Pokémon Fantasy escrita por Lawliette


Capítulo 16
Capítulo 15: Revelações


Notas iniciais do capítulo

Ae! Entreguei na data certa, portanto não reclamem u_u
Não tenho lo que dizer sobre esse chapter hoje, entonces, just read ~~
Boa leitura, fantasmas cor de purpurina transparente (wat)



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Satoru ficou surpreso com o que ouviu. Vários sentimentos se passaram por ele quando ouviu a frase Eu entendo você de Altaris para a enorme Pokémon azul que ele não soube identificar, mas, mesmo assim, não soube dizer exatamente como se sentia ou como reagiria. Estava surpreso, sim, mas simplesmente não sabia o que pensar. Imaginara que se algum dia encontrasse alguém que fosse como ele e Larysse, ficaria feliz, ou algo assim, mas agora... Não tinha ideia. Talvez, só talvez, fosse uma pontada de desespero. Desespero por saber que, a primeira pessoa que soubera que era como ele fazia parte da Equipe Rocket.

E isso levantava mais questões que estavam em sua mente, e ainda não tinham resposta: Porque Altaris contara aquilo a ele? Porque, mesmo tão novo assim, já era parte da Equipe Rocket? E porque ele os ajudara a salvar o Pokémon misterioso? Porque ele queria revelar um segredo tão... Porque ele também podia entender os Pokémons?

A cada pergunta feita, mais surgiam em cima das primeiras, ou então perguntas diferentes que geravam outras, e todas, sem nenhuma resposta. O menino estava confuso. Não sabia como agir perto daquele garoto, que, provavelmente, sabia o seu segredo de entender os Pokémons. Por instinto, olhou para o lado, e encontrou Larysse ali, com a mesma expressão confusa que Satoru suspeitava ter no momento. Por mais que os dois estivessem confusos, Clair era a que parecia mais fascinada.

Alyss Chamou Schrödinger, no colo da menina. Esta olhou para ele, desviando o olhar de Altaris e do resto do grupo. É aquela menina ali. E fez um sinal com a cabeça para a menina mais nova do grupo. Qual era o nome dela? Larysse?

A menina o ignorou, resolvendo dizer o que queria mais tarde, depois que dissesse quem eram.

Então... Você é quem estávamos procurando. Disse Alyss, simplesmente.

Por quê? Perguntou Altaris.

Ahn... Ela hesitou. A gente estava procurando vocês pra... Ahn... Ela se virou para a amiga parecendo nervosa. Lawliette, pra que a gente tava procurando eles mesmo?

Por causa daquele assunto, lembra? - Respondeu a menina, também parecendo nervosa. Todos os olhares estavam sobre elas e a enorme Pokémon atrás de Lawliet e Alyss.

Ah sim, então

Alyss Interrompeu Lawliet, com um sorriso amigável no rosto. É melhor eu explicar.

Isso, vai explicar. Alyss segurou Dinger, arrumando-o em seu colo, e deixou que Lawliet desse um passo a frente, encarando Altaris.

Por um momento, a menina hesitou, intimidada com a aparência do garoto e os olhos de cor incomum, mas se recompôs a tempo de não deixar nenhuma expressão transparecer.

Você disse que pode entender a Maiko. Lawliet apontou com a cabeça para a Samurott atrás dela. É exatamente por isso que estamos procurando vocês. Nós também podemos entender o Pokémons.

Altaris hesitou. Todos olharam para ele e para as garotas mais velhas, boquiabertos. Os Pokémons, tanto quanto seus treinadores pareciam surpresos com aquela noticia. Satoru e Larysse eram os que mais estavam surpresos. Por toda a vida, tinham acreditado que eram os únicos que podiam entender os Pokémons. Ninguém mais podia.

Até agora.

Ou, pelo menos, era isso que sabiam.

Ela está certa. Disse Maiko, atrás de todos os outros, apenas observando. Ela sempre conseguiu entender a mim e as outras.

Eu posso confirmar. Concordou Dinger.

Altaris, Satoru e Larysse olharam para os Pokémons, surpresos. Lawliet podia até mesmo imaginar o que estariam pensando naquele momento, nas dúvidas, provavelmente as mesmas que teve quando descobriu aquilo. Quem eram aquelas pessoas? Porque existiria mais gente que entendia os Pokémons, assim como ela?

Mas... Como você sabe que somos nós, e não outras pessoas? Perguntou Altaris, recusando-se a acreditar.

É por que... A menina hesitou por um momento, e então, respirou fundo, tomando coragem. Eu... Posso sentir em vocês... O mesmo poder que há em nós.

Mais uma vez, houve hesitação em todos eles. Ninguém disse nada. O único som além de suas respirações era o dos pássaros ao redor, e do farfalhar das folhas causado pela leve brisa, fora isso, havia apenas o silêncio. Maiko observava-os de longe, preocupada. Dinger permaneceu quieto, parecendo perdido em pensamentos. Alyss estava perto de Lawliet, sua respiração mandando o vapor branco de sempre, deixando-os com uma dúvida sobre aquilo. Clair, Satoru e Larysse pareciam extremamente confusos, e os Pokémons apenas observavam. Altaris encarava Lawliet de volta, com uma expressão vazia, e Lawliet, séria, o olhava de volta, esperando sua resposta. Silêncio misturado com uma tensão estranha que se formou no ar ao redor deles, que não podia ser vista, mas podia ser claramente sentida, era tudo o que havia no ar.

Silêncio.

Milhares de perguntas havia na mente de cada um deles, muito mais barulhentas do que o ambiente em que estavam. Lawliet nunca pensara que o encontro seria assim. Sim, haveria surpresa, mas, esse silêncio, ela não previra. Estava com medo do que iriam dizer após aquilo, e também não previra as outras pessoas ali, a garota de cabelos negros com mechas azuis, e o menino mais novo, e nem mesmo a menina de cabelos vermelhos, observando num misto de curiosidade com fascínio.

Silêncio.

Ninguém parecia ter a coragem para falar qualquer coisa que fosse, ou talvez esperassem que os outros dissessem em seu lugar. O silêncio se arrastou, e por um momento, Lawliet chegou a pensar que nem mesmo os pássaros ou o farfalhar criado pela brisa e nem mesmo sua própria respiração estava sendo ouvida. Somente o seu coração, martelando incontrolavelmente fazia um som agudo em seus ouvidos, como que para encontrar algo para quebrar aquele silêncio, e batia tão alto que ela se surpreendeu dos outros não ouvirem.

Silêncio.

Era seguro falar aquilo mesmo com aquelas pessoas ali? Era seguro falar para eles no fim das contas? Lawliet não conseguia sentir nada vindo deles, apenas das três crianças ali. Deveria continuar falando, ou deveria esperar pela resposta do garoto de cabelos vermelhos a sua frente?

Por fim, esperou mais um momento, sentindo o silêncio tomar conta de tudo ao redor, silenciando até mesmo os sons típicos da floresta.

O que... Começou Altaris, parecendo nervoso. O que você quer dizer com isso?

Eu quero dizer que, pelo o que eu descobri até agora, as pessoas que tem poderes, podem entender os Pokémons também.

Poderes? Como fazer coisas que não seriam possíveis, como controlar algum elemento ou ler mentes?

Lawliet assentiu.

Vim pesquisando isso faz dois anos. E eu sei que três de vocês são como nós, porque esse é o meu poder. Eu posso sentir outras pessoas como nós, no caso, eu e a Alysse. Ela apontou para a menina de cabelos azuis ao seu lado. Eu posso sentir tudo de incomum, fora o normal, mas não posso dizer exatamente quem são até estar no mesmo ambiente. Ela apontou para Larysse e Satoru. Eu sei que vocês dois também podem entender os Pokémons.

Como você consegue? Perguntou Growlithe, surpreso.

Isso... Isso eu não sei. Respondeu ela, olhando para o cachorro de fogo.

Então é verdade? Perguntou o Charmander dourado, se aproximando do Growlithe.

O Chimchar ao seu lado fez o mesmo.

Parece que sim.

Eu não acredito nisso! Bradou Clair, olhando seriamente para Lawliet. Altaris, surpreso, virou-se para olhar a menina de cabelos vermelhos. Vocês podiam ter observado a gente antes de vir falar isso, e por isso sabem que Satoru e Larysse entendem os Pokémons. Não quer dizer que tem poderes, e não podem provar!

I-Isso mesmo... Concordou Altaris, fechando a cara do melhor jeito que pôde. O resto do grupo, inclusive as crianças, apenas olhou para eles, e então para sua salvadora e a companheira.

Mas é claro que podemos provar! Exclamou Lawliet, indignada. Quer dizer, não eu, mas... Alysse pode, né, Alysse?

Ela assentiu, com um sorriso gentil para o grupo.

Uhm... Começou ela, nervosa. Eu meio que posso controlar o gelo...

Então prove! Pediu Clair, com um sorriso irônico. Isso é, se você conseguir.

Maiko lhe lançou um olhar ameaçador, rosnando de leve. Clair hesitou, assustada com a Samurott, apenas observado-a. Ela parecia prestes a saltar sobre Clair.

Espera, você pode? Perguntou Schrödinger, assustado. Achei que fosse brincadeira essa parte!

Alyss fez um sinal positivo com a cabeça, e entregou o gatinho roxo para Lawliet. Estava nervosa, e se segurava para que não começasse a tremer incontrolavelmente. Fazia muito tempo que não usava seus poderes, e essa era a primeira vez que mostraria isso a alguém em que não confiava, e muito menos conhecia direito. Tudo o que sabia era que aquele grupo eram treinadores, que viera a conhecer quando estavam no lugar certo na hora errada. A única pessoa que a motivava a continuar com aquilo era Lawliet, e ela era a única pessoa que confiava ali, com exceção de Maiko e suas outras Pokémons.

Tentou se esquecer de que havia gente que não era como ela ali junto com o grupo, para que conseguisse fazer novamente o que deixara de fazer a muito tempo. Só esperava que desse certo. Não sabia como agiria caso tentasse provar e desse errado. Fechou os olhos, tentando se esquecer não só das pessoas ali presentes, e sim de tudo ao redor. Inspirou e expirou lentamente, a fim de estabilizar os batimentos cardíacos. Isso resultou no vapor em sua respiração aumentar, como se estivesse extremamente frio ao seu redor, embora não estivesse tão frio assim para sequer causar o mínimo que fosse que fosse do vapor criado pela respiração de Alyss.

Como se sentisse algo em suas mãos, Alyss levantou um dedo. Era como se sentisse algo no ar, onde sabia não haver nada. Sua mão parecia fria, bem fria. Abriu os olhos, mas não se preocupou em olhar para as pessoas ao redor, embora sentisse os olhares sobre ela. O vapor de sua respiração tocou sua mão, fazendo-a tremer levemente devido ao extremo frio que sentiu, e então, girou um dos dedos levemente, em cima daquilo que estava ali onde não deveria haver nada.

Estava ocorrendo tudo como deveria. Alyss sorriu. Fechou a mão por um momento, por puro instinto, e quando abriu, vapor branco brincava em seus dedos, fazendo formas indistintas. De repente, o vapor em sua mão se tornou gelo, e formou exatamente aquilo em que ela queria que formasse. Podia sentir os olhares perplexos enquanto o vapor que havia em sua mão se transformava rapidamente em gelo, e onde não havia, continuava seu caminho, como se o gelo se estendesse. Por fim, terminou toda a sua forma, em traços lisos e delicados. Nem ao menos parecia ser feito de gelo, tamanha a beleza da forma criada.

Alyss entregou a Pokeball feita de gelo a Lawliet, e mesmo ela, parecia assustada ao ver a esfera. Segurou Schrödinger com uma mão, e com a outra, pegou a Pokeball, sentindo seu corpo tremer em contato com a superfície fria. Tinha exatamente a mesma forma, e até mesmo o botão central. A listra negra que havia em todas as Pokeballs era demarcada por uma camada mais grossa de gelo, como uma tira mais grossa colocada ao redor de uma esfera. Era meio azulado, porém transparente, e quase dava para ver através dela. Por dentro, pequenos pedacinhos de gelo brilhavam, refletindo a luz do sol.

Era lindo, com traços delicados e frágeis, mas era, ao mesmo tempo, um trabalho perfeito, que demoraria anos para ser esculpido em gelo. Mas aquela Pokeball, ao contrário das outras, fora esculpido do ar, onde antes não havia nada, e Alyss sabia que não deveria haver. A menina desejou que a esfera se mantivesse assim, mesmo com o sol alto no céu, e não sendo uma temperatura adequada para a Pokeball de gelo se manter.

O queixo de Clair caiu. Satoru e Larysse tinham os olhos arregalados de surpresa, e uma expressão de completa indignação. Altaris parecia tão surpreso quanto eles, deixando a máscara que usara para esconder a expressão cair.

Lawliet examinou um pouco mais a esfera, e devolveu para Alyss. Schrödinger observou, fascinado, a esfera de gelo passar da mão de Lawliet para sua nova treinadora. Esta, por sua vez, estendeu para Altaris, convidando-o a tocar e provar para si mesmo que aquilo não era um sonho. Hesitante, o menino de cabelos vermelhos estendeu a mão, parecendo uma eternidade até finalmente tocar a Pokeball, e segurá-la em suas mãos. O gelo se manteve frio e estável, sem nem ao menos uma única gota de água escorrer dele. Altaris olhou de volta para Alyss, ainda surpreso. Seus olhos azuis, em contraste com a esfera em sua mão, pareciam perguntar se os outros também podiam ver.

Alyss confirmou com seus próprios olhos sorrindo. Seu corpo tinha uma sensação estranha de bem estar, deixando-a extremamente calma. A respiração ainda soltava o vapor branco, ainda mais espesso do que estava antes. Altaris passou a esfera para a outra Alyss, e depois de examiná-la com a surpresa estampada em seus olhos, passou para Drew, e este para Larysse, e desta, para Satoru, e finalmente, para Clair.

A mais velha do grupo estendeu a esfera no ar, contra o sol. Esta brilhou por dentro, refletindo os raios ultravioletas, e por dentro, podia ser visto todas as cores do arco-íris. Passou o dedo por toda a superfície fria e lisa, mal acreditando que aquilo podia ser verdade. Não tinha como. Não era possível. Um Pokémon, sim, podia, mas uma pessoa...?

Ainda assim, havia visto com seus próprios olhos a esfera ser criada onde antes não havia nada. E isso era prova mais que o suficiente para ela. Parecia tão surreal, mas, ao mesmo tempo, era tão real que ela começava a insistir que não era, que poderia ser um sonho. Isso também não poderia ser, pois se realmente fosse um sonho, não sentiria a superfície lisa da esfera, e também não sentiria o frio que o gelo causava em seu corpo quente.

Por mais que ainda tivessem perguntas em sua mente, aquilo foi o suficiente para convencê-la. Andou até Alyss, e devolveu-lhe a esfera. Assim que entrou em contato com a mão de quem a criara, começou a derreter rapidamente, molhando sua mão. A garota mais velha quase protestou, mas se segurou antes de fazê-lo. Parecia um pecado enorme deixar que aquela Pokeball de gelo se desfizesse rapidamente em suas mãos. Outra pergunta se formou em sua mente: Era Alyss que cuidara para que a Pokeball de gelo não derretesse nas mãos de ninguém? Essa parecia ser a única explicação plausível.

Acreditam agora? Perguntou Lawliet, sem conseguir conter um sorriso. Assim que a esfera de gelo fora reduzida a água, devolveu Schrödinger a Alyss. É por isso que estamos procurando vocês. Porque queremos respostas, e porque, uhm... São como nós...

Mas Satoru e Larysse não tem nada a ver com poderes... N-não é? Clair olhou para eles, confusa.

Aquele era outro segredo que fora escondido dela? Clair não podia acreditar. Quer dizer, eram crianças, contar o primeiro segredo já fora difícil o suficiente, tanto para acreditar quanto para assimilar aquilo, assim como estava sendo para que a garota de cabelos ruivos assimilasse o que Alyss e Lawliet estavam dizendo. Mas vira com seus próprios olhos E Alyss era uma adolescente. Crianças não poderiam saber coisas assim, poderiam?

Satoru olhou para Larysse, e esta olhou de volta para ele, como se estivessem se perguntando quem iria falar primeiro. O menino não tinha coragem alguma, e seus olhos lhe imploraram para que Larysse falasse algo. Ele mesmo estava confuso com toda aquela situação.

M-Mas... Começou Larysse, gaguejando, e assim que percebeu, controlou a voz e recomeçou: - A gente não sabe fazer nada... Só entender os Pokémons...

Lawliet franziu o cenho, confusa, e então, olhou para o garoto de cabelos ruivos. Ele desviou o olhar, preferindo encarar o chão. Lawliet hesitou por um momento, igualmente confusa.

Eu tenho certeza de que são vocês! Exclamou ela. Eu posso sentir isso.

Mas não sabemos de nada... Insistiu Larysse, um pouco assustada com toda aquela situação.

Talvez vocês só não tenham desenvolvido ainda...

A voz paralisou todo o grupo, que olhou para seu dono, até então calado. Ou pelo menos, uma parte do grupo olhou diretamente para o pequeno Charmander Shiny, que os encarava com um sorriso amigável, nem um pouco afetado pelos acontecimentos. Lawliet, Alyss, Satoru, Larysse e Altaris olharam para o Pokémon, e os outros acompanharam, curiosos.

Igna! Repreendeu Altaris, parecendo desesperado. O que pensa que está dizendo?

Satoru olhou para o menino. Isso confirmava suas suspeitas sobre ele entende os Pokémons também, o que tornava aquela situação ainda mais confusa. Igna olhou de volta para ele, e então disse:

Está tudo bem, mestre. Devia contar isso a eles. Sãs as primeiras pessoas que encontramos que sabem de algo.

Mas não agora...

O que você quer dizer com isso? Perguntou Lawliet, interrompendo a conversa.

Clair, confusa, apenas ficou olhando de Pokémon para treinador, alternando o olhar. Era frustrante estar entre pessoas que podiam entender as falas dos pokémons, e ela não ter a mesma habilidade, e também entender meia parte da conversa. Era frustrante saber que, entre o seu pequeno grupo em que não queria estar, tinha pessoas que tinham realizado o sonho da mais velha por ela. Quantas vezes ela não desejou poder entender as criaturas que faziam parte desse mundo e que eram a principal fonte para quase tudo o que queriam? Sem Pokémons não poderiam ser treinadores, e mesmo se os tivessem que valor tinha ter um Pokémon e treiná-lo se não podia entendê-lo, saber sua personalidade, suas opiniões?

Afastou os pensamentos, se repreendendo logo depois. Aquilo não importava muito. Ela podia entender por meio das crianças, e mesmo que elas não pudessem, ainda podia dar um jeito de entender os Pokémons sem ter as mesmas habilidades, que, no momento, outras cinco pessoas também tinham. Vinha fazendo aquilo desde que conhecera Weng e Jin, Pokémons que compunham seu time até agora.

Ainda assim, era frustrante ver Altaris conversando com seu Charmander, e entender apenas parte da conversa. O sentimento continuou ali, por mais que ela tentasse afastá-lo e repreendesse a si mesma.

Eu... Ahn... Altaris se atrapalhou na resposta, gaguejando. Eu não ia contar agora, mas é que eu... Também sabia que Satoru e Larysse eram como eu... Como nós.

Então você tem poderes também? Perguntou Alyss, arregalando os olhos de surpresa.

Sim, mas... Eu não posso mostrar pra vocês. Ele hesitou, segurando os braços. Por algum motivo, eu não posso fazer em quem tenha poderes também, e foi desse jeito que eu descobri como encontrar pessoas como eu.

Então conte como funciona! Pediu Clair. O menino hesitou por mais um momento, diante dos olhares de todos sobre ele,

Eu posso ver a mente de alguém. Ler seus pensamentos, mas... A partir do momento que eu faço isso, posso saber exatamente tudo da pessoa.

Isso é verdade? Perguntou Lawliet, desconfiada. Você pode estar mentindo pra gente, e saber fazer outra coisa.

Você mesma disse que eu tenho poderes. Porque não acreditaria em mim?

Lawliet hesitou, e preferiu ficar calada ao invés de realmente respondê-lo. Ainda assim, tinha receio de que o garoto pudesse realmente fazer aquilo, e, além disso, Altaris não tinha como provar, pelo menos não para Lawliet, já que, se o que ele disse foi verdade, então não tinha como olhar a mente de Lawliet e dizer o que estava pensando. Ou fazer o que era capaz... Ou qualquer outra coisa que mostrasse que realmente era como elas.

Pois então tente comigo! Exclamou Clair, tirando a atenção de todos.

O que...? Perguntou Altaris, sendo acompanhado pelo olhar assustado de seu Charmander.

Eu não tenho poderes, e eu também não acredito em você. Vá em frente e prove a eles comigo.

Você tem certeza? Se eu fizer isso, eu vou saber tudo da sua vida.

O que você quer dizer com isso?

Quero dizer que, a partir do momento que eu, uh... Entrar na sua mente, se eu não tomar cuidado, posso saber de tudo... Todas as informações passam pra mim, e em alguns casos, as minhas também. Quero dizer, lembranças...

Você não pode ver algo especifico?

Acho que sim... Não sei controlar isso.

Então anda logo. Tente ver o que aconteceu na minha infância. Isso vai ser prova o suficiente pra vocês?

Lawliet assentiu, e Alyss a acompanhou. Então, esperaram para que Altaris demonstrasse para Clair o que sabia fazer. Todos observaram atentamente enquanto o menino lentamente se postava na frente da garota mais velha. Weng, aos seus pés, segurou sua perna, num ato meio protetor, e encarou Altaris ameaçadoramente, como se temesse que ele fizesse qualquer coisa a Clair. Nervosa, a menina esperou, e assim que viu Altaris a sua frente, pode ver que eram quase exatamente da mesma altura. Os olhos dele estavam nivelados com os dela, tornando muito fácil olhar para o azul profundo de seus olhos do que para outros lugares de seu rosto, e desse modo, Clair não tinha que levantar o rosto para enxergar direito.

Podia sentir o olhar de todos sobre os dois, e o silencio se instalou novamente, tornando ar tenso mais uma vez. A expressão séria do garoto mais novo assustou Clair um pouco. Ela não fazia ideia de como uma criança poderia tornar-se séria se quisesse, ainda mais em assuntos como aqueles. Ainda era surreal demais.

Por algum motivo, cada vez mais que olhava nos olhos do garoto, mais não conseguia desviar o olhar, como se estivesse sendo puxada para vê-lo, atraída pelo azul que quase se tornava brilhante. A cada segundo que se passava, além de ter a certeza de que se estivesse de noite, seus olhos brilhariam, como um par de mini faróis azuis, começou a ter a certeza também de que ele realmente tinha poderes e podia ver sua mente.

Assim que pensou naquilo, sentiu algo estranho em sua cabeça, mais precisamente, sua mente, como um dedo tocando-a levemente. Clair não sabia explicar, mas era como um toque através de sua pele, um toque real simulado dentro de sua mente. Por um momento, quis afastar o toque, mas não conseguiu. Piscou rapidamente, e quando abriu os olhos, não estava mais ali. Estava de volta há vários anos atrás, quando era uma criança e seu pai ainda estava com sua mãe. Mas não era como uma lembrança qualquer. Dessa vez, era como uma expectadora, e enxergou a si mesma mais nova, com os cabelos lisos caindo por sobre os ombros e o sorriso inocente tomando seu rosto. Uma franja caia por sua testa, e vários fios de cabelo insistentes estavam nas bochechas gorduchas, mas Clair não parecia nem um pouco incomodada. Estava num gramado verde, sendo balançado levemente pela brisa. Muito longe, atrás dela, podia ver o bosque, mas fora isso, tudo o que havia era Clair, o bosque, o gramado, e o céu acima dela, com nuvens em formas de bichinhos, algo que ela adorava passar horas vendo.

Aquele realmente era um dos dias de sua infância. Não era muito mais nova do que Larysse, mas ainda se achava muito nova. Estava na idade certa para ter sua própria viagem Pokémon, mas não havia pedido aos seus pais ainda, e nem eles haviam dito qualquer coisa sobre o assunto, mas aquele não era um dos dias em que estava se sentindo mal por seus pais não a deixarem sair.

Sua risada de repente encheu o ar, tomando todos os sons e ecoando em seus ouvidos de modo estranho, como se distanciasse cada vez mais. Um pequeno cachorro negro corria para ela, e quando chegou, pulou na menina, latindo animadamente. Sua versão mais nova acariciou o cachorrinho, com um enorme sorriso em seu rosto.

Clair! Chamou o cão, o que deveria ser apenas um latido, também ecoando em seus ouvidos. Aquilo a garota certamente não se lembrava. Pokémons não falavam e ela não os entendia, mas aquela voz era inconfundível. Não podia ser de ninguém mais a não ser o cachorro negro.

Mais uma vez, piscou, e quando abriu os olhos, estava de volta à realidade, com Altaris encarando-a, parecendo distante. O toque que sentira antes havia desaparecido completamente, e o menino, também piscando, se afastou dela, voltando para perto de Igna. Clair piscou várias vezes, e tocou as próprias bochechas, como que para ter certeza que não era mais uma criança, e que não estava mais revivendo aquela lembrança.

Havia sido tão... Real. A garota de cabelos vermelhos podia ter realmente acreditado que estava de volta aquele dia, caso não fosse apenas uma mera expectadora. E também havia sido tão estranho. O que havia acontecido, exatamente?

Você tinha um Houndour. Disse Altaris, encarando o chão, agarrado aos próprios braços. Ele se chamava Lucky, e era de seu pai, mas passava a maior parte do tempo com você, então você meio que o considerava seu Pokémon. Todos os dias, vocês treinavam juntos, e nesse dia em especifico, estavam brincando antes de treinar... Lucky estava te ajudando a ser uma treinadora Pokémon, como o seu pai era.

Surpresa, Clair, arregalou os olhos, e lentamente, tirou as mãos de suas próprias bochechas, já com a certeza de que não era mais uma criança.

Como você... Como você sabe disso? Ninguém sabe disso, ninguém tem como saber disso!

Isso é prova o suficiente pra você? Perguntou ele, olhando para ela novamente. Assustada, Clair rapidamente desviou o olhar, com medo de que o garoto pudesse ver suas lembranças novamente.

Ninguém tinha como saber daquilo. Seu pai e Lucky eram coisas que ela nunca havia contado a ninguém, e somente sua mãe podia saber. Nem se houvesse alguém em que ela confiasse, poderia dizer aquilo. Não era um assunto que gostava de falar, por muitos motivos, e tinha absoluta certeza de que não contara para Altaris, e muito menos dissera para todos ouvirem. Ela não sabia por que, mas preferia manter seu passado apenas para si, principalmente momentos íntimos como aqueles, e o fato de quando criança, estar treinando com um Pokémon para ser uma treinadora no futuro.

Ao seu redor, as pessoas olhavam confusas, incluindo os Pokémons ali presentes, todos calados. Pareciam extremamente surpresos com aquilo, ainda mais do que Clair. As expressões mais surpresas eram da outra Alyss e de Drew, que, pelo o que o rosto dizia, não sabiam de nada até então.

Porque você nunca contou pra mim? Perguntou a outra Alyss, de cabelos negros. Clair piscou diversas vezes novamente, como que para focar seu rosto. Porque você não contou que sabia fazer isso?

Altaris ficou calado, sem olhar para a garota, que parecia magoada. Drew, ao seu lado, parecia preocupado com a menina mais velha, e parecia tão perdido quanto ela. Clair ficou confusa. Eles não eram companheiros de viagem de Altaris? Deveriam saber disso, não deveriam?

Eu acredito em você agora. Interrompeu Lawliet, quebrando o silêncio insistente que começou a se instalar. O que mais você sabe fazer?

Pouca coisa. Faz tempo que eu não tento usar meus... Ele hesitou, como se não soubesse que palavra usar. - Poderes.

E... Você poderia nos dizer o que sabe sobre isso?

Altaris assentiu, mas não respondeu, e não começou a dizer nada sobre o assunto. Era como se estivesse pensando no que deveria dizer, ou como talvez estaria pensando sobre a lembrança de Clair que havia visto, ou sobre qualquer coisa. Mais uma vez, o silêncio começou a se instalar, todos esperando pela resposta de Altaris.

Porque você nunca disse nada pra mim? Elevou-se a voz da Alyss de cabelos negros, parecendo chorosa. Porque você vai conta a essas pessoas que mal conhece e não pra mim?

Alyss, eu... Começou Altaris, mas a menina o interrompeu:

Não deveríamos ser melhores amigos? Não contamos tudo um ao outro? Você sabe tudo da minha vida, e sabe que eu sempre quis algo parecido com isso, sempre fantasiei sobre ter poderes. Por que você nunca me contou?

Você não ia acreditar.

É claro que eu iria! Sua voz estava cada vez mais falha, como se ela fosse chorar a qualquer momento, como uma criança mimada. Seus olhos se encheram dágua, e antes que a primeira lágrima escorresse, Alyss se virou, e começou a correr para dentro da floresta.

Alyss! Chamou Drew, indo atrás dela.

O menino ruivo continuou ali, observando ela correr para longe. Ele bufou, fazendo uma mecha vermelha em sua testa subir brevemente pelo ar causado por sua respiração. Aquela Alyss era muito mimada, e ficava o tempo todo de drama. Altaris já estava acostumado, e tinha certeza de que ela iria voltar, e também tinha a certeza de que ela não acreditaria caso ele tivesse contado antes para a garota. Simplesmente drama de uma criança que cresceu tendo tudo o que queria. E seus... Poderes eram algo que só era do interesse de Altaris.

Você não vai atrás dela? Perguntou Larysse, falando pela primeira vez desde que começara tudo aquilo.

Não. Respondeu ele. Ela é muito dramática. Depois ela volta.

E quanto a vocês dois, tem algum poder que não querem contar? Perguntou Lawliet, voltando ao assunto.

Eu já disse, são crianças. Interrompeu Clair, lançando um olhar duro para Lawliet. Não tem como eles saberem disso ainda.

Eu sei que eles também têm poderes. Retrucou ela, encarando a garota ruiva. Eu só não sei o que sabem fazer e se já os desenvolveram, mas eu tenho certeza que tem.

Na verdade... Começou Larysse, hesitante. Eu não tenho certeza, mas eu acho que posso fazer de alguma coisa...

Clair olhou para ela, arregalando os olhos de surpresa. Não podia acreditar no que estava ouvindo.

Alyss - Chamou Larysse, continuando. Você chegou em Sinnoh num porto, certo?

Uhum. - A garota de cabelos azuis apenas assentiu, surpresa e assustada ao mesmo tempo. Como sabe?

Eu vi... Num sonho... Eu vi você no porto, e vi também o incêndio no Centro antes de acontecer, o Cavaleiro, você entrando. Achei que fosse a minha imaginação, mas você apareceu, então...

Você quer dizer que viu o futuro? Alyss franziu o cenho, confusa. Aquilo era algo bem inusitado.

Larysse assentiu lentamente. Ao seu lado, Clair parecia ainda mais surpresa do que as garotas. Não podia acreditar naquilo. Tudo bem, as crianças haviam contado que podiam entender os Pokémons, com o argumento de que, se iriam viajar juntos, Clair, que estava sendo responsável por eles, tinha que saber. Mas aquilo era muito impossível de alguém saber. Clair tinha a sensação de estar num filme, embora soubesse que aquilo era a realidade. Havia visto tanta coisa naquele dia que duvidava muito que Larysse estivesse mentindo. Ainda assim, estava indignada com aquela situação toda.

Mas por que vocês querem saber o que sabemos fazer ou não? Perguntou Altaris, mudando completamente de assunto.

Queremos respostas. Disse Lawliet, simplesmente. Quer dizer, não sabemos praticamente nada sobre isso, então, pensei em encontrar outras pessoas que são como nós que pudessem dar qualquer informação do porque somos assim.

Também pensei nisso. Disse Altaris. Eu sei de algumas coisas, na verdade... Só não posso dizer que são verdade.

Então conte! Pediu Alyss.

O que vão fazer com o que eu sei? Perguntou o menino, desconfiado.

Vamos continuar investigando e descobrir mais.

Altaris hesitou por um momento, ainda pensando se deveria ou não dizer o que sabia.

E depois...?

Vamos encontrar a última pessoa que também tem poderes. Explicou Lawliet. Queremos todas as informações possíveis pra ajudar a descobrir tudo que é possível. E, quem sabe, ajudar essa outra pessoa.

Tem mais alguém? Perguntou Larysse, surpresa.

Tem. Respondeu Lawliet. No total, contando comigo e com a Alysse, são seis pessoas com poderes. Eu só não sei onde essa pessoa está exatamente, e nem se é uma garota ou não...

Eu... Começou Altaris, hesitando mais uma vez, receoso do que dizer. - Posso ir com vocês?

Lawliet, Alyss e Maiko olharam para ele, desconfiados. Aquilo era um pouco mais inusitado.

Eu quero ir. Já que vão descobrir coisas, eu também tenho o direito de saber, já que eu sou como vocês.

Eu também quero ir. Disse Satoru, surpreendo a Clair. Larysse concordou com ele, com o mesmo desejo.

Isso é uma boa ideia? Perguntou Maiko, franzindo o cenho.

Por mim tudo bem. Alyss deu de ombros.

Tudo bem, então. Falou Lawliet, por fim. - Podem vir se quiserem.

Não! Interrompeu Clair. Vocês não vão com elas.

Satoru, surpreso, recuou, indo mais para perto de seu Growlithe. Larysse permaneceu calda, assustada. Clair nunca havia negado nada a eles, não dessa forma, de todo o tempo em que estavam viajando juntos. Satoru, acostumado a seguir ordens por causa de seu pai, fora ensinado a obedecer aos mais velhos, e, naturalmente, obedecia a Clair, mas por algum motivo, ele não queria obedecê-la dessa vez. Clair sabia que aquilo que sabiam fazer não era normal, e as crianças não se sentiam bem em sabendo pouco daquilo. Satoru tinha que saber mais sobre aquilo tudo, e tinha que saber se tinha algum poder também.

Puxou ar, e tomou coragem.

V-Vou sim. Disse ele, com a voz falha.

Não vai! Não vou deixar que você vá com essas garotas.

Eu quero ir, e eu vou! Exclamou Satoru, subitamente cheio de coragem. Se não quiser, não venha.

Eu também vou! Exclamou Larysse.

Clair hesitou, aborrecida. Resmungou alguma coisa, e deu de ombros, sinalizando que não se importava. Só estava com as crianças porque Thomas havia pedido, e não poderia sair de sua casa sem um ótimo pretexto. Thomas até mesmo havia prometido conversar com Rowan para que ela pudesse ter seu Pokémon inicial, e estava ajudando-a mandando dinheiro para bancar os suprimentos e tudo que usavam durante a viagem. Seria muito difícil caso tentasse sozinha, sem dinheiro e sem um Pokémon. E por mais que até então, se mostrava um caminho cheio de complicações, Clair não queria parar sua viagem Pokémon.

Ainda assim, hesitou em deixar as duas crianças sozinhas, junto com pessoas que mal conhecia, com como o que parecia, Pokémons perigosos, já que não era qualquer um capaz de ter uma Samurott. Algo a impedia de deixá-los por si só, enfrentando todas as complicações sozinhas, e sem meios de bancar a si próprias. E também, sem eles, não poderia conversar com seus Pokémons direito, e sem eles, ficaria completamente fora dessa face fantasiosa do mundo.

E Clair era responsável. Iria cumprir a promessa que fizera a Thomas de cuidar das crianças, o homem que tornara possível sua jornada começar, e tudo que pedira em troca era para cuidar das duas crianças, com medo do que o mundo de hoje faria com elas caso saíssem sozinhos. Clair podia entender isso. Eram os mesmos sentimentos que seu pai tinha, os mesmos que fizeram com que impedisse Clair de ter sua própria jornada Pokémon. E dessa vez, a menina mais velha não podia destruir os sonhos de crianças só porque não confiava nas duas meninas e em Altaris.

E, de certa forma, entendia aquilo de quererem ter respostas para os poderes. Sabiam que não era normal, e sabiam que pouca gente iria acreditar neles, caso contassem a fim de saber por que podiam entender os Pokémons, e como isso funcionava. Tinha de ter uma explicação. Pelo menos era isso que Clair pensava, e deveria ser isso que pensavam também.

Tá bom. Concordou ela, por fim, mas ainda estava receosa ao aceitar viajar com Lawliet e Alyss.

Satoru sorriu, e Larysse o acompanhou. Finalmente, Lawliet pediu para que encontrassem um lugar mais apropriado para conversar e ter um almoço. Alyss retornou Maiko, mas Satoru, Clair e Altaris preferiram deixar seus Pokémons fora da Pokeball. Altaris bufou, e disse que depois procuraria por Alyss e Drew. Todos seguiram as novas companheiras de viagem, animados com o que descobririam na companhia das garotas e de Altaris.

Clair não tinha ideia do que pensar daquilo.

***

Altaris estremeceu quando teve que puxar a manga de sua blusa o suficiente para deixar o braço todo exposto. O ar estava extremamente frio, especialmente aquela noite. Na verdade, tudo perto do Cavaleiro do Manto Negro, especialmente naquela noite, parecia frio. Ou pelo menos por hoje, uma noite nada agradável para o garoto.

Aquilo lhe lembrava os primeiros dias que recebera algo parecido com o de hoje, e mesmo que repetisse a si mesmo que havia sido em outro tempo, e fora há muitos anos atrás, parecia que ontem mesmo havia ocorrido, e hoje era apenas uma continuação daquela lembrança que se mascarava no dia anterior. Por mais que afastasse os pensamentos, continuava a sensação de que aquilo era um deja vi, que o levava para o seu passado.

Um passado que não queria lembrar.

Especialmente aquele dia, justamente porque saberia o que iria acontecer. Havia visto há muito tempo atrás o mesmo que aconteceria com ele, caso desse certo, acontecer com outras pessoas, que agora eram mais novas ou mais velhas do que ele. E não parecia nada agradável. Também não sabia se aquilo daria certo, ou se faria bem ao menino, mas Altaris não tinha escolha. Seu mestre havia recebido ordens diretas de Giovanni depois de ter visto os acontecimentos mais cedo e reportado a ele, e o Cavaleiro não desobedecia Giovanni, e Altaris não poderia, e nem devia desobedecer seu mestre.

O garoto nem ao menos estava planejando contar o que vira Alyss fazer, e nem do que havia ouvido da boca dos outros garotos, mas o Cavaleiro vira uma parte... Ou pelo menos era o que havia dito, o que desencadeara aqueles acontecimentos. Ainda assim, mesmo que fizesse parte daquilo de certa forma, não queria aquilo novamente para si. Em outras palavras, não queria ser como Larysse, Satoru, Alyss e Lawliet, por mais que os admirasse. E mesmo que houvesse estudado aquilo incansavelmente, e em segredo da Equipe Rocket, não tinha meios e nem informações suficiente para concluir se seria bom ou não para si.

Mas o Cavaleiro havia dito, e Altaris tinha que cumprir.

Tem certeza de que isso vai dar certo? Perguntou Altaris, assustado.

É claro que eu tenho. Respondeu o Cavaleiro, enquanto olhava para a longa seringa em seus dedos, no momento, vazia. Você não confia em seu mestre, Altaris?

O homem chamado de Cavaleiro lhe lançou um olhar duro, que fez o garoto estremecer e se calar. Não havia necessidade de uma resposta.

A brisa fria passou novamente, criando o som de farfalhar nas arvores ao redor, misturando-se aos sons dos animais, e seja lá o que havia numa floresta a noite, deixando tudo ainda mais assustador. Consequentemente castigou a pele exposta, fazendo-o estremecer. O menino olhou para seu mestre, ocupado na pequena mesa cheia de frascos e pequenas garrafas com estranhos líquidos sem rotulo algum, de modo que Altaris não poderia saber o que ele estava planejando injetar em suas veias. Como se sentisse seu olhar, o homem virou a cabeça em sua direção, e um sorriso assustador se formou em seu rosto, um sorriso que dizia que não iria deixá-lo cobrir o braço até que decidisse o que iria fazer.

Com o medo do que estava por vir se apossando cada vez mais do garoto ruivo, ele desviou o olhar de seu mestre e olhou para um ponto qualquer, onde jazia sua mochila e suas coisas, mas não estava prestando atenção exatamente. Começou a tremer, e sentiu-se começar a suar frio também. Seu coração martelava forte, esperando o que aconteceria com ele.

Ignatus olhou para ele, preocupado com seu treinador. Resolveu ficar ali parado, ao invés de incomodá-lo e incomodar o homem que colocava alguma coisa dentro da seringa por meio de sua agulha. O líquido dentro da pequena garrafinha, antes tampada com uma rolha, era azul claro, quase transparente, como um céu desbotado e quase sem vida. Altaris continuou tremendo, assustado, e não ousou olhar para seu Charmander Shiny, e nem para qualquer outro lugar que não fosse suas coisas. Igna se colocou em seu campo de visão, mas ele não lhe deu atenção, fingindo que o Pokémon não estava ali, ou talvez não estivesse vendo-o de fato.

Quando o Cavaleiro do Manto Negro se sentou ao lado dele, e segurou seu braço com uma das mãos, o menino fez o possível para não mostrar que estava com medo, mas sua expressão contradizia aquilo. A fogueira atrás deles, mesmo com um fogo alto, não parecia estar fornecendo calor o suficiente para que Altaris se sentisse quente o suficiente para parar de tremer, mas o Cavaleiro parecia saber que era medo. Até mesmo Igna conseguia ver o quanto seu treinador estava com medo daquela injeção, seja lá o que tivesse naquilo, mas se recusava acreditar que aquele homem causava medo em seu treinador. Altaris era seu mestre, e nunca demonstrava medo, e se demonstrava, significava que não era nada bom.

Aproximou-se de seu treinador, e se sentou atrás dele, olhando para o garoto de cabelos vermelhos assistir o homem dar um pequeno peteleco na seringa, e ver se o líquido dento dela estava saindo corretamente. Finalmente, segurou o braço do garoto, e localizou a veia na qual aplicaria o que quer que fosse aquilo. Altaris notou que a seringa estava cheia, ao contrário de sua lembrança.

De repente, seu mundo pareceu começar a seguir em câmera lenta, fazendo o que seriam segundos parecerem horas. Quando a agulha penetrou sua pele e o liquido foi injetado, seu coração disparou, martelando em seu peito tão alto e tão forte, que se surpreendeu em não sentir dor ou seu mestre reclamar do som.

Precisamos de resultados rápidos. Começou o homem, enquanto o liquido ia rapidamente desaparecendo no sangue de Altaris. Então vou aplicar mais do que seria necessário, e vai acontecer tudo hoje mesmo.

Altaris fechou os olhos quando ele terminou e tirou a seringa, enchendo-a ainda mais, mas não antes de colocar um curativo redondo no lugar onde o machucara. Localizou outra veia no mesmo braço, e injetou novamente o liquido no sangue do garoto, que agora não media mais esforços para parar de tremer. O Cavaleiro apertou seu braço, forçando-o a ficar quieto para que lhe aplicasse a injeção. Repetiu o processo mais algumas vezes, totalizando exatamente 6 injeções em 6 lugares diferentes.

Depois disso, deixou que o menino puxasse a blusa para cobrir o braço novamente. O Charmander observou, preocupado, e assim que o Cavaleiro se afastou para guardar as coisas, foi para o colo de seu treinador, e ficou ali, recebendo carinhos do menino. Lentamente, parou de tremer, mas o medo continuou em seu corpo.

Altaris estava surpreso. Nunca vira além receber tantas doses daquilo que usavam. O máximo era uma, e nem ao menos eram cheias. Raras vezes usavam um pouquinho mais, mas nunca era mais do que uma. E mesmo sendo pouca coisa, em poucas horas a pessoa já começava a sofrer os efeitos daquilo. Altaris estava preocupado com o que aconteceria com ele, e ainda mais preocupado no que seria dele caso não desse certo. Milhares de pensamentos cheios de perguntas lhe vinham à mente, fazendo-o ficar cada vez mais aflito. Lentamente, esses pensamentos começaram a ficar cada vez mais lentos, e ele teve dificuldade em raciocinar.

E, lentamente, começou a se sentir tonto.

O mundo ao seu redor estava girando, e a visão ficou embaçada. Pontinhos negros surgiram em todos os lugares, tomando cada vez mais sua visão, por mais que lutasse contra isso. Desculpou-se consigo mesmo, e na mente, se desculpou com Satoru, Larysse, Alyss e Lawliet.

Foram as últimas coisas que pensou antes de perder a consciência, indo para um mundo escuro a qual não sabia se iria voltar.


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Notas finais do capítulo

Wow... Esse capítulo foi difícil de escrever, sério. Tanta coisa acontecendo, tanto plot twist, e tanta coisa a mais a ser resolvida... Ainda tem bastante coisa a ser dita, eu garanto, e a partir daí, a enrolação vai parar, ou ou tentar kk
Estou tentando ao máximo fazer tudo parecer coerente e bem feito, o mais realista possivel, embora ate agor anão podemos dizer que é tão... Realista huehuehue. Oh well.
Falando nisso, TALVEZ, eu disse TALVEZ, eu faça o chapter 16, e depois um especial, que será intitulado de "16x: título aqui". Se der certo, tanto pra eu escrever quanto pra vocês, que vão me dizer se gostam ou não, de vez em quando posto um chapter especial :3
geez, o 16 vai ser realmente difícil de se escrever... Até agora não consegui nem um único trecho ç__ç, mas vou tentar entregar na data ^^



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