- Isso é tão estranho pra mim. – sussurrei para o homem a minha frente – Parece que não tenho mais vida.

- Não deve pensar assim.

- Deveria pensar como? – virei-me para ele – Eu durmo e acordo quatro anos depois sem meu namorado, sem meu pai, com uma avó que não conheço um novo namorado engomadinho com a pinta do príncipe encantado da Bella Adormecida, além disso, descobri que sou uma princesa e que tenho um reino o País de Gales.

- Princesa...

- Não comece com “princesa”, todos estão me chamando assim, eu tenho nome não quero um titulo. – reclamei cruzando os braços, brava.

- Eva é comum não se reconhecer nesta nova vida, você passou por uma grande transformação nesses últimos anos, o acidente te deixou em coma, e seu subconsciente assumiu um modo de proteção, fazendo-a se esquecer de tudo, para que não se machucasse...

- Mas se for assim, esses quatro anos foram traumáticos pra meu próprio celebro decidir que esquecer seria melhor esquecer.

- Não desta forma, mas sim, não sei lhe informar se teve algo em sua atual vida que tenha lhe machucado para que seu corpo assumisse essa barreira.

- Como meu novo terapeuta obviamente não saiba nada sobre mim, apenas o que leu nos tabloides. – comentei observando-o atentamente – Você ainda não me disse seu nome.

- Dr. Magginetto. – anunciou ajeitando os óculos.

- Como no X-Men? – brinquei ainda olhando-o.

- Não sou um vilão Eva.

- Isso me é familiar. – sussurrei fechando os olhos – Essa frase…

- Consegue se lembrar de algo?

- Não, nada. – reclamei com dor de cabeça – Tudo nesses ultimos anos é um vácuo na minha mente.

- Com o tempo as memórias irão voltar.

- E se não voltar? Se minha vida ficar neste buraco negro? – perguntei já entrando em desespero.

- A melhor coisa agora é ficar com a sua família, ela dará a direção.

- E de isso não for o melhor? Minha família é estranha pra mim, uma mãe que nunca se importou comigo e uma avó que nunca conheci. – ri ironicamente – A família perfeita.

- Eva. – chamou fazendo-me olhá-lo – Tudo depende de ti.

- Típico, tudo cai nas minhas costas. – reclamei levantando – Sempre.

A sessão tinha terminado, sai da grande sala vendo já três pinguins me esperando para me levar ao Chateau, aquele típico segurança que já reconhecia como Ackel estava presente, mas também estava ali o outro que me dava arrepios na coluna, nunca soube ao certo seu nome, os outros seguranças o chamavam de Cales, parecia ser o superior deles, e mesmo com a cara séria podia ver algo em seu olhar, algo familiar e também doloroso em mim, eu não sabia, mas não confiava nele, não queria ele perto de mim.

- Ackel. – chamei caminhando lentamente, ainda estava mancando pelo ferimento visível na minha perna, o vestido floral deixava a mostra o grande corte agora enfaixado ali.

- Senhorita. – respondeu prontamente ajudando-me a chegar à porta – Como se sente?

- Cansada, mas bem. – sorri apreciando seus cuidados – Sem dores até o momento.

- Pronta pra ir princesa? – perguntou Cales fazendo-me revirar os olhos.

- Certamente. – respondi fria – Ackel alguma noticia sobre os gêmeos?

- Cada um com seu respectivo par.

- Ainda acho estranho Dark e Clara não estarem juntos. – disse mais a mim mesma do que pra ele – Bem vamos voltar para o mini castelo, preciso...

- Princesa? Eva?!

- Wow cara eu sou uma vadia. – exaltei afastando-me brava, tentando me firmar sozinha – Vaca! Vaca! Vaca! Isso que sou!

- Por que está dizendo isso? – perguntou quando me sentei em uma poltrona ainda com as imagens na minha cabeça.

- Porque sim, eu ia dizer que prepararia uma nova musica, quando umas lembranças de um show me vêm em mente. – contei colocando as mãos na cabeça – Eu estava me agarrando com um cara no camarim antes do show, eu sabia que era um show porque reconheci a roupa que tinha desenhado, era... Era tão vulgar, tão promiscuo que deu a entender que transaria com ele ali, se não fosse por Dark aparecer.

- Sua despedida de Los Angeles. – comentou o tal de Cales.

- Você estava lá? – questionei confusa.

- Entrei momentos depois. – afirmou sério.

- Ó Deus! – correi quase que ao tom tomate – Realmente sinto muito, eu... Eu não sei o que dizer.

- Você era imatura e inconsequente depois da perda do seu antigo namorado.

- Isso não justifica eu ter virado uma puta pra dormir com qualquer um. – disse brava comigo mesma.

- Você não é isso. – decididamente afirmou.

- Como você sabe, nem me conhece direito. – justifiquei olhando-o de cima a baixo – Nunca vi mais gordo.

- Princesa...

- Chega disso. – reclamei levantando – Ackel me leve pra casa, e mantenha-me longe desse homem.

- Eva... – tentou se aproximar ele.

- Não. – encolhi-me automaticamente – Você... Você me dá medo, algo dói em mim quando vejo você, não sei quem é; não sei o que fez, mas eu não gosto de você, não gosto.