– Foi um dia ótimo esse, não foi? - Fala Gabrielle, sonolenta.

– Perfeito. - Diz Lucas, acariciando a namorada até dormir.

– ACORDEM CASAL! ESTAMOS SENDO ATACADOS! - Gritou Charlotte, depois saiu correndo.

Ótimo, Gabrielle acordou como uma retardada gritando. Eles estavam sendo mesmo atacados? Ela não sabia, ela recém tinha acordado. Sério, ela tinha direito de ser lerda quando é acordada as pressas. Todo mundo tem.

Lucas saiu rapidamente dos braços de Gabrielle ("ei, eu estava quentinha!", ela pensou.), o mais delicadamente possível. A segunda coisa que fez foi sair da barraca e desaparecer. Gabs pegou a faca que guardava na mochila - vocês realmente acham que ela ia sair pra acampar desamparada? - e foi ver o que estava acontecendo. Se era brincadeira ou não, alguém ia sair machucado.

Infelizmente, não era uma brincadeira. Eles estavam sendo atacados por outro grupo de alunos. Era parte da "brincadeira" que a escola tinha organizado. Sem graça, de fato.

Annabelle defendia á pontapés os seus marshmallows, mas não estava dando muito certo. Os suprimentos estavam sendo defendidos pelos garotos e Charlotte distraia o resto do grupo correndo adoidada - e ela era muito rápida, felizmente.

Uma notícia boa: ninguém poderia ser ferido gravemente.

Uma notícia ruim: a comida deles estava sendo roubada.

Automaticamente, depois de processar todas as informações na sua cabeça, Gabs foi ajudar os garotos, mas era tarde demais. Mesmo eles defendendo e empurrando os garotos que tentavam roubar pela frente, duas garotas roubaram salgadinhos e bolinhos das mochilas por trás. Eles, obviamente, tinham planejado tudo.

Vendo uma das garotas - que ela achava que sabia quem era - roubando um dos SEUS biscoitos, o sangue de Gabrielle subiu e ela atacou a garota, lhe fazendo um corte no braço, mesmo assim leve, e arrancando o biscoito das suas mãos. A garota, naturalmente, saiu correndo, com a amiga em seu encalço. As duas com os braços cheios de guloseimas.

– Vacas! Voltem aqui! - Gabs tentou sair correndo, mas viu que não faria sentido. Voltou correndo e juntou-se aos amigos. - Droga! Eles roubaram muitas coisas? - Perguntou, ainda correndo e arfando.

– Muito dos nossos suprimentos. - Disse Charlotte verificando uma das mochilas com comida que tinham sido deixadas for das barracas.

– Tipo, suprimento de dois dias. - Completou James, desperançoso.

– Bom, eu tenho um pacote de biscoito. - Disse Gabs, com um sorriso um tanto murcho nos lábios.

– É, eu também tenho uma ou duas coisinhas na minha mochila, dentro da barraca... Mas não vai durar dois dias. - Fala Annabelle, tirando folhas do cabelo.

– O que aconteceu com você? - Perguntou Gabrielle, sendo envolvida pelo abraço do namorado por trás.

– Bom, eu estava defendendo meus marshmallows e não percebi que as meninas estavam me empurrando para um arbusto e... Você já concluiu o que aconteceu certo? - Todos riram da desventura da garota.

– Não é o fim do mundo certo? - Começou Lucas. - Que tal... A gente caçar?

– Lucas, não estamos num jogo de sobrevivência. - Fala Charlotte olhando sua mochila.

– Bom, na verdade estamos. E... Eu acho uma boa ideia. - Diz Gabs.

– Concordo, mas alguém, que não seja Mark, cuidando do resto dos nossos suprimentos. - James é quem fala, provocando o amigo.

– Ei! Não foi culpa minha ok? - Defende-se Mark.

– É claro que não, vamos à caça.

Eles souberam se virar bem.

Deixando James no "acampamento" deles, partiram Charlotte, Annabelle, Mark, Lucas e Gabs para um riacho com meia hora de caminhada adiante. Vocês devem estar pensando: Não tinha uma enorme cachoeira perto do acampamento deles? Claro que tinha, porém não havia peixes lá, então o grupo decidiu ir mais longe, num rio que eles avistaram quando procuravam um lugar para montar as barracas.

Levaram suas mochilas com garrafas d’água, dois pacotes de biscoitos - eles tinham que racionar - e dois colchonetes. Não se sabia o que poderia acontecer, claro.

Mark tinha levado uma vara de pescar, que no começo todos acharam uma besteira, mas agora, numa situação de escassez de comida, foi essencial.

Chegaram ao rio cansados e ofegantes.

– Decididamente, o-d-e-i-o caminhar. - Exclamou Charlotte, sentando num toco de árvore apodrecido.

– Então prefere sentar em cima de um toco cheio de formigas? - Falou Annabelle, olhando para o tronco e vendo as formigas irem e virem do tronco, com suas respectivas comidas - ou, como eu prefiro dizer, pedaços de folhas.

– AAAAAAH! - Gritou Charlotte, levantando rapidamente do tronco e limpando o bumbum. Todos riram dela, naturalmente. - Bando de engraçadinhos. Então, como pretendem começar a "caça"? Ai, estou me sentindo nos "Jogos Vorazes". Bom, só falta um de vocês tentando me matar...

– Nós poderíamos ser aliados, então, não tentamos nos matar. - Annabelle entrou na brincadeira.

– Chega de brincadeira. Que tal vocês meninas procurarem frutas em arbustos e árvores enquanto eu e Lucas tentamos aprender a usar isso?

– O.k... Mas, Mark, como você traz uma vara de pescar sem saber usa-la?

– Gabrielle diz saber. - O garoto sequer respondeu, estava distraído tentando descobrir como colocar o anzol. Charlotte fez um movimento com a mão, de desprezo, e se embrenhou na floresta, com as amigas no encalço.

Elas andaram uns cinco minutos pela floresta até avistarem uma árvore com frutas enormes e que não tinham aparência suspeita.

– Elas parecem inofensivas. - Disse Annabelle.

– Lembre-se que nos Jogos Vorazes uma garota morreu comendo amoras envenenadas. - Charlotte observou. As duas amigas riram.

– Ótimo, eu vou subir na árvore e colher algumas. Nós tiramos dois ou um e quem perder come a fruta misteriosa. - As amigas balançaram a cabeça apreensivas.

Gabs subiu ardilosamente na árvore, apoiando-se nos galhos, mesmo finos (ela é extremamente leve), e colheu, com ajuda da sua faca e com certa dificuldade, uma fruta. Na hora de descer quase caiu, com o peso da fruta em um dos braços, mas as amigas a seguraram.

– Hora da prova. - Ela limpou a fruta, jogando água de uma das garrafas. Com auxilio da faca (a salvadora faca!), Gabs perfurou a fruta, que tinha casca estranhamente peluda e acinzentada. Por dentro era branca e cheia de gomos, com uma bola enorme no centro.

– É uma jaca! - Falou Charlotte, observando de perto Gabs decepar a fruta.

– Então, definitivamente, é inofensiva. Podemos comer? Estou morrendo de fome e já estava pensando em devorar um daqueles biscoitos. - Annabelle disse com um dos sobreviventes pacotes de biscoitos em mãos.

– Só vou pegar mais duas daquela fruta. Mesmo que seja ruim... Pelo menos não morreremos de fome. - As amigas riram e ajudaram a amiga dando um impulso, ajudando Gabs a subir mais rápido.

Cada uma com uma jaca na mão, elas foram ao encontro dos meninos, esperando rir muito com o desastre da tentativa de aprender a mexer na vara. Se surpreenderam.

– É ai? Que tal a nossa pescaria? - Falou Lucas, em um tom metidinho que ele usou para roubar um beijo de Gabs. Três peixes grandes se encontravam devidamente mortos - triste não? - e tomando "banho de sol" em uma grande pedra. Os garotos deram um jeito de tirar suas escamas, e talvez até limpar os bichos por dentro. As garotas tinham demorado tanto tempo assim?

– Uau. - Exclamou Charlotte surpresa, igualmente como Annabelle e Gabrielle. - Vocês fizeram... Um bom trabalho.

– Um ótimo trabalho. - Continuou Gabs, falando diretamente a Lucas.

– Estou lisonjeado com vocês moças. - Lucas fez uma reverência sarcástico e foi em direção à namorada, agora não tão perplexa. Ele a abraçou por trás, e Gabs percebeu o quanto ele gostava de fazer isso. Sussurrou: - Impressionada? - Disse.

– Muito. - Gabs disse sorridente.

– Ótimo. - Lucas deu um beijo na orelha dela.

– O.K. Caçadores, trouxemos três frutas. - Disse Charlotte, exibindo a jaca de trazia nas mãos.

– Uau, minha vez de ficar impressionado. - Disse Mark.

– Se você me permite, quero largar isso. Tive que escalar uma árvore sabe. - Pede Gabs a Lucas.

– E depois eu sou o caçador? Tenho que te chamar de "Katniss"? - Lucas disse, largando a namorada, que deixou a fruta na pedra em forma de mesa, e voltou aos braços do namorado, lhe dando um soco no braço. - Que forte você.

– Engraçadinho.

– Ei casal, podem parar de romance e vir ajudar a levar esse bando de coisa pro nosso acampamento. - Disse Annabelle, colocando os braços no meio dos corpos juntinhos de Gabs e Lucas e forçando-os a se separar.

– Tá, tá, garota chata. - Lucas soltou a namorada resmungando pra todo mundo ouvir.

– Paixão faz a gente ficar tão rabugento - Disse Annabelle em resposta aos resmungos.

Fazer a fogueira não foi difícil, como da última vez.

Annabelle e Lucas logo estavam de bem um com o outro e o grupo "de caça" chegou ao lugar onde estavam as barracas. James olhava entediado para o céu e se surpreendeu com a chegada dos amigos.

– Até que enfim! Pensei que vocês tinham fugido ou sei lá.

– Não se preocupa cara, não íamos te abandonar. - Respondeu Mark, brincalhão.

– Olha o que trouxemos. - Charlotte é quem fala, exibindo a enorme fruta que ela e as amigas tinham achado.

– Isso... Parece perigoso. - Disse James.

– É por isso que a gente trouxe, a gente quer morrer nessa floresta juntos. - Annabelle fala sarcástica.

– Tudo que eu quero é morrer aqui. - James diz com cara "claro-que-não".

Logo eles improvisam uma grelha - com barras que sobraram das barracas ("Tenho certeza que essas barras não podem sobrar, se a barraca cair em cima de mim à culpa vai ser de vocês!" exclama Charlotte, carrancuda.) - e as suspendem acima do fogo por dois pedaços de madeira, achados por James. Colocaram dois dos peixes na "grelha" e conversavam enquanto comiam metade de uma jaca (eles convenceram James a comer com muita chantagem) - tudo que poderiam aguentar.

– Bom, agora que garantimos comida pra cinco dias... - todos olharam para Charlotte, que falava descontroladamente, depois de se empanturrar com pedaços da jaca - ah gente, vocês acham que isso vai durar pouco? Fala sério! A gente não consegue comer metade dessa fruta...

– Ok Charlotte, continua. - Disse Annabelle, limpando a boca com um pano.

– A gente não pode mergulhar lá na cachoeira? Estou louca pra fazer isso há anos! - Todos automaticamente se animaram.

– Ótima ideia! - Disse James.

– Concerteza. - Continuou Mark, com a cara cheia de pedaços de fruta. Mark, Annabelle, Charlotte, Gabs e Lucas - os namoradinhos devidamente agarradinhos - começaram a rir do amigo. Annabelle jogou o pano para o amigo e se levantou.

– Bom, que tal a gente levar um dos dois peixes, que daqui a pouco vão estar prontos - ela apontou pra fogueira - e comer lá na cachoeira? Tipo, depois de a gente dar uma boa mergulhada? - Completou.

– Ótima ideia. - Gabs concordou, recebendo um beijo do namorado na bochecha.

– É, mas todo bom plano tem falhas - disse Charlotte implicante - ninguém vai querer ficar aqui de guarda, correto? - Todos fizeram sinal de concordância.

– E dai? Levamos os objetos que usamos pra "caçar" e deixamos o resto aqui. A gente tem uma ótima habilidade pra achar comida... - ela pensou um pouco antes de continuar - e equipamento eles não vão roubar, pois todos tem. Os únicos que poderiam tentar roubar é os que a gente usa na "caça" e, como eu disse, nós levaremos conosco. O que você acha Charlotte? - Annabelle lançou um olhar "te ganhei" pra amiga, que deu de ombros.

– Que seja.

– Vamos a nossa "praia". - Disse Lucas, animado.

Os meninos tiveram que esperar as meninas quase meia hora, pois elas tinham que colocar seus biquínis.

– Garotas nunca podem ser rápidas, impressionante. - Reclamou o agora rabugento Mark, que em menos de cinco minutos tinha colocado um calção de banho.

– Você só está treinando. - Disse Lucas, sentado numa pedra com mochila nas costas.

– Com certeza. - Disse James, com o peixe "grelhado" enrolado num pano.

– Vocês são extremamente impacientes, caramba! - Disse Annabelle saindo da barraca, no mesmo momento que Charlotte saia. As duas vestiam shorts e blusas largas por cima do biquíni.

– Homens, sempre impacientes... - Queixou-se Charlotte.

– Cadê a Gabs? - Perguntou o Lucas. Annabelle foi até a barraca da amiga.

– Ei, Gabs! Morreu aí dentro?

– Você tá parecendo os meninos. - Disse a ruiva saindo da barraca e quase trompando na amiga.

– Nossa, não me xinga assim!

– Vamos logo! - disse James, indo em direção à cachoeira. As garotas rolaram os olhos e seguiram os apressados.

Gabs e Lucas ficaram entre beijos e amassos numa pedra depois de comer e dar uma bom mergulhada.

O peixe foi devorado rapidamente, e eles se amaldiçoaram por não terem trazido o outro. O lado foi que, depois de esperar um pouco para entrar na "praia particular" - eles seguiram o conselho que as mães sempre dão -, os amigos entraram na água e permaneceram lá até o por do sol, rindo, pulando, fazendo concursos e essas coisas de retardado que a gente faz quando está perto de quem te faz bem.

– Foi um dia bom esse, né? - Gabs pergunta ao seu namorado, depois de outro beijo. Eles estavam sentados numa pedra perto de aonde a água forte e limpa era jorrada, então, continuavam encharcados.

– Com certeza, mas não vai ser o último ruivinha - Ele lhe dá um selinho leve.

– Promete? - Ela diz tocando de leve o rosto de Lucas.

– Prometo, se quiser, até de mindinho. - Ele solta aquele sorriso lindo que fez Gabs se apaixonar por ele, fazendo-a rir automaticamente.

– Não precisa. - Ela disse, aninhando-se nele, ainda sendo molhada pela água da cachoeira.