino, mas aquele tipo de coisa não era frequentemente usado. Estremeceu só de pensar na voz e no semblante assustador do pai dele. Ficou apenas olhando o menino escolher entre uma camisa verde e outra azul. Por fim, preferiu a azul, como era o seu costume usar, pelo o que o Pokémon havia visto.

Suas orelhas se mexeram na direção da porta do quarto, por onde ouvira passos. Levantou-se rapidamente e foi até a porta, balançando sua cauda de um lado para o outro. Logo, se ouviu umas batidas de leve na porta. Satoru foi direto ver, já adivinhando que poderia ser Clair, já que, a esse horário da manhã, seu pai não estaria em casa. Quando abriu a porta, se deparou com a garota metida num pijama rosa claro. Seus cabelos estavam bagunçados, e era obvio que estava com sono. Ao ver Satoru e Growlithe, levou alguns segundos para poder falar, talvez para poder enxergá-los melhor ou sair do sono.

- Bom dia Satoru, bom dia Growlithe... – Cumprimentou ela, esboçando um sorriso cansado. – Já arrumou suas coisas?

- Mais ou menos... – o garoto deu de ombros, com um pouco de vergonha de mostrar a bagunça que estava fazendo. – Estou escolhendo ainda.

- Então anda logo. Houve uma mudança de planos...

O garoto franziu o cenho, confuso.

- Como assim? Nós não vamos ao Pokemart hoje?

- Não é isso. – Ela fez uma pausa para bocejar. – É que depois de irmos ao Pokemart, já vamos sair.

- Achei que só fossemos sair amanhã! – Retrucou o garoto, embora estivesse animado com a ideia de ter que sair mais cedo. – Por que isso?

Clair fez uma careta e deixou seu tom de voz mais rude:

- Você não quer sair logo?

- Claro que eu quero... Só estou perguntando por quê.

- Sei lá, é o seu pai que quer. Além do mais, poderíamos nos atrasar caso enrolássemos, e eu quero chegar logo em Sandgem para pegar meu Pokémon. Eu vou ligar para a casa da sua amiga para avisar e depois que estiver tudo pronto, nós vamos.

- Espera, por que o meu pai...

- Anda logo! – interrompeu a garota, e saiu.

Com isso, deixou Satoru e o Pokémon na porta. Bufando de raiva, o garoto fechou a porta. O que poderia ter acontecido com seu pai para querer que fossem embora mais cedo? Growlithe olhou para ele, e voltou imediatamente para ao menos, tentar ajudar o garoto. Subiu na cama usando suas garras como apoio, e falou para o menino:

- Você ouviu o que ela disse! Anda logo!

O menino sorriu, e obedeceu, tentando decidir o que poderia levar. Não queria pensar, então deixou que a tarefa o distraísse. Tirou coisas de seu armário e começou a jogar para fora as coisas que decidiria mais tarde. Não teve noção do tempo que se passava, mas cerca de meia hora depois, ele ouviu novamente outra batida na porta. Achando ser Clair novamente, franziu o cenho, aborrecido, e gritou:

- O que foi, Clair? Eu to quase acabando!

Aquilo não era exatamente uma verdade. Havia coisas demais espalhadas em seu quarto, e sua mochila estava praticamente entupida de coisas, e estava sendo praticamente impossível de fechar o zíper.

- Clair? – Repetiu uma voz atrás da porta. – Não, sou eu, Larysse!

- Ah! – O garoto corou. – Desculpa! Já estou indo aí.

Largou a mochila e foi até a porta, abrindo-a. Growlithe o seguiu a trote. Depararam-se com a garota, já arrumada, apesar de estar um pouco cedo. Larysse usava uma calça jeans preta, uma regata branca larga. Seus cabelos estavam presos, sua mochila pendia de um ombro, enquanto no outro Khurtnney estava segurando-se no ombro nu para não cair. Ao ver o garoto, ambas sorriram.

- Oi! – Cumprimentou Larysse, acenando de leve com a mão para os dois. – Clair ligou para a minha casa, e como eu já estava pronta, vim aui te apressar. Já arrumou sua mochila?

- Mais ou menos... – Respondeu o menino, abrindo espaço para a menina entrar, e depois fechou a porta.

- O que é isso? – Perguntou Khurtnney, torcendo o nariz. – isso não parece uma mochila arrumada.

- Satoru! – Exclamou a garota, em tom de espanto, porém em seu rosto havia um sorriso. – Você com certeza está maluco! Não sabia que tem que levar só o que precisa?

- Mas aí tem tudo o que eu preciso! – Choramingou ele.

- Não tem não. Eu vou arrumar para você.

Antes que ele pudesse fazer qualquer objeção, Larysse jogou sua mochila no chão e pegou a mochila abarrotada de Satoru. Tirou tudo dela, inclusive dos bolsos externos. Nenhuma de suas roupas estava dobrada. Todas as Pokeballs e coisas que havia ganhado do pacote que recebera no dia anterior também caíram. Examinou as roupas, escolheu algumas e dobrou antes de colocar na mochila. Enquanto arrumava a mochila do garoto a seu gosto, Khurtnney saiu do ombro da menina e foi até Growlithe, e os dois começaram a conversar.

O garoto se sentou na cama, enquanto observava sua amiga, alternando olhares entre ela e os Pokémons. Ouvia a conversa dos dois, mas não prestava muita atenção, embora quisesse. Não achava educado ouvir as conversas dos outros, então ficou quieto enquanto Larysse arrumava.

- Menino, você acha que tem levar o quarto inteiro na mochila – reclamou Larysse. – Será que esqueceu que vamos levar tudo isso nas costas? Além disso, temos mais coisas para guardar...

- Você reclama demais, Lary. – Respondeu o menino, mas a garota ignorou, e fechou a mochila.

- Pronto. – Disse ela, jogando a mochila para o menino, que a pegou no ar – Agora sim, tem tudo o que precisa aí.

- Mas parece tão levinha... – Disse ele, com receio, examinando a mochila.

- Pelo menos tem tudo aí. Vem, vamos lá embaixo dizer para Clair que estamos prontos.

Ela o tomou pela mão, e o puxou para fora do quarto. Os pokémons os seguiram e assim que estavam para fora do quarto, Satoru resmungou alguma coisa e puxou a menina pelo corredor até chegar a porta do quarto de hospedes, onde estava Clair. Ele bateu na porta, e esperou. Logo, foram ouvidos uma voz abafada e passos. A mais velha os atendeu, ainda com o pijama. A primeira coisa que notou foi as mãos dos garotos, que ainda estavam entrelaçadas. O menino corou e soltou a mão da amiga rapidamente.

- É... – Começou ele, sem jeito.

Larysse rolou os olhos e falou por ele:

- Já estamos prontos.

- Ah... – Clair olhou para os dois. – Eu ainda não estou pronta... Vou demorar um pouquinho.

A menina assentiu. Clair olhou para as crianças, e hesitou, sem jeito.

- Hum, vocês já tomaram o café?

- Já. – Respondeu ela.

- Então me esperem lá embaixo, ok?

Novamente ela assentiu, e por um momento, Clair olhou para as crianças, depois lentamente fechou a porta de seu quarto. Satoru resmungou. Sem opção, os dois descaram, e antes mesmo que o menino e os Pokémons se sentassem no sofá da sala, Larysse gemeu:

- Que tédio! Eu quero sair logo!

O menino não deu atenção. Apenas deixou sua mochila no sofá e tentou relaxar. Iriam sair em busca de seus sonhos, e aquilo era, no mínimo, incrível. Assim como sua amiga, também queria sair logo, mas estava receoso, com o caminho que iam tomar, com a viagem, com Growlithe, com o que poderia ou não acontecer... Com tudo.

Sabia que ficar pensando naquilo só ia deixá-lo mais nervoso ainda, mas não pode evitar. Sua cabeça girava em pensamentos, e ele tinha dificuldades de pensar em uma coisa só de cada vez. E se não conseguisse as insígnias que tanto queria? E se Growlithe resolvesse que não iria obedecê-lo? E se não estivesse pronto?

Aquela era uma das perguntas que não sabia responder.

- Satoru. – Chamou a menina, ainda de pé. – Você quer batalhar?

Aquela frase foi o bastante para tirar o menino de seus devaneios e olhar para ela. Growlithe olhou para a menina também, espantado.

- Hein? Como assim? – Perguntou o menino.

- Você quer batalhar? Perguntou novamente, dessa vez fazendo uma careta de aborrecimento. – Podemos ir lá fora, no quintal atrás da casa tem espaço suficiente...

- Mas eu nunca batalhei antes!

- Nem eu.

O garoto hesitou. É claro, queria ser um treinador, mas nunca havia batalhado antes, e não tinha muita noção do que fazer. E na noite anterior, antes de dormir, havia discutido com Growlithe sobre seus movimentos e o que ele sabia fazer. O cão também nunca entrara numa batalha de verdade. Novamente voltou as apreensões do menino. E se Growlithe não o obedecesse? E se fosse ruim? E se ele não servisse para um treinador?

Olhou para seu Pokémon, em busca de respostas. Ele parecia tão assustado quanto ele, mas deu um sorriso tremulo a Satoru e fez um sinal positivo com a cabeça, como se dissesse que queria batalhar sim.

- Tudo bem então. – Respondeu Satoru, com a voz tremula.

A menina sorriu para ele, e saiu da casa, com Khurtnney seguindo-a. O menino suspirou longamente. Ele esperava acabar acordando agora, e descobrir que tudo aquilo era um sonho, e na realidade não estivesse realmente realizando seu sonho, nem indo para sua primeira batalha. Apertou os olhos por alguns segundos, e quando os abriu, ainda estava ali, e Growlithe o encarava, com uma sobrancelha arqueada.

- Vamos logo, Satoru. – Disse o cão. – Quero ver se batalhar é tão legal quanto você diz.

Ele também queria. Assentiu para o cão, com um sorriso, respirou fundo e se preparou.


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Notas finais do capítulo

Não sejam leitores fantasmas! Eles me assustam! Reviews são bem vindos, com criticas, elogios, seja o que for, eu preciso da opinião de vocês.