Os dias se arrastaram aumentando cada vez mais o tamanho da minha dor, mais eu não conseguia chorar, e aquilo só me sufocava mais. Quando decidi que precisa de alguém, alguém que visse meu interior. Sem saber o que fazer vim para esta igreja, e aqui chorei, chorei muito, chorei por todos aqueles dias que me atormentavam. Todos olhavam para mim, e eu podia ver o sentimento de pena no olhar de todos eles, mas eu não merecia isso, eu era um assassino, assassinos não merecem pena ou qualquer tipo de compaixão, era isto que eu pensava.

Começei a frequentar mais vezes esta igreja, mais eu estava entrando num estado de depressão, queria ficar sózinho, queria morrer. E acho que vendo meu sofrimento, até a morte teve pena de mim me concedendo este desejo.

Certo dia acordei cedo e vim para este quarto, a igreja estava vazia e eu trouxe comigo algumas bebidas e cigarros. Fumar e beber era o que eu fazia na grande parte do meu tempo. E sempre que tentava parar uma guerra mundial acontecia dentro de mim mesmo, o que não me deixava outra alternativa a não ser continuar com aquela vida desgraçada. Bebi tanto que acabei pegando no sono e dormindo, e a única coisa que me lembro é de ter acordado sentindo cheiro de fumaça. Abri os olhos lentamente e quando vi tudo a minha volta estava pegando fogo. Misturado com misto de sentimentos senti vontade de me levantar e sair deste lugar, mas não consegui, talvez eu quissesse aquilo, talvez aquilo fosse a minha chance, a chance de acabar com tanto sofrimento. Me sentei no meio de todo aquela fumaça que começava a incomodar e a última coisa que fiz foi pedir desculpa aos meus pais seja lá onde estivessem. Quanto mais a fogo se aproximava mais o meu medo crescia, mas a minha dor me fazia ficar ali, e esperar pacientemente pela minha morte. E ela chegou, e admito que foi muito bem-vinda.

Mas, depois de sentir uma dor enorme me lembro de ter acordado, quando vi um bombeiro pegando meu corpo, que ja não era mais meu, do chão. Ele tentou me reanimar, mas em vão, era tarde demais, e não vou mentir dizendo que não senti uma pitada de arrependimento. Qualquer pessoa que estivesse morrendo e visse a sua frente uma única chance de conseguir sobreviver a agarraria com toda a força, mas não eu, eu a queria.

Vi quando todos os bombeiros terminaram de apagar o fogo. Mas fiquei assustado quando ouvi um deles dizendo a uma senhora que tinha sido três vítimas. Aquilo me aterrorizou, eu tinha levado comigo mais duas pessoas inocentes.