Clube Do Imaginário escrita por ShoutOut


Capítulo 6
6 – A ideia mais louca do mundo.


Notas iniciais do capítulo

Bem primeiro Nanda Souza pelas capas =D E esse cap é dedicado a Flaah, minha eterna Valentina!



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6 – A ideia mais louca do mundo. As ratas de biblioteca. E Um romance?

1ª relato de Tessa Harbor

Não vou dizer que os primeiros dias do clube foram uma maravilha, porque eu estaria mentindo.

Só para começar, Rudy e Hansel se recusavam a participar e Harley se mostrava cara vez mais numa batalha constante contra si mesma que lhe tornava algo interessante a meu ver.

“Ela seria um ótimo personagem” -foi a primeira coisa que pensei assim que sai da sala 13 no primeiro dia do clube.

Eu e essa minha maneira de criar personagens do nada.

Falando a verdade. De primeira não confiei muito no plano da Harley. Construir uma confiança quase que a força era muito estranho, mas continuei nele. Era o único que tínhamos.

Foram quatro dias até que as garotas se juntassem, isso contando o dia que o Hansel descreveu no relato passado.

Foram algumas semanas para eu entender o porquê do plano da Harley, mas foram exatamente quatro dias para que eu resolvesse ajudar. Afinal, tínhamos dois garotos que queriam ficar excluídos de qualquer forma. O que me incomodava era não saber o motivo deles. Era meio estranho pensar que era só porque desconfiavam de nós, parecia ter algo a mais.

Hansel e Rudy não pareciam garotos para tanto por tão pouco. E outra, eles sabiam alguns dos nossos segredos, eu, as meninas, Garrett e Max falamos na frente deles. Sabiam o máximo para nos julgar com perfeição, mesmo assim continuavam como observadores.

Imaginei por um tempo o que eles poderiam ser em outra vida, em outro país, em outra época. A única imagem que veio a minha cabeça: Os dois em pé com uniformes militares olhando para um mapa.

Era quase óbvio que aqueles dois eram dois estrategistas na batalha que é a sobrevivência. Como Harley também era. Pelo menos eles três deveriam se entender. Foi pensando nisso que a ideia me veio. A ideia de como conseguir fazer os dois garotos pensarem.

Por mais que eu não tivesse ido com a cara do Hansel, não era só a Harley que seria uma ótima personagem para uma história, Hansel e Rudy também.

Os dois eram os misteriosos do grupo. Rudy mais do que Hansel, mas mesmo assim.

Não dava para saber o que se passava na cabeça deles direito, não dava para ter certeza (pelo menos eu não tinha, talvez Harley, depois de um tempo, tivesse).

Eu me sentia lendo um livro com algum mistério que parecia está na sua cara e ao mesmo tempo não está quando pensava nos dois.

Mas antes de lhe ou lhes contar como a minha ideia foi posta em prática, vamos voltar um pouco no tempo.

Nosso prazo estava se esgotando, estávamos numa sexta-feira e tínhamos até a terça-feira da próxima semana para dizer o que o clube iria fazer. Ninguém dava ideias, tínhamos passados os dias conversando, basicamente.

Naquela sexta foi um pouco diferente. Eu e as meninas tínhamos trocado os números dos celulares no segundo dia do clube, só para alguma coisa. Eu tinha ligado para elas, quase implorando que ficassem na escola no dia do clube. Tinha que falar com elas, só com elas.

Sabe como é, coisa de menina.

No final da aula, já que eu ficaria no colégio direto porque minha casa era um pouco longe da escola (o que era estranho, já que tudo na cidade parecia perto) então depois de comer alguma coisa resolvi ir para a biblioteca da escola, ler um pouco.

Sou rata de biblioteca, quase levo meus pais a falência toda vida que piso numa livraria.

Peguei alguns livros e os folheei rapidamente. O lugar era bem amplo e arejado, as estantes estavam organizadas de uma maneira que lembrava uma pilha de peças de um jogo de domino que só estava esperando um gigante para derrubá-las.

Era um dos poucos lugares da escola que tinha paredes em tons bem claros, um azulejo quase num azul-claro que tornava o lugar mais claro. Eu o achava lindo, principalmente porque usava bastante a luz do sol. Deixava tudo mais natural e tranquilizador.

Depois de folhear uns sete livros sem encontrar nada que me interessasse resolvi escrever um pouco. Nos últimos dias estava com uma inspiração estranha para coisas meio filosóficas.

Vou dar como exemplo o texto que fiz naquele dia, só dizendo, o terminei só depois, antes algumas coisas aconteceram, mas não dá para colocá-lo por partes então... Espero que entenda.

“Uma garota. Só uma garota. Olhava-se no espelho.

Só uma garota, o que mais seria? Não era forte demais para ser uma heroína, não era bela demais para ser a desejada da sua escola.

Só uma garota, querendo achar seu lugar no mundo. Uma garota vista por todos e invisível de outra maneira que só ela entende.

Só uma garota, adolescente querendo viver.

Afinal no que é baseada a adolescência? Existe algo científico para isso? Alguma lógica?

Essa garota pensava nisso enquanto se olhava no espelho. Convencia-se que o cabelo era bom, que maquiagem estava bem colocada, e que alguém a acharia bonita.

Tinha que esperar, cometer besteiras várias por km² até que seu final chegue. Até que adolescência faça algum sentido, que ser jovem não doa tanto, seja uma aventura.

Ela ainda sonhava, com um feliz, não para sempre, mas pelo menos, por um tempo que faça parecer que o para sempre seja muito pouco.

Confuso, eu sei, mas a mente de uma adolescente é confusa como um jogo de xadrez para um leigo. Um cheque-mate chega a ser impossível, mas as poucas probabilidades que fazem o jogo se tornar interessante aos trancos e barrancos”

E esse foi o texto. Filosófico, não é? Bem, eu nem sempre escrevia só histórias, tinha essas coisas também que pareciam querer sair de mim e ganhar vida no papel.

Acho que é isso é coisa de escritor, só o que eu encontro na internet é frases ou textos de escritores que nunca encontraram uma história. Então... Sei lá.

Acho que estava quase na metade quando...

- Escrevendo de novo Tessa? –escutei alguém perguntar.

Pontuei a frase e levantei o olhar. Dei-me de cara com uma garota alta, acho que com mais ou menos 1,70 de altura, cabelo castanho escuro com a parte de baixo pintada de verde preso numa trança que ia até o ombro com alguns fios cacheados soltos, e corpo nem gordo, nem magro.

- Valentina! –exclamei logo sendo repreendida pelas duas bibliotecárias que eu nunca prestei atenção nelas então não dá pra descrever. – Senta ai. –apontei para a cadeira na minha frente. Guardei meu caderno quase que ao mesmo tempo em que ela pôs um livro sobre mitologia grega na mesa.

Esqueci-me de dizer que depois das estantes ficavam duas fileiras com exatamente seis mesas para os alunos que quisessem ficar na biblioteca por um tempo. Eu estava numa delas, uma das do meio, vendo o movimento e escrevendo.

E outra, conheci Valentina ali mesmo, eu só ou na biblioteca ou em alguma das livrarias da cidade. Eu nem sabia em que ano ela estava na minha escola.

Fazia mais ou menos um ano, estávamos uma numa mesa e a outra na mesa da frente lendo A invenção de Hugo Cabret. Lembro-me de ter tirado o olhar do livro por alguns instantes, mas não lembro o motivo então vi.

            A garota na minha frente, lendo o esmo livro do que eu, estralei o dedos para chamar sua atenção. Ela olhou para mim, e depois para o livro que ainda estava em uma das minhas mãos e sorriu.

            - Coincidência estranha, né? –eu disse.

            Ela deu um riso abafado.

            - Senta aqui. –ela me chamou.

             Então nos tornamos as duas ratas de biblioteca. Vivíamos por lá sempre que podíamos.  Eu escrevendo, e ela lendo.  Eu até passei a mostrar alguns dos meus textos para ela. Nunca me senti uma escritora como diziam que eu era, sou imperfeita e potencialmente louca nos meus textos. Sou ridícula comparada aos grandes autores, mas ela me disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça, e sempre lembro quando quero desistir de uma coisa:

            - Sabe, Marilyn Monroe disse uma vez: “A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser absolutamente ridículo que absolutamente chato” acho que isso vale pra você, seus textos são geniais por causa do quanto são imperfeitos, loucos e ridículos. Você nos faz pensar Tess, é um dom.

            Garotas que gostam de cinema sempre sabem o que dizer. Parecem ter um script para a vida toda.

            Naquele dia, porem, o assunto dela era outro, Grécia, estava lendo umas coisas para fazer um relatório sobre os deuses olimpianos.

            - Sabia que eu odeio livros sobre mitologia assim? – ela apontou para o livro que tinha trago. – Informação demais, mas pouca coisa interessante.

            - Só conheço uma pessoa que entenda de mitologia. – falei um pouco sorridente. – Maxmillian Rue, se quiser peço ajuda a ele, tive que entrar numa espécie de clube com ele, a irmã, o drogado idiota do Hansel Dedrick. – Sim, acho que nosso caso foi ódio a primeira vista. - A Ramone Brücke, o estranho e o crânio do terceiro ano, Rudy e Garrett respectivamente, eu te contei né?    

Ela desviou o olhar um pouco envergonhada, me fazendo sorrir.

            - Tá brincando né? –falei me segurando para não rir. – Max?

            - Eu só... Acho ele bonito tá?  -ela falou mexendo na traça. - Só isso.

            - Se quiser...

            Foi quando aconteceu a coisa mais engraçada do dia, Max se materializou bem perto de nós e disse apontando o livro que estava com Valentina:

            - Esse livro ai é ruim.

            Foi quando os olhares dos dois se encontraram. Era até bonitinho de ver. Valentina ficou um pouco vermelha e resolveu fitar o vazio e Max coçou a nuca de um jeito envergonhado e até mesmo fofo.

            - Eu disse que ele sabia mitologia. –falei tentando melhorar a situação, mas é claro que pelo olhar do Max, ele percebeu que tinha sido um assunto em comum entre nós duas. – Max, essa é a Valentina, uma amiga minha. – Ele sorriu para ela e ela acenou para ele. – Vale, esse é o Max.

            - Oi. –ele disse. – Olha, se quer saber sobre mitologia mesmo pega... Espera, eu vou buscar.

            Quando ele se virou cai na gargalhada. Aquilo passava os limites do fofo real. Sério.

            - Olha só, Senhora Rue. –falei ainda rindo.

            - Para de rir Tessa! – Ela exclamou envergonhada. – O garoto não pode ser prestativo não?

            - Ah, todo mundo pode sonhar. –falei fazendo biquinho. – E você não disse que acha ele bonito? Então...

            - Eu desisto foguinho. – Ela vivia me chamando assim. - Você não presta.

            Sorri abertamente.

            - E alguma vez disse que prestava?

            Max voltou com dois livros nas mãos e os entregou a Valentina dizendo que eram os melhores, podia confiar nele. Ele era uma espécie de apaixonado por mitologia desde que se entendia por gente.

            Eles começaram a conversar sobre coisas tipo “O que você está fazendo aqui pelo colégio?”, “Sim, eu te entendo, irmãos mais novos são um saco, às vezes.” e “ Eu também! Acho que vi aquele filme, Hércules, da Disney, umas quinhentas vezes em um ano!”

            Eu participava pouco da conversa, que se resumia mais a sussurros e risos abafados. Depois de um tempo, ele tocou de leve no ombro dela e eles riram abertamente, as bibliotecárias até chamaram atenção dos dois, ai eu resolvi que era hora de dar tchau.

            Nossa, sentimentos de teletubbies voltando!

            - Max, sabe onde a Harley está? – de vez em quando não gosto das abreviações.

            - A última vez que a vi estava na portaria emboscada por uns novatos. Todo ano é a mesma coisa. –ele disse meio inconformado.

            Disse que tinha que falar uma coisa com ela, então peguei minha bolsa e me despedi dos dois. Valentina me lançou um olhar desesperado, mas eu pisquei para ela e sorri. Afinal não era todo dia que ela teria um garoto popular para conversar.

            Eu sei, eu sou uma ruiva que não presta nem um pouco!

            Passei pelos corredores da minha escola até encontrar um pequeno amontoado de gente. Estavam todos meio calados até que soltaram uma risada conjunta.

            Era a Harley.

            Ela estava lá, com o cabelo preso num coque frouxo dando uns autógrafos e respondendo umas perguntas com um sorriso no rosto e um jeito meio envergonhado e meio rebelde.

            Eu sabia que era o jeito dela na frente dos fãs e das câmeras. Poderia ter tido só alguns dias de acesso a alguns dos seus segredos, mas já a conhecia o suficiente para saber.

            - Acha que entra pro mundial? –escutei alguém perguntar.

            - Cara. – ela riu.  – Tem gente por lá que treina desde que tava na barriga da mãe. – algumas pessoas riram. – Acho que sim, mas agora to só concentrada no nacional, ainda tem chão pro mundial.

            - É verdade que o nacional vai ser aqui por sua causa? –perguntou outra.

            Eu sabia que esse era um dos assuntos que Harley estava querendo esquecer no momento, então gritei bem alto.

            - Cabelo azul, vem cá!

            Eu tinha dado esse apelido a ela. Não entendia porque ela gostava tanto de azul.

            - FOGUINHO! – ela gritou alegre. Já viu que esse é meu apelido oficial. – Galera, tenho que ir, falo com vocês depois.

            - Mas...

            - Vocês tem que ir para casa. –ela disse com o tom meio autoritário. – E também, eu não vou sumir, eu estudo aqui mesmo.

            Alguns sorriram e depois foram embora. Ela veio até mim.

            - Você me salvou. Vem à cantina comigo, to morrendo de fome.

            Eu disse que iria mandar uma mensagem para a Ramone para nos encontrarmos lá. Mandei a mensagem. E pelo caminho acabei contando sobre Max e Valentina sozinho na biblioteca falando sobre mitologia.

            - Essa eu queria ver. –ela falou. – Essa garota parece ser legal. As antigas namoradas dele eram um saco, acabavam magoando o meu irmão, odiava elas, sério! Só eram... Umas bonitonas sem cérebro. Se essa tal de Valentina cair na rede do meu irmão, pelo menos inteligente ela é.

            Eu sorri. Harley se preocupava muito com o Max, assim como ele se preocupava com ela. Era bonitinho.

            Chegamos à cantina logo. Ramone já estava lá encostada numa coluna de madeira escutando música. Harley foi pegar seu almoço e eu fui pegar uma mesa com a Ramone, era a hora.

            - Bem Tess. – Ramone começou. – Já que eu e você estamos aqui alimentadas e Harley está devorando loucamente seu almoço...

             - Ei! – Harley exclamou de boca cheia nos fazendo rir. – Tente aguentar fãs como eu tenho que aguentar todo santo dia.

            Ramone fingiu que não ouviu:

            - Pode me dizer o que queria tanto falar conosco hoje?

            - É sobre o Hansel e o Rudy. –falei.

            Harley parou de comer na mesma hora, me olhando séria e Ramone ergueu a sobrancelha quase que dizendo “continue...”

            - Harley tem razão, precisamos de todos para que esse clube de realmente certo e não vire algo para que a Miranda nos controle. –comecei. – E acho que sei de um jeito para que Hansel e Rudy venha para o nosso lado. Deu para perceber que na visão da diretora, eles são os dois mais problemáticos. E não sei sou a única a pensar que Rudy é perigoso, é melhor tê-lo ao nosso lado do que contra nós.

            - E como pretende fazer isso? – Harley perguntou. – Acho que eles pensam que eu sou a nova Miranda. E tudo que eu quero é... Sei lá, estamos nessa merda juntos, então vamos fazer ela do nosso jeito, não do jeito aquela cobra. –ela rosnou com raiva.

            - Uma de nós tem que falar com eles...

            - Eu já tentei falar com o Hansel. – Ramone me interrompeu. – Ele não me escuta.

            - Não, é alguém que entende os dois, que é tão cautelosa e cheia de planos como eles, a única de nós que lembra uma militar. – Olhei bem no fundo dos olhos castanho-claros de Harley. Confiava nela para aquilo, ela conseguiria, eu sabia no fundo da minha alma que ela conseguiria. Acreditaria nela – É você garota cometa. 


Últimas palavras deste relato:

Pense num livro, e este livro assim que você nasce ele está em branco, sem nada. Com o decorrer do seu tempo de vida coisas são escritas neles, depois apagadas e depois escritas de outra forma. Mas existem coisas que ficam para sempre. No final, na morte uma história será feita, uma história que você construiu, uma história sem título que será passada por gerações porque para alguém, não importa quem seja, você é inesquecível. Algo lhe uniu a essa pessoa, algo forte, que quando aconteceu pode parecer confuso. Com o tempo você verá que a confusão é a coisa mais bela que pode lhe acontecer.



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