MAIO DE 2010

Corríamos como dois loucos de mãos dadas pela rua e não parávamos de rir um segundo se quer, já que Sam quase caiu umas mil vezes.

A chuva tinha deixado nossas roupas coladas no corpo e mal podia esperar para entrar em casa e colocar alguma coisa quente!

- não, não, espera! – Sam disse aflita quando estávamos a poucos metros de casa

- o que foi? – me virei para ela.

- lembra quando eu disse que um dia eu queria um beijo apaixonado na chuva que nem nos filmes? - concordei com a cabeça – então! É nossa chance, vai! – fez um biquinho ridículo e eu soltei uma risada pelo nariz

- larga de ser boba, Sam. Vamos entrar logo que eu estou morrendo de frio.

- por favor, Liam – revirei os olhos e colei nossos lábios por apenas alguns poucos segundos, dando-lhe um selinho.

- pronto, agora vamos – dei alguns passos em direção à porta, e quando me virei, vi-a parada no mesmo lugar me olhando com uma carinha de cachorrinho.

Bufei e passei a mão pelos cabelos. Será que ela não estava congelando que nem eu?

Dei alguns passos rápidos em sua direção e coloquei uma mão em seu rosto, já a puxando pela cintura de encontro ao meu corpo com a outra.

Colei nossos lábios e senti sua mão subir pela minha blusa, até chegar à minha nuca e ficar mexendo na base do meu cabelo.

Juntei mais nossos corpos e dei um sorriso em meio ao beijo, sentindo ela fazer o mesmo. Colei nossas testas e fiquei olhando-a sorrir, ainda de olhos fechados.

- agora podemos entrar? – perguntei suavemente e senti ela concordar com a cabeça.

SAMANTHA’S P.O.V.

Troquei de roupa rapidamente no vestiário e segui até a sala de química para encontrar com a professora. Ela usava uma calça talvez justa de mais, uma blusa colorida e estava agachada catando alguns papéis no chão.

Abaixei-me e comecei a ajuda-la recebendo um sorriso de sua parte.

 A verdade era que Lauren era muito bonita, devia ter por volta de vinte e seis anos, loira, olhos caramelo, bochechas rosadas naturalmente (e eu sei disso porque um dia cheguei a perguntar qual era o blush que usava)... digamos que esses eram alguns dos motivos porque ela fazia tanto sucesso entre os alunos.

- obrigada, Sam – sorri para ela quando terminamos – como eu te disse na aula eu consegui um professor para você – deu um risinho – ele já deve estar chegando. Você vai adorá-lo

- obrigada por fazer isso, Lauren – ela insistia que a chamássemos pelo seu primeiro nome.

- não tem de que, Sam. Se você não fosse uma aluna esforçada eu nem me daria o trabalho. Mas como eu sei o quanto você corre atrás, porque não dar uma ajudinha, certo? – deu um sorriso.

Ouvi duas batidas na porta e virei para olhar meu novo professor, deixando meu queixo cair na mesma hora que o fiz.

- n-não, eu... eu não posso estudar com ele, Lauren...

- porque não? Liam é o meu melhor aluno, Sam...

- é, só que...

- o que? O que aconteceu? Vocês... – pensou por alguns segundos – vocês dormiram juntos e se arrependeram?

- não! – respondemos juntos, minha voz saindo um pouco mais esganiçada do que eu queria.

- então não vejo motivo para desperdiçar essa chance, Samantha... – deu de ombros.

- é que estamos meio que em uma situação  meio complicada, só isso – embolei as palavras de tão rápidas que saíram.

- mesmo assim, Sam. Eu posso te ajudar – ele deu de ombros e eu tive vontade de voar em sua cara.

- bom, eu tenho realmente que ir embora e vou deixar para vocês decidirem isso... – ela disse colocando o casaco e pegando suas coisas em cima da mesa – mas eu não deixaria essa oportunidade passar se você, Sam – completou e saiu da sala.

Fingi estar muito ocupada analisando meus sapatos para olhar para ele. Não, eu não ia ter aulas com Liam. Não depois de ele ter me beijado e ter beijado aquela loira lá também... ele que vá dar aulas para ela...

LIAM’S P.O.V

- nem pensar – Sam disse depois de algum tempo em silêncio e eu revirei os olhos.

- se serve de alguma coisa, eu não sabia que era você que ela queria que eu ajudasse, se não eu teria negado e poupado você dessa situação delicada – soando um pouco mais iônico do que realmente queria.

- você não sabia? – levantou as sobrancelhas – e o que é que ela falou com você para não saber nem o nome da pessoa que você iria ajudar? – abri a boca para falar mas ela me interrompeu – você nem ao menos perguntou quem era, não é mesmo? Tudo para deixar a professora bonitona de química feliz – revirou os olhos

- eu perguntei sim....

- ah, é mesmo? então como não sabia que era eu? –

 Tentei lembrar minha conversa com Lauren, mas tudo o que vinha em minha mente era como ela estava bonita naquele dia, nada de suas palavras.

 – como foi que ela te pediu? – Sam parou em minha frente e ficou nas pontas dos pés, colocando as mãos em meu rosto e fazendo uma imitação da voz de Lauren – ó, Liam, querido... Você poderia, por favor – seus braços enroscaram meu pescoço e ela chegou mais perto – me ajudar com uma aluna? – piscou incansavelmente e me soltou logo depois.

Continuei parado no mesmo lugar, olhando hipnotizado para ela. Mas que droga, porque a Sam conseguia fazer umas coisas assim comigo? Me deixar parado que nem bobo só de ter encostado em mim, respirado o mesmo ar...

- claro que não foi assim – disse saindo do transe e segui-a para fora da sala

- tanto faz. Eu não vou estudar com você...

- ah, é mesmo? ela me contou que suas notas estão bem ruins, Sam...

- está me chamando de burra? – parou colocando as mãos na cintura

- não – revirei os olhos – estou falando que você precisa de ajuda, Sam, é normal... – continuamos a andar pelos corredores vazios em direção à saída.

- não preciso da sua ajuda. Vou procurar um professor partícula, isso sim.

- ah é? Pelo o que eu conheço a sua mãe, ela não vai pagar um professor para você...

- claro que vai! Você vai ver só...

Dei um sorriso e concordei com a cabeça, pensando em quanto tempo ia passar até Sam vir me procurar.

SAMANTHA’S P.O.V

- como assim não vai pagar, mãe?

- filha – disse com uma voz cansada e jogou o pano de prato por cima do ombro, parando de cozinha e se virando para mim – nós não temos condições financeiras e de nos dar ao luxo de pagar um professor particular agora, ainda mais quando tem alguém disposto a ajudar de graça....

- mas mãaae! – arrastei o ‘a’ como uma criancinha – é o Liam que quer ajudar!

- tudo bem, não precisa ser ele, você pode arrumar outra pessoa na escola, não é possível que ele é o único disposto a ajudar... – me sentei na cadeira e deitei a cabeça sobre a mesa – filha, nós gastamos muito com o hospital, e os professores particulares para você, o terapeuta... não que eu me arrependa, nem por um segundo eu me arrependo, mas fica um pouco puxado de pagar um professor agora, ainda mais com o preço que estão cobrando...

- eu sei, mãe – levantei a cabeça – a culpa não é sua, é só... é só que parece que a vida continua me jogando em direção a Liam, sabe?

- eu sinto muito, Sam.

- tudo bem – dei um sorriso forçado – amanhã mesmo eu vou procurar na escola...

E foi o que eu fiz.

Passei, em apenas uma semana, por quatro ‘professores’: o primeiro perdia a paciência muito rápido e eu suspeitava que, se não estivéssemos em uma biblioteca, ele gritaria comigo também. A segunda estava mais interessada em me fazer arrumar um encontro entre ela e Zayn do que realmente me ensinar reações químicas. O terceiro me cantava de mais, e, para terminar, o quarto sabia menos de química do que eu mesma.

Cheguei em casa e me joguei na cama, pensando o que iria fazer.

Maldito orgulho que não queria me deixar ir até o outro lado da rua e pedir ajuda a Liam. Mas foi só olhar a nota da prova de química que tinha acabado de receber, para que eu mudasse de ideia.

Fiquei parada alguns segundos na porta de sua casa até deixar meu dedo tocar a campainha.

- boa tarde, no que posso ajudar? – ele abriu a porta com um sorriso idiota no rosto. Um sorriso de quem sabe que está certo.

- tudo bem, você ganhou. Eu preciso da sua ajuda...- dei de ombros.

- me desculpa, eu não escutei direito – colocou a mão na orelha.

- eu disse que preciso da sua ajuda – disse encarando os pés.

- ahn? Eu ainda acho que não escutei – bufei e olhei em seus olhos.

- Liam, será que você poderia, por favor, fazer a gentileza de me ajudar em química? – ele segurou um sorriso.

- claro, não precisava pedir assim também... entra aí – deu espaço para que eu entrasse.

- na verdade eu estava pensando na biblioteca da escola – dei de ombros.

- hmmm – seu sorriso murchou um pouco – então espera que eu vou só pegar as minhas coisas e nós vamos...

****

Eu odiava dizer, mas era Liam quem realmente me fazia entender química.

Estávamos sentados em uma das mesas da biblioteca e eu senti o olhar dele sobre mim, enquanto eu encarava meu caderno.

- entendeu?

- aham – disse e fiquei batucando meu lápis no lábio inferior.

- não, você não entendeu... – disse com uma voz divertida e levantei meu olhar.

- e como você tem tanta certeza? – levantei a sobrancelha.

- você só batuca o lápis na boca por duas coisas: não entender ou estar pensando.

- e como sabe que não estou pensando?

- porque quando está pensando também fica batendo os dedos na mesa – deu de ombros e cruzou os braços.

- você é inacreditável, sabia? – balancei a cabeça negativamente e me encostei na cadeira, orgulhosa de mais para admitir que gostava do fato de Liam saber tantos detalhes sobre mim, mesmo que fossem bobos como este.

- me desculpa, não sabia que fazer comentários desse tipo ia te deixar brava.

- eu não estou brava...

- isso quer dizer que minha chance de ser perdoado está se aumentando? – disse com os olhos semicerrados e eu revirei os olhos, voltando ao exercício. – porque beijou ele? – sua voz soou depois de alguns segundos.

- porque você beijou ela? – devolvi a pergunta sem nem ao menos levantar o olhar.

- porque eu estava nervoso de mais vendo você beijando outro e precisava de uma distração para não ir quebrar a cara dele – disse naturalmente me fazendo olhá-lo e deu de ombros – sua vez...

- eu... – limpei a garganta e hesitei por um minuto – sei lá... Na verdade não sei direito como aconteceu, em um momento estávamos conversando e quando vi, ele me beijava - disse sem olhá-lo

- quer dizer então que o nosso beijo não significou nada para você...

- Liam... – disse com uma voz cansada – não era nem para o nosso beijo ter acontecido.

- bom, mas aconteceu, Sam. – seu tom de voz aumentou um pouco -  E alguma coisa você tem que ter sentido, nem que for alguma ciosa ruim...

- shh! – a bibliotecária que passava ao lado falou.

- eu estou explicando a matéria para ela, Senhora – Liam disse um pouco sem paciência e ela saiu de perto.

- Liam ... – balancei a cabeça negativamente mais uma vez e passei as mãos pelos cabelos. O que diabos ele queria que eu dissesse?

- eu sei que está com raiva de mim, Sam. Mas nem por isso você pode ignorar o que você sente por mim, ou o que eu sinto por você...

- esse é o problema, Liam... eu estou com raiva de você e tudo fica tão confuso e embolado na minha cabeça que...  

- tudo bem, já entendi, Sam – pegou seu casaco, se levantou – nos encontramos aqui amanhã na mesma hora... -  saiu, me deixando com cara de boba sentada sozinha no meio da biblioteca.