A Preferida escrita por Roli Cruz


Capítulo 2
O que você está fazendo aqui?


Notas iniciais do capítulo

Saindo mais um capítulo ^^



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Saí na rua e peguei meu celular na bolsa. Havia uma nova mensagem:

*

Contrataram outro garanhão,

Essas pessoas não aprendem mesmo, não é?

Adivinha?

Ele tem 23 anos.

Enviada por: Piper Nielsen

Sorri para o aparelho. A Piper era demais, ela conseguia saber tudo antes de todos.

Andei até o ponto de táxi e entrei em um dos que estavam estacionados.

– Para onde, senhorita? – Um cara gordo, de bigodes estilo vilão do mal, estava na frente do volante.

– Me deixa na esquina da Broadway com a Thomas Street - Eu disse distraída. Peguei novamente meu celular enquanto o motorista dava partida. Disquei o número de Piper e quase que imediatamente, ela atendeu:

– Jenny! Estou agora no facebook do garanhão, ele é totalmente o que você gosta. – Ela dizia animada.

– A é? Como é o cavalo? – Cavalo e garanhão, eram os apelidos que nós tínhamos inventado para novos (novos mesmo) professores. Se ele é bonitinho, é um cavalo, se é bonito, um corcel, se é lindo, um garanhão, mas se o cara é feio, vira um pônei em nossas mãos.

– Pele clara, cabelos e olhos castanhos e um sorrisinho torto muito lindo. – Ela continuou animadíssima no outro lado da linha.

– Você disse que ele tem 23 anos? – Sorri bobamente para o aparelho em minhas mãos.

– Disse. Ele vai fazer 24... Mês que vem. – Ela concluiu. Ficamos em silencio por alguns instantes até que ela se lembrou: - Então! Como foi com o psiquiatra?

– Que engraçadinha, estou morrendo de rir, Piper.

– Por quê?

– É um psicólogo. – Corrigi. - Eu não estou louca. Bom... Ainda não.

– Ah, é tudo a mesma coisa! – Ela parecia frustrada.

– Claro que não!

– Claro que sim! – Ela retrucou. – São todos velhos carecas e intrometidos.

Olhei para a janela do carro, estávamos quase chegando.

– Mas enfim, diz aí, como foi?

– Normal. Eu acho. Ele me perguntou o motivo de eu estar ali e...

– E aí você respondeu que era porque você dorme com todos os professores que entram na nossa escola? – Ela me cortou.

– Não! – Respondi ofendida. – Muito pelo contrário, sou tão virgem quanto você!

– Nossa! Então você está perdida.

Continuando, e eu não quero mais ser interrompida; Aí ele me disse que eu já tinha feito vinte e três homens se demitirem e...

– MEU DEUS JENNIFER! – Piper explodiu do outro lado da linha.

– O que foi? – Fiquei espantada, até esqueci que ela tinha me cortado... Outra vez.

– Jura? Vinte e três homens? Que coincidência!

– Hãn? Dá pra explicar direito? – Eu perguntei, tentando entender alguma coisa do que ela falava.

– Esse garanhão que vai entrar, vai fazer vinte e quatro anos, mês que vem. – Ela explicou.

– E daí?

– E daí? E DAÍ?? Estou falando com quem? Jennifer Connor ou um alienígena que abduziu ela? – Piper fazia muito drama, até para ela. – Isso é coisa do destino, minha querida. Esse vai ser seu vigésimo quarto cara, e ele vai fazer vinte e quatro anos mês que vêm.

– Isso não é coincidência, muito menos destino. São só dois números que calharam de se encontrar no mesmo momento. Só isso. – Eu disse, ignorando as maldições que ela me jogava, como “Vinte e quatro é um número simbólico” e “Você ficará arrependida por fazer descaso dessa sorte”.

– Chegamos senhorita. – O motorista anunciou.

– Preciso ir, até amanhã. – Eu disse.

– Até. – Esperei ela responder e desliguei o celular.

Abri a porta do carro e deixei vinte dólares nas mãos do cara do bigodinho.

Caminhei pela calçada até chegar a um dos meus lugares favoritos; a Dunkin’ Donuts.

Entrei e me acomodei perto do balcão. Logo avistei Amani, um garoto loiro com sardas no rosto e olhos esquisitos... Ele jurava que os olhos dele eram verdes, mas pareciam meio amarelos...

– Oi. – Ele chegou perto de mim com seu típico avental rosa. Era ridículo, mas o que ele poderia fazer? Era uniforme.

- Oi. – Respondi.

– Então, o que vai querer? – Ele me encarou enquanto eu olhava os anúncios nas paredes.

– Me vê uma coca, não estou com fome. – Pedi, dando um fraco sorriso.

Ele foi até a máquina de refrigerante e colocou um copo, virou-se para mim e perguntou sobre meu dia.

– Bom... Está normal até agora. – Eu disse a ele.

– Pelo menos você não tem que trabalhar de domingo aqui. – Ele lamentou.

– É. Sua vida é triste. – Concordei. Então olhei fixamente para o copo, a máquina despejava refrigerante para dentro dele, mas a esse ponto ele estava tão cheio que transbordava. O garoto não parecia nem perceber. – Amani! – Chamei sua atenção e apontei para o copo. Ele desviou relutante o olhar e focalizou a possa de coca-cola que se formava no chão.

– Ai meu Deus! – Ele se afastou desajeitadamente, deixando mais coca cair, mas dessa vez do copo. Colocou-o no balcão e desligou a máquina. No chão, uma enorme mancha preta se espalhava, indo para debaixo de equipamentos e cadeiras.

Dei a volta no balcão e fui até a cozinha. Amani correu atrás de mim.

– Você não podia estar aqui. – Dizia ele.

– E você não devia ser tão desajeitado. – Eu respondi, pegando um pano de chão perto da pia. Voltei para onde estava a possa de refrigerante e estendi o pano em cima do líquido, atrás de mim o garoto arrumava meu copo com uma tampa e um canudo.

– Deixa que eu limpo. – Ele pediu, mas eu já tinha quase terminado.

– Não, pode deixar. Vai pegar outro pano. – Recomendei e ele fez o que eu disse.

Eu estava limpando o máximo que podia da grande mancha preta no chão de linóleo, quando ouvi tocar os pequenos sinos da porta, anunciando que alguém tinha entrado.

– Olá? – Uma voz masculina chamou. Eu fiquei quieta, não trabalhava ali. Mas também não poderia me esconder atrás do balcão para sempre.

– Oi. – Emergi do chão, um pouco envergonhada.

– Está tudo bem? – Um cara olhava espantado para mim. Sentou-se no balcão e ficou me encarando até eu me levantar.

– Sim. Estou bem. – Respondi.

– Tem como preparar um café para mim? – Ele pediu. Não acho que ele tenha percebido que eu não trabalhava ali.

– Ah... – Fiquei paralisada. Por sorte, Amani surgiu pela porta da cozinha segurando dois panos.

– Jenny, eu não sabia qual que era melhor então eu trouxe os dois. – Ele disse, mas então viu o homem novo e seu rosto ficou vermelho. Ironia. Imagina como estava o meu!

– Ah, eu acho que este está bom. – Eu apontei para qualquer um, querendo me esconder novamente.

– Pode ir. Eu acabo aqui. – Ele pediu.

– Não! – Eu disse exasperada. – Não, não. Vai atender o homem, eu limpo aqui. – Dei o melhor sorriso encorajador que pude encontrar. Amani hesitou, mas então perguntou o que o rapaz queria, enquanto eu deslizava para o chão novamente. Nem ouvi o que o cara pediu, estava focalizada no pano em baixo da minha mão.

– Acho que já secou. – O tal homem se inclinou sobre o balcão, conseguindo ver o que eu estava fazendo.

Levantei relutante do chão e sorri para ele. Amani já não estava mais ali.

– Sou Dylan Turner. – Ele estendeu uma mão para mim educadamente. Refleti seu gesto.

– Jenny Connor. – Eu tinha dado a mão para ele, mas não percebi que ela estava toda molhada e grudenta. Quando me dei conta, senti meu rosto corar. – Desculpe. – Murmurei enquanto procurava algum pano limpo.

– Tudo bem. – Ele sorriu educadamente.

– Amani! – Eu chamei, entrando na cozinha. Ele vinha na minha direção.

– Que foi?

– Vai lá e atende o cara antes que eu faça mais alguma burrice e encontre com ele na rua depois. – Eu dizia tentando me controlar. Sem mais perguntas, o garoto saiu da cozinha e foi atender o tal de Dylan. Fiquei esperando até ele voltar.

Cinco, dez, quinze minutos e nada do Amani.

Hesitante, saí da cozinha para ver se o cara ainda estava lá.

Mas não estava. Pelo contrário, já tinha ido embora e agora Amani conversava com uma garota loira de cabelos repicados e roupa rasgada.

– Hey. – Tentei chamar a atenção deles, mas não consegui. Eles continuavam rindo e conversando. – Amani! – Tentei de novo. Nada. Fiquei com raiva e andei até ele, dei um cutucão no braço e ele finalmente se virou para me ver.

– Que? – Ele perguntou meio distante.

– Eu já estou indo, ta? – Respondi, ignorando a menina.

– Tá bom, Jenny. – Ele disse e voltou a atenção para a loira. Cheguei perto do ouvido dele e sussurrei:

– Você tem um gosto estranho. – Ele sorriu e se virou:

– Você não pode falar nada.

Dei tchau para os dois e saí de lá. Dobrei a esquina apressadamente e segui até chegar ao portão do meu prédio.
Ele é alto... Muito alto. Mais de vinte andares. É um grande arranha-céu e eu moro no décimo terceiro andar.

Dei um rápido “oi” para o porteiro e entrei no hall, subindo rapidamente no elevador.

Estava arrumando meus cabelos castanhos quando a porta foi aberta e eu vi uma mulher loira, e absolutamente cheia de maquiagem, pelo reflexo do espelho.

– O que você está fazendo aqui? – Eu girei e encarei a mulher que me abandonou aos três anos de idade.

– Querida! – Ela abriu os braços e sorriu.

– Não me venha com querida. – Respondi secamente. Saí do elevador e dei a volta nela, entrando pela porta aberta do meu apartamento. – Vou repetir o que disse. O que você está fazendo aqui? – Eu pronunciei pausadamente, como se estivesse falando com alguém com problema.

– Seu pai não te contou? – Ela arqueou uma sobrancelha definida e bem feita para mim.

– Contou o que? – Eu perguntei ainda no tom seco.

– Eu sou sua nova professora de educação física.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? *-*