Pokémon Fantasy escrita por Lawliette


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Reformado. ²



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– Eu não consigo, Persi. - Murmurou Satoru, se virando na cama. Ao seu lado, estava um Persian, sendo acariciado por uma mão trêmula. Em resposta, o Pokémon miou melancolicamente.

Satoru estava nervoso, e precisava se decidir logo. Olhou para o relógio que jazia na escrivaninha pela enésima, nervoso. 10 horas da manhã. Logo seu pai chegaria, e como sempre, aconteceria uma rotina que nem ele sabia onde havia começado.

– Satoru? – Chamaria seu pai, entrando, e então perguntaria se ele estava em casa.

– Sim, papai. Como foi no trabalho? - Responderia o menino, sem muita animação.

Receberia uma resposta qualquer, e assim, voltaria para o quarto. Mas hoje, estava decidido: não seria assim. Finalmente diria. Não importava se o pai recusasse, ele pediria. Chegaria a implorar, se fosse preciso.

– É isso, Persi. - Ele sorriu para o gato, como se apenas o fato de dizer aquilo em voz alta para alguém fosse encorajá-lo.

O som da maçaneta se ouviu no andar de baixo, seguido da pergunta costumeira. Assim que a ouviu, Satoru se levantou, e desceu até a cozinha, encontrando a figura grande do pai, usando um uniforme cheio de símbolos e medalhas estranhamente delicadas. Observou o maior colocar o pequeno boné que usava na mesa, enquanto remexia nas prateleiras do armário da cozinha.

– Satoru, eu vou sair de novo daqui a pouco. – Disse ele, sem tirar os olhos do que fazia. Como sempre, sua voz estava firme e autoritária. - Pode fazer um favor para mim? Vou receber uma entrega hoje ou amanhã, fique aqui e receba-a para mim.

O mais novo assentiu, sem ter coragem de dizer algo na presença do pai. Visto que o menino não disse nada, ele continuou:

– E também, mais tarde, chegará duas visitas aqui hoje. Quando elas chegarem, vá para o seu quarto, e não saia de lá a menos que eles tenham ido embora ou eu mande.

Mais uma vez, assentiu, estranhando a ordem, mas não lhe deu tanta atenção assim. No momento, estava preocupado com outras coisas.

– Pai... – Começou Satoru com uma voz baixa, tentando soar determinado. - Eu queria fazer uma pergunta...

– Faça, então. – Respondeu ele, finalmente se voltando para o filho. Em suas mãos, havia o que parecia ser uma folha de papel dobrada diversas vezes, a qual brincava, balançando-a entre os dedos. Em poucos segundos, Satoru perdeu a coragem.

– E-eu... – O menino começou a gaguejar, e então se calou. Um nó ficou preso na garganta, sem poder sair. Não conseguia dizer nada diante do semblante assustador de seu pai.

Não.

Isso não pode acontecer.

De novo não.

– Eu quero ser um treinador...

O homem não fez nada. Os olhos dele ficaram mais frios do que antes e pareciam muito, muito cansados, como se tivesse lidado com aquele mesmo pedido diversas vezes. Satoru ficou com medo, virando o rosto apenas para não ver a face do pai. Começou a se sentir completamente culpado, tanto por ter feito a pergunta quanto pela estranha vontade de chorar que brotava em seu peito, como se o fato de o pai star cansado e estressado fosse por culpa dele e do que estava pedindo. Porque ele sempre dava essa reação em Satoru?

– Eu vou pensar no seu caso. – Respondeu o homem, mas Satoru não viu sua expressão.

E então saiu novamente, deixando o filho e o Persian para trás. O menino suspirou, pressionado as costas contra a parede que havia perto de si, decepcionado consigo mesmo. Mais uma vez não conseguira fazer devidamente o pedido ao pai, pelo menos não do modo como imaginara, e mais uma vez ele lhe dera uma resposta vaga, saindo antes que o menino pudesse tentar insistir um pouco mais, só para ouvir as mesmas explicações de sempre. De certa forma, não se importava. Pediria quantas vezes fosse preciso, e algum dia, sairia.

Esperou um pouco, e assim que teve certeza de que o pai já estaria longe, saiu de casa, com Persian acompanhando-o. Não queria ficar em casa, e poderia esperar pela entrega de seu pai mais tarde.

Por um breve momento, Satoru parou para observar a pequena cidade de Twinleaf, quase sempre quieta e calma. Diferentemente da ultima vez, morava em um bairro onde havia poucas casas, e nas ruas passeavam pessoas despreocupadas, apenas aproveitando a calmaria que uma cidade como aquela proporcionava. Não era um lugar em que havia ficado muito tempo, mas já gostava e se acostumara com a calmaria do local, de modo que poderia esquecer-se de tudo aquilo que o incomodava, como fazia no momento. Ou pelo menos um pouco.

Reprimiu as imagens que começaram a invadir sua mente, e logo, o menino e o Pokémon chegaram numa casa bastante familiar. Sem hesitar, apertou o botão da campainha, e pôde ouvir o som estridente e abafado vindo do interior da casa.

De lá, também puderam ser ouvidos passos, indicando a chegada de alguém.

– Ah, oi Satoru! - Uma linda garotinha de cabelos castanhos, aparentando ter dez anos, apenas dois anos mais nova que o menino, o recebeu com um lindo sorriso.

– Oi, Larysse. - Cumprimentou ele, retribuindo o sorriso.

A garotinha fechou a porta trás de si e se sentou na calçada da porta de sua casa. Olhou para Satoru em seguida, fazendo um sinal com as mãos para que ele viesse a seu lado. Obedecendo ao sinal, o meais velho olhou para cima sem motivo nenhum, e depois de alguns poucos segundos, disse:

– Ele disse que ia pensar de novo... E você?

– Minha mãe disse que iria pensar, também. – Respondeu ela, soando aborrecida. - Ela disse que tinha que falar com uma pessoa... Ou algo assim.

– Você acha que eles iriam deixar a gente sair juntos, para sermos treinador e coordenador?

– É claro! - A garota sorriu, e ele sentiu um impulso de retribuir.

Satoru não conhecia Larysse há muito tempo, mas já confiava nela o suficiente para querer acompanhá-la em uma jornada. Como todas as crianças nos dias de hoje, ambos queriam sair numa jornada para serem treinadores Pokémons, porém com objetivos finais diferentes. Satoru sonhava em ser um mestre Pokémon, o campeão da liga, aquele que se provara o mais forte de todos os treinadores. Desde antes de conhecer Larysse, desde quando era muito menor do que já era agora, olhava para a líder da liga, Cynthia, e se admirava, desejando ser tão forte quanto ela.

E algum dia seria. Tinha certeza.

Já Larysse queria seguir o caminho das apresentações de Contest para então se tornar uma Top Coordenadora. Satoru não entendia exatamente seu sonho, mas respeitava, e se admirava quando a mais nova lhe contava sobre as apresentações que via na TV.

Ambos tinham sonhos parecidos, como os de qualquer criança nos dias de hoje, e estavam determinados a fazer com que eles se tornassem realidade, tanto que do tanto que pediam a permissão de seus pais, aquela conversa entre os dois amigos já se tornara comum. Dessa forma, havia virado um pequeno problema, pois antes que pudessem realmente sair, havia um pequeno problema, algo muito simples de ser explicado, porém difícil de ser resolvido.

E podia ser dito em apenas duas únicas palavras: Seus pais.

Eles não gostavam nem um pouco da ideia de Satoru e Larysse saírem de casa, e isso gerava um pequeno conflito entre pais e filhos. O pai do menino por achar que ele era muito novo e que não estava preparado ainda, e os pais de Larysse, além dessas mesmas razões, por estarem receosos em deixar a única filha que possuíam sair de casa, andando sozinha no mundo e por conta própria. E isso incomodava Satoru e Larysse. Quando as crianças completavam dez ou doze anos, podiam sair de casa para ter sua própria jornada, então, porque de todas as outras pessoas, eles não podiam? Tinham a idade certa, a vontade, os sonhos e a determinação. Faltava apenas o Pokémon.

Era claro que os dois entendiam os motivos dos pais, mas ainda assim, simplesmente não conseguiam esperar até serem maiores para poderem sair. Os amigos insistiam muito, e caso conseguissem a tão desejada permissão, iriam juntos em sua jornada Pokémon, como prometeram desde quando se tornaram melhores amigos. Não importava o quanto tivessem que insistir ou provar de que eram capazes de se virarem sozinhos lá fora, iriam conseguir sair de casa ao lado de um Pokémon, seguindo seus sonhos. Larysse seria uma coordenadora, e Satoru, o futuro campeão da liga.

O menino olhou mais uma vez para a mais nova, ponderando pela centésima vez como seria se saíssem juntos.

“Talvez”, pensou ele, “Talvez se nossos pais criarem juízo e sairmos nós dois juntos, eu possa faze-lá sorrir mais”.

***

– Ele perguntou novamente, Thomas? – Perguntou uma voz, parecendo nervosa ao se dirigir para a outra pessoa.

– É, ele perguntou... – Respondeu uma voz cansada, mas nem por isso deixava de ser firme e autoritária.

Dois homens e uma garota estavam reunidos numa sala pouco iluminada. O primeiro era um homem um pouco temido pelas outras duas pessoas, principalmente por suas atitudes e pelo fato de que em nenhum momento sorria ou demonstrava algum tipo de sentimento que não fosse o aborrecimento. Thomas era o que podia se definir como um militar, o tipo de pessoa que ao invés de seguir as ordens, as dava, e fazia com que as pessoas as cumprissem, seja assustando-as ou por sua autoridade.

Nem mesmo o dono do local podia deixar de ter medo da presença assustadora de seu visitante. O dono era um homem mais velho, já na casa dos sessenta, e sua expressão era um livro aberto, de modo que deixava claro que procurava desesperadamente por uma oportunidade que permitisse ser o centro das atenções. Afinal, fora o professor que chamara os outros dois ali, para que pudessem resolver seus assuntos, e Thomas simplesmente roubava toda a atenção para si, fazendo parecer que fora ele quem os convocara, mesmo passando um estranho medo neles sem motivo algum. Não que precisasse de um motivo para ser temido, somente o seu semblante sério e sua voz eram o bastante para assustar o professor.

Já o local em que se encontravam parecia ser um laboratório. A sala estava escura, com uma fraca luz vinda de um abajur fora de ambiente, que providenciava iluminação o suficiente para que pudessem enxergar a si mesmos e o pouco que a sala possuía. Um bom exemplo era a mesa que ficava ao lado de Thomas Andy e a grande escrivaninha, onde um computador aparentemente desligado descansava. Além dele, havia um notebook fechado, papéis, canetas, lápis e blocos espalhados por toda a sua extensão. Por um canto ou outro da sala, havia aparelhos, máquinas, e noutro, uma pequena TV conectada a um dos computadores, aumentando ainda mais a certeza de que aquilo era um laboratório.

Porém, o mais estranho na sala era a parede que revelava a outra sala ao lado da que se encontravam. Essa parede não era exatamente isso, pois tinha uma abertura excessivamente grande no meio, cobrindo quase toda a sua extensão, como se a mesma tentasse se passar por uma grande janela. Em circunstâncias normais, o vidro da abertura permitiria uma boa visão do local que se encontrava do outro lado da parede, mas, infelizmente, as luzes de dentro da sala estavam completamente apagadas, e a fraca luz da primeira não era o suficiente para enxergá-la. Desse modo, só se via uma pequena parte do piso branco, enquanto todo o restante havia sido engolido pela escuridão.

A terceira e última pessoa erra uma adolescente de aparentemente quinze ou dezesseis anos, com incomuns cabelos ruivos. Esta permanecia longe dos mais velhos, arrumando a gola de sua jaqueta. Com sua mão, tirou uma mecha do cabelo ruivo e a deixou descansando atrás da orelha, e então, perguntou:

– E o pacote vindo de Hoenn? É melhor que aquele garoto aceite, ou então...

– Não se preocupe, ele vai aceitar. Do jeito que ele é... – Thomas riu, porém não havia graça. Aquele gesto era meio desconhecido para ele e não combinava com o semblante forte e a voz firme, então pareceu demais que era forçado.

– E a minha netinha? Vão leva-lá, não é? - Perguntou o professor, ainda nervoso com presença do segundo homem.

– Mas é claro! Tudo para sair desta cidadezinha... - Bufou a garota mais nova, parecendo aborrecida, e logo depois de se virara para Thomas, perguntou: - Então amanhã eu posso ir a sua casa?

– Uhum. – Assentiu ele. – Primeiro você tem de conhecer a casa, o garoto, enfim, todas as coisas.

– Por quanto tempo? Não quero ter que ficar zanzando por lá o tempo todo.

– Só alguns dias, para que eu possa conseguir juntar dinheiro o suficiente. – Isso não soou convincente vindo de Thomas. Naturalmente, ele teria dinheiro para fazer qualquer coisa que desejasse. - Você pode cuidar do menino enquanto eu estou fora, se preferir.

A garota assentiu, satisfeita, demonstrando que o assunto com ela havia acabado.

– E quanto a você, professor? – Thomas lançou um olhar acusador para o mesmo, fazendo-o estremecer de medo. – Você também vai ajudar, não é? Se quiser que a sua neta venha junto, vai ter que ajudar em alguma coisa.

– Não se preocupe, Sr. Andy. – Respondeu o professor, com a voz controlada, mas ainda assim não deixava de parecer nervoso. - Vou ajudar sim. Posso registrar os garotos como treinadores, conseguir seus Trainers Cards e ainda posso falar para o Rowan nos ajudar em algo.

– Ótimo. – Assentiu, satisfeito, e então dirigiu seu olhar de volta para a garota. - Clair, você começa amanhã.

– Ok. – Respondeu Clair, parecendo indiferente com a decisão e com a cena de momentos atrás.

Com isso, a pequena reunião deu-se encerrada, e o professor apressou-se em abrir a porta para deixar Thomas sair e depois ele mesmo o fazer, deixando Clair encarregada de apagar a luz do abajur fora de lugar e trancar a porta atrás de si. Por um momento, hesitou, parecendo nervosa com os acontecimentos que iriam se seguir depois daquilo, e permaneceu ali por alguns segundos a mais.

Por fim, depois de respirar fundo, apagou as ultimas luzes que restaram e saiu, fechando a porta e deixando a escuridão atrás de si.


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