Neste momento do relado, eu parei de escrever. Parei porque, apesar de ter ficado envolvida naquela delirante história um medo estranho veio me asolar.

- Lilitih, antes que você continue, preciso te perguntar duas coisas... - ela olhou para mim, pude ver em sua expressão que ela sabia o que eu queria perguntar.

- Bom, acredito que queira saber se pedi que fizesse seu trabalho numa máquina de escrever por causa disso. SIM, a resposta é sim. Mas não só em uma máquina de escrever, mas na mesma. Sempre que ouço o som desta máquina me lembro daquele dia, e de tantos outros que a ouvi, ouvi este som substituir a voz do Enzo...

Me coloquei de pé. OK, era só uma máquina de escrever. Claro que tocada por um... morto. Mas apesar da sensação estranha que aquilo me causava não era só aquilo que estava me deixando inquieta.

- Senhorita Wendy, sei o que esta pensando... - antes que ela pudesse terminar eu mesma tomei a palavra.

- Você esta... morta ? - aquilo era tão estranho, tão apavorante, e apesar de estar acostumada com histórias de terror eu sentia vontade de sair correndo gritando pela minha mãe.

- O que você acha, senhorita Wendy ? Na verdade acho que essa não é a pergunta certa, o que quero dizer é : Importa tanto assim ? - ela olhou diretamente dentro dos meus olhos.

Parei para pensar naquelas palavras e depois de pensar por pelo menos dez minutos, com um esforço um tanto exagerado, me sentei novamente, e com um esforço ainda maior falei:

- Continue.

- Dormi, um sono pesado, cansado. E se pudesse não acordaria nunca mais. Mas naquela noite tive um sonho estranho, sonhei com aquela igreja, mas ela estava inteira ainda, e eu conseguia ver algumas pessoas, e em meio a tanta gente, eu vi o Enzo, ele estava sentado na frente e chorava. Um choro angustiado, aquele tipo de choro que faz qualquer pessoa chorar junto, e de repente quando ele se virou para mim estava com o rosto todo queimado, irreconhecível. Acordei com um grito e só depois de alguns segundos vi que estava dentro da igreja ainda. Enzo estava sentado no banco, e me observava.