Highway To Hell escrita por Syrinx, HévilaChavez


Capítulo 5
Capítulo 4: A Descoberta de Sam


Notas iniciais do capítulo

Então, gente, não me matem please pela demora, mas, na verdade, se eu dissesse q um raio levou minha internet esses dias vcs acreditariam? T.T
Pois foi isso mesmo q aconteceu... Enfim, to de volta, com mais um capítulo e muito mais ideias...
Se vcs se lembram, eu prometi que não ia colocar muitos PDV SAM, mas nesse cap. eu não resisti...
ENJOY!



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SAM

Quando abri os olhos e pude olhar bem à minha volta, percebi que estava naquele mesmo beco de quando eu era pequena, e, a julgar pelo ambiente, parecia-se muito com aquela noite.

De repente, era como se eu tivesse cinco anos de novo. Engoli em seco e olhei em volta. Não via nada, a não ser a escuridão opressora da pequena viela e um círculo de luz piscando ali perto. O medo subia em ondas pelo meu corpo e tive de me abraçar para conter um tremor que nada tinha a ver com o frio esmagador, provocado pela chuva que ameaçava cair.

O ar escapou de meus pulmões quando o vi. Estava exatamente como eu me lembrava: os cabelos levemente grisalhos e encaracolados, os olhos cansados, mas extremamente amorosos e espertos, o sorriso confortador. Parou a poucos metros de mim e abriu os braços, com um sorriso saudoso. Sem pensar muito, corri até ele, jogando-me em seus braços e chorando copiosamente. Soluços constrangedores escapavam por minha garganta. Queria me chutar por estar chorando, mas só o fato de vê-lo era demais para mim.

Ele me levou até um dos degraus do prédio mais próximo, aninhando-me em seus braços e acariciando meus cabelos, como costumava fazer:

-Chora, Sammy, chora. Você guardou essas lágrimas por tanto tempo, conquistou o direito de derramá-las agora, minha pequena. - disse gentilmente, chamando-me pelo meu apelido de infância - Você tem sido tão forte, não pensei que fosse capaz. Que bom que estava enganado a seu respeito. - sorriu, um toque de orgulho em sua voz.

Funguei uma vez, e limpei minhas lágrimas com as costas da mão, sentando-me de modo a encará-lo:

-Pensei que tivesse dito adeus quando apareceu lá na mansão. - observei. - Por que está no meu sonho?

Ele sorriu tristemente e tocou de forma gentil a ponta do meu nariz:

-Seu amigo não nos deu muita chance, não é? - seu sorriso murchou - Mas ele tinha razão, aquele não era o melhor lugar. Minha culpa. Ele deve ter ficado apavorado, coitado.

-E este é o melhor lugar? - olhei em volta sugestivamente, meu tom de voz sarcástico incrédulo.

Ele respirou fundo, como se pensasse em como me explicar aquilo:

-Sam, eu precisava te trazer aqui para combater seus medos. Eu sei que você, Sammy, é uma garota forte, mas como todo mortal, também tem medos. E parte da tarefa de ser pai é combater os seus e os dos filhos. Não quero mais ser um mau pai, Sam, eu quero ajudar.

Triquei os dentes, e levantei-me irritada:

-E você, honestamente, acha que me trazendo nesse lugar medonho, vai me ajudar em alguma coisa? Além do mais, não acho que me ouvi pedindo sua ajuda.

Ele se levantou também, e pôs as mãos nos meus ombros:
-Pediu, pediu sim, meu amor. Ou você acha que eu não escutava quando orava por mim?

Apertei os lábios:

-Isso foi há muito tempo. - esclareci.

Ele me lançou um de seus sorrisos espertos:

-Você é tão ingênua. - disse, balançando a cabeça - Esqueceu que eu sei tudo o que se passa nesse coraçãozinho?

Sorri levemente, desistindo de ficar irritada com ele:

-Uma das coisas que nunca vão mudar.

-Então, não vim aqui para brigar. Vim aqui para conversar com você. Pedir perdão por deixar você, sua mãe, sua irmã sozinhas. Sempre tentei ser um bom marido, um bom pai, mas Deus me fez como um vagabundo, e tinha preguiça demais para mudar minha condição. Agora sei o quanto estava errado. Preciso pedir perdão principalmente a você por ter te feito ver aquela cena. Deus sabe o quando você sofreu por causa daquilo e quanto me martirizei por permitir que isso acontecesse. Você era tão pequena, tão frágil. - ele abaixou a cabeça, respirando fundo uma vez, contendo as lágrimas.

Aproximei-me dele e ergui seu queixo delicadamente, encarando seus olhos extremamente azuis e agora marejados:

-Um Puckett nunca chora, papai. - lancei-lhe um sorriso animador - Além do mais, isso foi há tanto tempo. - olhei em volta - Não tenho mais medo. Só mágoa por ter perdido tudo naquela noite.

Ele depositou suas mãos em minhas bochechas:

-Sei que acha que a Melanie não sofreu por causa de tudo o que aconteceu, mas está enganada, querida. Só porque ela estava com sua mãe no momento, longe de tudo, isso não significa que não tenha sido difícil para ela.

Trinquei os dentes e o olhei indignada:

-Por que vocês sempre protegem a Melanie?! Por que não conseguem ver a covarde que ela é? Ela não teve que ver a morte da pessoa que mais ama, não teve que ficar por perto enquanto Pam se afogava em bebidas e saía com qualquer um que aparecesse pela frente! Não teve que ser taxada de louca ou problemática pelo mundo, pela própria mãe! Óbvio que não! Ao invés disso, ela foge e vai estudar no exterior, saindo com as amiguinhas ricas dela, sendo tratada pela mamãe como a garota perfeita! - minha visão fica turva pelas lágrimas de raiva que ameaçam cair.

Eu não ia deixar a Melanie se safar desta vez. Estava cheia dos momentos que Pam a tratava como vítima. Eu era sempre a invejosa, a vilã da história.

Ri de escárnio uma vez, balançando a cabeça, incrédula e dei as costas para ele, com vontade de socar algo. Como ele ainda podia defendê-la?

Papai adiantou-se e virou-me delicadamente. Desceu o rosto ao nível do meu, seus olhos tristes tocaram os meus. Azul perfurando o azul:

-Você tem razão, Sammy. Melanie não passou pelo que você passou. Não viu o que você viu. Mas continuo sendo o pai dela. E, assim como todos nós, ela viu a família se despedaçar. E a vida também não tem sido um verdadeiro parque de diversões para ela durante todos esses anos. A última coisa que eu quereria ver é minhas duas coisas mais preciosas brigadas. Tente perdoá-la, Sam. Ódio nunca foi a resposta para ninguém. - sua voz era suplicante.

-Que pena, porque ele construiu o que eu sou. E, como você, Deus me fez assim. E tenho preguiça demais de mudar minha condição. - repeti as palavras dele sarcasticamente - Não quero ser misericordiosa com o "sofrimento" da Melanie. - cuspi a última frase.

As linhas de seu rosto endureceram em reprovação, mas ele sorriu segundos mais tarde, relaxando:

-Tudo bem, mas não diga que eu não avisei. Mais cedo ou mais tarde, você a perdoará. Eu sei disso. - sua expressão mudou aí, para algo como malícia - Por falar em odiar, isso me lembra um outro objeto do seu ódio: Freddie.

-O que tem ele? - perguntei rapidamente, encarando-o desconfiada.

-Se quer um conselho, filha, aqui vai um: não o perca. Ele é um bom garoto.

-Como posso perdê-lo se nunca o tive? - observei - Além do mais, é como você disse: eu o odeio. Não quero ter nada a ver com ele. - esclareci com uma careta.

Seus olhos lampejaram em minha direção:

-Mesmo? - ele sorriu.

Fechei meus punhos, irritada:

-Absoluta certeza. - disse entre dentes.

Ele deu de ombros, e eu sabia que ele não estava totalmente convencido. O que me irritou ainda mais. De onde ele tinha tirado aquela ideia absurda? Mas minha mente dissipou aquela linha de pensamentos assim que ele puxou-me para um outro abraço. Pude sentir a despedida naquele gesto, e eu entendi que era sua hora de ir. Beijou-me carinhosamente no topo da cabeça e afastou-se um pouco:

-Mas já? - perguntei como uma criança chorosa.

-Já, querida. Só o fato de eu ter vindo já foi uma concessão enorme. Além do mais, agora que eu tenho certeza de que você vai ficar bem, não tenho mais motivos para me preocupar. E nem você tem de se preocupar comigo, Sammy. Eu sou feliz lá. Você iria gostar. Espero que possamos nos encontrar algum dia bem, bem distante de agora. - ele olhou para algum ponto atrás de mim, o qual eu não me incomodei em olhar - Acho que isso é um até logo. - ele sorriu gentilmente, depositando mais um beijo em minha testa.

E passou por mim, indo de encontro a dois homens vestidos em túnicas simples brancas. Um era branco, já de idade e outro era novo, moreno. Na escuridão do beco, eles emanavam uma luz própria. Um deles, o moreno, deu um passo a frente e assentiu, sorrindo uma vez. Então, eu sabia que meu pai ficaria bem, que estava em segurança.

Um clarão se sucedeu e eles desapareceram.

A próxima coisa da qual tive consciência era a de que me sacudiam levemente pelos ombros:

-Sam! Sam, acorda! - o dono da voz me agitava frenética mas delicadamente.

Por reflexo, usei meus punhos para me defender. Quando eles atingiram carne, uma pancada e um gemido de dor se seguiu. Abri os olhos, assustada, e vi Freddie estirado no chão, uma das mãos segurando a mandíbula e a outra agarrando o lençol como apoio para se levantar:

-Ficou louca? - ele sibilou, massageando o rosto - Por que fez isso?

-Eu que pergunto. Por que estava me sacudindo como um saco de farinha? - rebati indignada.

Ele sentou-se na cama, e respondeu na defensiva:

-Quando eu acordei, você começou a gritar de raiva que nem uma doida e começou a chorar. Eu pensei que estivesse tendo um pesadelo. - ele corou um pouco, desviando o olhar.

Dei um tapa na cabeça dele. Era sua culpa eu ter acordado:

-Não era um pesadelo, nerdão. Estava sonhando com meu pai.

-Então, o que ele disse? - ele levantou as sobrancelhas e aproximou-se, curioso.

Encarei-o e, estranhamente, naquele momento, de tudo o que tinha conversado com meu pai, só conseguia me lembrar do que ele tinha dito sobre Freddie. Sobre perdê-lo. O quê ele queria dizer com isso? E havia também o fato de ele não ter acreditado em mim quando disse que não queria ter nada a ver com o nerd ali. Por quê?

Quando me dei conta do que estava pensando, tive vontade de me socar. Ele é o inimigo, Sam, não confraternize com ele, lembrei-me. Você o odeia, certo? Então, por que meus olhos desviaram-se para seus lábios e meu único impulso era lembrar o gosto que eles tinham?

-Sam? - ele perguntou indeciso, tirando-me da minha linha de pensamento, lançando um de seus sorrisos perfeitos em minha direção.

Ele pôs a mão no meu rosto gentilmente, e eu fechei os olhos, um sorriso mínimo formando-se em meus lábios, e eu quase implorei pelo toque dos dele. Sacudi a cabeça, clareando minha mente:

-Ora, n-não é da sua conta, Freddalupe. - repliquei, para o meu total ódio, gaguejando - Deixa de ser intrometido. - levantei-me rapidamente, o rosto em chamas.

E, assim como na noite anterior, peguei minha nècessaire e bati a porta do banheiro atrás de mim. Joguei a bolsa em qualquer lugar perto, e deslizei minhas costas na porta até sentar-me no piso frio. Levei as mãos ao coração, tentando controlar meus batimentos e minha respiração.

Fidelity:

watch?v=wigqKfLWjvM

I never loved nobody fully

Always one foot on the ground

Eu nunca amei ninguém completamente

Sempre foi com um pé no chão

Eu estava ficando louca, só podia ser. Imagine, eu querendo, desejando que o nerd me beijasse. Peguei a toalha perfeitamente branca e macia e afundei minha cara nela, gritando em frustração.

And by protecting my heart truly

I got lost

In the sounds

E por proteger de verdade meu coração

Eu me perdi

Nesses sons

Podia escutar os passos rápidos de Freddie e uma batida urgente na porta, seu tom de voz preocupado, perguntando se eu estava bem. Dei um soco forte na porta em resposta e mandei ele ir embora. Quase podia imaginá-lo dando um passo para trás, assustado com minha reação, o rosto angelical franzido.

I hear in my mind

All these voices

Eu ouço na minha mente

Todas essas vozes

Não, eu não estava nada bem se ele queria saber. Abracei os joelhos e comecei a me balançar para frente e para trás, encarando o piso branco. Minha mente girava, analisando possibilidades, agora que eu sabia que meus pensamentos estariam seguros.

I hear in my mind

All these words

Eu ouço na minha mente

Todas essas palavras

Talvez aquilo tenha sido somente uma reação ao que ele tinha feito por mim na noite anterior, sendo tão atencioso e doce. Ou talvez eu só estivesse carente demais. Realmente já fazia algum tempo que eu não saía com ninguém. E aconteceu de ele ser o único ser do sexo masculino por perto. Com toda a mudança que estávamos sofrendo por causa da adolescência, digamos apenas que o tempo havia feito muito bem a ele.

I hear in my mind

All this music

And it breaks my heart

And it breaks my heart

And it breaks my ha-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aart

Eu ouço na minha mente

Toda essa música

E isso parte meu coração

E isso parte meu coração

Mordi o interior da bochecha e levantei apoiando-me na pia e olhando intensamente dentro de meus olhos através do espelho. Eu sabia que havia algo mais. Peguei-me analisando meu relacionamento com Carly e Freddie durante os últimos tempos. Não éramos mais as crianças que costumávamos ser. Freddie já não olhava para minha amiga daquele jeito abobalhado de antes. Não, o relacionamento dele era totalmente cúmplice, algo fraternal, irmão e irmã. Meu relacionamento com ele antes dessa viagem, bem, havia mudado apenas um pouco. Não pregava mais tantas peças, nem implicava tanto com ele, mas ocasionalmente ainda acontecia de brigarmos e declararmos nosso ódio mútuo.

Suppose I never ever met you

Suppose we never fell in love

Suppose I never ever let you

Kiss me so sweet

And so so-o-o-o-oft

Suponha que eu nunca nem conhecesse você

Suponha que nunca nem nos apaixonássemos

Suponha que eu nunca deixasse você

Me beijar de um jeito tão doce

E tão suave

Voltei no tempo. Quando ele ainda era apaixonado pela Carly. Podia lembrar com clareza de todos os presentes que ele trazia e todas as cantadas que ele dedicava a ela. Lembro-me de secretamente querer que um dia alguém fizesse isso por mim. Sim, Sam Puckett, a valentona também queria ser amada. Ficava irritada pela nerdice e pela insistência dele em fazê-la se apaixonar por ele. Tinha pena, mas adorava jogar na cara dele que ele nunca ficaria com ela só pela diversão que isso me causava.

Suppose I never ever saw you

Suppose you never ever called

Suppose I kept on singing love songs

Just to break

My own fall

Suponha que eu nunca nem visse você

Suponha que você nunca nem ligasse

Suponha que eu continuasse cantando canções de amor

Só para evitar

Minha própria queda

Até que eles começaram a namorar. Aquilo foi a gota d'água. Irritou-me e me deixou mais louca que tudo. Não entendia o porquê aquilo me incomodava tanto, mas achava que era porque tinha medo de eles me deixarem de lado. Foi quando percebi o porquê a Carly estava com ele. Bacon. Era o argumento perfeita que eu precisava para separá-los. Ela não gostava de verdade dele. Era um favor que eu estava fazendo à Carly, contando a ele a verdade. Era só por causa disso, certo?

All my friends say

That of course it's

Gonna get beh'uh

Gonna get beh'uh

Beh'uh, beh'uh, beh'uh, beh'uh

Behtur, bettur, betterrrr, ohhh..

Todos os meus amigos dizem

Que é claro que isso vai melhorar

Vai melhorar

Vai melhorar

Melhorar, melhorar, melhorar, melhorar

Melhorar, melhorar, melhorar, oh

Errado, meu cérebro disse em resposta. E um milhão de pensamentos malucos invadiram minha cabeça. Eu lembrei de todas as vezes que os via conversando de longe e sentia raiva daquilo. De me sentir magoada quando ele me ofendia. Lembrei das vezes que eu o batia só para poder tocá-lo, porque eu secretamente gostava da sensação da pele dele contra a minha.

Lembrei da noite em que nos beijamos. Dos lábios macios dele delicadamente sobre os meus. Do coro de pássaros nos meus ouvidos. Você não deveria escutar esse coro somente quando beija a pessoa que gosta? Do seu sorriso de lado depois de dizer que me odeia. Lembrei de ficar a noite toda acordada, reprisando a noite na minha mente inúmeras vezes, os olhos fechados, relembrando o toque doce dos seus lábios nos meus.

I never loved nobody fully

Always one foot on the ground

And by protecting my heart truly

I got lost

In the sounds

Eu nunca amei ninguém completamente

Sempre foi com um pé no chão

E por proteger de verdade meu coração

Eu me perdi

Nesses sons

E ainda havia essa viagem. Estava claro que ele não queria vir a princípio, mas acho que ele acabou se acostumando com a ideia, apesar das várias confusões em que já nos metemos. Além do mais, havia toda aquela preocupação comigo, antes mesmo de ontem à noite, quando ele tinha sido tão carinhoso, até. Eu até podia pegá-lo algumas vezes me observando cuidadosamente, como se me analisasse. E eu deixava, porque secretamente eu gostava que, ao invés da Carly, ele estivesse prestando atenção em mim. Isso devia significar alguma coisa. Ou mesmo antes, no bar de motoqueiros, quando meu sangue ferveu por causa daquela loira aguada dando uma boa conferida nele.

I hear in my mind

All these voices

I hear in my mind

All these words

I hear in my mind

All this music

And it breaks my heart

And it breaks my heart

Eu ouço na minha mente

Todas essas vozes

Eu ouço na minha mente

Todas essas palavras

Eu ouço na minha mente

Toda essa música

E isso parte meu coração

Isso parte meu coração

Foi com uma pontada de horror que percebi a verdade. Vi meus olhos se arregalarem e meu aperto nas bordas da pia ficou mais forte. Eu costumava dizer que Freddie era um inseto que insistia em grudar no para-brisa da minha vida, e a mamãe aqui insistia em esmagá-lo. Agora eu estava apaixonada por aquele inseto. É nisso que deu deixá-lo viver por muito tempo.

Sabe aquela vontade de me socar? É, voltou como uma avalanche. Estava claro que ele nunca me amaria. Não por causa da paixão pela Carly, coisa que ele já tinha superado há muito tempo, e sim pelo fato de que não fazia sentido ele gostar da garota que o maltratou fisica e psicologicamente por anos. Além do mais, com todo o meu orgulho de Puckett, eu nunca admitiria que o amava.

Respirava com dificuldade, como se o peso da descoberta comprimisse meus pulmões. A muito custo me afastei do espelho e treinei um sorriso forçado. Mas nem morta eu ia deixar meu nervosismo ficar visível. Quem sabe uma boa ducha não me ajudasse a afugentar esses pensamentos? Pelo menos ajudaria a me recompor e aí seria mais fácil fingir que nada aconteceu.

FREDDIE

Estava preocupado com Sam. Quando saiu do banheiro, abriu um sorriso em minha direção e disse que queria chegar o mais rápido possível na Califórnia e ir à praia. Em seguida, desceu as escadas do hotel, murmurando que ia tomar café. Mas eu a conhecia tempo demais para saber que havia algo de errado. A conhecia tempo demais para saber que ela só sorria daquele jeito quando estava escondendo algo e tentava fingir que nada aconteceu, esperando que ninguém notasse que ela estava agindo diferente. Só que, apesar de seus melhores esforços, eu percebia a mudança.

Nos três dias que se passaram, ela parecia distante, conversava apenas o essencial comigo e procurava ficar distante de mim, como se eu tivesse uma doença contagiosa e me tocar pudesse matá-la. Dirigimos silenciosamente por todo o resto do estado do Oregon, até chegarmos à Califórnia, rumando para o litoral oeste. Saímos depois do almoço do hotel em que estávamos hospedados e rumamos para a cidadezinha de Carmel, chegando lá por volta do final da tarde.

watch?v=RYzktf4QTaU - Enough to let me go

Ao chegar próximo à praia, ela bateu urgentemente no painel, mandando que eu parasse o carro e, correu para a praia, deixando os All Stars pretos no caminho, enquanto desabotoava a blusa xadrez vermelha, revelando a pele branca e um sutiã de renda preto. Fiquei ali na calçada da praia, sorrindo, observando-a pela porta do passageiro aberta, correr até o mar azul e cintilante, abrindo os braços e respirando fundo, os cabelos loiros esvoaçando ao sabor da brisa marítima. Era quase como se ela fosse um passarinho que havia acabado de se libertar.

Terminei de estacionar e desci com cuidado até onde ela estava, as mãos enfiadas nos bolsos, ainda observando-a com os braços abertos de costas para mim. Juntei seus All Stars e a blusa, deixada alguns metros mais à frente, e tirei meus próprios tênis, colocando ao lado das coisas dela. Enquanto caminhava ao seu encontro, ela virou-se e sorridente, correu até mim, puxando-me pela mão:

-Ah, nerd, você precisa vir até aqui experimentar isso!

Ficamos lado a lado na parte rasa, o mar indo e voltando, lavando nossos pés:

-Vamos, abra os braços, e feche os olhos, respirando bem fundo. - ela orientou, abrindo os próprios braços.

-Ah, Sam...- hesitei.

Ela deu um tapa forte no meu braço, me olhando feio:
-Anda, nub! - ordenou.

Com um suspiro de desistência, abri meus braços e fechei os olhos.

A sensação era indescritível: o mar frio lavando meus pés e salpicando água delicadamente no meu rosto, a areia pinicando levemente meus pés, a brisa batendo fresca no meu rosto. Mas o melhor era o silêncio, a sensação de total paz e liberdade.

Senti olhos sobre mim e, ao abrir os meus, percebi Sam me olhando com um sorriso feliz e delicado no rosto. Ela estava de volta. Depois de dias, finalmente estava de volta.

Gaivotas brancas sobrevoaram o céu e ela pulou, surpresa, apontando. Voavam em uma formação triangular perfeita. Sam voltou seu olhar para meu rosto, seu sorriso espalhando-se como o de uma criança travessa:

-Está com você! - ela gritou, rindo, cutucando-me na barriga uma vez, e correndo para o mar, mergulhando uma vez e desaparecendo.

-Ah, não! - e corri atrás dela, tirando a camisa, mergulhando também.

Ela emergiu a alguns metros de mim, e eu nadei rapidamente até ela, enquanto ela nadava para longe, rindo e jogando água em mim. Quando ela percebeu que eu a pegaria, ela nadou para a areia e começou a correr, esquivando-se de mim, e eu ria como uma criança boba. De algum modo, após algum tempo, ela conseguiu pular em minhas costas:

-Giddy up, horsey! - ela gritou, girando o braço, como se girasse um laço no ar, enquanto a outra apoiava-se em meu pescoço.

-Sam, eu não sou um cavalo! - repliquei, indignado.

-Isso é você quem diz, Fredduccini. - ela sussurrou sarcasticamente em minha orelha esquerda.

-Ah, é? - disse, tirando-a das minhas costas e tomando-a nos braços, correndo com ela de volta até o mar, ignorando seus protestos.

Quando ficamos cansados demais para andar um passo sequer, nos jogamos na areia próximo às nossas coisas. Ela fechou os olhos e respirava fundo, deixando o sol poente e o vento fresco tocarem seu corpo molhado. Aquele sorriso feliz não deixava seus lábios. Então me ocorreu que talvez, vendo-a assim, essa viagem tenha valido a pena. Para nós dois.

Apoiei a cabeça em um dos cotovelos e voltei a observá-la, como já havia se tornado costume. Não preciso dizer que a visão me tirou o fôlego. Como ela conseguia ser tão linda? Como pude perceber isso somente agora? Acho que ela tinha razão, talvez eu fosse mesmo um idiota.

O sorriso esperto espalhou-se por seus lábios e ela abriu os olhos, virando-se de lado para me encarar:

-Perdeu alguma coisa no meu rosto, nerd?

Seus olhos, entretanto, não eram acusadores ou mesmo irritados, apenas divertidos. Foi isso que me incentivou a responder:

-Na verdade, sim. Só o tempo que eu levei para perceber que você é linda. - disse sinceramente.

Ela franziu a testa ligeiramente, e mordeu o interior da bochecha, parecendo desconfortável. Virou o rosto, olhando o céu que começava a escurecer, despontando as primeiras estrelas, e por fim sorriu. Apoiou-se nos cotovelos e perguntou:

-Será que podemos dormir aqui, Freddie? Quer dizer, acampar? Eu sei que você tem uma barraca e sacos de dormir. - e me olhou suplicante - Por favor.

-Eu não sei, Sam, vai ficar frio durante a madrugada.

Ela deu de ombros:

-Se você montar a barraca, eu posso fazer uma fogueira.

-Ok, você venceu. - declarei, levantando-me e estendendo a mão para ajudá-la.

Ela levantou-se batendo a areia dos shorts e, pondo a blusa, começou a colher madeira de algumas árvores ali perto.

SAM

Estava sentada em um tronco cravado na areia, a fogueira ali perto, colocando alguns marshmallows em gravetos, aprontando-os para que pudéssemos assá-los. Freddie ainda montava a barraca, mas a julgar pelos movimentos de suas mãos ágeis, acreditava que ficaria pronta logo.

Segundos depois, ele levanta-se e, batendo as mãos sujas de areia na calça, ele estende um cobertor verde em frente à barraca e carrega os sacos de dormir para dentro, colocando-os em cima de um outro cobertor. Senta-se ao meu lado no tronco e pega o graveto que eu o estendo. Aponto com o queixo para a barraca:

-Você é bem habilidoso com as mãos, montou a barraca bem rápido. - observei - Aposto que já acampou várias vezes.

Ele deu de ombros:
-Na verdade, não. Minha mãe me fez ir uma vez para um acampamento de escoteiros, mas depois de um acidente que houve com um deles no verão em que eu estava lá, ela concluiu que era perigoso demais e acabou mudando de ideia. - ele franziu a testa e me olhou confuso - Você não se lembra disso? Eu contei para você e a Carly. Sem falar que minha mãe ficou paranoica por causa desse assunto por dias. - um pequeno sorriso brotou em seus lábios - Você até ameaçou me socar, porque ela ficava atrás de nós falando sobre os perigos da floresta e você ficou de saco cheio.

Eu ri da lembrança.

watch?v=AWGqoCNbsvM - Bubbly

Ficamos sentados conversando até que todos os marshmallows tivessem acabado. Depois nos deitamos no cobertor em frente à barraca e ele apontou poucas estrelas que havia no céu, já que havia o prenúncio de chuva no horizonte. Enquanto ele explicava sobre as constelações, percebi que nada daquilo me entediava. Antes, quando ele abria a boca para falar sobre suas coisas tecnológicas, eu simplesmente o cortava. Naquele momento, ouvindo-o, eu só conseguia pensar que ele era bem mais inteligente do que eu suspeitava. A partir do momento que comecei a me apaixonar por ele, eu mudei de perspectiva a respeito de mim mesma e dele. Olhá-lo e perceber que suas explicações não me causavam mais vontade de vomitar sangue, e sim uma vontade incontrolável de me inclinar e beijá-lo, só confirmavam ainda mais o quanto eu me importava com ele.

Temendo que ele percebesse o quanto eu o analisava, virei-me, encarando o céu e fechando os olhos, tentando controlar os pensamentos. Um silêncio breve se seguiu e eu ouvi sua voz, ligeiramente envergonhada:

-Ah, desculpe, Sam, estou te chateando de novo com minha nerdice, não é? - ele procurou não olhar para mim, as bochechas corando levemente à luz da fogueira.

Sorri de leve, e virei-me de lado, olhando-o nos olhos:

-Na verdade, eu não me importo. - ele me olhou como se eu fosse doida - Sério, mesmo. Estava até com saudade da sua nerdice, como nos velhos tempos.

-Mas você não se importa. - ele observou devagar, como se tentasse entender o sentido de cada palavra.

Levantei-me e olhei para o cobertor, onde ele ainda se encontrava deitado, confuso:

-Vai ver passar todo esse tempo convivendo com você me tenha tornado imune à nerdice.

"Ou talvez esse tempo tenha me feito ver o quão ela é tão atraente em você.", completei mentalmente.

-Boa noite. - assenti uma vez sorrindo.

Rumei em direção à barraca, entrando em meu saco de dormir. Apesar do frio causado pela chuva que ameaçava cair, ainda fazia calor lá dentro, então resolvi dormir sobre o cobertor que forrava a barraca, encolhendo-me.

Um cobertor é jogado delicadamente sobre mim e eu sorrio uma vez quando sinto Freddie acomodando-se ao meu lado. Ele passa os braços ao redor do meu corpo e me puxa para ele. Estranhamente, a proximidade me incomoda, o nervosismo tomando conta de mim, e eu me desvencilho dele:

-Eu hein, nub, desde quanto te dei liberdade para vir cheio de mãos para cima de mim? Vou te contar: dê dinheiro, mas não dê intimidade. - falei contrariada, afastando-me dele.

Ele levantou as sobrancelhas, surpreso com minha reação. Mas sua próxima atitude surpreenderia a mim: ele estreitou os olhos por alguns segundos e, parecendo tomar uma decisão, aproximou-se, um sorriso malicioso desenhado nos lábios, encurralando-me deitada à parede da barraca. Deitou-se sobre mim, uma mão de cada lado meu, inclinou-se roçando lentamente os lábios no meu ouvido, seu hálito quente pinicando minha orelha.

O que ele estava fazendo?

Engoli em seco e pude senti-lo sorrindo em meu pescoço. Ele levantou o rosto, ficando a centímetros do meu, encarando-me seriamente. Agora que eu o tinha tão perto de mim, pude analisar seu rosto o mais claramente possível, os olhos chocolate espertos e brilhantes de desejo, as linhas do rosto masculinas, mas sem perder os traços infantis que eu aprendi a tanto admirar, a barba levemente por fazer. Meu olhar demorou-se em sua boca, os lábios cheios e rosados contorcendo-se em um pequeno sorriso de diversão, enquanto me via lutar comigo mesma.

Sem pensar duas vezes, esmaguei minha boca na dele. Seus lábios quentes, acolhedores moldaram-se aos meus com uma familiaridade assustadora. O coro de pássaros voltou a rimbombar em meus ouvidos, enquanto eu rolava os olhos internamente por secretamente amar ouvi-lo outra vez. Mas o beijo não era como da primeira vez. Não era singelo e doce, mas urgente e desesperado, como se tivéssemos esperado tempo demais por aquilo. Minhas mãos fecharam-se em torno de seu pescoço, puxando-o para perto, implorando por mais. Seus braços enlaçaram minha cintura, segurando-me carinhosamente. Somente quando meus pulmões queimaram numa necessidade por ar, quebrei o beijo. Freddie, no entanto, começou a trabalhar no meu pescoço, traçando uma trilha de beijos quentes, subindo e descendo, arrancando meus suspiros de prazer, os quais eu lutava por mantê-los na garganta.

Foi o barulho da chuva grossa que caía que me trouxe de volta à realidade. Quando percebi o que estávamos fazendo, meus olhos arregalaram-se, e eu o empurrei para o lado:

-Não, não, não. - eu repetia, enquanto abria o zíper da barraca e rumava para a praia lá fora, no meio da chuva. Queria socar alguma coisa por ter sido tão fraca e ter me deixado levar.

Abracei-me, contendo o frio que me assaltou. Respirava fundo e rapidamente, tentando me controlar. Podia senti-lo atrás de mim, encarando-me confuso. Ele adiantou-se um passo e pôs a mão no meu ombro:

-Sam... - começou.

-Isso é um erro, Freddie, ok? Você é o total oposto de mim, não é algo que daria certo. - então comecei a estapeá-lo no peito, o qual ele esquivou-se muito bem, até conseguindo capturar meus pulsos - Você também tinha que me provocar, não é?

-Sam, olha... - ele tentou novamente.

Mas eu o cortei, olhando-o ameaçadoramente:

-Você não vai contar para a Carly quando voltarmos, vai fingir que nada aconteceu, eu fui clara? - perguntei, dando um passo em sua direção - Não quero ter nada a ver com você.

Ele apenas olhou-me duramente, mas, sem dizer nada, assentiu uma vez:

-Tudo bem, como quiser, Puckett. Mas vou fingir que nada aconteceu, não que não significou nada para mim. -esclareceu, olhando-me duramente - Você pode até conseguir se enganar, mas não sei mentir para mim mesmo. - e, liberando meus pulsos, voltou silenciosamente à barraca.



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Notas finais do capítulo

Não me matem por causa da reação da Sam no final, eu prometo q a relação deles fica melhor...
Enfim, já sabem, reviews, recomendações, se acharem q eu mereço... :)