Emoticontos escrita por Palas


Capítulo 1
Uma História Infantil




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A professora na sala, professora dando aula de português. Estava ensinando quando se deve usar “c”, “s”, “sc” e “ss” – é um saco, não é? – enquanto se esforçava para ser o mais chataacadêmica chata possível, ou seja, escrevendo na lousa para os alunos copiarem – é um saco, não é?

A garotada ia ao delírio aprendendo a escrever palavras que já conheciam (não), mas, de algumas, ninguém tinha ouvido falar. “Patrocínio”, por exemplo.

“Próxima palavra, pessoal: patrocínio. Alguém sabe como se escreve?”

Ninguém.

“Tudo bem, gente. É com ‘c’. P-a-t-r-o-c-i-n-i-o-risquinho no primeiro ‘i’. Vou escrever na lousa.”

“Professora...” – disse um menininho franzino que sentava na frente – “e o que isso aí significa?”

Ela olhou e olhou para cada um que fazia cara de quem também não sabia. Então ela perguntou:

“Olha a dúvida do coleguinha, que legal. Alguém sabe dizer para ele o que é ‘patrocínio’?”

Ninguém.

“Ninguém?”

Ninguém.

“Então...” – a professora parecia desapontada. – “A lição de casa de hoje para semana que vem é me trazerem o significado dessa palavra, tudo bem?”

Um tempo depois, três amigos saíram da escola e tinham o resto da tarde livre para brincar. Moravam perto da escola e de muitos outros lugares, então não tinha problema em saírem juntos. Conheça Rúiter, Derbona e Nesley.

Então Rúiter, o mais loiro e de cabelo espetado, sugeriu que fossem fazer algo legal antes de irem pra casa fazerem a lição de casa. Depois mentiriam cinicamente para as respectivas mães, dizendo que tinham almoçado na escola e, por Deus, como eles se arrependiam de não ter comido a comida da mamãe naquele dia. Os dois amigos concordaram e tinha uma loja de jogos eletrônicos ali perto, daquelas em que você ganha tíquetes para trocar por brinquedos ou doces. Ninguém ganha nunca nada realmente legal nessas lojas.

De qualquer jeito, tinha um jogo que era a especialidade de Rúiter e a esperança do trio para que um dia ganhassem uma bicicleta ou algo assim. Ficava logo na porta e, para surpresa de Derbona e Nesley, naquele dia ele lançou um desafio:

“Duvidam que eu zero esse jogo com menos de 3 fichas?”

E os dois ficaram sem resposta, primeiro porque era absurdo tentar zerar aquele jogo usando menos de 5 fichas só no último chefão, mesmo para um viciadoprofissional viciado como ele.

“E então?” – Rúiter tentou de novo – “Duvidam? É só me darem as fichas que eu mostro.”

Indignados, curiosos e perplexos, Derbona e Nesley duvidavam e, por isso, compraram uma ficha cada um e deram ao desafiador, que começou a jogar com muita habilidade e destreza pelas fases, matando monstros com as próprias mãos.

Foram-se as primeiras três vidas e ele precisou da segunda ficha. A expectativa era tão grande que de vez em quando atraía algum curioso na rua que olhava, balançava a cabeça e ia embora.

Tudo parecia realmente perdido quando Rúiter resolveu usar sua arma secreta: um código que havia aprendido uns dias antes em uma revista e que deixava ele invencível pelo resto da fase! Quando viram o que tinha acontecido, Derbona e Nesley abaixaram a cabeça e aceitaram a superioridade, apesar de acharem aquilo injusto.

“Viram? Viram? E vocês ainda duvidavam. Mas e aí?” – e olhou para o Derbona – “Você falou que ia comprar aquele jogo novo de videogame, não era?”

“É, chegou ontem.” – ele disse secamente.

“E eu te falei que era do meu personagem mais que favorito de videogames e que eu ia querer jogar.”

“É, você falou.”

“Duvidam que eu zero ele de uma vez só, sem dar Game Over nenhuma vez?”

Derbona e Nesley falaram em coro:

“Ã-hã.”

“Ué, mas por quê? Não viram que eu acabei de ganhar aqui?”

“É, mas não vale. Você usou código.”

“E o que tem?”

“E o que tem que não vale.”

“Claro que vale. Senão não teriam colocado aí.” – Rúiter disse, indignado, mostrando também um bolo de papel que ele tinha acabado de destacar da máquina. – “Olha só, nós ganhamos muitos tíquetes e podemos comprar um pirulito pra cada um só com o que ganhamos hoje.”

Derbona e Nesley ficaram muito impressionados. Ficaram impressionados porque era verdade. Aquilo era um tapa na cara da sociedade e eles estavam gostando. Por isso, Derbona acabou por dizer que receberia os amigos alegremente em casa para verem Rúiter jogar. E a mãe do Derbona faria muitos cachorros-quentes para todos.

Bem, Rúiter colocou o jogo no videogame e ficou olhando a tela de título com ar de muita confiança (só que acabou acontecendo da mãe do Derbona não estar em casa, o que obrigou alguém a fazer os cachorros-quentes e esse alguém foi o Nesley). Passou das primeiras fases com muita confiança também e o primeiro chefão foi batido sem dificuldade nenhuma. Quando a comida chegou, Rúiter achou legal mostrar sua habilidade em jogar com uma mão e comer com a outra sem tirar o pirulito da boca, sujando de mostarda e maionese todo o controle do amigo e o tapete também.

Coisa de menino.

Aí a complicação começou porque jogar assim era impossível, mesmo para um viciadoprofissional viciado como Rúiter. Então a primeira vida se foi com um susto que fez o garoto derrubar seu cachorro-quente, despertando toda a raiva que Derbona tinha no coração – e ele gritou e gritou com Rúiter dizendo “minha mãe vai ficar brava” e ele, enquanto discutia, acabou morrendo de novo. Ele urrou de ódio e falou para os dois calarem a boca que senão ele ia pegar o ketchup da cozinha e colocar no cabelo dos dois.

Mas, como estava nervoso e apreensivo, acabou morrendo pela terceira vez e não conseguiu cumprir com sua promessa. Instantaneamente, o Derbona ficou louco da vida e quis bater no Rúiter.

“Calma, calma, calma aí.” – o garoto loiro e magro disse – “Eu não estava jogando pra ganhar de verdade. Eu juro.”

Derbona cruzou os braços.

“Ah, é, é?”

“É. Vocês deviam é me agradecer. Acabei de fazer a lição de casa de vocês.”

“Como assim?” – perguntou Nesley, que estava meio quieto e acuado.

“Vocês lembram que a professora falou que a gente tinha que pesquisar o significado de ‘Patrocínio’?”

Derbona e Nesley falaram de novo em coro:

“Ã-hã.”

“Então.” – Rúiter disse, triunfante – “o que vocês fizeram a tarde inteira hoje foi me patrocinar. Isso é patrocínio esportivo!”

-

Não se sabe exatamente a influência desse episódio na personalidade dos dois, mas o que se sabe é que ambos foram presos em algum ponto da vida porque todos os atletas que suas respectivas empresas patrocinavam foram pegos no exame anti-doping.


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