Os dias passaram-se mais rápidos do que qualquer um pudesse imaginar em suas pequenas cabeças-ocas que só pensavam em brincadeiras idiotas para fazer com os professores e que os levasse direto para detenção, ou naquelas cabeças que concentravam-se em seus livros e estudavam arduamente para não serem mais um dos sem-cérebros da Summerside. E existia o grupo de amigos de Gabrielle, que se empenhava em estudar, mas não deixava de aprontar com nenhum aluno.

As aulas de química pareciam ser sempre o alvo perfeito para aprontar algo. Como por exemplo, deixar todos com a pele verde ou explodir as janelas. Mas, de qualquer forma, Gabrielle preferia fazer as pessoas sofrerem com os narizes ardendo por alguma mistura idiota que ela fizesse misturando líquidos de cores diferentes – que ela nem se quer sabia o nome. Era realmente muita sorte de Gabrielle passar naquela matéria sempre com boas notas, pois, ela não sabia nada sobre a matéria.

Mesmo com a euforia de começo de ano, da animação em ser uma bagunceira por mais um ano, Gabrielle ainda apreciava a serenidade. Era por esse motivo que, nas horas vagas, ela ficasse sentada ao lado de uma árvore, com os fones em seus ouvidos, lendo algo da biblioteca que tivesse lhe despertado interesse, como algum livro sobre mistérios.

Mistérios. Talvez por ela for uma pessoa tão misteriosa quanto os personagens dos livros que ela lia. Ou até mais. Ninguém sabia de seus segredos mais... Perturbadores. Seu coração batia acelerado só de pensar em todos da escola sabendo o que aconteceu. O que aconteceu na maldita escada em espiral – aquela que vagava por seus pesadelos não deixando-a dormir nas noites mais sombrias, deixando-a chorando até o amanhecer, onde lembrava-se daqueles olhos azul-elétrico...

Ela afastava esses pensamentos sempre. Ela choraria, então, e todos os alunos a perguntariam o porquê. E ela, aterrorizada, não conseguiria dizer uma só palavra.

Ela lembrava-se de um livro que lera, um livro repleto de ficção. Onde uma das personagens tinha o dom de curar as pessoas e criar ondas de fogo. Só que o fogo tinha uma cor peculiar, uma cor diferente. Não era aquela mistura de laranja... O fogo era inteiramente azul, e crepitava muito mais que o fogo comum, aquele que nos queima. Diferente do fogo normal, aquela coisa era capaz de te destruir em segundos sem se quer tocar em você. Ela achava aquela personagem um máximo – e queria ser que nem ela.
Por uma parte ela já se parecia. Cabelos ruivos, agressiva... O que faltava eram aqueles olhos verde-água que a personagem tinha. Ela lembrava-se bem de quando lera a descrição da personagem... “E, é claro, a mais nova ruiva de olhos verde-água. Com suas chamas azuis consumindo as folhas secas que haviam caído das árvores. Ela mantinha uma expressão feroz no olhar, como se fosse matar todas as pessoas do universo por vingança.”

Aquela personagem a prendera. Talvez se ela não existisse, ela não teria lido o tal livro. Ela teria o abandonado na biblioteca e o achado totalmente desinteressante ao ponto de nem comentar sobre ele com ninguém. No entanto, aquela garota ruiva era a chama do livro. Era ela que dava a graça ao livro.

Ela foi retirada de seus devaneios por Annabelle chegando devagar atrás dela e dando-lhe um susto e logo enchendo-a de cutucões.
— Tenho um lugar para te mostrar. – A garota sussurrou logo após Gabrielle parar de rir. Seus cabelos escuros estavam presos num rabo-de-cavalo alto. Gabrielle assentiu e, do nada, Annabelle saiu correndo. Gabrielle levantou-se e seguiu a amiga que seguia a toda velocidade a sua frente.