A Preferida escrita por Roli Cruz


Capítulo 26
Viro Desdêmona


Notas iniciais do capítulo

Desculpem eu não ter postado ontem. É que precisava me aprofundar muito em Shakespeare, para poder escrever direitinho esse e mais alguns outros capítulos XD
Quando lerem, saberão do que estou dizendo.
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O Banner já está aí. Obrigada Lys *-*
Ela é minha salvação, gente.
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Eu gostei tanto de fazer esse capítulo XD
Enjoy!!



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Na segunda feira seguinte, eu só acordei direito quando chegou a aula de português (Ah Jenny, porque será que você acordou?), quando Dylan entrou na sala falando algo sobre uma peça de teatro.

– Uma peça? – Ouvi alguém perguntar, indignado.

– Sim. – Ele se sentou em cima da mesa e sorriu para cada estudante. – Será sobre vários momentos clássicos da dramaturgia. Juntando tudo, em uma só peça com, no máximo, uma hora.

– Mas não estávamos estudando Shakespeare? - Perguntei, lembrando vagamente do que Piper tinha me falado da aula passada. O dia que eu faltei, porque tinha brigado com o Amani.

– Sim. – Ele repetiu. – Por isso serão peças que Shakespeare escreveu.

– Mas... Quais serão? – Ouvi a tal de Elizabeth Cole.

– Ótima pergunta, Elizabeth. – O professor sorriu e se levantou, escrevendo várias linhas no quadro negro.

Como estava mais ou menos no fundo, foi um pouco mais difícil para eu ler. Mas quando ele saiu da frente, vi nitidamente:

Otelo;

Romeu e Julieta;

Hamlet;

O Mercador de Veneza e

Macbeth.

– Macbeth? – Amani perguntou do outro lado da sala. – Mas não é aquela peça que... Tem fama de amaldiçoada?

– A peça escocesa. – Dylan afirmou, um tanto mais dramático que o normal. – E isso só era um mito, por Macbeth ser a tragédia shakespeariana mais curta.

Todos ficaram em silêncio.

– Vejo que estão todos muito animados para começar o ensaio – Ele falou sarcasticamente. – O que me lembra... Vamos ver agora, quem pegará qual papel. – E dizendo isso, deu a volta na mesa e pegou vários papéis.

– Nós vamos fazer cenas de todas essas peças? – Eu perguntei.

– Sim, senhorita. – Ele respondeu, sem tirar os olhos dos papéis.

Sua indiferença me pegou de surpresa. Não estava esperando por um olhar totalmente sedutor. Mas também não esperava uma resposta tão seca. O que será que tinha acontecido?

– Bom. Começaremos com Otelo, então. – Dylan voltou a olhar para a sala. – A primeira cena, um pouco complicada, precisará de um Otelo e uma Desdêmona. Ela acontece no final da peça. Alguém se candidata para ensaiar como Otelo?

Nenhum dos garotos levantou a mão ou fez qualquer ruído.

– Ótimo. – Dylan suspirou. – E Desdêmona?

Várias garotas levantaram a mão subitamente. Já conhecíamos a peça por causa de um professor... Acho que o quinto ou o sexto antes de Dylan. Não preciso dizer o motivo de ele ter saído. Certo?

– Que tal você, senhorita Connor? – Ele me tirou de meus devaneios. Olhei assustada para os lados. Pelo menos umas quinze garotas me olhavam com raiva. Incluindo Kiara, a loira oxigenada que eu tinha pegado se lançando em cima do pobre coitado aquele dia... Elas me olhavam feio, e eu sabia os motivos. Primeiro; Se nenhum outro garoto se prontificou para ser Otelo, por enquanto, quer dizer que a garota que faria Desdêmona, iria ensaiar com Dylan. Segundo; Dylan era lindo demais e, Otelo é uma das mais lindas histórias de amor que Shakespeare já fez. Terceiro; Eu nem tinha levantado a mão.

– E-eu? – Gaguejei.

– Sim. – Ele respondeu. Não parecia muito feliz naquele dia.

Levantei timidamente e caminhei até a frente, provavelmente sendo seguida por todos os outros trinta e nove olhos curiosos.

– Já conhece essa peça? – Ele perguntou. Sem olhar para mim.

– Sim. – Murmurei. Peguei um papel, que ele segurava em minha direção, e li.

Não havia prestado atenção quanto à peça, mas agora eu via que era no final. Quando Otelo termina estrangulando Desdêmona até a morte.

Engoli em seco. Não estava entendendo nada. Porque aquela peça? Porque aquela cena? Porque ele deveria ser Otelo e eu, Desdêmona, a infiel?

– Algum problema? – Ele me olhou nos olhos. Finalmente.

– Não. – Menti.

– Ótimo. – Ele deu um meio sorriso para a classe e eu pude jurar que Kiara interpretou como se aquele sorriso fosse só dela. – Como eu já disse, essa cena é do final da peça. Vamos ler, inicialmente, o texto real. Quando eu perguntar se você rezou, é sua deixa para improvisar. Então, tente falar modernamente, mas se encaixando na peça. Entendeu?

– Sim. – Respondi meio cabisbaixa.

Tiramos tudo o que estava em cima de sua e mesa e eu deitei, como deveria ser. Observei até Dylan dar um passo à frente e, segurando a folha de Otelo, começar a citar as palavras que ali estavam escritas:

Esta é a causa, esta é a causa, minh’alma;
que eu não lhe diga o nome, modestas estrelas,
esta é a causa. Não vou derramar o sangue dela,
nem deixar marcas naquela pele mais branca que a neve...

Percebi que na sala, todos olhavam atentamente para o professor. Nunca me passou pela cabeça que ele fosse tão bom ator. Eu quase conseguia sentir a dor que ele transmitia.

Então ele se virou para mim e eu mal consegui pensar, de tanto que meu coração bateu quando ele segurou meus ombros. Sua folha quase caiu, mas, para não sair do personagem, eu a peguei em pleno ar e a estiquei para que ele pudesse ler.

... Eu não sei onde se encontra aquele calor de Prometheu.
que vossa luz reflete. Quando eu vos tiver colhido a rosa,
não poderei a ela devolver o sopro vital,
ela há de murchar. Vou sentir seu aroma na própria árvore.


Então, para minha completa perplexidade, Dylan se abaixou e me beijou na boca. Foi um beijo forte e terno, misturando paixão, raiva e traição, e parecia que ele não queria mais tirar os lábios dos meus. Meu professor de português me deixou sem ar. Meu professor de português me deixou enjoada. Meu professor de português fez minha cabeça girar.
Ele é tãaaaaaaaaao gato.
Confesso que só conseguia pensar nisso. Consegui, com certa dificuldade, me recompor enquanto ele dizia a fala que terminava com a deixa para eu começar a minha.

O pranto me virá, mas serão lágrimas de crueldade. Esta tristeza é celestial, ela dói onde antes doía o amor. Ela desperta.

– Quem está aí? Otelo? – Olhei do papel para Dylan, piscando meus olhos e tentando parecer que seu beijo me despertara. A verdade, é que ele não me despertara, mas deixara uma imensa confusão em minha cabeça. Fiquei muito desnorteada com aquilo.

– Sim, Desdêmona.

Juro que não consegui acreditar na fala a seguir. Aquilo era uma coisa de se falar na frente de quarenta pessoas? Não! Mas, de qualquer jeito, tive que falar:

– Estás a vir para a cama, my lord?

– Já rezastes esta noite, Desdêmona?

O rosto totalmente lindo de Dylan ficou sombrio e assustador. Assim como eu via Nicholas, antes de conhecê-lo melhor.

– Sim, my lord. – Li rapidamente as últimas linhas do texto.

– Ótimo. Você vai precisar estar de alma limpa para o que vai lhe acontecer essa noite! – Ele jogou a folha longe e percebi que já estava na hora de improvisar. Acho que ele não precisava de muito esforço para transmitir tanta raiva e mágoa.

– O que foi? Eu não faço ideia do que você está falando. – Também joguei o papel longe e, por um segundo, entrei no personagem e percebi a Desdêmona tão fraca e ingênua. Lambida pela infidelidade forjada que Iago, um idiota que tinha inveja de Otelo, havia montado para cima da pobre moça.

– Pense bem! – ele trincou o maxilar. – É melhor pedir perdão por algo que se arrependa. E precisa ser agora. Nada será igual, depois de hoje à noite.

Sentia uma dor aguda em meus ombros. Ele ainda os segurava com força. Eu sabia que iria ficar marca depois, mas não saí do personagem. Agora, era só eu e ele. Dois “atores” interpretando com tal intensidade que, era difícil dizer se aquilo era Otelo e Desdêmona, ou Jenny e Dylan.

– Mas eu não sei o que você quer que eu diga! – Gritei, tentando me lembrar que não era uma questão de vida real. Desdêmona era inocente, mas eu também era e não tinha nada a ver com nada que ele dizia. Era apenas uma peça, mas... Não era isso que Dylan demonstrava ao me responder:

– A verdade! – Ele disse com os olhos cheios de fúria. – Eu quero que você admita que me traiu!


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Notas finais do capítulo

OMG!
Eu adorei fazer esse capítulo =o
Me senti na pele da Jenny, hehe'
Beijos!