A Preferida escrita por Roli Cruz


Capítulo 14
Verdade ou Desafio?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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– Desde quando você sabe fazer isso? – Eu perguntei pasma, enquanto Nicholas mexia na fechadura com um grampo. Não, ele não anda com um grampo de cabelo no bolso, ele roubou de uma menina que se agarrava com um jogador na cozinha.

– Desde que eu cansei de pular aquelas cercas de arame farpado. – Ele respondeu aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Pronto. – Ele abriu lentamente a porta e nós entramos.

Desabei na cama enquanto o garoto de lápis preto no olho a fechava novamente.

– Então. Nicholas. Verdade ou desafio? – Eu perguntei quando ele se sentou ao meu lado.

– Verdade. – Ele deu um meio sorriso.

– Verdade que você já foi expulso de três escolas? – Eu me lembrei vagamente do que ouvia sobre ele.

– Não. – Ele respondeu. – Só de uma. E só porque eu discuti com o diretor. – Nicholas deu de ombros.

Eu sorri e olhei em volta. O quarto era todo pintado de azul e tinha aquelas estrelas que brilham no escuro, grudadas no teto. Em algumas prateleiras e em cima da cômoda, réplicas de robôs e carros estavam espalhadas.

– Esse garoto deve ser um puta cara nerd. – Eu concluí.

– Jennifer Connor. – Ele chamou.

– Sim?

– Verdade ou desafio?

– Verdade.

– É verdade que você já fez vinte professores se demitirem? – Ele estreitou os olhos, como se não acreditasse nisso.

– Vinte e três, na verdade. – Eu respondi. Nicholas me dirigiu um olhar descrente.

– Como?

– Não, não. Minha vez de perguntar. – Eu me sentei na beira da cama e senti tudo ao meu redor girar. Decidi ficar deitada por um tempo. – Verdade ou desafio?

– Hnn, vamos ver do que a senhorita é capaz. Desafio.

– Desafio você a pegar uma garrafa de bebida lá em baixo, subir de volta e acabar com ela na minha frente. – Eu sorri superiormente.

– E se eu recusar? – Ele estreitou os olhos.

– Eu te obrigo a descer até a sala, pelado. – Eu dei de ombros e fechei os olhos. Minha cabeça começava a doer com o barulho da música que vinha lá de baixo.

– Ok. – Ele respondeu.

– Ok o que?

– Eu vou pegar a garrafa. – Ele sorriu.

– Vai, vai. – Eu o despachei e ele saiu.

Fiquei ali pensando em como eu tinha parado em um quarto com um garoto estranho. Não “estranho” do tipo feio. Ele era bonito até. “Estranho” no sentido de que eu não o conheço. O que sei sobre ele? Que pinta as unhas e o olho de preto. Que sabe destrancar portas com um grampo de cabelo. Que se chama Nicholas. Que foi expulso de uma escola. E que aceitou o desafio de virar uma garrafa de qualquer bebida que tivesse na cozinha.

Belo começo para uma amizade.

– Jenny, Jenny. Aonde mais você vai parar? – Eu murmurei para mim mesma enquanto encarava as estrelas grudadas no teto.

– Em um quarto com um cara bêbado. – Eu ouvi a voz rouca entrar novamente no quarto e fechar a porta sorrateiramente.

– O que as pessoas estão fazendo lá em baixo? – Perguntei.

– Metade das pessoas está se agarrando. – Ele se sentou ao meu lado. – A outra metade está sendo agarrada.

Eu ri.

– E então? Pegou a garrafa? – Eu olhei para suas mãos. Ele segurava uma garrafa de um litro, tinha um líquido incolor dentro. – Que isso? Água?

– Não. – Ele abriu a garrafa e eu cheguei perto. Só o cheiro já me fez ficar desnorteada. – Tem certeza que eu preciso beber ela inteira? Não estou a fim de voltar lá em baixo e pegar outra.

– Tá. Bebe só metade. – Eu dei de ombros, enquanto observava ele virar a garrafa de uma vez, sem parar para respirar.

– Pronto? – Ele perguntou com os olhos vermelhos. – Arrrrre – Ele urrou. – Isso tá queimando.

– Bebe mais um pouco. – Eu pedi com um sorriso malvado no rosto. – Ainda não chegou na metade.

– Você é má. – Ele respondeu e virou novamente a garrafa de vidro.

– Pronto, pronto. – Eu abaixei a garrafa e ele a deixou no chão.

– Cara, isso é vodka pura. – Ele fechou os olhos e trincou os dentes.

– Quem manda pedir desafio pra mim? – Arqueei uma sobrancelha e lhe dei meu melhor sorriso “Se ferrou.”

– Verdade ou desafio, Jennifer Connor? – Ele perguntou.

– Verdade. – Eu mostrei a língua. Sabia que ele estava esperando que eu falasse “desafio” e bebesse o resto da garrafa.

– É verdade que você tinha medo de mim? – Ele foi para trás, encostando suas costas no colchão e logo depois me encarando.

Eu me mexi, inquieta.

– Não era... Medo. – Eu respondi. – Era...

– Pavor? – Ele tentou ajudar.

– Não. Era... Ah, não sei. – Eu encarei seus estranhos olhos verdes. – Não somos exatamente parecidos. Entende?

– É. Eu sei o que você quer dizer. – Ele deu de ombros. – Ninguém chega perto de mim. A não ser aquela idiota da Lee Kennedy.

– Ela não é sua namorada? – Eu juntei as sobrancelhas em sinal de confusão. Enquanto ele gargalhava alto. Acho que parte era por causa da bebida.

– A Lee? Minha namorada? – Ele me encarou com descrença. – Vai sonhando.

– Hey. Nicholas. – Chamei.

– Hum?

– Verdade ou desafio?

– Verdade. – Ele sorriu. – Eu me fodi na última vez que pedi desafio pra você.

– É verdade que você me acha a menina mais gostosa da escola?

Ele me olhou com os olhos arregalados.

– Quem te contou isso?

– Ninguém. – Eu disse.

– Foi o Mark, não foi? Aquele idiota... Eu vou acabar com ele...

– Hey! É verdade ou não?

– É... – Então ele me olhou com perversidade. – Mas se você contar isso para alguém , eu juro que...

– Que o que? – Eu ri daquilo. – Vai fazer o que? Contar pra todo mundo que já fiz vinte e três professores se demitirem? Vá em frente.

Ele me olhou incrédulo e depois ignorou totalmente aquela parte da conversa.

– Verdade ou desafio?

– Acho que eu posso te dar o gostinho de alguma coisa... – Eu sorri maliciosamente. – Vamos lá, desafio.

– Já sabe, né? – Ele me encarou curiosamente.

– O que?

– Bebe até o último gole dessa garrafa.

Eu peguei sem relutância e virei a garrafa na boca. O líquido forte passou pela minha boca, desceu queimando na garganta e eu ainda podia senti-lo à altura do peito.

– Forte, não? – Nicholas ria com as caretas que eu fazia enquanto engolia até a última gota.

– Tá. Agora, oficialmente, eu to bêbada. – Eu dizia enquanto colocava a garrafa, agora vazia, de volta no chão.

– Um casal de bêbados, jogando verdade ou desafio, em um quarto. – Ele encarou o teto enquanto eu deitava do seu lado.

– Hey. – Chamei.

– Que foi? – Ele continuou com os olhos fixos nas figuras fosforescentes.

– Você é legal, sabia? – Eu admiti. – Nunca pensei que conversaria tanto com você, sem que me oferecesse uma ponta de alguma droga ou sem que me estuprasse.

– Mas eu fiz você ficar ainda mais bêbada. – Ele me olhou confuso.

– E vice e versa. – Eu sorri.

Então fechei os olhos, e depois disso apaguei. Não me lembrava de mais nada. Apenas que um garoto esquisito de unhas e olhos pretos tinha me carregado até um táxi.


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Notas finais do capítulo

PS: À pedidos, a data de fechamento da escolha das capas foi adiada pra o capítulo 20. (se tiver fic até lá hehe')
E o capítulo? Bom? Ruim?
Confesso que gostei muito de fazer esse em particular.
;*



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