Devoradores escrita por Nayame


Capítulo 1
Capítulo 1




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N-não me solte Ky... – O corpo da morena boiava no riacho do Distrito quatro. Seu amigo, responsável por aquela façanha, conduzia cada movimento para que ela continuasse segura – Se soltar, juro que enfio um peixe na sua boca.

Quanta confiança em mim – Por crueldade, ou seja lá o quê for, suas mãos deixaram o corpo de Hellins. A expressão dela continuava tranqüila; Não havia notado – Eu não te soltaria – Mentiu com o seu típico rosto despreocupado. Olhou-a por cima, preparando um ataque – E nunca faria isto! – E com um simples movimento, suas mãos empurraram a cabeça dela, afogando-a.


Estava afogando. Estava morrendo. Sua mente repetia estas sentenças enquanto seu corpo se debatia inutilmente; Mal sabia ela que Ky já a segurava pela cintura. Quando se acalmou, de olhos fechados, percebeu estar completamente segura, rodeada por dois braços firmes e fortes. Virou-se para ele com raiva, notando o sorriso divertido em seu rosto tranqüilo.


Boba.


Bobo – Rebateu com o mesmo tom de voz – Vamos sair daqui, hoje é o dia da Colheita.


Ky sussurrou um “sim” tão calmo e fraco, que somente alguém treinada como ela era capaz de ouvir. O corpo do moreno nadava de costas, ainda agarrado a cintura dela, para levá-la a superfície; Tentava ser o mais sutil e carinhoso possível, mas quando chegou à terra firme, se arrependeu de tantos cuidados. Hellins se levantou e o empurrou de volta ao riacho com tanta raiva e força, que o garoto bateu em uma pedra e recebeu um feio ferimento nas costas. Fez pouco caso, esta era a punição dele.


Machucou, sabia?


Azar – Hellins começou a se vestir rapidamente; A cada peça de roupa, olhava para Ky que estava sangrando. Sentia-se culpada e satisfeita. Culpada. Satisfeita. Culpada – Tudo bem? Quer que eu faça algo?


Quero. Tire a roupa.


Satisfeita. Com certeza. Completamente.


É nessas horas que agradeço por sermos do Distrito quatro, responsável pela pescaria – Mostrou a língua e andou até a saída daquele local; Ky odiava peixes e ela sabia disso. Fazia questão de ressaltar sua satisfação por esta brincadeira do destino. Claro que não podia falar muito; Ela não sabia nadar e isso era igualmente estranho – Nos vemos na Colheita, bobão. Que a sorte esteja...


Sempre ao seu lado – Completou o garoto, acenando para ela.


Após sair do local – um lugar proibido para lazer próprio – Hellins percebe seu estado; Estava encharcada, afinal, havia vestido suas roupas sem se secar. Seus cabelos negros criavam um rastro de água pelo chão, e sua franja estava completamente grudada a sua face. Seus pés não estavam com sua típica bota de couro; Era fácil deduzir o que estava fazendo há alguns minutos, e se os Pacificadores notarem também, ela e Ky levariam inúmeras chibatadas. Rapidamente seus dedos torceram seus fios negros, fazendo um coque mal feito para prendê-los. Decidiu voltar para sua casa pelo caminho mais escuro e deserto do Distrito quatro, tomando cuidado e se escondendo ao ver pessoas. Era boa em andar despercebida.


Não demorou muito para chegar em casa, e quando chegou, sentiu sua bochecha ser puxada com toda a força por dedos rígidos. Sua mãe a olhava com cara de poucos amigos; Era esperta, já havia deduzido seus atos inconseqüentes.


Nadando com Ky? – Sua voz soou incrivelmente maligna. Tinha um rosto sereno, ninguém imaginava esta atitude tão cruel da Senhora Adryan.


Tecnicamente não. Eu estava boiando – Sentiu sua bochecha latejar ainda mais pela gracinha – Desculpa. Desculpa mãe.


O riacho é... – Começou autoritária.


... Feito para pescar – Completou Hellins, tendo sua bochecha solta como prêmio – Mas ninguém pesca hoje, e sempre quis aprender a nadar – Massageou a região dolorida com os dedos.


O Distrito quatro deve andar na linha, obedecer às regras, Hellins – Adryan ditava tudo em um tom automático; Era boa demais para aceitar as regras da Capital, de Panem. Mas, ao mesmo tempo, tinha medo de sair da linha e ver seus filhos em uma rebelião, sofrendo por seus atos – Hoje é sua última Colheita, finalmente. Serei uma mãe sortuda por ter dois filhos com mais de dezoito anos seguros.


Mas meu nome está lá trinta e cinco vezes – Não tinha a intenção de desanimá-la – Desculpa. Eu me sinto com sorte hoje. Sei como o papai trabalha para ter que vender meu nome poucas vezes.


A sorte está conosco. Vá se arrumar, hoje terá um banquete para comemorar o seu nome fora dessa coisa doentia – Hellins sorriu e assentiu indo se arrumar.


Após um banho sem muita enrolação, Hellins foi para seu quarto e viu um vestido verde-água em cima de sua cama. Era cheio de babados, laços, fitas e frescuras que ela, infelizmente, não gostava. Aquilo a fez pensar em Ky imediatamente; Aquele idiota tinha tara por coisas assim. Deu de ombros e vestiu. Deixou seus cabelos soltos e fez uma única trança na lateral direita, fazendo-a cair por suas costas e se destacar. Calçou sapatilhas brancas recém-engraxadas, e se olhou no espelho; Razoável.


Razoável é algo bom. Do Distrito seis ao doze, razoável é como ótimo. Tinha sorte de ser do Quatro; Se fosse sorteada, seria umas das sete favoritas. Precisaria acabar com ambos do Distrito um – os favoritos – e dar um jeito nos do dois. O três já era um tanto mais fácil.


Sacudiu o a cabeça; Não seria sorteada. Estava com dezoito anos. Sua última Colheita.


Ao descer, percebeu ser a primeira arrumada. Seu irmão, Algust, foi o segundo a aparecer e se sentar; Usava uma camisa branca e uma calça azul, simples. Mesmo fora da colheita, todos eram obrigados a se vestir bem e ir até a praça. Logo seu pai apareceu com vestes parecidas de Algust. E depois, Adryan; Ela usava um vestido branco, com um chapéu alegre e florido. Tinha sapatilhas idênticas de Hellins.


Vamos? – Tentou contagiar a todos, mas apenas assentiram em concordância.


Os jogos vorazes no Distrito quatro eram vistos de forma um pouco mais alegre; Do seis ao doze que parecia algo de outro mundo, sombrio. As mães caminhavam ao lado de seus filhos; Os mais novos com medo. Os mais velhos animados. Hellins não sentia vontade alguma de ser sorteada, então procurava os animados com os olhos; Se ela fosse sorteada, quem sabe, eles não se ofereciam em seu lugar?


Ao chegar à praça, viu Eltyn Freederic, o responsável pelo sorteio do quatro, da Capital. Viu Finnick Odair e Annie Cresta, os prováveis mentores. Após um abraço gentil e animador de sua mãe, a morena foi até seu lugar; O lado das garotas.


Bem vindos meus queridos – Eltyn dizia com empolgação e alegria; Tinha cabelos longos e dourados, mesmo sendo um homem, e vestia vestes estranhas com desenhos de peixes – Bem vindos à setuagésima edição dos Jogos vorazes. Hoje, um corajoso garoto e uma corajosa garota serão sorteados para o evento mais esperado do ano.


Se Eltyn pudesse ouvir pensamentos, ouviria várias coisas do tipo; “Esperado para a Capital, isso sim”. “Anda logo com isso” e “Que cabelo estranho”. Seu sorriso perolado sumiria, seus olhos ganhariam um tom menos brilhoso e radiante... É claro que isto é só um pensamento idiota de Hellins e jamais iria acontecer.


Mas primeiro, umas palavrinhas do nosso gentil prefeito.


E assim que o esbelto prefeito subiu ao palco vários minutos de tédio o acompanharam; Teve o hino. Teve o discurso dos Jogos. Teve relatos passados dos antigos vencedores do quatro. Teve até mesmo uma piadinha sem graça sobre a morte dos tributos do jogo anterior. Hellins só saiu de seu estado inconsciente quando viu a mão de Eltyn na bola, pronto para pegar o nome do tributo feminino.

“Por favor, não eu. Chame a Maryslon, ela usa facas como ninguém. Chame a Joy, ela sabe matar primeiro e pensar depois. Chame a Lílian, ela corre bem. Chame a Vanil. A Teresa. Cristiny. Deby. Fran. Susan. Suzen. Agatha. Valé...”

– Hellins Eevee – Ao ouvir seu nome, seus pensamentos pararam. Tudo parou.


Olhou por todos os lados; Onde estavam os animadinhos querendo ser sorteados? Onde estavam os corajosos? Atléticos? Todos sumiram como mágica. Sentiu-se fraca, prestes a desabar, até ver os olhos verdes e límpidos de Finnick. Ele estava lhe perguntando algo. Analisando algo.


Estava conversando consigo;

“O que pretende fazer, Hellins? Você foi sorteada. Ninguém vai em seu lugar. Como você jogará este jogo? Será fraca e impiedosa como Johanna? Será corajosa e fria? Hábil e perspicaz? Quem você será?”


As perguntas que Finnick fazia silenciosamente a animaram. Hellins compreendera tudo. E assim, um sorriso frio nasceu em seus lábios;


Agiria como uma carreirista. A melhor carreirista.


Subiu o palco com o máximo de confiança possível, sorrindo e acenando como se estivesse feliz. Estava sendo filmada e todos os outros 23 tributos a assistiriam em breve; Queria deixar claro que ela era boa e ganharia. Que mataria todos com a mão nas costas.


Mesmo isto não sendo verdade.


E, bem. Foi difícil manter o sorriso triunfante com a próxima frase que seu cérebro captou.


E já temos o nosso tributo masculino – Eltyn dizia com entusiasmo – Kysei Ewheart.


A sorte não estava mesmo ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem ^^ Deixe um comentário /o/



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