Eu Juro

No capítulo anterior
– Eu passei cola permanente em sua poltrona preferida. Você esta colada nela!- Respondi com calma vendo ela em seguida tentar se levantar.
Tentou uma. Tentou duas. Tentou três.
Ela levantou o rosto com os olhos arregalado. Contagem regressiva:
3
2
1
– VOCÊ O QUÊ????????
(...)
– Eu passei cola permanente na sua poltrona preferida, você esta colada nela!- Repeti calmamente vendo-a ficar cada vez mais vermelha.
– Me tira daqui! AGORA!- Gritou ela.
E eu começava a entender por que o Hugo disse que não precisaria estar por perto para saber o que iria acontecer.
Ela olhou para mim e estreitou os olhos.
Estava ficando meio óbvio o que iria acontecer na verdade.
A MINHA VIDA É TÃO TRÁGICA. Veja bem, na minha viagem de vinda para este colégio travei uma batalha sangrenta com o meu malão. E SOBREVIVI.
Trapaceei um garoto mais velho para pegar os últimos chocolates disponíveis. E SOBREVIVI.
Quase foi morta no meu primeiro mês de Hogwarts atacada por um bando de sonserinos loucos e raivosos. E SOBREVIVI.
Fiquei devendo uma para outro sonserino, que não parece ser louco e muito menos raivoso, possuidor de um belo sorrisinho de canto de boca, digo, odioso sorrisinho de canto de boca. E SOBREVIVI.
Quase morri de fome devido a subsequentes perdas de cafés da manhã e atrasos para o almoço. E SOBREVIVI.
Tive minha perna engolida por degraus e fiquei presa por tantas horas que ainda me surpreende que eu seja capaz de sentir algo abaixo do tornozelo. E SOBREVIVI.
Levei tantas bolsadas da terribilíssima bolsa do Michael, o que me fez ficar imaginando a frase "Eu tenho a bolsa", toda vez que avistava o dito acessório. E SOBREVIVI.
Fui obrigada após quatro meses e meio de Hogwarts a montar em uma vassoura e mesmo com o arsenal de livros que li sobre o assunto a experiência foi um fracasso. E SOBREVIVI.
Atropelei o grupo de garotos mais popular de Hogwarts enquanto pilotava na dita vassoura. E SOBREVIVI.
Quase fiz James Sirius Potter, filho mais velho do herói do mundo mágico, ser transformado em uma panqueca. E SOBREVIVI.
Fiquei seriamente preocupada com os danos causados pelo meu passeio de vassoura. Queimei vários neurônios pensando que deveria ter matado um cara inocente. E SOBREVIVVI.
Fiquei machucada, fui submetida a uma idiota atadura trouxa para o pulso que não me serviu de nada a não ser para causar coceira. E SOBREVIVI.
Fui exposta a uma planta raivosa com habilidades ninjas e dotada de garrinhas terríveis que quase me fizeram perder o meu dedo. E SOBREVIVVI.
Tive que aguentar a humilhação de ter trocado as meias. E SOBREVIVI.
Mas agora eu sei, nada disso importa mais, toda minha perigosa jornada no mundo mágico foi em vão.
PORQUE EU VOU MORRER.
Alguém deveria pendurar uma placa no pescoço da Lily: Ruiva raivosa, não se aproxime.
Pelo olhar que ela está me dando ela vai sair arrastando essa poltrona mesmo com ela colada em sua bunda e me acertar na cabeça com aquele ferro ornamentado de atiçar o fogo da lareira.
Isso é tão mórbido. Nunca pensei que fosse ser morta por um pedaço de ferro esculpido com desenhos de flores.
– Podemos pelo menos conversar?- Pedi fracamente me encolhendo até quase me tornar parte do sofá.
Esperei pelos gritos. Já estava até visualizando a minha cabeça sair voando com o poder da mente de Lily. Bem talvez ela fosse boazinha e arrancasse toda a minha cabeça. Assim eu poderia participar da Caça dos Sem Cabeça. Afinal não quero me tornar uma fantasma amarga que nem o Nick.
Apesar de que acho que seria melhor seguir em frente ao invés de me tornar uma fantasma. Cinza não é bem a minha cor. E eu não poderia mais comer chocolates!
Não, acho que eu provavelmente deveria ir para o céu. Tipo, dizem que quem consegue ir para lá vai para o seu lugar preferido. Não que eu saiba com certeza, afinal não conheço ninguém que tenha ido e voltado.
Aposto que o meu céu seria uma loja de chocolates cheia daqueles...
– SAAAAAAAAAAAAAAARAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!
Lily berrou atraindo a minha atenção.
Droga tinha feito de novo! Tenho que parar de ir à Saralândia quando estou tentando fazer as pazes com alguém. Ou melhor, tentando fazer alguém falar comigo, afinal EU E A LILY NÃO TÍNHAMOS BRIGADO.
Houve apenas uma pequena falha na comunicação, primeiro por parte dela e depois de minha parte e...
– AI!- Reclamei quando uma almofada atingiu a minha cara.
Olhei para a Lily que retorcia a boca de uma jeito estranho.
– Foi você? –Perguntei irritada.
– Não! Foi o Hugo!- Respondeu a ruiva prontamente.
– Ah é mesmo!- Retruquei ainda mais irritada.
– É sim, é mesmo!- Afirmou ela.
– Pois eu já sabia que era tudo culpa dele- Disse me sentando melhor no sofá.
Ficamos olhando uma para a outra. A boca dela estava se retorcendo cada vez mais.
Eu não vou ceder. Ok, apenas mentalmente. Kikikikikikiki... tudo culpa do Hugo. Ok, nada de risos.
– Você não vai falar nada? Apenas vai ficar aí olhando? Acha engraçado colar a bunda das pessoas nas poltronas ao seu bel prazer?- Perguntou ela tentando em vão se levantar.
– Não, mas porque você não falou comigo o dia inteiro? Ficou me evitando e fugindo?
– Eu não estava fugindo...- Disse ela encostando as costas na poltrona, acho que ela tinha desistido de se soltar.
– Ahn, não. Então eram apenas saídas estratégicas?
– Sim, isso mesmo!- Respondeu Lily parecendo feliz com o meu argumento.
– E exatamente porque você teve que fazer uso desta estratégia?
– Bom... ah deixa para lá você vai me achar uma boba. Agora esta tudo bem entre nós, eu esqueço o dia de ontem e voltamos ao normal. - Sugeriu a Potter com um sorriso amarelo.
– Nananinanão. - Falei fazendo sinal com o dedo.
– Por que não? -
– Porque aí Lily eu não vou saber o que te chateou, vou acabar repetindo o que quer que tenha feito de errado, bom a não ser que seja voar, porque eu realmente não pretendo fazer isso novamente tão cedo. Como eu dizia, ah sim, vou fazer algo errado, você vai ficar brava e fazer "saídas estratégicas" ai eu vou ficar brava, comer um monte de chocolates e ficar gorda. Ai ninguém vai me querer. Ai eu vou me tornar uma profissional frustrada. Ai minha frustração vai se estender até a minha vida pessoal. Ai eu vou arrumar um bando de gatos. Ai eu vou ficar sozinha tendo apenas eles como companhia. Ai eu vou morrer. Ai ninguém vai perceber. Ai depois de um mês os bombeiros terão de arrombar a porta da minha casa devido ao mau cheiro do apartamento que estava incomodando os vizinhos.
– Han? –Lily ainda parecia processar minha história trágica.
– É, eu sei. Então é melhor você por logo a boca no trombone.
–Mas eu não tenho um trombone, nem você de modo que sinto muito Sara! - Lílian fez graça e deu mais um de seus sorrisos amarelos, fiquei encarando a ruiva de modo cético, estava firme, ela iria me contar o motivo de estar me evitando!
–Desembucha logo Lily!
– Bom, é que... – Ela se remexeu desconfortável na poltrona. Ou melhor ela tentou se mexer na poltrona.
– É que...- Incentivei, já que a mesma estava mais empacada do que eu antes do meu voo de vassoura.
– Bom, sempre que alguma garota se aproxima de mim é porque elas querem algo com os meus irmãos. Elas acham que se forem minhas amigas, logo seriam amigas deles, logo, num futuro não muito distante seriam namoradas deles, logo se casariam e teriam uma família feliz e cheia de garotos descabelados.
– Ahn.
Fiquei olhando para ela esperando que ela falasse o que a chateava, afinal esta história foi um pouco chata, quer dizer dava para entender o lado dela, e estas outras garotas deveriam ser umas malas para se aproximares da Lily apenas para tentar algo com o James ou o Alvo. Mas ainda, ela não me disse o que a chateava.
Ela ficou me olhando e esperando a minha reação.
PERAÍ.
ISSO É RÍDICULO.
UMA CALÚNIA!
UM ABSURDO.
COMO ESTA RUIVA LOUCA CHEGOU A UMA CONCLUSÃO TÃO RÍDICULA?
ELA ANDOU LEVANDO UM BALAÇO NA CABEÇA?
CAINDO DA VASSOURA?
EU SABIA QUE AQUELAS VASSOURAS ERAM DO MAL.
BASTAVA OUVIR AS RISADINHAS DOS CUPINS QUE AS HABITAM.
– Lílian Luna Potter você só pode estar brincando se esta insinuando que eu me aproximei de você apenas para fisgar um de seus irmão.- Falei bem baixinho.
– Eu não gosto quando você fala baixinho...- Guinchou ela se encolhendo.
– Ah você não gosta é?
–Não, pare de sibilar.- Pediu ela me encarando séria.
– Sim, talvez eu devesse fugir e te deixar colada no sofá. Para ver se você pensa um pouco.
– Ei! Não era uma ideia infundada!
– Ah, não era uma ideia infundada Lily, e então quando foi que eu dei em cima de um de seus irmãos?
– Bom... quando caiu em cima do James?- Murmurou ela no final.
Eu me levantei e comecei a chacoalhar as mãos sobre a minha cabeça.
– Eu sei que eu...bem...meio que literalmente cai em cima dele. Mas não foi intencional. E de mais a mais eu nem gosto dele desse jeito. Ele é sei lá, meio maduro de mais para mim?! Isso, isso mesmo.
Olhei para ela e expliquei como se falasse com uma criança de três anos.
– Lily, imaginemos que todos somos mangas de uma mangueira. Está imaginando?
– Bem, sim...
– Certo agora imagine uma manga madura, bem madura, laranja e redonda, com todo o seu esplendor de fruta que esta no ponto. Imaginou?
– Sim.
– Certo, agora imagine uma manga bem pequenininha, ainda no começo de seu desenvolvimento. Ela verde e esta começando a se desenvolver. Certo?
– Certo!
– Então James é a manga laranja e eu sou a verde, entendeu?
Ela me olhou como se eu fosse uma maluca.
– Bem, acho que sim, você esta dizendo que você e James são muito diferentes. Então você não quer nada com ele?
– Não. Quer dizer, exato. Eu não quero nada com ele. E de mais a mais eu sou muito nova para pensar nessas coisas.
– Nem com o Alvo?
– Nem com o Alvo. - Confirmei achando tudo aquilo meio ridículo.
Ela me deu um olhar estranho e suspirou aliviada.
– Então você não vai ser minha amiga apenas para vir com segundas intenções para cima dos meus irmãos?- Perguntou ela temerosa.
– Exato. Nada de segundas intenções para com nenhum dos Potter’s.
– Hum, nem para cima dos amigos dos meus irmãos? Nem do resto dos Weasleys? Nem do...
– Sim, sim, não vou dar em cima de ninguém é...da sua família?
Ela fez uma careta e fez que não.
– Relacionado a sua família? - Pedi achando graça em toda aquela insegurança misturada com ciúmes.
Ela acenou freneticamente.
– Você jura?- Perguntou ela me fitando ansiosamente.
– Promessa de mindinho- Afirmei juntando nossos dedinhos.
Olhamos uma para a outra e sorrimos.
– Então Lily, da próxima vez que quiser saber sobre as minha intenções que tal perguntá-las?
– É, pode ser.
Fiquei fungando e tentando não rir até que ela me olhou brava.
– Ei, isto é muito sério. Não ria- Pediu ela fechando a cara, e me fazendo rir mais ainda.
– Ai Lily, e eu tendo culpa? Eu sou a mais completa inocente mais uma vez.
– Sara, é meio difícil te imaginar inocente!- Respondeu ela começando a rir agora.
– Ei, mas eu sou!
– Não é não!
– Sou sim!
– Não é não!
– Sou sim!
– Ah é, então quem é que na semana passada estava fantasiando sobre quem tinha os olhos mais bonitos, o Lorcan ou o Lisander?
– Hum, você?- Perguntei me fingindo de inocente, digo, sendo inocente. Ei não tente me confundir, EU SOU INOCENTE!
– Nããããããooo! Você!
– Mas você que foi em seguida analisar as feições deles, e eu não tenho culpa. Era um interesse puramente cientifico.
– Cientifico Sara, sei...
– Sim Lily, muito do cientifico. Veja bem o meu lado. Eles são gêmeos certo?
– Hum, certo
– São iguais.
– Hurum.
– Mas estão em casas diferentes! Enquanto um foi para a Corvinal o outro foi parar Na Lufa Lufa!
Ela me olhou com uma cara engraçada para em seguida chacoalhar a cabeça.
– Sara porque eles são gêmeos não quer dizer que suas personalidades são iguais. Ou o que você esperava que eles até mesmo se vestissem iguais?
– Bom, não ria mas no mundo trouxa isso não é raro. O que é ridículo. Mas eu estava tentando apenas demonstrar o meu interesse puramente cientifico da coisa.
– Certo.
Ficamos em silêncio por alguns momentos.
– E Lily, eu sou muito nova para namorar.
– É, eu sei, é que quando pensei que você se aproximou de mim por interesse fiquei irritada.
– E eu ainda ganho presente de dia das crianças!
– E ainda pega a metade do presente do Hugo!
– Quem mandou ele ficar proclamando aos quatro ventos que não é mais criança! E eu sei que ele nem gosta tanto assim de chocolate! Eu usufrui do presente dele muito melhor do que ele!
– Talvez porque você tenha sequestrado a caixa de sapos de chocolates antes que ele tivesse a oportunidade de usufruir do presente?- Perguntou ela tentando se levantar novamente.
– Hm gracinha! Não é minha culpa se aquela mala que "não é a namorada do seu irmão" mas que vive colada nele deu de ficar de marcação serrada na porta da cozinha!
Ela riu e tentou se içar para cima com um puxão para em seguida desabar na poltrona.
– Sara, será que quando você armou todo este plano você não teria por algum acaso pensado em uma maneira de me soltar?
– Bem... te puxando?
– Então anda logo que o meu bumbum já esta formigando de tanto ficar sentada!
Fui até ela e a puxei com força. Nada, ela não desgrudou nem um centímetro.
– Bom, pelo menos o Michael cumpriu com a sua parte do plano.
Ela me olhou esperando explicações.
– Cola super permanente!
Após unirmos forças e eu perder a conta de quantos puxões dei acabei sentada no chão, enquanto Lily me olhava emburrada da poltrona.
– Sara, é bom você me tirar daqui! AGORA!
– Tatata, não se estresse. Vamos tentar mais uma vez. No três
– Um- Entoamos juntas.
– Dois- Segurei a mão dela.
– Três!- A puxei com força e como música para os meus ouvidos ouvi o doce som de tecido se rasgando.
Demos vários passos para trás em busca de equilíbrio e Lily me olhou com olhos arregalados por uns cinco minutos.
– Ei! Será que dá para parar com esse olhar de esquilo super cafeinado?
– Sara...- Sussurrou ela olhando para trás e colocando a mão no bumbum.
– O que?- Pedi já preocupada. E se ela tivesse perdido parte de sua bunda no sofá?
– Eu perdi...
– Oh não! Lily não diz isso! Eu darei um jeito! Posso pagar uma cirurgia trouxa e você terá a sua bunda novamente! Eu não tenho dinheiro agora mas acho que você pode aguentar alguns meses sem ir a praia ou a piscina?! E então nós vamos procurar um bom médico e ...
– Sara! Calma, foi só a parte de trás do meu pijama.
Me aproximei cautelosa da poltrona para averiguar. Dito e feito a parte de entro do pijama de Lily estava estampada no sofá, mas ainda assim era possível vislumbrar unicórnios saltitantes.
Eu olhei para ela e ela se virou devagar. Bem na parte que ficava o tecido do pijama tinha um buraco que permitia a qualquer um ver a sua calcinha dos ursinho carinhosos.
– Oh.
Ouvimos o buraco do retrato se abrir. Sai correndo e coloquei uma almofada no buraco da calça da Lily me virando de costas e juntando os nossos bumbuns. A monitora chefe da grifinória entrou na sala e nos lançou um olhar esquisito.
– O que vocês estão fazendo acordadas a esta hora?
– Hum... conversando?!
– Isso foi uma pergunta ou uma resposta?
– Uma resposta! –Gritou Lily meio eufórica. Ela ficava assim quando nervosa.
– Certo, acho melhor vocês duas irem para a cama!
– Certo!- Entoamos em coro.
Começamos a nos mover em direção à escada, Lily andando de frente e eu de costas igual a um caranguejo. Deixamos uma monitora espantada para trás enquanto eu dava o meu melhor olhar de boa menina e acenava tchauzinhos, enquanto rezava para não cair.
Chegamos ao dormitório sem maiores problemas.
Lily jogou a almofada longe se atirando em seguida na cama. Eu segui seu gesto e me abriguei nas minhas cobertas quentinhas. Estava ficando cada vez mais frio. Já estávamos em novembro e em breve iria nevar.
– Sara.- Ouvi Lily me chamar baixinho de sua cama.
– Quê?- Resmunguei já meio sonolenta.
– Amigas acima de garotos?
– Claro...
– Amigas acima de garotos – Repetimos as duas baixinho.
Me entreguei ao sono feliz. Tinha a minha amiga de volta. Mesmo ela sendo louca, era bom a ter por perto. Afinal, era notável que eu era a única normal por ali.