– Stell, o que você esta fazendo ai atrás? – perguntou Dany, não tive coragem de me virar e pela voz dele eu diria que ele estava um pouco longe de mim. Não respondi e me mantive parada olhando fixamente para o lugar onde eu vira o vulto.

Ouvi Dany suspirar e os passos deles ao se aproximarem de mim.

– O que houve Stell? – perguntou Any do meu lado.

– Eu juro que vi algo se mexer ali. – sussurrei apontando para a casa. Any, medrosa do jeito que é, arfou antes mesmo de se virar para o local que eu havia indicado. Assim que Dany também se virou, o vulto apareceu novamente. Any gritou e vimos dois gatos de rua correndo em frente a casa ate desaparecerem na floresta ao lado da mesma.

– Eu não acredito que vocês ficaram com medo de dois gatinhos! – riu Dany enquanto Any respirava aliviada, mas eu permaneci parada quando escutei a risada novamente.

– Vocês ouviram isso? – perguntei exaltada.

– Não. O que? – perguntou Dany.

– Uma risada, parecia ser de um homem. – expliquei ainda procurando no escuro da onde tinha vindo o som. Os dois se postaram ao meu lado e se concentraram para ver ou ouvir alguma coisa.

– Eu não escuto nada. – disse Any com a voz falhando.

– E eu não vejo nada. Para com essa paranoia Stella, esta começando a me assustar. – reclamou o Dany se virando e voltando a andar. Any o acompanhou me deixando pra trás, dei uma ultima olhada antes de segui-los.

Eles foram na frente e eu logo atrás e a cada cinco passos eu me virava pra trás para conferir.

– Anda Stell! Senão você vai nos atrasar! – reclamou Dany quando chegamos na esquina da segunda quadra, bufei com a sua falta de paciência.

– Se você não percebeu, nos já estamos atrasados! – falei olhando mais uma vez em pra trás. Eu estou sentindo que tem alguma coisa nos seguindo, mas o que é? Por que esta seguindo a gente?

– Por que você olha tanto pra trás? – perguntou Any agora do meu lado. Dany olhava de um lado para o outro procurando alguém ou alguma coisa que pudesse nos ajudar.

– Não é nada não. – respondi a olhando.

– Olha! Tem um pessoal ali! Talvez eles possam nos ajudar. – disse Dany apontando para duas pessoas do outro lado da rua e em frente ao que parecia ser um beco.

– Ou talvez eles possam nos matar ao invés de ajudar. – disse Any com medo.

– Você tem que começar a dar mais chance para as pessoas e parar de julga-las antes de conhecê-las. – pude perceber pelo tom de voz do Dany que ele não estava tentando dar uma lição na Any, mas queria que ela aprendesse e deixar que os outros cheguem mais perto dela, como o Dany vem fazendo há algum tempo. Tentando ser um bom amigo antes de ser um possível namorado.

Andamos em direção a eles e enquanto nos aproximávamos nós os ouvimos rindo e conversando.

Percebi que eles também estavam fantasiados, parcialmente, mas estavam.

– Hey! Quem vem lá? – perguntou um deles, pela voz era um homem.

– Oi! Eu sou Dany. Essas são Stella e Any. – disse Dany nos apresentando e apontando para cada uma de nós. Sorri e dei um pequeno aceno com a cabeça cumprimentando-os. O homem parecia ter uns vinte e três anos e parecia estar junto coma menina que parecia ter uns vinte anos, atrás deles vi que havia mais um homem, um garoto na verdade, parecia ter uns dezessete anos, talvez dezoito.

– Prazer em conhecê-los. – disse o homem que estava na frente, ele era alto com a pele branca, magro, porém musculoso e seus cabelos eram meio ruivos e da altura dos ombros. Ele tinha varias faixas brancas enroladas em algumas partes do corpo. – Eu sou Kevin, essa é a minha namorada Kamila. – ele disse puxando levemente a mão da garota que estava um pouco atrás dele, ela era um pouco mais baixa que ele, também tinha a pele branca e seu cabelo era loiro, liso e comprido. Ela também tinha faixas enroladas pelo seu corpo, acho, tendo quase certeza, de que eles estavam fantasiados de múmias. – E aquele ali é Richard. – completou Kevin dando um passo para mais perto de Kamila para podermos ver o garoto.

Quando ouviu seu nome ser pronunciado ele levantou a cabeça para nos olhar. Ele tinha os braços cruzados sobre o peito, o que fazia os músculos dos seus braços ficarem mais visíveis. Sua pele também era incrivelmente clara, usava uma calça jeans escura e uma jaqueta de caubói por cima de uma blusa azul simples, tinha cabelos pretos lisos, desgrenhados e também compridos, mas eram um pouco mais curtos que os de Kevin.

Richard era com certeza, sem sombra de dúvida o garoto mais lindo que eu já vira. Não consegui desviar meus olhos dele enquanto ele fitava lentamente cada um dos meus amigos, mas assim que ele me olhou diretamente abriu um enorme sorriso no rosto, eu virei o rosto envergonhada por ter sido flagrada olhando-o, não, eu estava literalmente secando o garoto.

– Em que podemos ajudar? – perguntou Richard com uma linda voz. Olhei-o pelo canto do olho e percebi feliz e confusa que ele ainda olhava diretamente pra mim e mantinha o sorriso de antes no rosto.

– Nós perdemos o ônibus e estamos atrasados para uma festa. Vocês sabem de algum lugar por aqui onde podemos alugar ou pegar enprestado algum tipo de veiculo? – Dany explicou nossa situação rapidamente. Não entendi por que ele fez aquela pergunta, nem dinheiro eu tenho, eu ia pagar o ônibus com o cartão.

– Alugar pra que? Usem os nossos. – disse Kevin apontando para onde o Richard estava, ele se desencostou da parede descruzando os braços e assim pudemos ver duas bicicletas encostadas no muro e um skate no chão perto delas.

– Sério? Podemos mesmo leva-las? – perguntou Dany abrindo um sorriso. Nisso, o Richard pegou as duas bicicletas e se aproximou mais de nós.

– Claro. Só gostaria que vocês as trouxessem de volta quando acabar a festa. – disse Kevin pegando o skate e entregando-o ao Dany.

– Vamos trazer, não se preocupe. Mas a festa só termina ao amanhecer. – disse Dany temeroso de que Kevin voltasse atrás.

– Não tem problema. – disse Kamila pela primeira vez, ela sorriu enquanto segurava a bicicleta vermelha, Any foi logo pegá-la.

Richard segurou a que pareceu ser dele, era preta e vermelha. Ela a empurrou para mim sem tirar a sua mão do banco querendo que eu a pegasse, mas eu dei um passo pra trás, ele ficou confuso com a minha reação.

– Qual é o problema? – ele perguntou e notei preocupação em sua voz antes dele se aproximar mais de mim.

– Não sei andar de bicicleta. – falei baixo e envergonhada. Eu sei que tenho 17 anos e já esta mais que na hora de eu aprender a andar! Não preciso de outro sermão sobre isso, Dany e Any já vivem me enchendo por eu não saber andar de bicicleta. Mas eu simplesmente não consigo! Acho que tenho um problema serio com a Senhora Gravidade!

– Skate? – perguntou ele, sorri sem graça e apenas balancei a cabeça negativamente, ele sorriu. – Se quiser, eu mesmo posso te levar. – disse ele se aproximando cada vez mais.

Seus olhos verdes eram profundos e intensos ao me fitarem, me senti tonta e com falta de ar pela nossa aproximação e quando dei por mim eu já havia aceitado o convite e ele sorria docemente em minha direção.

– Você vai também? – perguntou Kevin ao Richard com um sorriso estranho no rosto. Richard me olhou e me pareceu, pela sua expressão, que ele estava pedindo permissão para falar. Acenei minimamente com a cabeça meio confusa com o seu suposto pedido. Ele sorriu novamente em minha direção antes de se virar para o Kevin.

– Sim, Stella não sabe andar de bicicleta e deixou que eu a levasse, vou aproveitar e trazer as bicicletas e o skate de volta. – disse ele e eu sorri, ele estava pedindo permissão para contar que eu não sabia ficar montada em uma bicicleta. Que fofo! Confeço que foi estranhamente bom ouvir meu nome sair de sua boca. Que isso menina? Foco! Só porque ele falou seu nome não quer dizer nada!

– Por mim tudo bem. – disse Any, me virei pra ela e vi que ela sorria igual a Kevin e Kamila, um sorriso de alguém que apronta com quem não se deve mexer.

– Por mim também. – disse Dany abrindo um sorriso... safado?

Perae! Esse povo esta armando alguma coisa e é pra cima de mim! Olhei novamente para o Richard, mas parecia que ele também estava boiando como eu. Ou não? Ele continuava a sorrir pra mim, não precisei forçar um sorriso de volta, vê-lo sorrir já me fazia sorrir e de repente não fiquei mais com vergonha.

– Então se divirtam. – disse Kevin jogando alguma coisa para Richard que o pegou facilmente e logo depois colocou o objeto na cabeça. Era um chapéu de caubói preto e simples, parecia ser de couro, assim como a sua jaqueta, mas mesmo com simplicidade ambos eram bonitos, sem contar o dono que era um gato.

Any e Dany subiram em seus devidos automóveis, Richard primeiramente levou a bicicleta ate o meio fio e a alinhou paralela ao mesmo, ele subiu em sua bicicleta e estendeu a mão para me ajudar a subir, reparei contente que a bicicleta ficou um pouco mais baixa e menos assustadora quando me aproximei e segurei firmemente em sua mão. Ao encostar em sua pele, que alias era incrivelmente fria, senti um calor se espalhar pelo meu corpo, era um calor desconhecido por mim, mas que me fez me sentir bem, me senti segura e feliz como a muito tempo não sentia.

Minhas mãos começaram a suar, minhas pernas bambearam um pouco e parecia que tinha milhares de pequenas borboletas batendo as asas dentro da minha barriga. Não sei explicar direito as emoções que ocuparam o meu corpo naquele momento, mas posso dizer que foram as melhores sensações que eu já senti na minha vida.

Tentei ignorar o que ele causara em mim e apoiei o pé em um dos pedais e subi na garupa. Richard conseguiu nos equilibrar com facilidade e se manteve virado pra trás e sorrindo pra mim.

– Pronta? – perguntou Richard, fechei os olhos com força e neguei rapidamente com a cabeça o fazendo rir. – Não precisa ter medo. – sua voz era suave, o que me fez reabrir os olhos. – É só se segurar firme, não vou deixar nada acontecer com você. – ele completou.

Ele sorriu quando eu passei meus braços lentamente em volta da sua cintura, assim que ele se virou pra frente eu me atrevi a apertar meus braços mais a sua volta. Percebi assustada que, assim como a sua mão o seu corpo também estava muito frio o que me fez afrouxar os braços rapidamente.

– Você esta com frio? – perguntei sem querer.

– Não. – sua resposta foi rápida, como se a minha pergunta já fosse bastante comum pra ele, de modo que ele sempre parecia dizer a mesma resposta. – Por que a pergunta? – ele continuou, vi desapontada que o seu sorriso havia sumido do seu rosto.

– Você é muito frio. – falei mais pra mim mesma do que pra ele. Pela ponta de meus dedos pude sentir ele estremecer levemente.

– Talvez eu esteja com um pouco de frio. – ele completou a meia voz. Mas não estava tão frio assim a ponto dele estar praticamente congelando. Eu não estava com nem um pouco de frio, e olha que eu usava apenas uma única blusa, o Richard estava usando duas. Porem, acredito que eu seja suspeita para falar isso, não sou nem um pouco frienta. Adoro o frio e simplesmente odeio o sol, ele nunca fez nada comigo, mas eu ainda assim não gosto dele nem um pouco.

Ignorei meus pensamentos e apertei novamente meus braços a sua volta e vi feliz, o canto dos seus lábios se levantar em um novo sorriso. Tentei não pensar sobre a temperatura do seu corpo e me concentrei em minhas mãos que começaram a suar e a formigar por causa do contato dos nossos corpos.