Eu não estava entendendo porque o Neji me olhava com aquele sorriso no rosto. Tem sido assim desde que eu o encontrei na primeira aula. Ele não precisava me encarar daquele jeito só porque eu  me atrasei. Eu sei que eu podia ter pego uma carona com meu pai. Qual é a desse sorriso?

Decidi ignorar meu primo por hora, e passei a olhar a porta do auditório, esperando as últimas pessoas que faltavam pra começar a aula. Iruka, nosso professor de música, é um homem muito compreensivo, e por saber que alguns alunos têm aulas em salas que são muito distantes do auditório, sempre esperava pelos que faltavam. E eles geralmente eram sempre o trio Naruto, Sasuke e Sakura.

Essa classe é uma iniciativa da diretora pra incentivar alunos a se envolverem com as artes, e apesar de ser a minha favorita, tudo o que eu quero agora é pular e ir direto pra casa. Não é como se eu fizesse isso com frequência, e uma vez ou outra não faz mal, não é? Pena que pra sair dessa escola antes das aulas terminarem, só pulando o muro. Eu não quero arriscar ser pega, e me meter em problemas por besteira. Meu pai não suporta atitudes irresponsáveis, qualquer correção disciplinar que aplicarem aqui, provavelmente não vai se comparar ao castigo que vou receber em casa.

Mas eu simplesmente quero ir embora logo, o dia passou tão devagar.... Estou exausta, com uma dor de cabeça incessante, e não faço ideia do porquê. Hoje passei a maior parte do tempo divagando, e sonhando acordada.

Isso geralmente não acontece, pois sou uma pessoa focada, e dedicada nas tarefas da escola. Mas esse dia já começou completamente estranho! Primeiro, eu acordo com pensamentos do dia em que Kiba se despediu de mim, depois, eu me atrasei porque estava andando em passos de tartaruga, distraída. E pra finalizar, Neji ficou o dia todo me encarando como se eu fosse explodir à qualquer minuto. Ninguém pode me julgar por querer ir logo pra casa, entrar de baixo das cobertas e dormir até essa sensação estranha passar.

Um vulto loiro me fez olhar pra cima, e como imaginei, era Naruto entrando no auditório correndo, competindo com Sasuke novamente pra ver quem chegava primeiro. Pelo o que eu entendi, das discussões que já presenciei entre os dois: Quem chegasse primeiro escolhia entre as guitarras Les Paul e ibanes, enquanto o perdedor ia pra bateria, se não quisesse usar a outra.

Pelo o visto Naruto venceu a corrida hoje. Sorri ao ve-lo pegar animadamente seu “prêmio”. Os outros alunos não ligavam muito pro que ocorria, pois geralmente não ligavam pra guitarra que usariam. Além das duas que mencionei, tem mais 4 guitarras Xplorer, todas do mesmo modelo. 4 contrabaixos, duas baterias, e um piano de cauda, que eu geralmente alternava com Shino, quando ele decidia sair do teclado. Tem uma variedade de instrumentos ali, violinos, violão cellos, flautas, gaitas, um saxofone (que raramente era usado), enfim, o suficiente pra todos os alunos terem algo pra tocar, e inclusive escolher o que aprender, se assim desejarem. Impressionante mesmo é quando Iruka decide nos mostrar do que ele é capaz de fazer com aqueles instrumentos.

Agora que estavam todos na sala, eu achei que Iruka ia começar logo a classe, me deixando um passo mais próxima de sair daqui. Mas ao invés disso, ele se levantou e, ignorando Naruto e Sasuke na rotina de sempre, parou pra observar o relógio, pondo-se a limpar o saxofone empoeirado.

“Ué, sensei! Quando podemos começar a aula?” Naruto perguntou, tirando as palavras da minha boca.

Sem levantar o olhar do que estava fazendo, disse “Vão em frente, se divirtam. Temos um aluno novo nessa classe que provavelmente vai demorar mais um pouco pra chegar. Eu quero que ele se sinta a vontade aqui, então nada melhor do que deixar vocês livres pra tocar o que bem entenderem.”

Imediatamente, Shino saiu do lugar que ocupava no meu lado e subiu no grande palco, onde pegou uma das guitarra xplorer e começou a tocar algumas escalas, pra passar o tempo.

Um aluno novo? Eu ouvi falar de “Um garoto com tatuagem no rosto” durante o intervalo; Dizem que começou na escola hoje, mas eu não o vi o dia todo em nenhuma das minhas classes, nem no intervalo. Será que esse aluno novo é o mesmo que todos mencionam? Se for, espero que chegue logo. Aposto que iruka só vai nos liberar quando ele aparecer... Ah merda, espero que ele não mate aula!

“OPA! Tocar o que quiser?” Naruto e Sasuke se entreolharam, e fizeram algo que eu não tinha visto acontecer desde a primeira vez que discutiram por aquele instrumento. Naruto entregou a guitarra pro Sasuke, e foi em direção a bateria, acenando pra Sakura que pegou um contrabaixo quase como se soubesse exatamente o que eles queriam tocar.

Se inclinando sobre a bateria pra que Naruto cochichasse em seu ouvido a música que tocariam, ela sorriu. Quando se organizaram, Sakura foi pro lado do Sasuke combinar a tom que iriam tocar. Logo, o garoto se posicionou na frente do microfone pra cantar.

Naruto fez a contagem, e uma vez que começaram, a linha de guitarra denunciou a música logo de cara. Shino, que também gostava da banda, acompanhou os três sem nem ter sido convidado.

“Run and tell all of the angels, this could take all night, Think I need a devil to help me get things right” Sasuke começou a cantar o início de learn to fly.

Enquanto eles se divertiam, Neji veio sentar do meu lado, ainda me olhando do mesmo jeito, como se ele soubesse de algo que eu não sabia.

“O que houve, Neji?” Perguntei, desviando minha atenção do palco, pra obsevar o sorriso do meu primo. Apesar de me fazer sentir estranha, como se eu tivesse que saber de algo, eu não consegui evitar de sorrir. Neji estava de muito bom humor, e isso era sempre engraçado de se ver. Ele geralmente não sabia sorrir.

Rindo, ele disse: “Eu juro que achei que à essa altura do campeonato você já soubesse, mas já que não descobriu até agora, vou deixar que ele te surpreenda.”

Ele? Como assim? “O que você quer dizer com isso, Neji?” Será que Naruto...

Olhando pro palco de novo, notei que ele me encarava com um sorriso brincalhão no rosto. Ele nunca tinha sorrido exclusivamente pra mim daquela maneira, imediatamente senti meu coração bater mais forte, e uma sensação diferenciada no pé da minha barriga. Será que ele comentou com meu primo algo sobre mim?

Olhando pro Neji de novo, tentei conseguir mais informações lendo sua linguagem corporal. Ele, porém, se levantou e foi se sentar do lado da Tenten de novo.

“Flyyy along with me I can’t quite make it alone, try and make this life my own. Fly along with me, I can’t quite make it alone, Try and make this life my own.” Animada com a possibilidade de que Naruto talvez já estivesse afim de mim, e energizada com o clima da música, acabei cantando o refrão da música com os garotos, sem nem me importar muito se receberia atenção das pessoas ou não.

Quem está cantando é o Sasuke, todo mundo deve estar prestando nele, de qualquer maneira.

“Ah, você finalmente chegou!” Iruka disse animado, chamando minha atenção pra nova pessoa que estava alí. Ele estava de costas pras cadeiras do auditório, e com seu capuz sobre a cabeça, por conta disso não pude nem ter uma pequena visão das famosas tatuagens.

O garoto misterioso balançava a cabeça no ritmo da música, curtindo. Enquanto ele conversava com o professor Iruka, voltei a olhar o Naruto que ainda sorria na minha direção. Abaixei a cabeça, envergonhada, queria esconder meu sorriso e minha face, que à essa altura deveria estar da cor de um tomate.

Shino começou a tocar os acordes finais da música, quando olhei pra cima de novo, assobiei para incentivar meu amigo que estava mandando ver no dedilhado final. O garoto de capuz já não estava mais no palco, e ao invés de procurar por ele, meus olhos foram atraídos como imãs atrás de duas safiras mais azuis que céu em dia limpo. Naruto já não olhava para mim, sorria um grande sorriso, mas era compartilhado com os seus amigos, que comemoravam o final da música, animados por terem a oportunidade de tocar o que gostavam.

Shino fez um sinal de positivo com o dedão na minha direção e eu rí de sua atitude retraída. Eu retribuí o sinal positivo, o fazendo sorrir minimamente. Ele tirou a guitarra das costas e pôs no local de apoio, vindo em minha direção. Ao invés de se sentar, ele ficou de frente pra mim. “Ainda não sei como você não percebeu esse encosto parado atrás de você esse tempo todo.”

É o que?

Olhei pra trás de reflexo, mas não tive reação pra o que vi. Ou melhor... Quem eu vi.

“Shino, você é um estraga prazeres, sabia?” Disse ele, com aquele sorriso debochado, o sorriso que eu acordei sentindo falta.

Como um flash, lembrei da manhã de hoje. A saudade que era pra deixar de existir com esse encontro, apertou mais do que nunca agora que o vejo. Fora de vista, fora da mente, diz o ditado. E é por isso que nunca tive a chance de sentir tão fortemente a sua ausência. Agora que ele está na minha frente, todos esses anos sem o ver me atingiram, era como um peso esmagador em meu peito. Lágrimas umedeceram meus olhos, e antes que eu entendesse completamente o que estava acontecendo, um soluço escapou minha garganta.

“K-Kiba-“

“AAhhh hoje é pra ser um dia feliz, Hina! Não chora, você sabe que eu sempre choro quando você chora!” Eu dei uma risada fraca, sacodi minha cabeça tentando afastar as lágrimas, porque realmente, eu estou muito feliz em ve-lo. Mas a saudade... Aquela saudade machucava muito, e eu acabei soluçando ainda mais escondendo meu rosto com minhas mãos. “Hina...” Ele murmurou suavemente. Como eu não podia ve-lo, não acompanhei seus movimentos, e quando percebi, já estava envolvida num abraço que além de me aquecer, ajudou a diminuir o aperto no meu peito.

“Eu também senti sua falta.” Ele murmurou, com o rosto enterrado em meus cabelos. Como sempre, nem precisou de palavras, pra entender o significado das lágrimas.

Tirei as mãos da frente do meu rosto, e usei meus braços para envolver o torso dele, apertando-o ainda mais contra mim. Meu rosto provavelmente estaria um horror com toda essa choradeira, como ainda não queria que ninguém me visse, enterrei minha cabeça na curva do pescoço do Kiba. Ele, por sua vez, virou a cabeça encostando sua bochecha na minha, continuando a sussurrar palavras de conforto. “Agora eu estou de volta pra valer. E não tem que me tire do seu lado. Nem Seu Hiashi.”

Com isso, eu tive que rir. Foi involuntário. O dia em que meu pai expulsar Kiba lá de casa, será o dia que as grandes empresas Hyuuga e Inuzuka romperão sociedade. Ou seja... “B-bom saber que- que isso nunca v- vai acontecer” Falei, tirando um tempo pra respirar fundo, e controlar os soluços.

Se afastando, ele me segurou pelos ombros e olhou meu rosto. Pude perceber que estava tirando momento para me analisar de verdade, ver as mudanças, absorver minha presença. Sabia que ele estava fazendo isso, pois fiz o mesmo. Enquanto ele me olhava, eu prestava atenção aos detalhes de sua face amadurecida. Os traços de seu maxilar estavam mais definidos, e a tatuagem era algo que parecia natural nele, como uma marca de nascença... Seus olhos brilhavam, e eu sabia que eram lágrimas contidas.

Sorri, pois era como se fosse a primeira vez que nos víamos, e eu não pude deixar de apreciar o momento. Ele finalmente sorriu de volta, e então pude perceber seus caninos afiados. “Lixou os dentes também, foi?” Perguntei para animar o clima, e evitar o retorno das lágrimas. Recebendo uma risada pela minha tentativa.

“Eu não, você quem esqueceu que eles sempre foram assim” Piscou sorrindo de lado. Eu tenho certeza que não eram TÃO afiados daquele jeito... Ou será que realmente eram e eu nunca dei conta? De qualquer maneira, sorri e o abracei de novo. Era tão bom te-lo por perto!

“Agora a turma ta completa” Shino disse com seu tom de voz neutro, que para qualquer desconhecido bordava o indiferente. Mas eu e Kiba o conhecemos, e sabemos que por trás desse tom de voz soturno, ele estava bastante animado com a volta no nosso melhor amigo.

“haaa vem cá seu insetão!” Brincou Kiba, se afastando de mim para dar um abraço de urso no Shino.

“Cachorro molhado! ” Brincou de volta o pálido Shino, dando tapas nas costas do Kiba.

Eu não podia ter certeza se as coisas seriam como antes, nem posso esperar por isso, mas de uma coisa eu sei: Sendo igual ou não, tudo vai ser melhor daqui pra frente.