Prison Break: A Verdade Contestada escrita por Jessyhmary


Capítulo 2
2. Navios e Traças


Notas iniciais do capítulo

Ainda sentindo os pesares dos últimos meses, Sara Tancredi relembra os olhares que a penetraram e a trajetória que a trouxe até esse momento de alegria e fragilidade.



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Engraçado como eu pude passar tanto tempo resistindo àqueles olhos verde-musgo, (como os chamo quando Scofield sorri sério) e mesmo assim me apegando cada vez mais ao seu sorriso... Confesso que, quando vi Nika entrando para a visita íntima, perdi meu chão. Michael era o único homem naquele lugar que conseguia me dizer cinco palavras sem me ofender em nenhuma delas. O único com quem eu me sentia menos cuidadosa e pra quem eu dava mais atenção, embora me esquivasse (sem êxito) de suas investidas. Todas as palavras dele me prendiam. Tinha uma doçura e uma firmeza contrastante em seu modo de se dirigir a mim.

        De longe se podia perceber como ele me atraía de alguma forma. E hoje... Hoje eu entendo que tudo que ele tentou fazer foi me manter livre e segura, o que eu sempre tornava mais difícil, pela sequência de acontecimentos que como furacão foram se acumulando na minha vida e no meu peito. Mas algo o trouxe de volta pra mim...

        Fui percebendo que quanto mais longe ficávamos um do outro, mais chances tínhamos de nos machucar. Em Gila, não quis fazer aquilo. Estava confusa, meu pai estava morto e eu era a próxima da lista. Não conseguia entender como a ideia de “fugir pro Panamá com os dois homens mais procurados dos Estados Unidos” poderia me ajudar naquele momento.

Mas ainda tinha Scofield.

Saí do hotel como quem diz adeus, mas, ao entrar no carro, meu peito apertou e senti minha língua travar. Cenas e mais cenas passaram-se na minha mente em breves segundos enquanto me convencia de que eu amava o homem que havia me colocado no meio de todo aquele fogo-cruzado, literalmente falando. Resolvi apostar no meu coração, que antes de ter uma parada por falta de ar foi interrompido por uma Silenciosa que quase me emudece de vez. Kellerman (que havia se disfarçado de Lance pra se aproximar de mim e descobrir o que meu pai tinha me dado) me leva dali para um lugar que por muita sorte não virou minha lápide. Depois de várias tentativas frustradas de descobrir sobre a chave, ele começa uma sessão de sucessivas cenas de tortura digna do período medieval. Enfiar minha cabeça dentro da banheira e usar um ferro de passar para me dar choques que percorriam cada célula do meu corpo não foi uma das melhores sensações que tive na vida, mas se comparado com um futuro não tão distante, aquilo era apenas o começo.

        O fato é que longe dele as coisas perdiam sentido e ficavam muito, mais muito mais difíceis. Daí o meu medo de ficar sem ele. Perder a mãe, o pai e ainda ficar sem Scofield seria desanimador.

        São quase seis e Michael não retornou de Dugdale.

        - Alô, Lincoln?

        - Oi Sara, L.J. e Sofia estão no carro esperando você.

        - Lincoln... Esperando? Aonde vamos? Michael não me falou nada...

        - O Michael vai estar nos esperando onde combinamos.

        - Tá... Tudo bem... Vou só pegar o remédio dele.

        - Ok, desce logo.

        Como assim? Lincoln sabia de algo que eu ainda desconhecia.

Meu filho e eu sentíamos alguma coisa estranha, mas resolvi usar a confiança e a rigidez de quem já havia costurado pele e arrancado bala alojada entre dois órgãos internos; a mesma firmeza de quem já viu um detento com oito dedos gemendo de dor numa sala fria de uma penitenciária estadual.

Corri ao encontro dos três:

- Então, você é a famosa Sofia...

- E você é a Dr. Tancredi? Sinto muito por seu pai...

- Tudo bem... Lamento pelo que teve que passar nas mãos da Companhia.

- Estamos bem agora. – E direcionando-se a Lincoln – Não é, amor?

Lincoln sorriu aquele sorriso de quem tenta acalmar alguém sem muito resultado:

- Vamos buscar o Michael.

Saímos mudos, exceto Sofia que via graça em tudo que aparecia na sua frente, mas infelizmente pra mim a tensão do momento não me permitiu fazer o mesmo.

- Chegamos. Sofia e L.J. Esperem no carro. Eu e Sara voltamos já.

Lincoln saiu apressadamente e eu comecei a segui-lo. Arrisquei:

- Sabe quem era no telefone?

- O quê?

- No telefone. Michael falou com alguém antes de sair. Sabe quem era?

- Não. Ele me pediu pra vir aqui com você.

- Tudo bem... O que ele tá pensando dessa vez?

- Não sei. Vamos esperar aqui.

Lincoln agia como se soubesse o que estávamos fazendo ali parados em frente ao Dugdale já perto das sete horas da noite. Agia como se soubesse, mas não concordasse com o que Michael estava planejando.

Pedi um tempo e fui caminhar junto a um laguinho próximo.

Águas me faziam lembram paz e impetuosidade ao mesmo tempo. Há duas semanas, estávamos em Los Angeles, avistando iates e fazendo planos. Hoje me vejo imersa em um mar de rostos e em nenhum deles encontro a paz de um dia atrás. Aqui não tem os navios que estavam atracados naquele porto em Los Angeles. Ainda não entendi a dinâmica daquelas coisas monstruosamente grandes que não afundam sobre o oceano. Só sei que nesse dia me disseram que o Oceano era o meu jardim da frente e é naquela voz que eu consigo repousar minha cabeça. Um dia ainda íamos andar em um daqueles. Um navio que pudesse levar-nos para o outro lado do Atlântico...

- Sara! Sara...

- Michael...

Abracei-o forte, afogando todos os meus medos e questionamentos. Ele apertou-me contra seu peito e eu senti seu coração bater acelerado. Ia perguntar algo, mas preferi esconder-me em seus braços. Olhei em seus olhos e disse que nunca mais fizesse isso de novo. Seus olhos sorriram e isso tirou um enorme peso do meu coração.

O caminho de volta pareceu tranquilo, porém, vago. O olhar de Michael estava distante, e ao mesmo tempo voltava-se para mim como se procurasse alguma coisa. Tentei transparecer tranquilidade, quando na verdade, minha vontade era chorar muito e muito alto. Meu coração estava apertado. Parece que gestação aguça intuição. Nessa hora deitei minha cabeça no seu peito enquanto uma lágrima escorria dos meus olhos que ainda estavam espantados; estava cansada. Uma vez segura, dormi o resto do trajeto até chegarmos à nossa casa em Elgin, IL. Lembro de ter dado a medicação de Michael antes de ir dormir e o vi encostado à janela lendo alguma coisa escrita num papel listrado. Quando me viu acordada, ele deu-me um beijo de boa noite e voltou à janela, concentrado. Vencida pelo cansaço, fiz um último comentário:

- Cuidado com as traças. – sorri – O seu papel. Ele parece ser importante. Cuidado com as traças.

- Ainda tem aquela flor que eu te fiz de aniversário? – Perguntou curioso

- Sim. Eu guardo tudo, nunca jogo nada fora, lembra?

- Então, você é uma boa garota...

- Michael... – Segurei o riso –

- Guarde-a das traças.

Sorri.

Sorri mesmo. Fiz uma cara de boba antes de olhar a flor que ficava ao lado da cama. “As traças!” Pensei. “Melhor guardá-la na gaveta, desta vez”


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Notas finais do capítulo

"Michael, nós dois sabemos onde terminam as boas garotas" (Sara Tancredi)



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