Cap. 08: Seu sorriso fácil e seu bom-humor

Era Sábado.

Como de costume, o Sol já estava quase alpino quando acordei, mas permaneci deitado na cama, pensando.

A imagem de Summer desacordada, deitada naquele quarto frio, não saía da minha mente. Eu quase não consegui dormir para causa disso. E minha mente fértil montava imagens do que Joshua provavelmente fez. E isso me assombrou a madrugada inteira.

Era angustiante.

Ouvi duas batidas na porta do quarto e gritei para quem quer que fosse que podia entrar. Me surpreendi ao ver Christofer entrando no meu quarto, com a expressão séria.

– Bom dia.- ele falou, jogando-se em minha cama. Tentei empurrá-lo com o pé, mas era um cara maior do que eu, então nem rolou.

– O que você veio fazer aqui?- perguntei. Christofer me olhou pelo canto dos olhos.

– Você é muito educado, hein?- ele disse, logo voltando os olhos para o teto do quarto.- Vem comigo até o hospital? Não estou muito a fim de ir sozinho.

E então eu notei o rosto de Christofer.

Ele estava com a pele muito pálida, quase cinzenta. Seus olhos azuis estavam sem algum, opacos, e fundos. As olheiras rodeavam seus olhos.

Fora seus cabelos normalmente lisos, que agora pareciam mais com um ninho.

– Vou sim, mas dê um jeito nessa cara antes. E nesse cabelo.- falei, me sentando na cama. Chris suspirou, esticando os braços.

– Eu estou podre, não estou?- sorri, dando um soco leve em seu ombro.

– Está sim.- falei. Chris sorriu levemente, ainda desanimado.- Pode usar o meu banheiro. Eu acho que uso as mesmas coisas que você para me arrumar.

– Não sei não, hein. Esse rosto perfeito necessita de cuidados especiais e produtos de qualidade.- ele falou, apontando para o próprio rosto. Revirei os olhos.

– Vai se arrumar logo, seu fresco.- falei, empurrando-o para fora da minha cama. Chris se levantou e foi até o meu banheiro.

Aproveitei e fui até o guarda-roupa para separar a roupa que eu iria usar.

Peguei uma calça jeans, uma blusa azul de mangas compridas e um Converse branco.

– Ei, Mark!- Chris chamou.

Olhei para trás e o vi com o rosto cheio de Esfoliante Facial. O Esfolitante Facial da minha mãe.

Gargalhei ao ver sua cara verde, e ele me olhava sem entender nada.

– Você tem uns produtos bem legais. Onde comprou?- comecei a prender o riso, tentando não olhar para o rosto dele.

– Não sei, pergunte à minha mãe. Essas coisas são dela.- falei. Foi aí que Chris entender o porque de eu estar rindo. E revirou os olhos.

– Há, há. Muito engraçado. Algo contra o fato de que eu cuido da minha pele?- ri alto, sentando-me na cama.- Já entendi.- Chris disse, voltando ao banheiro.- Idiota...- o ouvi murmurar.

Estiquei um pouco o pescoço em direção a porta do banheiro e vi, no reflexo do espelho, seu sorriso.

Talvez seu primeiro sorriso desde anteontem...

Quando eu terminei de me arrumar, fui para a cozinha.

Encontrei Christofer lá, comendo torradas e rindo de algo com a minha mãe.

– Bom dia, filhote!- minha mãe disse quando me viu. Sentei-me na cadeira ao lado de Christofer e ele me olhou pelo canto dos olhos.

Parei para encará-lo também, tentando entender o porque daquela observação toda.

– A senhora tem razão, senhora Campbell. Eu realmente sou mais bonito do que o Mark de manhã.

Ah, legal. Papo interessante, deles dois.

– Sim, é verdade.- arqueei minhas sobrancelhas ao ver minha mãe falando com Chris.- Mas me chame de “você”, Christofer. “Senhora” faz eu parecer uma velha!- minha mãe estava como as garotas do colégio quando viam Christofer.

Ela estava sendo atacada pelos raios de sedução dele, como Laura dizia. Christofer, com todo seu 1,85m, músculos, cabelos lisos e negros, pele morena e olhos azuis ficava mandando seus raios de sedução para todos os lados, atingindo todos de todas as idades.

– Velha? Você? Isso nunca!- a torrada em minha mão parou no meio do caminho até a minha boca ao ouvir o que ele Christofer disse.

Olhei para a minha mãe, que estava com as bochechas coradas e um sorriso bobo nos lábios. Depois olhei para Christofer, que olhava para a minha mãe com um sorriso torto e os olhos brilhantes.

Ótimo! Agora eu não sei se vomito ou se bato minha cabeça na parede! Minha mãe e meu amigo estavam mesmo flertando na minha cozinha, e na minha frente?

Respirei fundo, largando a torrada no prato.

– Nossa, olha só a hora! Temos que ir, Christofer!- falei, me levantando rapidamente. Bati na torrada que Chris segurava e ela caiu na mesa.

– O quê?- a voz dele saiu mole, e ele e minha mãe ainda ficaram se olhando.

– Está na hora de ir!- eu praticamente gritei, puxando a gola da camisa dele para cima. Chris finalmente parou de olhar para a minha mãe e me encarou, sorrindo feito um retardado.

– Vamos sim.- ele disse. E logo soltou-se de mim e foi até a Sra. Campbell, que já estava de pé.- Até logo.- ele disse para minha mãe. Mas ele não se contentou em apenas falar.

NÃÃÃÃOOO!

Ele teve que abraçar minha mãe e dar um beijo no rosto dela também!

E eu rezei, juro que rezei mentalmente para que ela desse um tapa na cara dele e exigisse respeito! Mas ela se contentou em apenas sorrir como uma adolescente apaixonada e corresponder ao abraço.

Esperei os dois terminarem o “acasalamento” e, quando ele acabou (o que eu achei que nunca fosse acontecer), eu reboquei Christofer para fora da minha casa. Fomos andando e, alguns segundos depois, ele falou uma das coisas que eu já estava cansado de ouvir de todos os amigos que conheceram a minha mãe:

– Sua mãe é linda.- ele disse.

Murmurei um “Aham” e continuei andando.

– Você é filho dela mesmo?- sorri. Outra coisa que sempre perguntavam.

– Cada célula do meu corpo comprova isso.

Christofer ficou em silêncio, mas por pouco tempo.

– Mark, não me leve a mal, mas... eu vou chamar a sua mãe para sair comigo.- congelei onde estava ao ouvir isso.

– O QUÊ?!

Esse era um absurdo que nenhum amigo meu havia dito.

Chegamos ao hospital e eu ainda estava carrancudo, o que parecia divertir Christofer.

Mas só por um tempo.

A enfermeira que cuidava de Summer nos conduzia até onde Summer estava, e a cada segundo parecia que o rosto de Christofer se fechava mais e mais.

Até que se fechou por completo.

– Vocês tem o tempo que quiserem, ok? Avisem à menina que estava lá dentro também.- a enfermeira avisou. Eu e Chris nos olhamos, curiosos.

Mas assim que entramos no quarto sorrimos fracamente para quem estava lá, sentada ao lado de Summer falando algo para ela.

Logo Laura notou a nossa presença e sorriu tristemente.

– Eu sabia que vocês viriam.- Laura falou.

Christofer foi até lá e lhe deu um beijo na testa. Logo pegou uma cadeira e se sentou ao lado de Laura, pegando na mão de Summer.

Eu continuei onde estava, olhando fixamente para o rosto de Summer. Seu corpo estava inerte na cama.

Mas ela não parecia estar em coma... parecia apenas estar dormindo calmamente, como se pudesse acordar a qualquer hora dessas.

E eu rezava para que “qualquer hora dessas” chegasse logo.

O que eu ainda não entendia é o que eu venho sentindo ultimamente... Toda a preocupação pelo estado de Summer, o medo dela não se recuperar, a ansiedade para ver Joshua pagar pelo o que fez... é tudo muito confuso. E eu nunca quis tantas coisas por alguém, nunca me importei tanto.

Minha mãe, claro, é exceção. Mas ela é minha mãe, afinal. Ela foi a única que esteve comigo quando ninguém mais quis estar. Ela foi a única que acreditou em mim quando ninguém mais acreditava. Minha mãe sempre foi a única na minha vida, mas aí me aparece...

Aí me aparece Summer, com seu sorriso fácil e todo o seu bom-humor. Mas toda aquela felicidade para esconder a dor por tudo o que passou por causa de um canalha.

Suspirei, andando até a janela que havia no quarto. O dia estava claro, não havia uma nuvem no céu.

Ouvi Christofer e Laura cochicharem algo, mas não me importei. Logo os cochichos pararam.

– Mark!- Christofer chamou. Virei-me para ele e vi Laura me olhando também, com a expressão séria.

– O que foi?- perguntei, estranhando a atitude dos dois.

Laura suspirou e desviou os olhos para Summer.

– Precisamos te contar mais uma... algumas coisas... sobre Summer.