Olho Azul Apresenta:
Distração Minha

Capítulo 3 - Sobre Meu Suicídio
 
  Resquícios daquele dia continuavam vivos nas minhas pálpebras. O monstro voltando do lago, absorvendo energia para o golpe que acertaria Tuxedo Mask e minha mente imaginando o que fazer. Pulara sem achar qualquer outra solução e apenas sentira meu estômago sendo empurrado enquanto minha cabeça tombara para frente antes de meu corpo cair. Em vez do impacto contra o chão do parque, um colo quente e macio, um alívio quase igual ao de uma banheira no final do dia.
 
  Não fazia sentido. Quando eu olhava para meu salvador, quem estava ali era Darien Chiba com o rosto zangado: "Você é uma inútil mesmo, quer salvar a Hitomi-chan, mas a deixa ser levada pelo youma!" Levei meu olhar até o lago e uma pessoa flutuava no lago, carregando Hitomi desmaiada nos braços e sumia. "Como alguém tão incompetente pode ser Sailor Moon? Por sua culpa, agora perdi a Hitomi!"
 
  O sol refletindo contra o lago parecia ir direto aos meus olhos, sentia a cabeça pesada e meu corpo caindo. Darien... Darien, me ajuda, acho que vou cair. Mas ele estava olhando a Hitomi, ela sim era sua namorada, era a ela quem Tuxedo Mask deveria proteger, em vez disso, perdera seu tempo comigo. Darien...
 
-Está acordada? - uma voz distante e distorcida parecia responder ao meu chamado.
-Hmmm, - não conseguia falar, sequer sabia o que falar além de sons ininteligíveis.
-Se já acordou, por que não abre os olhos, Serena? - a voz tomava mais corpo e causou-me um mal-estar.
-Darien? - perguntei, esforçando-me para obedecê-lo.
 
  Não conseguindo levantar minhas pálpebras, pois com um leve movimento, e uma luz forte queimava meu olho, tentei levantar o corpo pelo menos, saindo do caminho daquela luz. Uma dor pungente atingia-me a barriga como se fosse partir-me ao meio. Insisti no impulso; contudo, a mão forte de Darien deteve-me pelos ombros, forçando que me deitasse novamente.
 
  Virei minha cabeça para de onde seu braço parecia vir e forcei de novo que meus olhos abrissem. Tendo um pouco mais de sucesso, mantive-os no meio do caminho até que me acostumasse com a claridade de onde estava.
 
-Então, como se sente? – perguntou-me com um tom de escárnio na voz, o que me causou um leve embaraço ao me lembrar da cena no lago. Queria sair correndo dali, ainda não estava pronta sequer para enfrentá-lo por conta do dia em que falara mal de sua namorada, muito menos para agora que causei seu desaparecimento.
-Bem?
-Quebrou uma costela. Teve perfuração nos órgãos internos. – Ele parecia ler uma lista. – Sem contar com os machucados nos braços, pernas, cabeça, onde por sorte revelou-se não passar de leves ferimentos. Posso dizer para os médicos que o milagre em recuperação diz sentir-se “bem”?
-Estou tonta.
-Claro, apenas com uma leve tontura.
-Sinto muito.
-Só estou tentando ter certeza de que diz a verdade, Serena; de fato, é um milagre que esteja viva depois da tentativa de suicídio de semana passada. - O escárnio anterior sumira para algo mais sério, sua voz também diminuíra, apesar de parecer mais próxima. - Afinal, como se sente?
-Eu disse que sinto muito! - Meus olhos ardiam, eu forçava que parasse aquilo, mas sequer conseguia lacrimejar. - Eu não consegui, não consegui salvar a Hitomi, eu sinto muito... Eles a levaram, não foi?
-Ei, sabia que ficou desacordada por quase uma semana? Vamos deixar esses assuntos para depois. Antes, por favor, diga que está bem.
-Eu... acho que estou.
 
  Ouvi um suspiro como resposta. Na mesma hora, minhas lágrimas enfim surgiram, apesar de eu não as querer mais. Aquele silêncio...
 
-Não vai brigar mais comigo? - arrisquei perguntar, já que sua mudez me incomodava.
-Depois... Eu realmente queria te dar um tapa na cara por ser tão impulsiva. Digo, por que pulou na minha frente? Se ainda fosse para nos tirar do caminho do ataque... Sabia que minha resistência física é muito melhor que a sua? Fatos da vida: eu não ficaria desacordado por uma semana caso atingido, mas você... Serena, aquilo poderia ter de matado!
-Você? Quer dizer que não foi sonho, né?
-O quê?
 
  Levei minha mão à cabeça. Ela doía muito, ainda não acostumada com a luz e também por conta do quão rápido meu coração batia. Mesmo assim, pedi ao meu corpo que agüentasse mais um pouco, eu precisava saber; saber até que ponto as imagens que vira no meu sonho eram reais.
 
-Você... é o...
-Sim. - Interrompeu-me prontamente, fazendo movimentos de quem se assegurava de não estar sendo ouvido.
-Tem mais alguém aqui?
-A enfermeira parece estar vindo te ver...
-Eu vou trazer a Hitomi de volta, Darien. Eu juro.
-Da forma como está... Apenas, traga-se de volta. - Vi seu vulto se levantando da cadeira ao lado de minha cama. Estendi meu braço para segurá-lo, mas só agarrei o ar, aparentemente, não conseguindo enxergar sua posição exata. Todavia, continuei tentando.
 
 
  Darien parou de repente e passou a falar com outra pessoa. Não quis prestar atenção, toda minha energia estava concentrada em encontrar o foco e assim poder agarrá-lo. Enquanto eu pudesse ouvir sua voz, tinha certeza de que estava bem próximo, talvez se eu pudesse acertar sua mão seguindo sua voz...
 
  Apertei bem os olhos e os abri de novo. Por um breve momento, minha vista parecia normal. Estendi mais o braço, aparentemente, Darien estava mais longe que eu calculara, e fechei a mão. Mais uma vez, pegava o ar. Só que na ponta de meus dedos, um vestígio de calor garantia-me que chegava lá. Um pouco mais... Jogando meu corpo um pouco mais para a beira da cama, minha mão poderia segurá-lo.
 
-Assim vai cair.
 
  Sua voz assustou-me tanto que minha mão parou como uma estátua no meio do caminho.
 
-Estava me chamando? - perguntou-me, mais uma vez parecendo próximo.
-Não se preocupe, Tsukino-chan, - uma voz desconhecida intrometeu-se, - Seu namorado vai ficar logo ali fora esperando. Agora, preciso fazer uns rápidos exames contigo.
 
  Virei-me para a que deveria ser a enfermeira:
 
-Eu estou bem, amanhã vou estar nova em folha! - disse, forçando um sorriso, apesar de realmente saber ser verdade o que dizia.
-Considerando o número de tombos e trombadas que você já sofreu, seu corpo deve realmente se recuperar rápido... Será feito de um material extra-terrestre?
-Darien! Que malvado!
-Então, eu estou indo. Bom trabalho enfermeira.
 
  Ouvi a porta do quarto se fechar e senti uma espécie de nostalgia. Queria muito que Darien não tivesse ido... Ele nem me disse se estava com raiva do que eu causara a Hitomi.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Olhando a paisagem pela janela, só poderia distingui-la por brechas. O hospital era realmente imenso. Segundo minha mãe, não me aceitaram ficar em nenhum outro lugar mais simples, por isso tive que ser mandada para aquele hospital tão isolado nos arredores de Tóquio, quase que auto-suficiente. Ainda assim, Darien viera me visitar todo dia, desde que ele próprio recebera alta do outro hospital.
 
  Lembrando-me da conversa que tivera com minhas amigas, não pude impedir que algumas lágrimas caíssem pelo meu rosto. Estava resolvida em fazer de tudo para trazer a Hitomi de volta e consertar meu erro, não importava o que dissessem.
 
"Não tinha como você impedir aquilo, mesmo Darien o sabe, " dissera-me Rei, só que eu poderia ao menos ter tentado.
"E com isso vocês dois ficariam feridos gravemente, " interrompera Lita prontamente.
"Se está fazendo isso apenas por culpa, não terá os pensamentos claros o bastante para decidir corretamente, Serena." Ami fora a única a me fazer concordar. Não que isso mudasse minha resolução.
"Você sabe que é suicídio?" perguntara Rei em um tom bem distinto da calma anterior.
 
  Eu levara um tapa bastante sonoro no rosto logo após assentir, na esperança de ser acordada do que até eu sabia ser loucura, mas eu, definitivamente, iria até o fim.
 
"Darien não vai passar a te amar só por isso..." Ami falara-me com a voz falhando, como se tentasse desistir de dizê-lo a cada fonema.
 
  Apesar de ser uma vista bonita daquela janela, só em pensar no que estava prestes a acontecer, fazia-me ter raiva daquele tranqüilo dia de outono. Ouvi o barulho da porta se fechando e virei quase que inconscientemente. Já devia ter imaginado...
 
-Como se sente hoje? - perguntou Darien. Foi quando ele percebeu que minha cama estava vazia. Olhou ainda pelo quarto inteiro e saiu, provavelmente, para procurar alguma enfermeira. As rosas que me trouxeram restaram esquecidas sobre a cama.
 
  Soltei um suspiro e meus músculos se relaxaram por uns segundos antes de se lembrarem da situação em que me encontrava. Olhei para longe, a cidade aonde deveria chegar, e me levantei da janela. Por sorte pensara rápido o bastante para me deixar escorregar por ela e segurar-me com as mãos. Um vento frio soprava pela minha saia e meus pêlos se eriçaram por medo. Com algum esforço, sentei-me de volta na janela. Agora tinha que voltar a criar coragem para continuar com meu plano. Voltei-me para as rosa mal resistindo em pegá-las, mas em vez, pulei com toda as minhas forças até a árvore ao lado daquela janela contando com meus poderes como Sailor Moon para me segurar e depois descer por ela.
 
  Quando conseguir sentir o chão, quase caí sentada de tanto que minhas pernas tremiam. Nunca mais gostaria de fugir daquele jeito... Recuparado o fôlego, desfiz minha transformação a fim de não chamar muita atenção e fui até a estrada. Tinha apenas dinheiro o bastante para entrar na cidade, não fazendo idéia de aonde era exatamente o ponto de encontro.
 
"Se ainda quer ver de novo a garota, vá sozinha amanhã até Bar das Nove," dissera-me Zoicite. Bar? Das Nove? Desde a noite anterior vinha imaginando onde ficaria o ponto até que uma enfermeira contou-me mais ou menos da direção. Com esse problema resolvido, só me restava poder chegar lá e descobrir o que Zoicite queria de mim.
 
  As meninas achavam que eu só iria mesmo lá quando recebesse alta, mas eu já me sentia bem o bastante para andar e não poderia arriscar a vida da Hitomi por causa de burocracia ou por desrespeitar as instruções. Tinha que ir sozinha.
 
  Sentei-me no ponto de ônibus e olhei para a estrada vazia. Minhas mãos suavam frio e eu sequer me decidia se estava querendo que o ônibus viesse logo ou se preferia uma pequena pausa para descansar. Mais pessoas chegaram e logo pegaram seus ônibus. Porque eu estava distraída, acabei perdendo o meu, então só continuei ali a esperar. O barulho de eventuais carros e o vento que faziam de alguma forma tornaram-se música para meus pensamentos, que voavam até o tal bar. Até que ponto eu estava disposta a ir pela Hitomi? No fundo, eu nem queria reparar meu erro com ela, certo? E sim com o Darien... Uma ponta de culpa atingiu-me enquanto senti mais um veículo parar na minha frente.
 
-Não vai entrar?
 
  Ergui minha cabeça para encarar o carro do Darien e seu sorriso convencido, tão típico seu. Balancei negativamente.
 
-Vou ter que te puxar pelos cabelos? - perguntou-me, tirando o óculos de sol do rosto e abrindo a porta para ficar bem na frente de onde eu estava sentada.
-Foi coincidência você me achar aqui?
-Não. Quando notei que você tinha fugido, juntei todas as peças e decidi procurá-la pelos arredores. Foi sorte achá-la tão rápido, porém.
-Que peças? - Levantei-me e tentei afastar-me do ponto.
-Suas amigas me falaram hoje cedo sobre seu encontro com Zoicite.
 
  Não ouvi direito o que mais ele disse, algo sobre ter vindo aqui para me convencer do contrário e mal acreditou que eu fora sem nem ter recebido alta quando vira o quarto vazio. Comecei a correr o mais rápido que pudesse para o lado que não havia estrada. Minha barriga estava doendo pelo esforço ou talvez pelos ferimentos ainda em estado de convalescência. Não demorou muito para eu me sentir flutuando no ar e o chão duro arranhar minhas pernas. Minhas mãos firmes no chão, protegeram meu rosto do impacto, mas ardiam bastante.
 
-Acho que agora você vai me ouvir, né? - Darien agachou-se ao meu lado, franzindo a testa.
 
  Caída ali, ainda olhando para minhas mãos e vendo bem perto seus sapatos, assenti lentamente. Não era como se eu quisesse mesmo ficar perto dele. Não o queria no início da história e muito menos agora que tanto de ruim me havia acontecido.
 
-Voltemos ao hospital, então. Se não o quiser, te levo a algum lugar legal. Mas não vai ver o Zoicite hoje, entendeu? Não gostaria que o fizesse mesmo que já se houvesse recuparado, mas nessa sua situação seria como se estivesse pronta para o abate, sua idiota. - A intensidade com que carregava cada sílaba assustou-me um pouco.
 
  Forcei meu corpo a se levantar e aos poucos estava de volta. Darien também fez o mesmo e sorriu-me:
 
-E então? Para onde quer ir?
-Salvar a Hitomi-san.
-Por quê? Por que fazê-lo quando é certo que não o conseguirá?
-Pelo menos quero tentar. Darien... Ela é sua pessoa importante e, por falha minha, isso aconteceu!
-Não foi falha sua e a Hitomi não tem nada a ver contigo. - Ele estava visivelmente contrariado ao se afastar cada vez mais de mim enquanto falava.
 
  Não sabia como responder àquilo. Eu gostava tanto do Darien que era difícil não ver minha relação com a Hitomi, mas dar-lhe tal motivo seria dizer algo absurdo demais a seus ouvidos. Por que eu teria interesse em ajudar minha rival amorosa? Para qualquer um além de mim, realmente, eu e Hitomi éramos mundos separados.
 
  Darien, que havia virado as costas para mim, não parava de se mexer, como se estivesse se debatendo quanto a como proceder. Enfim, voltou-se resoluto para mim, com os olhos tão azuis, mas ao mesmo tempo parecendo em chamas:
 
-Está certo. Eu te levo até o lugar e entramos juntos.
-Não. Eles vão fazer alguma maldade com a Hitom-
-Pensaremos melhor quando chegarmos. Entra logo no carro. - Indo até o veículo, abriu-me a porta e apontou para o banco do carona. - É só dizer o nome do ponto de encontro.
 
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  Chegamos ambos ao tal Bar das Nove. Um lugar normal, realmente parecia um bar. Exceto que estava fechado. Darien conseguiu abrir a porta sem problemas, de fato, eu era esperada ali. Atrás da porta estava uma ampla sala cheia de mesas e cadeiras. Corri até o interruptor primeiro que vi para acendê-lo. Assim que a porta atrás da gente se fechou, ali teria ficado escuro se a luz não houvesse funcionado. Suspirei aliviada. Odiava escuro!
 
-Por que está tão feliz, Sailor Moon!? - Darien, já trajando as roupas de Tuxedo Mask, perguntou-me, - Estamos trancados aqui.
 
  Realmente, por mais que eu tentasse, a porta não se abria. Era uma armadilha. Okay, essa era óbvia, nem sei se podia ser chamada de armadilha, mas era muito ruim ficar presa assim dentro de um bar vazio. Parecia até um daqueles filme de faroeste com cidade fantasma. Fantasma?! Será que tinha algum ali? Por favor, não. Acabara de sair de um hospital, meu coração não suportaria um susto daqueles.
 
  Olhei atrás do balcão e nada. Nem debaixo das mesas. Nem no pequeno palco. O lugar estava limpo, nem copos tinha. Pensando bem, eu queria ir ao banheiro... Andei discretamente em direção à placa do WC e, quando estava prestes a entrar, ouvi um barulho assustador vindo do salão principal.
 
-Um fantasma!? - gritei, correndo de volta para me esconder atrás de Tuxedo Mask, - Me protege, por favor! Sei que preferia me ver morta, mas não por um fantasma, né?!
-Sailor Moon, do que está falando? Pare de puxar minha capa. - Darien voltou o rosto para o palco, de onde o som assustador viera. - Hitomi...
 
  Pendurada desde o teto pelos braços e cintura, Hitomi parecia desacordada e muito pálida. Estaria viva? Tremi com o pensamento. Pelo menos, estava bem ali. Pulei em sua direção, mas fui segurada por Darien.
 
-Não é tão fácil assim, - disse-me, apontando para algo mais perto do corpo inerte da jovem.
 
  Zoicite estava cercado de pétalas de flores e ria de maneira irritante. Ô carinha para me irritar! Quis de novo pular naquela direção, agora para dar um tapa naquele sujeitinho, mas o aperto de Darien no meu ombro era forte demais:
 
-Ele é meu. - O rapaz deu um passo à frente e mostrou uma rosa para o inimigo, atirando-a em direção ao seu rosto.
 
  Não fora difícil desviar para o demônio, que apenas riu mais, dizendo estar muito mais satisfeita que eu viera acompanhada, apesar de sua advertência. Então, com um rápido movimento de mãos, jogou-nos mais farpas afiadas, das quais desviamos com muito custo. Meu corpo ainda não estava completamente recuperado, razão pela qual eu ficara esbaforida ao fim daquele exercício, que era só o aquecimento.
 
  Darien puxou-me pelo pulso e me empurrou para debaixo de uma mesa quando Zoicite lançou mais uma nuvem de farpas afiadas. Ele próprio pulou contra elas, destruindo algumas até alcançar sua origem. Começaram os dois em um combate corpo a corpo tão rente que eu não podia lançar minha tiara. Por isso, optei por atirá-la na corrente que prendia Hitomi.
 
  Dera sorte e conseguira partir de primeira. No entanto, pusera no golpe toda a minha força, que já não era tanta quanto supunha ao fugir do hospital. Corri até a moça, gritando que acordasse, enquanto Darien tentava dar cobertura contra Zoicite, que insistia em jogar contra mim alguns ataques.
 
  Ao sentir alguns movimentos de Hitomi, gritei extasiada para o outro: "Ela está bem! Ela está viva! Eu não a matei..." Todavia, ao erguer minha cabeça, vi uma cena terrível. Zoicite havia conseguido fazer com que um pedaço quebrado das mesas do bar atigissem Tuxedo Mask bem pelas costas. Ele caíra com um grito abafado.
 
-Darien! - Senti-me dividida entre continuar perto de Hitomi para protegê-la, ou ir até ele. Mais uma vez a cena do algo se repetia, em que por minha culpa, ela havia sido levada por Zoicite.
 
  Então, uma solução iluminou minha mente. Levantei-me sem dar nenhum passo para longe de Hitomi e gritei por Zoicite. Era a mim que ele havia chamado ali.
 
-Pois, diga! - continuei sem nem mais sentir o cansaço de antes, - O que queria comigo!?
 
  O inimigo me olhou com seus olhos frios e gargalhou novamente com aquela voz irritante, pior até que a da Hitomi. Eu conseguira. Tinha sua atenção para mim. Aos poucos, fui andando para outra direção, a do banheiro. Continuei provocando-o. Que o venceria, se tivéssemos um confronto justo, um a um. Blefe, eu não tinha tantas forças assim. Então, o que é que você queria, perguntei novamente, tentando forçar ainda mais minha voz. Não era difícil, tamanha minha raiva atual focada naquela pessoa.
 
-Quero o seu broche, Sailor Moon, - respondera, por fim. Não tirava seus olhos de mim, pronto para algum golpe sujo, no mínimo.
-O que fará com ele?
-Bem, o que importa é o que você não fará, não é? É assim que você ganha poderes, não é?
 
  Ele estava certo. Se eu tirasse o broche, talvez, até desmaiasse de exaustão. Andei mais um pouco e apontei para ele:
 
-Venha pegar, então!
 
  Corri o mais rápido que pude até o banheiro. Assim que ele entrou atrás de mim, tranquei a porta e apontei para a janela. Como imaginava, ali havia uma saída para o lado de fora. Sorri para o outro e pulei contra o vidro, caindo com o braço do chão e sentindo alguns cacos entrarem na minha pele. Mas, pelo menos, estávamos livres do bar. Darien e Hitomi ficariam a salvo. Leavantei-me e voltei a correr, apenas rápido o bastante para ser seguida.
 
  Mas eu tropecei.
 
  De cara no chão.
 
  Conseguia ouvir ainda a risada irritante daquele sujeito, enquanto punha sua boa imunda nas minhas costas:
 
-Peguei. - E jogou todo o peso de seu corpo ali.
 
  Agachou-se ao meu lado e me virou puxando meus cabelos sem qualquer piedade. Enquanto soltava um muxoxo, levou a mão no meu broche e o tirou com tamanha facilidade que eu não tive reação. Era aquilo? Zoicite vencera?
 
  Olhei para o lado antes de perder as forças. Meu braço doía. Minhas pernas. Minhas costas. Minha cabeça... Mas, pelo menos, Darien poderia proteger Hitomi agora, levá-la para bem longe daquele monstro e ser feliz com ela, em vez de gastar seu tempo com uma guerreira burra e suicida como eu. Queria tanto chorar e abrir o berreiro de como era injusto que avaca tivesse conseguido uma aventura romântica tão linda enquanto eu ficara com o sujeito mais irritante da história, rindo nos meus ouvidos e gritando e...
 
  Um zunido?
 
  Aquele cheiro era... Sim! A rosa de Tuxedo Mask acabara de aterrisar bem ao meu lado, atingido Zoicite bem na mão com que segurava meu broche. Em um último esforço, puxei a jóia para mim e gritei as palavras de transformação o mais alto que pude. Senti a energia da Sailor Moon entrar em mim mais forte que nunca.
 
-Use o cetro, Sailor Moon! - Tuxedo Mask gritou.
 
  Assenti obedecendo ao comando. Mas era tarde demais. Zoicite escapara, por sorte, sem o meu broche. Caí de joelho no chão. Exausta, e sangrando por causa dos cacos de vidro sobre os quais entraram ao quebrar a janela do banheiro. Minha vista estava turva, e desta vez realmente desmaiaria.
 
  Senti algo quente me segurando. Aquele cheiro era tão bom... Um perfurme de rosas.
 
-Serena, você está bem? Vou levá-la de volta para o hospital. Apenas fique comigo. - Darien havia se transformado de volta e me sacudia para manter-me acordada.
-E a Hitomi?
-Uma de suas amigas, a Sailor Jupiter, chegou. Vai levá-la para uma emergência assim que chamar as outras. Pelo menos, já não me parece necessário...
-Não prefere você mesmo levá-la? Eu já estou a salvo.
-Ela vai ficar bem. E... eu não queria mais sair do seu lado, Serena... Não depois desse pesadelo todo. Houve horas em que achei que nunca mais poderia falar contigo! E aí, sempre que te via não era a melhor hora, porque a Hitomi ainda estava desaparecida. Então, Serena, por favor... Deixe-me ficar aqui contigo, pelo menos. - E apertou-me contra seu corpo.
 
  Bem, eu acho que desmaiei logo em seguida, porque depois disso vi uns ursinhos cor de rosa nadando naquele lago, que também era cor de rosa! E o sol estava da cor de uma goiaba... E o Darien me aparecia com um buquê de flores dizendo que era um presente pelo nosso casamento e pelo bebê que eu esperava.
 
  É, devo ter desmaiado. Eu não estava grávida...
 
  Mas era verdade aquilo que o Darien tinha me dito antes, né? Tinha que ser, parecia tão real... E também irreal. Oh, não agüentava mais sonhos... Queria saber logo a verdade!
 
Continuará...

Anita