Pokémon Fantasy escrita por Lawliette


Capítulo 2
Capítulo 1: A visita


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Reformado, versão 1.75, sujeito a mudanças (lolwut)



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– E então, Persi está se comportando bem? – Perguntou a menina, procurando mudar de assunto por um momento.

– Aham, mas está estranho. Hoje ele não disse nada, só miou. – Respondeu Satoru, acariciando o queixo do Persian. Em resposta, ronronou baixinho, fechando os olhos em seguida.

– Deve estar deprimido. – Sugeriu, e então sorriu com a ideia.

Persian, ou somente Persi, como as duas crianças o chamavam, era um Pokémon que pertencia ao pai de Satoru, e isso era difícil de acreditar, pois seu modo de agir e até mesmo sua aparência eram diferentes de algo que poderia combinar com Thomas. Era um grande gato na cor creme, a principal cor de seu corpo, sendo a única contradição suas orelhas arredondadas na cor negra. Em sua testa, exatamente no meio dela, havia o que parecia ser uma pedra vermelha e brilhante, não muito grande, mas também não muito pequena. Acima de seus olhos, ela parecia emitir um brilho estranho em contraste com a cor vermelha dos mesmos, assustando qualquer um que observasse mesmo o seu olhar mais gentil. Quanto a isso e seu tamanho, parecia não haver mais nada que pudesse dizer que era um Pokémon incomum ou apropriado para Thomas. Era impossível imaginar que um dia ele participou de várias batalhas Pokémon com o pai dele.

Aparentemente, Persi era o Pokémon mais amigável que Thomas possuía, pois tanto por seu temperamento quanto por sua amizade com o garoto, deixava o gato para lhe fazer companhia e também para cuidar dele. Mesmo com o pai fora a maior parte do tempo, Satoru não achava um problema ficar sozinho, mas o pai insistira, então concordara, já que gostava da companhia do Pokémon, pois quando não tinha Larysse para conversar, Persi o ouvia. Satoru falava, e o felino respondia geralmente com comentários um tanto peculiares ou discretos, ou às vezes, nem se dava ao trabalho de responder, como hoje.

– Então, alguma novidade? - Perguntou a garotinha, enquanto seguia o exemplo de Satoru e acariciava o queixo do gato.

– Papai disse para eu receber uma encomenda para ele e também que hoje vai ter visita e quer que eu fique no quarto. – Respondeu, sem se importar com o uso infantil da palavra. Com Larysse por perto, ele não precisava se preocupar com esse tipo de coisa.

– Você não perguntou quem ia vir? – Perguntou ela, surpresa. O garoto negou com a cabeça. – Hum, não sei não, o seu pai e os meus estão agindo estranho.

– Ah é? Eu não percebo, meu pai nunca está em casa.

– Você não acha estranho isso de não querer dizer quem vai aparecer na sua casa hoje? E além do mais, os meus pais estão sussurrando, fechando portas e sempre parecem guardar um segredo. Até o meu avô parece que está escondendo algo!

– Porque o seu avô faria isso?

O menino pareceu surpreso com as suposições de Larysse, principalmente sobre o avô estar escondendo algo. O avô da menina era um cientista na casa dos sessenta, e era o homem mais gentil que já havia conhecido. Tratava as duas crianças bem, mas não deixava que elas pudessem ver o que fazia em seu laboratório ou deixá-las brincar com os Pokémons que possuía. Ele vivia na casa de Larysse com os filhos e a neta, trabalhando como cientista, mas quase nunca saia de casa ou para algum lugar especifico para trabalhar, pois possuía seu próprio laboratório nos fundos da casa, assim como o pai de Satoru. Nada em suas atitudes ou em seu modo de tratar os outros denunciavam que estaria escondendo alguma coisa, e se estivesse, o que seria e por que esconderia? Não tinha motivos, e Satoru simplesmente não conseguia imaginar um homem como ele escondendo algo de alguém.

– Sei lá, mas todo mundo está estranho! – Reclamou ela, bufando, e rapidamente mudou de assunto: – Eles deviam deixar a gente sair logo. É tão chato não poder sair!

– Acho que eles só estão preocupados com a gente. – Disse Satoru.

– Preocupados? – Bradou ela. - Eles não parecem preocupados! Aposto que quando eram crianças e tinham dez ou doze anos, saíram para ter sua jornada. Porque a gente não pode sair também? Já temos idade e podemos muito bem nos virar sozinhos lá fora.

O menino preferiu sorrir ao invés de dar uma resposta à garota. Quis dizer que não achava que isso era verdade, porque afinal, ambos estavam acostumados a ter camas macias para dormir, e ele não achava que a garota iria gostar de ter apenas o chão ou um saco de dormir para se deitar. O mesmo valia para ele, mas ainda assim, não conseguia largar a ideia de sair de casa ao lado de um Pokémon, mesmo que para isso fosse obrigado a deixar o conforto para trás. Ao mesmo tempo, entendia a opinião de seu pai, e via a si mesmo numa rua com dois caminhos, sem saber qual opinião era a certa: a dele ou a de seu pai.

E a opinião de seu pai não era sem fundamento, e nem mesmo podia se dizer que era a única. Além de Thomas e dos pais de Larysse, muitos outros pais não andavam deixando seus filhos sair como costumavam antes, o que resultara num número consideravelmente menor de treinadores saindo de Twinleaf. Isso deixava claro que a população ainda não havia se recuperado do incidente de dois anos atrás. Na verdade, ninguém se recuperaria totalmente daquilo.

Satoru reprimiu as lembranças que lentamente voltavam à tona, e ao invés de continuar a conversar sobre aquele estranho conflito, os dois começaram a conversar sobre qual Pokémon poderiam receber se conseguissem o que queriam, fazendo-o esquecer rapidamente desse assunto. Além disso, era fácil conversar com Larysse sobre o mundo Pokémon, visto que ela também entendia e também queria sair em uma jornada.

– Acho que prefiro pokémons como Persi. - Disse Satoru, acariciando o mesmo. Ele se deitou no colo do menino e ronronou alto.

– Eu acho que você deveria pegar algum mais elétrico, animado. E que fale mais. - Ela deu um risinho discreto, olhando de canto para Persi, mas ele não pareceu perceber, ou se percebeu, não lhe deu atenção.

A conversa continuou, mudando assunto de vez em quanto, mas sempre voltado aos seus sonhos e o que iriam fazer quando pudessem sair. Tinham opiniões e sonhos diferentes quanto a isso, mas os dois ligados as mesmas coisas, a qual gerava uma incessante vontade de realizar tais sonhos. E mesmo que não conseguissem realizá-los um dia, não custava nada sonhar um pouquinho ali, só para ver o tempo passar. Ou, neste caso, esperar o entregador chegar. Além disso, era divertido passar o tempo com Larysse.

Acabou a manhã, veio a tarde e o entregador ainda não havia chegado. Então assim que ficou escuro, Satoru se despediu de Larysse e foi para casa acompanhado de Persian, com a garota insistindo para que voltasse no dia seguinte e contasse tudo sobre o que conseguira saber sobre as tais visitas do pai de Satoru. Resmungando algo sobre ela ser chata, o menino entrou em casa e foi direto para a cozinha fazer um sanduíche. Desde que seu pai começara com seu novo trabalho, a qual não tinha ideia de qual era, ficava fora mais constantemente e por muito tempo, de modo que o menino tinha que se cuidar sozinho e fazer sua própria comida ou pedir pizza, mas como fazer a própria comida era divertido, era isso que fazia. Aquilo o incomodara, principalmente quando tinha de acabar ficando na casa de algum conhecido quando o pai fosse chegar tarde da noite, mas ao mesmo tempo, não se importava tanto assim em não ter a companhia dele, pois sua presença era um pouco... Estressante.

Satoru não tinha aquilo que podiam chamar de relação com o pai desde que sua mãe morrera há quase três anos, assassinada por um grupo de bandidos chamado Equipe Rocket, incidente que assustara boa parte da população de Twinleaf. Na época, Satoru ouvira falar que era um grupinho que fazia pequenos furtos, mas depois que começaram a roubar Pokémons, a polícia começou a fazer algo para prendê-los, mas era pouco, já que não causavam tanto problemas assim. Então, na maioria das vezes, a polícia deixava o grupo de lado, e finalmente passaram a fazer algo quando o assassinato de sua mãe, Anne, ocorreu.

Foi um choque para todos, tanto para a polícia quanto para a população, não só de Twinleaf, como de boa parte das cidades da região. O grupo nunca havia causado tantos problemas assim, então ninguém se importava realmente, mas quando o assassinato veio, o choque a surpresa foram grandes. A polícia, parecendo arrependida de tê-los ignorado, finalmente passou a prender a maior parte dos responsáveis, e grande parte dos outros membros da equipe, mas nem com isso a população da cidade em que o incidente ocorrera se recuperara, e mesmo depois de quase três anos desde que aquilo acontecera, ainda mostravam vestígios do medo que sentiam da organização. Dentre eles, Satoru era o que menos havia se recuperado, pois a pessoa que havia sido assassinado não era mãe de qualquer outra pessoa, e sim a mãe dele. Por isso, não tinha modo que ele fosse esquecer aquilo tão cedo, pois era sua mãe que estava morta, e era sua mãe que nunca mais iria voltar.

Ele ainda podia se lembrar do rosto sorridente, das tardes que passava com Anne, e das noites em que ela o deixava brincar com seus Pokémons. Podia se lembrar também do jeito dela, principalmente em todas as vezes em que estivera brava com Satoru, pois adorava o jeito com que lidava com as coisas, sempre tão justa nesses casos, embora fosse gentil e protetora, como qualquer outra mãe seria.

Sentia falta de Anne. Queria que ela estivesse ali com ele. Com certeza o deixaria sair e ir ter sua própria jornada, pois pelo o que o garoto sabia, Anne também tivera a sua própria jornada e muitas vezes gostava de ouvir o menino falar de como a própria jornada seria quando tivesse idade o suficiente para sair, a qual a mãe sempre dizia que esperava por aquele momento. Tardes como aquela pareciam ter sido as melhores da vida dele até agora, e sem a mãe na casa, nada mais tinha o brilho de antes. Seu sonho não havia perdido o brilho totalmente, mas a falta da mãe ali, perdera um pouco do de seu brilho, assim como outras coisas mudaram. Satoru já não era tão animado como antes, e seu pai era ainda menos presente, e quando perguntava a ele se podia sair para ter sua própria jornada, dizia que o menino não estava preparado ainda, embora tivesse mais do que a idade certa para sair. Desde o dia do incidente, o pai de Satoru, que já era meio distante do filho, se distanciou mais ainda, e com a sua atitude de militar, o menino chegara a ficar com medo não só de decepcioná-lo, como de falar com ele, como se qualquer coisa que fizesse o deixasse bravo.

Mesmo com Thomas não dizendo aquilo exatamente, Satoru sabia que ele tinha medo da Equipe Rocket, ou o resto que sobrara dela, que há alguns meses atrás voltara à ativa fazendo pequenos furtos novamente, de modo que muitas pessoas ficavam com medo de deixar seus filhos saírem, já que boa parte das pessoas havia visto o que havia acontecido exatamente pela mídia. Assim como eles, Thomas tinha medo, mas por ser ele uma das vitimas, tinha ainda mais medo de que algo parecido pudesse se repetir com seu filho.

Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Satoru e caiu no balcão. Ele a limpou com o dedo, e fungou alto, afastando as outras lágrimas que insistiam em querer cair.

Afastou também os pensamentos, aborrecido com os mesmos, e foi para o quarto com seu sanduíche, comendo no caminho. Como sempre, seu quarto estava uma bagunça. Arrumara fazia apenas uma semana, mas Satoru não era a pessoa mais organizada do mundo. Havia roupas jogadas no chão em pilhas desorganizadas, uma escrivaninha cheia de papéis e livros bagunçados, alguns abertos e outros que mais pareciam que foram jogados na escrivaninha. Havia sapatos, meias, tudo o que pertencia ao menino parecia ter arranjado um local que certamente não era o correto para estar. A maioria deles estavam jogados pelos cantos e em sua cama também desarrumada, onde havia um notebook fechado conectado a tomada. Na parede em frente a ela, havia uma televisão de tela plana fixada a parede, e parecia ser a única coisa que Satoru não conseguira bagunçar.

Pegou o notebook e o ligou, se conectando na internet. Ficou algum tempo vendo as noticias e jogando qualquer coisa, quando ouviu a porta bater no andar de baixo e passos subirem rapidamente as escadas. Logo, seu pai, Thomas, surgiu na porta do quarto de Satoru e fez um aceno de cabeça para ele. Sem jeito, o menino retribuiu o aceno e esperou. Thomas passou os olhos pelo quarto, e então perguntou:

– Você recebeu minha encomenda, aquela que eu pedi?

– Ainda não chegou. - Respondeu Satoru.

– Certo. Provavelmente vai chegar amanhã. - Ele anuiu, e então disse: - Minhas visitas irão chegar daqui a pouco. Não quero você lá embaixo, entendeu?

– Por que não? – Perguntou o menino, com medo da resposta.

– Não quero você lá embaixo. – Respondeu ele, com firmeza.

– Mas pai... – Ele começou a protestar, mas Thomas o cortou, com uma voz firme e dura:

Eu não quero você lá embaixo.

Satoru engoliu em seco e assentiu, pois não confiava na sua voz. Sem mais uma palavra, o pai saiu e deixou o menino sozinho no quarto. Era sempre assim. Quando seu pai dizia algo, ele não devia questionar e não deveria desobedecer. Satoru já tinha medo do pai quando não estava zangado, nem queria pensar em como seria se ele estivesse, então não o desobedecia.

Momentos depois de o homem ter saído, Persian entrou no quarto e pulou para a cama de Satoru, deitando-se ao seu lado. Sorrindo, acariciou o gato e se voltou para seu notebook. Pouco depois, pôde ouvir o som de uma porta se abrindo e vários passos no andar de baixo, os quais lembraram o menino das visitas que Thomas iria receber

– Quem são essas pessoas, Persi? – Perguntou Satoru para o Pokémon, curioso.

– Não faço ideia. – Respondeu ele, com um bocejo.

Ele sorriu. Essa era uma coisa que apesar de tanto tempo sabendo, ainda o surpreendia. Ele e Larysse tinham o mesmo estranho dom de poder entender o que os Pokémons diziam. Na realidade, sempre souberam que podiam entendê-los, mas apenas há algum tempo haviam descoberto que os outros não entendiam. Era estranho saber disso, pois nunca acharam incomum o fato de poderem entender as palavras que os outros afirmavam ser apenas a repetição do próprio nome. Caso não soubessem pelos próprios Pokémons que aquilo não era comum, nenhum deles teria descoberto sozinho e nem se perguntariam o porquê daquilo. Mas ao saberem disso por meio dos Pokémons, que fizeram questão de ressaltar que aquilo não era normal, decidiram não contar aos pais. Sabiam que seria mais do que difícil para acreditarem em tais afirmações para explicar o porquê daquilo, as quais não tinham um modo convincente de provar e nem jeito de dizer que aquilo já havia acontecido antes. Segundo Persi, houve poucos Pokémons que podiam se comunicar com os humanos, mas não o contrário. Por este e outros motivos, nunca havia contado aos pais sobre tal dom, o qual nem mesmo eles entendiam como funcionava.

De qualquer forma, nem Satoru e nem Larysse se incomodavam em serem os únicos que sabiam que podiam ter tal dom, pois continuariam a conversar com os Pokémons de qualquer maneira, e não se preocupariam no futuro, pelo menos não enquanto não se mostrasse ser um problema. Além disso, Satoru não era exatamente o único. Antes de conhecer Larysse, era estranho ser o único que conversava com os Pokémons e se sentia envergonhado quando as pessoas o olhavam e o achavam louco. Ainda o acham louco quando isso acontece. Ele não gostava disso.

Afastou os pensamentos mais uma vez e suspirou, frustrado. Ele queria descer e ver quem eram aquelas pessoas.

– Queria saber quem está lá embaixo, Persi. – Disse, clicando em alguma coisa no seu notebook.

– Eu vou lá ver. – Respondeu o Persian, e antes que Satoru pudesse dizer qualquer coisa para impedi-lo, pulou da cama, empurrou a porta com a pata e saiu do quarto.

O menino se levantou e saiu da cama também, seguindo o Persian. Desceu as escadas em direção a cozinha, e se aproximou da porta. Persian estava lá, empurrando-a com as patas. Satoru se colocou ao lado da porta para tentar ouvir ou ver o que ele faria, e ao fazê-lo, sentiu um estranho medo de que quando seu pai pudesse abrir a porta para ver o que Persi queria e vê-lo ali. Talvez não fosse uma boa ideia ficar ali para ter ao menos um vislumbre de quem quer que fossem aquelas pessoas. Não, realmente não era, pois já havia visto seu pai bravo e sentia medo dele quando estava assim.

Porém, o seu maior medo foi quando a porta finalmente cedeu as insistências de Persi e se abriu.

– Persian, o que está fazendo aqui? – Soou a voz de seu pai, a qual fez co que o menino congelasse no lugar. A porta estava a centímetros de seu rosto, e ele torcia para que estivesse o escondendo de seu pai.

– Nada – Respondeu o Pokémon, o qual Satoru sabia que Thomas provavelmente ouvira apenas um miado.

– Quem é esse? – Soou uma voz feminina e desconhecida.

– Sai daqui, Persian, não posso te dar atenção agora. – Thomas ignorou a voz e enxotou o Pokémon felino para for, fazendo com que o mesmo miasse em indignação.

Em seguida, Satoru congelou. A porta foi se fechando lentamente, mas parecia que seu pai havia dado alguns passos para fora do cômodo em que estava, como que para checar se o menino estava ali. No entanto, não chegou a sair para confirmar suas suspeitas, e finalmente, voltou, puxando a maçaneta da porta para fechá-la e trancá-la. Satoru suspirou, aliviado, dizendo a si mesmo que ter ido ali fora uma má ideia. Por fim, com o menor barulho possível, seguiu Persi de volta para o seu quarto.

Assim que ambos estavam de volta no quarto, ele disse:

– Tem três pessoas lá, além do Thomas. Uma delas é o avô de Larysse, uma garota humana de cabelos vermelhos e um garoto humano também de cabelos vermelhos.

– O avô de Larysse? – Perguntou Satoru, franzindo o cenho. – Se ele está aqui, então qual é o problema de eu ficar lá embaixo?

– Não sei. – Respondeu o Persian, e se deitou novamente na cama, ao lado do menino.

Satoru suspirou mais uma vez, e se deitou na cama também, pensando no que seu pai estaria escondendo dele e quem seriam aquelas pessoas. Como havia dito, não entendia o porquê de não poder ficar lá embaixo quando o avô de Larysse estava lá, pois ele não era realmente um problema. Quanto as pessoas de cabelo vermelho, tinha suas duvidas, mas achava que não haveria problema algum conhecê-las. Juntando tudo aquilo, Satoru não conseguia achar um problema para estar lá embaixo, pois seu pai sabia que se fosse algo a ver com seu novo trabalho, o menino nunca atrapalharia, tanto que, muitas vezes, deixara com eu ele andasse livremente pela casa quando isso acontecia, desde que não incomodasse nem Thomas e nem seus convidados.

De repente, as palavras que Larysse dissera mais cedo sobre o avô dela estar escondendo um segredo pareceram fazer um pouco de sentido, e isso gerou uma suspeita. Talvez ele e seu pai realmente estivessem escondendo algo das crianças, algo importante o suficiente para eles, mas que não seria da conta dos dois. Ou talvez algo sobre eles que não queriam que soubessem.

Sua mente se encheu de possíveis teorias até que, mais tarde, pode ouvi-los saindo de sua casa, e assim que ficou tarde, Satoru foi assistir TV, como se desse modo tais pensamentos pudessem ir embora. Estava sendo bobo em achar que seus pais estariam escondendo algo deles, e insistia em dizer a si mesmo que se não podia ir lá embaixo enquanto aquelas visitas estavam lá, tinha de haver um motivo, um que não envolvia um segredo. Por fim, se distraiu com um programa qualquer, acabando com as suspeitas logo depois.

Enquanto assistia TV, pode ver o vulto de Thomas passando pela cozinha em direção a ele. Satoru estremeceu, cogitando a possibilidade de ter feito algo errado para que o homem aparecesse daquela forma. Pouco depois, seu pai se postou na frente da TV, bloqueando a visão do menino e atraindo sua atenção ao olhar diretamente para ele.

– Satoru, desligue essa TV. – Disse com sua voz autoritária. Sob o olhar desaprovador de seu pai, Satoru pegou o controle e desligou rapidamente, temendo o tempo todo o que viria a seguir. Abriu a boca para perguntar por que, mas Thomas o cortou: - Amanhã virá uma pessoa aqui conhecer você, uma pessoa em que eu confio o suficiente para acompanhá-lo na sua viagem como treinador.

O garoto ficou calado e olhou para o pai, esperando que ele dissesse que estava brincando e começasse a rir. Isso era inesperado, pois seu pai não fazia brincadeiras. E fazia muito, muito tempo que Satoru não o via sorrir, quanto mais rir e fazer piadas, que era a única coisa que Satoru podia pensar para explicar as palavras que saíram de sua boca. Esperou alguns segundos, mas Thomas não riu nem sorriu, nem disse nada, apenas esperou pela resposta do filho, o qual ainda parecia surpreso demais para responder.

– Espera... O senhor vai me deixar sair? – Perguntou o garoto alguns momentos depois, só para ter certeza de que ele não estava brincando. Parecia difícil acreditar que era realmente verdade, mesmo vindo de Thomas.

– Vou. Você pode ir com aquela sua amiga, Larysse, mas acompanhados dessa pessoa.

– Mas... Mas o senhor... e eu não tenho nenhum Pokémon...

– O pacote que vai chegar amanhã é para você. Tem um Pokémon lá.

– Mas... Mas... – Começou Satoru, a voz falhando.

– Você quer sair, não quer?

O garoto apenas assentiu, não confiando em sua voz. Toda a situação era inacreditável demais para que pudesse dizer ou perguntar o que havia acontecido para que Thomas o deixasse sair assim tão de repente. Essa e outras perguntas atormentavam sua mente, ao mesmo tempo em que tentava achar algum tipo de vestígio ou pista que indicasse que estava sonhando. No entanto, não havia nada que pudesse confirmar a suspeita do mais novo, o que deixava claro que o que estava acontecendo era real e que seu pai realmente estava deixando-o sair.

– Então – Continuou o homem, cortando a linha de pensamento do filho. Logo em seguida, o mais novo se surpreendeu com o que foi dito: - Para isso você precisa aprender algumas coisas para se defender. Todas as noites eu o quero no meu laboratório, começando por hoje.

– S-sim.

– Sim, senhor. – Rosnou Thomas.

– Senhor. – Repetiu Satoru, assustado.

– Certo. Não conte a ninguém o que eu vou te ensinar. Nenhum de seus amiguinhos, nem seus parentes ou qualquer pessoa. Estamos entendidos?

– Sim, senhor.

Thomas assentiu, e fez um sinal para ele o acompanhar. Aflito, mas ao mesmo tempo animado e curioso com o estranho pedido, o garoto saiu rapidamente e foi atrás dele, seguido por Persi. Ao ver que toda a situação era mesmo real, sentia a vontade de gritar e de contar para alguém o que havia ouvido, porém, se limitou a sorrir e seguir o pai.

O seguiu até o laboratório que Thomas mantinha nos fundos da casa, onde guardava a sua coleção de Pokémons e passava boa parte do tempo quando não estava fora por conta do trabalho. Dentre todos os Pokémons que eram guardados ali, o único que andava livremente pela casa era o Persian, que gostava de seguir o garoto. Como um laboratório qualquer, os pisos e os azulejos eram brancos, bem iluminados. Havia uma incubadora no canto, como as do Centro Pokémon, - ou CP, como muitos chamavam-, várias máquinas e mesas com papeis e computadores, a maioria desligados. Também havia várias prateleiras com Pokeballs arrumadas, com estranhos adesivos que chamavam de Seals ou o nome do Pokémon que estava nela escrito em seu topo. Algumas prateleiras eram nomeadas, as quais indicavam de que região eram os Pokémons mantidos ali.

Satoru se surpreendeu, pois nunca havia tido permissão de entrar no local, então não sabia que seu pai possuía tantos Pokémons assim. Agora que tinha a oportunidade de entrar ali, olhou para todos os cantos, curioso, e percebeu que tudo parecia ter um brilho diferente, quase novo, e percebeu também que não acharia tão legal assim poder olhar o lugar se fosse num dia qualquer. Afinal, havia acabado de conseguir a tão desejada permissão para sair de casa e seguir seus sonhos, e apenas isso era o suficiente para enchê-lo de felicidade.

Ainda seguindo seu pai, cruzou o laboratório até uma pequena porta, na qual Thomas abriu e deixou o garoto e o Persian entrarem, e depois fechou e trancou, escondendo do resto do mundo o que iriam fazer ali.


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