DEZEMBRO 2010

- como assim você vai para Londres?

- Rob foi promovido no trabalho e tem de ir pra lá, Liam. E mesmo eu conversando com minha mãe e com ele, e Harry também tentou, eles não vão voltar atrás, porque a oferta é realmente muito boa – disse sem me olhar direito nos olhos e de uma forma que me fez imaginar que ela treinara essas palavras por muito tempo.

- mas... talvez você e Harry possam ficar aqui, não sei, na minha casa, na dos meninos, Ellie... – disse aflito chegando mais perto dela.

- nós demos essa ideia, mas você conhece minha mãe – deu um sorriso triste – ela sempre disse que vamos morar junto dela até a faculdade e aquele blá blá blá de sempre

- eu... eu posso conversar com ela, tentar convencer ela – disse pegando em suas mãos – mas por favor, Sammy, só não me deixe aqui sozinho, eu só não quero ficar sem você... 

- ei, ei – seus olhos começaram a encher de lágrimas e tinha certeza que, assim que piscasse, todas elas vazariam – não faz disso uma coisa mais difícil do que já é, tá bom? – outro sorriso triste despontou em seus lábios – até porque isso não quer dizer que vamos terminar...

- eu sei, mas quer dizer que só vou poder te ver... o que? Duas vezes por mês? – limpei uma de suas lágrimas e coloquei uma mexa de cabelos atrás de sua orelha – quando vocês vão? – disse quebrando o silêncio depois de alguns minutos.

- mês que vem... – encarou o chão.

- mês que vem? – minha voz saiu falha – e você só está me contando agora?

- eu fiquei com medo de te contar... – limpou mais lágrimas que corriam por suas bochechas.

- tudo bem... – falei mais calmo, tentando não brigar com ela, não naquela hora.

- talvez seja bom – disse depois de limpar mais lágrimas – quer dizer, assim não vamos nos cansar um do outro tão rápido – deu uma risadinha nervosa, mas poucos segundos depois começou a chorar mais uma vez e me abraçou forte  - eu vou sentir tanto a sua falta!

- eu também pequena, eu também.... – depositei um beijo em seus cabelos e senti meus olhos também se encherem de lágrimas.

LIAM’S P.O.V.

Era quinta-feira anoite, e eu e Sam caminhávamos de mãos dadas de volta para casa, depois de parar no Starbucks.

- me dá um pouco do seu! – disse tentando tirar o copo de minha mão.

- não mesmo! – tomei mais um gole – eu disse pra você pegar um frappuccino igual o meu, ninguém mandou escolher o chocolate quente... – dei de ombros e mais uma golada.

- ah, qual é Liam... tá parecendo estar tão bom! – disse e levantei o copo, me divertindo, por alguns segundos, vendo-a pular para tentar pegá-lo.

Ri da cena e ela desistiu, parando à minha frente e cruzando os braços, dando um longo gole em seu chocolate logo após.

- também não vou te dar do meu, que está uma delícia, por sinal!

- eu não quero do seu, fui esperto e escolhi o que eu realmente queria tomar – dei de ombros e observei-a estreitar os olhos e sair andando na frente logo depois.

Abri um sorriso vencedor e tive que andar um pouco mais rápido para alcança-la. Abracei-a por trás e tropeçamos quase caindo. Virou-se para mim, ainda dentro de meus braços, e riu, ficando na ponta dos pés para me dar um beijinho.

- você é insuportável – sorri e entreguei meu copo a ela, que deu o seu a mim.

Depois de ter que arrancar meu frappuccino de suas mãos, e perceber que ela tinha tomado quase metade, peguei em sua mão novamente e continuamos o caminho, rindo.

Nas duas últimas noites, enrolamos os meninos para não ter que sair com eles e podermos ficar juntos. Mas como naquele dia eles tinham ficado de ressaca, cada um em sua casa, eu parei na porta da cozinha de Sammy, ao invés de entrar de uma vez com ela, igual nas últimas vezes.

- não vai entrar? – perguntou juntando os sobrancelhas.

- Harry está em casa – dei de ombros e ela voltou para o batente da porta.

- ele está dormindo – apontou para cima e vi a janela de seu quarto, que ficava bem em cima da porta da cozinha, apagada – vamos – pegou minhas mãos e puxou-me para dentro da casa – só vou jogar isso no lixo –sussurrou balançando os copos da Starbucks em suas mãos e eu a segui até o lixo.

Assim que virou em minha direção novamente, lacei-a pela cintura e juntei nossos lábios em um beijo calmo.

- shh! Alguém pode nos escutar... – disse com um sorriso depois de apartar o beijo – vamos sub... – parou a frase no meio ao escutarmos passos na escada

- droga! – sussurramos juntos e ela me empurrou até a parede perto da porta que dava para fora da casa, apertando os olhos, como se isso fosse fazê-la sumir.

Harry entrou na cozinha e seguiu diretamente até a geladeira, pegando uma caixa de leite e despejando-a em um copo logo depois.

Virou-se, passou os olhos por nós, e saiu na mesma rapidez em que entrou. Sammy esperou ouvir seus passos na escada para soltar uma risadinha.

- vamos – pegou minha mão e me puxou, mas parei-a antes de sairmos da cozinha.

- como ele não nos viu? – levantei as sobrancelhas – quer dizer, ele praticamente encarou a gente.

- relaxa, Harry nunca, jamais, levanta da cama a noite. Só quando quer muito, muito mesmo, alguma coisa. E aí, ele vai tão concentrado em buscar o que quer que não percebe nada em volta dele – levantei uma sobrancelha como quem não acredita e ela arqueou as dela – eu juro que é verdade! Já até fiz alguns testes – deu de ombros e continuou me puxando escada acima, sem me dar a chance de perguntar a que tipo de testes ela estava se referindo.

Deitamos em sua cama e ficamos jogando conversa fora pelo o que pareceram horas.

- acho melhor eu ir indo – disse prestes a levantar, mas Sam segurou meu braço.

- você não vai dormir aqui?

- você não me convidou – dei de ombros fingindo manha e ela arqueou as sobrancelhas – eu estou falando sério – disse repetindo seu gesto.

- ok – bufou e se sentou de perna de índio – você quer dormir aqui? – revirou os olhos.

- pede direito – levantei uma sobrancelha.

- você quer dormir aqui, Liam? – terminou a frase com um sorriso falso no rosto.

- oi? Não escutei – cheguei mais perto fingindo tentar escutar e ela pegou meu rosto entre as mãos.

- Liam – sua voz saiu de forma aveludada enquanto afagava minha bochecha e eu tinha certeza que deveria estar com cara de bobão, porque eu estava quase babando por aqueles olhos verdes-azulados – será que você pode, por favor, dormir aqui comigo hoje? – concordei com a cabeça e ela deu uma risadinha.

Cheguei mais perto e, com um sorriso, juntei nossos lábios pelo que parecia a milésima vez só aquela noite.

Fui me inclinando sobre ela até que estivéssemos totalmente deitados na cama enquanto sentia as mãos de Sammy em meus cabelos.

Vez ou outra, podia sentir ela sorrindo entre o beijo e eu acabava fazendo o mesmo, me sentindo feliz de verdade depois de tanto tempo.

Paramos para respirar um pouco e ela soltou uma risadinha ofegante, me fazendo rir de sua cara de boba. Talvez, finalmente, Sam estaria apaixonada por mim de novo.

- vou pegar alguma coisa de Harry para você vestir – colocou as mãos espalmadas em meu peito como um gesto para que eu saísse de cima dela.

Assim que o fiz, observei-a caminhar até seu armário em sua calça de moletom de oncinha e uma blusa já velha que caía um pouco em seu ombro esquerdo. Sammy abaixou e, depois de procurar por algum tempo, voltou até a cama com uma calça de moletom e uma blusa de Harry. Era uma mania, desde pequena pelo o que me contaram, de usar as roupas de seu irmão para dormir e era por isso que sempre se podia achar algumas peças de Harry em seu armário.

- não precisa, Sam, estou bem assim... – encolhi os ombros com preguiça de trocar de roupa, mas ela jogou-as em minha direção da mesma forma.

- larga de preguiça e troca logo, Liam – sentou na cama e pegou seu celular.

- sabe... se quer e ver pelado é só pedir, Sam... – dei de ombros levantando e pude ver suas bochechas ficarem vermelhas, me fazendo dar rir.

- não é isso, idiota. É só que a minha mãe sempre diz que não é bom dormir de calça jeans, não sei porque, mas ela diz... – deu de ombros e colocou um travesseiro no colo, enfiando a cara nele logo depois.

- o que você tá fazendo? – juntei as sobrancelhas.

- esperando você trocar de roupas – sua voz saiu um pouco abafada por causa do travesseiro.

- então você não queria mesmo me ver pelado, não é? – fingi desapontamento em minha voz.

- Liam! – disse e eu tive a certeza de que suas bochechas estariam ainda mais vermelhas.

- pronto – disse depois de trocar minhas peças pelas de Harry e ela levantou a cabeça apenas um pouco no início, como se para ver se eu estava mesmo vestido, e depois jogou a almofada de lado.

- e então... qual foi a sua desculpa de hoje? – disse enquanto eu me esparramava na cama ao seu lado mais uma vez.

- disse que meu primo Fred estava na cidade e que eu ia tomar um sorvete com ele... mas eu tinha esquecido que Zayn ama ele então, quando ele perguntou se poderia ir junto tive que inventar a maior desculpa – ela deu uma risadinha – e você?

- fui mais esperta do que você, disse que ia a um lugar que ninguém iria querer ir... quer dizer... não comigo pelo menos.

- onde?

- na livraria – deu uma risadinha

- ah, eu iria com você na livraria... – cheguei perto de dei-lhe um beijinho.

- você só está dizendo isso para me agradar! – levantou a sobrancelha e eu sorri.

- mas é claro. Faz parte do meu papel de namorado, não é? – ela riu e deu um tapa em meu peito. Me inclinei em sua direção mas ela também inclinou para trás, se esquivando de mim e cruzando os braços.

- você é insuportável. Não sei como eu te aguento!

- ok, acho que vou embora então...

Comecei a me levantar, mas ela me puxou para baixo mais uma vez, me fazendo perder o equilíbrio e cair em cima dela.

Sam puxou meu rosto para o seu e juntou nossos lábios. Minha língua logo pediu passagem e ela a concedeu ao mesmo tempo em que rolava na cama e trocava as posições, se sentando em cima de meu abdômen.

Senti suas mãos passarem por todo meu tórax enquanto as minhas estavam em sua coxa e seu pescoço.

- você apaga a luz... – sussurrou em meu ouvido e saiu de cima de mim, deitando bem ao meu lado, mordendo o lábio e me fazendo ter vontade de voltar a beijá-la.

Levantei relutante e apaguei a luz depois de ter certeza de que a porta estava trancada.

Dei uma olhada rápida no relógio ao lado de sua cama e vi que já eram uma e meia da manhã.

Sammy se aconchegou em meu peito e eu passei meu braço por suas costas, dando um beijo no topo de sua cabeça logo depois, sentindo ela adormecer tão rápido quanto eu.

****

- SAAAAM! – o grito de Harry e suas batidas na porta me fizeram acordar assim como Sammy, que deu um pulo ao meu lado e se sentou meio escorada em mim em um segundo – Sam! Porque a porta está trancada de novo?

- porque eu não gosto de você! – ela gritou enquanto esfregava os olhos e deixei minha cabeça tombar no travesseiro.

- e o que é que eu tenho  a ver com isso?

- eu achei que trancando a porta você iria parar de me acordar, mas parece que só piorou.

- Sam, foi a mamãe que pediu que eu te acordasse...

- mentira! A mamãe nem tá em casa! Ela foi pra casa da vovó hoje – gritou de volta.

- Sam.. – Harry arrastou o ‘a’ e, quando Sammy falou de novo, foi logo depois de eu ter escutado algo se batendo contra a porta, o que descobri, assim que abri os olhos em um susto, ser um chinelo que ela tinha pegado ao lado da cama.

- para de gritar e me deixa dormir, Harold!

- ta, sua chata. Mas só me responde uma coisa antes... sabe onde está o Liam?

- e porque eu saberia onde o Liam está? – disse olhando em minha direção com os olhos arregalados.

- sei lá... vocês estão bem amiguinhos esses dias, achei que você pudesse saber.

- mas não sei – disse hesitando um pouco

- ok, vou tentar ligar pra ele...

Antes que percebêssemos já era tarde e meu celular tocava Coldplay a toda altura ao lado da cama.

- o que o celular de Liam está fazendo no seu quarto?

- ele... ele e-esqueceu na minha bolsa quando saímos aquele dia...

- ah, é mesmo? – imaginei um sorriso vencedor em seu rosto. Hesitou por alguns segundos, nos fazendo imaginar que tinha ido embora – abre a porta Samantha e Liam! – disse e começou a bater na porta com as duas mãos.

Sammy ainda hesitou um pouco, mas as batidas insistentes de Harry nos fizeram ver que não iria embora, então ela levantou e, relutante, abriu a porta, encontrando Harry e Zayn, que parecia ter acabado de chegar pela cara de confuso, do outro lado.

- há! Sabia! Sabia que tinha alguma coisa acontecendo – Harry disse pulando e Zayn começou a rir também, percebendo o que estava acontecendo.

- bom dia – Sam disse com um sorriso falso no rosto e eu dei um tchau da cama.

- vaz happening! – o moreno disse entrando no quarto e se jogando na cama.

Sam continuou parada na porta e, depois de parar de rir, Harry se virou para ela.

- não precisa ficar para aqui, Sam. Podem voltar a fazer o que estavam fazendo – disse a pegando no colo, e jogando-a na cama quase em cima de mim, depois caminhar com ela batendo em seu peito e puxando seu cabelo, tentando descer.

Cruzou os braços e me olhou escondendo um sorriso. Sorri para ela e me deu um selinho, fazendo os outros dois no quarto soltarem um coro de “ooown” como duas garotinhas de cinco anos.

- Ellie e os meninos estão vindo  pra cá... – Zayn disse olhando o celular nas mãos e Sam pulou em cima dele, pegando o aparelho.

- Zayn! Seu bocão! Já contou pros outros? – bateu uma almofada em seus ombro enquanto ele ria ao mesmo tempo que tentava se explicar.

- uma fofoca dessas tem que ser contada na hora, Samsam.

- ai, idiota! E você sabe que eu odeio quando me chamam assim – disse voltando a bater nele com a almofada.

****

- Sabe – Louis disse assim que apareceu na porta da cozinha, minutos depois, quando já tínhamos convencido Sammy a fazer café da manhã para todos – eu consigo até ver as manchetes sobre vocês, se fossem famosos: “Liam Payne é visto saindo às escondidas da casa de Samantha Styles” -  fez um arco no ar com as mãos e recebeu um olhar feio da garota parada ao fogão.

- pois eu vejo outra coisa – a voz de Eleanor chegou mais alta que o normal – “ Eleanor Calder mata amiga por justa causa depois de saber de seu namoro escondido” – cruzou os braços e fitou Sammy.

- eu ia te contar... – Sammy disse dando alguns passos em sua direção;

- ah ia é?

- ia sim, foi ele que não deixou  - apontou para mim e eu arregalei os olhos.

- o que? Mas a ideia de esconder foi sua!

- a ideia foi nossa! – Sam virou-se para mim.

- não importa de quem foi a ideia – Ellie disse balançando os braços no ar – a sorte de vocês é que estou muito feliz por estarem juntos e isso está diminuindo minha raiva! – Sammy pulou em cima dela e forçou um abraço – eca, sai de cima de mim, bicho!

- mas a quanto tempo que vocês estão escondendo isso, que eu nem percebi? – Niall chegou bufando na porta da cozinha, me fazendo imaginar que tinha corrido até ali.

- desde sábado passado – Sam disse naquele tom entre uma pergunta e uma afirmativa e encolheu os ombros.

- Há! – o loiro deu um pulo e apontou para nós – então a minha operação cupido deu certo! Levar os dois pra me ajudar a pintar deu certo!

- espera! Então sábado passado você dormiu na casa do Liam, e não do Ian?

- quem é Ian? – perguntei confuso ao mesmo tempo em que Sam encolhia os ombros.

- é bom que esse suco que você fez esteja bom, ou então eu vou ter mais um motivo para te odiar.

- sabe... vocês não estão escondendo mais nada? – Harry disse levantando as sobrancelhas.

- porque, já foram tantas mentiras até agora que eu estou realmente com medo de vocês dizerem que a Sam está grávida – Lou disse fingindo de sério e eu e Sam reviramos os olhos.

- ou que vão fugir juntos para Paris – Zayn se pôs de pé e nos encarou.

- ou que eu não vou ser a madrinha da criança ...

- vocês não tem nada melhor para fazer não? – perguntei revirando os olhos e puxando Sammy para sentar na cadeira ao meu lado.

- acho que é só ignorar que para, sabe? Igual criança.. – Samantha falou passando as pernas por cima das minhas e puxando meu rosto para dar um beijo enquanto escutávamos todos brigando sobre o que mais poderíamos estar escondendo.

Apartei o beijo com um sorriso e percebemos que a cozinha ficou, de repente, silenciosa.

- acha que se mataram, ou que cansaram e foi embora? – Sammy disse  baixinho ainda sem olhar na direção deles e eu ri.

- vocês são tão fofinhos – Ellie deu alguns pulinhos e então todos se sentaram à mesa, voltando a conversar normalmente e brigarem pelo melhor pedaço de bolo, fazendo, ocasionalmente, uma piadinha ou outra sobre eu e Sam.

E pensei que, mesmo eles enchendo nosso saco de dois em dois segundos, era muito bom que eles soubessem, era muito bom até mesmo ouvir suas piadinhas idiotas e ouvir Sammy reclamar, entre risadas, o quanto insuportável eles eram.

Era só isso: muito, muito bom.