- Minha vida nunca foi fácil. Sempre sofri muito, e como filho único sempre me senti sozinho. Minha alma anciava por alguém, alguém que estivesse sempre ao medo lado, que me apoiasse, que me encorajasse a seguir em frente em meia a tantas coisas ruins. Minha vida sempre foi assim, guardava tudo para mim mesmo, e afinal, pra quem eu contaria ? Meus pais trabalhavam o tempo todo, e nunca tinham tempo para o filho deles. Eles viviam brigando comigo por causa do meu jeito de se vestir ou de ser, diziam que eu nunca seria alguém na vida, e olhe só, eles acertaram.

Nós brigavamos sempre, todos os dias tinha alguma briga que eu as vezes nem sabia o porque. Meu pai queria mais de mim, muito mais do que eu podia oferecer. Tanto ele quanto minha mãe planejaram ter o filho perfeito, queriam me colocar num pedestal e que eu fosse admirado por todos por tamanha perfeição. Mas aquilo não era eu. Não era quem eu realmente era, entende ? E com isso eu só me sufocava dentro de mim mesmo. Eu queria apenas que eles me ouvissem, que tentasse enxergar o meu outro lado, mas acho que isso era pedir demais.

E então cada vez mais eu fui piorando. Até me tornar o que eu sou hoje, um monstro.

Em uma noite fria, meus pais foram para uma viagem à negócios, e naquele dia eu estava sentindo algo estranho, uma sensação muito ruim. Quando eles vieram se despedir avisando que voltariam em alguns dias eu senti uma súbita vontade de fazê-los ficar, de não deixa-los ir, nem que para isto eu tivesse que amarra-los dentro de casa. Mas sabe o que eu fiz ? NADA.

Não fiz nada Lilitih, fiquei quieto, talvez porque soubesse que eles não me ouviriam, que diriam que eu estava drogado ou coisa do tipo. E quando eles se foram eu chorei, uma dor imensa caiu sobre mim. Dois dias depois fiquei sabendo que eles morreram em um acidente no meio da viagem. Tem noção do que aquilo fez comigo ? Aquilo acabou comigo, me fez perder qualquer vontade de viver que ainda restasse em mim. A culpa me atormentava a todo momento, e eu ja me reconhecia como um assassino, eu aceitei aquilo. Era a verdade não era ? Eu sabia que algo ruím ia acontecer e não fiz nada. Se existia um culpado em tudo aquilo, era eu, e eu sabia disso.