Never Let You Go - Bring me to Life escrita por lovemhatem_


Capítulo 14
Um Pouco de Clarice [parte 1]


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu tô dividindo os capítulos pra que prolongue mais a fic, porque ela já tá pronta e salva no docs e tá bem no final.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/188023/chapter/14

Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós - foi tudo o que eu consegui dizer naquele momento.
As emoções explodiam e saltitavam dentro de mim, me impedindo de ter qualquer reação, e aquelas palavras surgiram na minha mente de repente, sem explicação. Eram da Clarice. Clarice Lispector, a escritora preferida da minha mãe.
Loui gostava de mim? Não era possível. Se ela era real... Então era possível. "Ela acreditava em anjos, e por isso eles existiam" - será que eu havia imaginado tão bem que a Loui havia sido, sei lá, virado real? Pra mim?
– Não. Eu não sou imaginária - ela me olhou.
Ótimo, ela era imaginária, ela lia pensamentos.
– Não, está estampado na sua cara que você não está acreditando em você mesmo.
Ela disse isso e baixou a cabeça. Bom, não era hora pra eu ter pensando e demonstrado tanta besteira. Não mesmo.
–Louissean...
–Esquece. Eu não existo.
–Existe sim.
–Não. Eu morri.
–Mas eu ainda posso te ver.
–Você tem que ser amigo de uma pessoa como você - ela disse isso e sumiu.
Droga. E o que eu faria agora? Eu simplesmente odiava quando ela sumia desse jeito, e só quando eu tinha algo pra dizer. Que ódio de mim.
– Jesse - alguém chamou atrás de mim.
– Loui! Eu... - me virei pra olhar, mas era Kendra. - Kendra?
– Você.. Disse. Que pode me ver? Com quem você estava falando?
– Com ninguém.
– Estava sim, eu ouvi - ela estava parada na porta da cozinha, ainda de pijama.
– O que você está fazendo aqui há essa hora?
– Eu acordei para dar banho no Mister Lilly...
– Hã? Quer dizer.. Volta pro quarto.
– Não.
– Por favor, você não vai querer ficar com alguém louco como eu.
–Você não é louco...
–Sou sim, eu falo sozinho e vejo coisas.
– Não é só você quem vê.
– O que quer dizer com isso? - Franzi as sobrancelhas.
Ela abriu a boca pra responder, mas então outra pessoa apareceu.
– O que tá havendo aqui? Por que acordou tão cedo, Jesse? - Era Jason.
– Estou sem sono.
– Hoje é dia de descanso.
– Estou sem sono.
– Estava falando sozinho de novo, né?
– Estou. Sem. Sono - fechei os olhos.
– Mentira.
– Vamos subir, Jason. Hoje é dia do descanso - Kendra puxou a mão de Jason.
– Agora eu também estou sem sono.
– Então... Volte para o seu quarto e deixe Jesse em paz - ela continuou.
– É o que eu vou fazer. Não quero correr risco algum - ele olhou para mim e depois seguiu com ela.
– Risco de quê? Está com medo de mim? - ainda pude gritar, mas não obtive resposta.
Ótimo começo de sábado. Eu senti uma vontade desesperada de quebrar alguma coisa, de preferência a minha cara. Muito bem, Jesse, você devia ganhar um prêmio de idiota do ano. Ou da hora, já que eu sabia que ainda viriam muito mais confusões e idiotices.
Então continuei lá sentado, olhando para o quintal e com a cabeça martelando por causa de Loui. Eu sou daqueles que não consegue focar um assunto por muito tempo. Ou seja, eu não ficava com raiva de ninguém por muito tempo, nem nervoso, nem feliz por muito tempo, muito menos gostava de alguém por muito tempo. Ainda mais se esse alguém fosse alguém que praticamente não existe, porque algo em minha mente dizia que Louissean era mesmo irreal. Agora tudo que eu sentia era uma coisa que eu nunca havia sentido antes. Não era amor, não era raiva, nem preocupação. Era algo tipo ansiedade. Sei lá.
Mas nem deu tempo de eu sentir muito porque logo alguém apareceu atrás de mim.
– Jesse. O que há dessa vez?
– Mãe? - virei-me para ela. - Estou sem sono.
– Você acordou seus irmãos e agora eles...
– Ei, ei, ei! Eu não acordei ninguém, eu vim aqui sozinho - discordei, olhando-a nos olhos, como a muito não fazia. - Eles deviam estar acordados e me seguiram.
– Hoje é sábado.
– Estou sem sono.
– Você não deveria acordar antes das oito. E ainda são... Seis e quarenta e cinco. - Ela veio sentar ao meu lado.
– Estou sem sono.
– Você não está normal.
– Eu só estou sem sono. - revirei os olhos.
– Você passou a noite inteira numa festa, chegou em casa muito tarde e quatro horas depois de ter deitado na cama já acha que é hora de levantar? - ela me olhou.
– Estou sem sono - falei, indiferente.
– Jesse, você acharia legal eu chamar o pastor Robbie?
– Hã? Como assim? Tá achando que eu tô endemoniado ou coisa assim só porque eu estou sem sono? - franzi as sobrancelhas.
– Não. É que.. Jason me disse que você estava... Falando sozinho. De novo.
– Ele é um fofoqueiro.
– Ele só está assustado.
– Assustado com o quê?
– Todos da casa estão, Jesse. Seu pai conversa comigo quase sempre sobre isso, eu e ele estamos preocupados com você. Jason e Jonah e até mesmo Agatha estão com medo de você. Não sei o que há com Kendra, mas ela parece relutante e indiferente com relação a isso. Mas daqui a pouco será Micky também. Seus irmãos estão sofrendo em ver você falando sozinho. E se você diz que realmente vê essa garota está na hora de chamar o pastor para vir aqui e falar com você, examinar a casa.
– Não.
– Jesse..
– Loui não é o diabo, mãe.
– Veja, até já deu nome para essa coisa. E como garante que não é?
– Ela é só... Uma amiga imaginária - olhei para o céu.
– Desde que chegamos aqui você não fala mais olhando nos meus olhos.
– Eu nunca falo olhando nos olhos de ninguém. É desconfortável. Pelo ao menos com vocês.
– Você fala olhando nos olhos da coisa?
– Não é uma coisa, mãe. Pare com isso, por favor.
– Você ficou tão estressado, anda tão nervoso e tão diferente ultimamente.
Suspirei.
– Vou pro quarto. Hoje é o dia do descanso.
– Jesse, espere - ela segurou meu braço.
– O que é? - resmunguei.
– Você... Bem, tente se comportar.
– Eu sou comportado, mãe - me desvencilhei da sua mão.
Subi as escadas correndo e fui direto para o quarto, me trancando lá dentro. Eu tinha certeza de que não dormiria, mas qualquer coisa seria melhor do que ouvir sermão de mãe depois de uma discussão com a... Melhor amiga. E por falar nisso, ela não apareceu pelo resto da manhã. Nem à tarde. Nem à noite. O pior de tudo foi a dor considerada a pior dor do mundo, a dor que eu senti lá no fundo, que me machucou e me fez sentir mais idiota ainda. A saudade. E em apenas duas semanas eu não sabia que Loui poderia fazer tanta falta assim para mim, que eu ficaria tão triste e solitário em apenas ficar sem vê-la durante menos de 24 horas.
Pra piorar ainda tinha Agatha, que ficou o dia inteiro ouvindo Wish You Were Here da Avril Lavigne e só piorou ainda mais minha situação. Eu pude notar os olhares constantes e preocupados de mamãe sobre mim, a distancia que Jason e Jonah mantinham de mim, a hesitação de Agatha em falar comigo e a curiosidade de Kendra. Micky só fazia brincar sozinho. Era duro saber que um dia eu fora igual a ele, brincando sozinho com meus amigos imaginários, e todo mundo achava normal. Mas agora, na idade em que eu estava isso não deveria existir mais. Micky era o irmão que eu mais me identificava. A única diferença entre mim e ele era que minha amiga imaginária existia.
– Jesse - sua mãozinha minúscula tocou a minha.
Eu estava no sofá o observando, achando que talvez assim a saudade de Loui pudesse passar.
– Fala, bebê - esbocei um sorriso.
– Você quer brincar de esconder também?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Também estou escrevendo uma nova temporada, e aí?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Never Let You Go - Bring me to Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.