POV Nico
Assim que Percy foi dar sua aula, resolvi passear um pouco. Mesmo estando mais sociável, eu ainda prefiria viver sozinho as vezes.
Embainhei Stygian e andei até os bosques. Segui a margem do rio por alguns quilômetros, até que desisti de encontrar algo interessante para fazer e sentei na raiz de uma árvore. Tirei o tênis e mergulhei meus pés na água, me apoiando no tronco e fechando os olhos.
Passados alguns minutos, escutei um galho sendo quebrado. Automaticamente abri os olhos e fiquei em alerta, pegando minha espada e levantando rapidamente em direção ao som.
Estava pronto para atacar, mas relaxei quando vi um par de olhos azuis me encarando. Ótimo, pensei.
A única pessoa que eu não queria ali era Thalia.
Não que eu não gostasse dela. Ela é legal, mas muito complexa.
- Ah, é só você – Falei, guardando minha arma e sentando novamente onde estava – Por que não me deixa em paz?
Pude escutar ela bufando, e eu tinha quase certeza de que ela revirara os olhos. Thalia sentou do meu lado, mas não colocou os pés na água. Ela cruzou as pernas, de forma que seus joelhos encostavam em minha perna. Não era desconfortável.
- Eu não vim por sua causa, Di Ângelo – Ela parou, para se apoiar com os braços no chão – Na verdade, eu nem sabia que você estava aqui.
Ok, agora ela tinha me confundido.
- Hã? – Murmurei.
- Ah! – Thalia disse, jogando a cabeça para trás – Eu sempre vou para a floresta quando está quente, por que aqui tem bastante sombra e é fresco.
Eu bufei.
- Sabe, o bosque é bem grande. Por que você veio sentar exatamente aqui? – Falei, apontando para onde eu estava e me virando para ela.
Não pude deixar de notar como seus olhos eram realmente azuis. Eles brilhavam ainda mais com o rio refletindo neles.
Ela se recolheu um pouco, mas depois se recompôs e ficou um pouco braba.
- Minha presença te encomoda tanto assim, Di Ângelo? – Ela cuspiu as palavras, olhando diretamente para mim.
Rolei os olhos e suspirei.
- Primeiro: Gostaria que parasse de me chamar assim. Segundo: Não, ela não me encomoda.
Me apoiei na terra também, deixando nossas mãos perigosamente perto.
Ela ergueu as sobrancelhas, claramente confusa.
- Então por qu...
- O problema é que eu não te entendo! Uma hora você me odeia, na outra é minha amiga – A interrompi, e ela desviou o olhar para um pássaro.
- Olhe aqui, Thalia – Eu disse, tentando puxar seu maxilar com a ponta dos dedos.
Ela cedeu, virando o rosto e olhando fundo em meus olhos. Hesitei um pouco, mas continuei a falar:
- Não sei o que passa em sua cabeça, mas eu realmente estou ficando confus. – Peguei em sua mão – Por favor, decida seus sentimentos em relação a mim.
Ela assentiu, e nós ficamos em silêncio. Não me preocupei em soltar sua mão, e ela nem pareceu ter percebido.
Cada um com seu pensamento, nós permanecemos ali por vários minutos. Suspirei e ela finalmente se soltou, levantando.
Ignorei a falta que seus dedos faziam nos meus.
- Obrigado – Falei.
- Pelo quê? – Thalia disse, limpando a sujeira que estava em sua calça.
- Por ter decidido.
Ela parou o que estava fazendo para olhar para mim.
- Denada.
Ela sorriu e desapareceu por dentre as árvores.
Como se não bastasse ter sido deixado sozinho, ela estava me deixando sem nenhuma explicação. Gritei algo por cima do ombro, mas a filha de Zeus estava muito longe.
Bufei e voltei a sentar na posição que estava antes. Ergui a cabeça para cima e fechei os olhos, só aproveitando a sensação da água nos meus pés.
Suspirei, inalando o máximo de ar puro de pude.
Precisava deixar minha cabeça totalmente limpa. Já não bastava toda essa confusão de sentimentos, eu agora estava totalmente confuso.
Por quê eu não podia ser um semi-deus como Robert Sundai ou Josh Wynd? Um tipo de pessoa que nunca vai se apai... Bem, nunca vai querer só uma garota?
Não que eu me sentisse dessa maneira por Thalia, mas ela estava me deixando louco.
Desde que chegou no Acampamento, não paramos de nos encontrar. Sempre tendo conversas profundas.
Quero dizer, eu me sentia bem perto dela, mas eu não podia fazer mais nada. Além do mais ela é uma caçadora. Nem se eu tentasse muito, eu teria ela.
Revirei os olhos com meus pensamentos.
Que tipo de idiota eu era? Por Hades.
Levantei, coloquei os sapatos e fui em direção ao pavilhão, onde seria servido a janta.
Como fazia realmente muito tempo em que eu não usava meus poderes, decidi viajar pelas sombras. Sabe como é, para não perder a prática.
Mas o problema era que eu tinha perdido a prática, o que me fez parar em cima da mesa das filhas de Afrodite, ao invez de cair no banco da mesa de Hades.
Dei passos relutantes, enquanto me esforçava para não dar de cara nos pratos de comida.
As meninas deram gritinhos de felicidade e subiram na mesa também, alegando que a festa tinha começado. Elas passavam a mão em mim e tentavam me beijar, enquanto o resto dos campistas subiam em seus mesas também.
Afastei as garotas, e fui em direção a mesa em que tinha a comida.
Ofereci um pedaço de bife para meu pai na fogueira e fui me sentar.
Nesse meio tempo Quíron tinha chego, acabando com a alegria do pessoal e do Senhor D.
Revirei os olhos. As pessoas eram tão ridiculas.Todos murmuraram em desgosto e sentaram.
Observei Thalia na mesa de Zeus, me perguntando o por quê de minha vontade repentina de ir até lá.
A verdade era que agora todos podiam sentar em mesas diferentes, mas raramente alguém o fazia. Era como se, mesmo não sendo proibido, era errado.
Com certeza todos me julgariam se eu trocasse de mesa, mas... Eu realmente não ligava. Então peguei meu prato e minha Coca-Cola e andei devagar em direção a Thalia.
Ela me olhou por cima do ombro. E assim que percebeu o que eu estava fazendo, arregalou os olhos.
Mas se recompôs e sorriu um pouco para mim, vendo que todos nos encaravam.
Eu podia escutar as pessoas cochichando e rindo. Pude observar que a fogueira estava oscilando entre preto e laranja. (Cores que significam rejeição e curiosidade)
Eu devolvi o sorisso para Thalia e sentei-me em sua frente.
- Hã... – Ela começou a falar, erguendo uma sobrancelha – Como eu poderia ajudá-lo?
Ri, levando um pouco de macarrão a boca.
- Eu só pensei que... Sei lá  – Dei de ombros – Eu estava sozinho, você também... Quero dizer, que mal há em dois amigos jantarem juntos? – Falei, erguendo a voz na última parte.
Thalia assentiu, rindo. Pelo jeito ela gostava de quebrar regras também.
Quíron chamou a atenção de todos, mandando-os pararem de olhar e voltarem a jantar. Afinal, nós não estávamos fazendo nada de errado.
Suspirei, me preparando para falar.
- Na verdade – Começei, forçando um sorriso – Eu vim aqui para perguntar o que você decidiu. Sabe, sobre os seus sentimentos...
Ela ergueu os olhos e se apoiou na mesa.
- Meus sentimentos por você, sempre foram e sempre serão de amizade – Ela bufou – Quero dizer, que tipo de sentimento você acha que eu tenho?
- Nenhum – Falei, desviando o olhar.
Ela esticou o braço direito e tocou os dedos na parte superior de minha mão. Tentei, sem sucesso, ignorar o choque que passou por minha espinha.
Ela abriu a boca lentamente, pronunciando as palavras de forma que só eu escutasse:
- Ei, tudo bem – Thalia suspirou – Adimito que você é realmente bonito, e muito legal, mas eu sou uma caçadora. Nunca vou me apaixonar, e se isso acontecer, eu serei expulsa da caçada. E bem, eu não quero isso.
Assenti, me levantando da mesa furiosamente, cortando nosso toque. Vi de relance sua expressão de tristeza, mas ignorei.
Todos os campistas viraram o rosto para mim enquanto eu andava rapidamente em direção ao meu chalé. Mas desisti de andar depois de dar alguns passos, desaparecendo nas sombras e caindo direto na porta da cabana de Hades.
Entrei e me joguei na cama, pegando meu iPod e escutando no máximo até dormir.