Jogos Vorazes - Parte Dois escrita por Katniss e Peeta


Capítulo 23
Tortura de sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, fazia tempo que eu não postava, mas aqui está o capítulo 23



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Minha placa era totalmente negra, eu não enxergava a arena, isso era estranho.

                10... Monte uma estratégia, Gabriela. 9... Uma que proteja Dylan, não você. 8... Will. 7... Eles estão sedentos pelo seu sangue, monte uma estratégia. 6... Não se entregue como da última vez. 5... Não seja uma peça nos jogos deles. 4... Quatro segundos, se mexa, pense. 3... Lembre-se do por que está aqui. Lembre-se. Eles a odeiam. 2... Eles querem matá-la. 1... Corra.

                Claudius termina a contagem, rapidamente a cápsula negra se abaixa e estou no meio de uma floresta negra, as árvores em um tom de verde-escuro, as folhagens escuras, a relva seca. Estou sozinha no meio da floresta negra. Vejo uma mochila camuflada em baixo de galhos caídos, avisto mais uma lança em cima de um galho alto de um salgueiro seco e uma faca cravada bem no topo de uma árvore imensa. Os pertences estavam espalhados na arena, assim como os tributos.

                Logo percebo que a arena era idêntica àquela parte da floresta que eu havia ido no dia em que avisaram que eu iria voltar para cá.

                A voz de Haymitch no dia ecoa na minha cabeça. “Um de vocês terá que voltar para a arena.” Tudo volta na memória, o Pacificador, ele havia tentado me avisar que isso seria a arena, agora entendo, mas por que?  Em um ato de afastar o som coloco as mãos nos ouvidos, mas tudo retorna para minha mente, caio de joelhos no chão e solto gritos estrangulados, a Capital devia estar se divertindo com a minha dor. Começo a soluçar e gritar para as vozes irem embora, grito alto, alto o bastante para todos me acharem. A tortura era dolorosa, as vozes me desencorajando, me dizendo que eu não era capaz. Então me lembro de toda minha vida até conhecer Dylan, eu estava aqui sofrendo por ele, não era um bom motivo ser torturada por quem ama? Tento pensar nele, apenas nele, a única pessoa que agora eu queria amar. A única que eu amava. Pego uma pedra afiada e acalco fundo no meu braço, a dor me fez voltar à realidade.

                Consigo me levantar com um esforço imenso, agarro uma mochila e encontro uma lâmina de faca solta em baixo de uma rocha, então ouço Dylan gritando, não por mim, mas de dor.

                Saio em disparada na direção da voz, não vejo nada, então começo a gritar seu nome, mas tudo continua silencioso. Uma mão macia toca em meus cabelos e eu me viro depressa. O garoto do Distrito 4 – Dickon - me olha e sorri com uma pequena faca apontada para o pescoço de Dylan, que estava com um corte não muito profundo na virilha.

                Dickon passa os dedos entre meus cabelos enquanto andava em círculos ao meu redor com Dylan de reboque e eu fico imóvel, apenas esperando ele falar.

                - Vejamos garota com as facas, acho que encontrei seu namorado primeiro. Ele até implorou para que eu não a matasse, então tive que fazer isso ali. – ele aponta para o corte na virilha dele.

                - O que você quer? Solte-o. – rosno ainda parada.

                - Isso não são os Jogos Vorazes? Se eu o matasse seria um tributo a menos. – ele sorri.

                - O que você quer? – falo em um tom mais alto pausando em cada palavra.

                - Aliança. Eu solto o garoto e você se torna minha aliada.

                - Isso é ridículo! – grito enfurecida tirando a lâmina da faca do bolso.

                - Garanto que vão vai precisar disso ali. – ele aponta para o metal que reluzia em contraste com a noite em minhas mãos.

                Olho para Dylan que balança negativamente a cabeça até que o garoto a segura.

                - Solte ele. – falo atirando a lâmina da faca para Dickon.

                Ele sorri e sussurra um “boa escolha” no meu ouvido direito.

                Ele empurra Dylan para frente, que se choca com uma árvore seca e cai no chão. As lágrimas custam para não sair do meu rosto, mas então Will aparece e dá um soco na cara de Dickon que pega a faca enfurecido e me empurra para trás.

                Caio no chão e não consigo mais levantar, só vejo Will gritando para Dylan me tirar dali, sinto seu corpo musculoso me erguendo com dificuldade devido a sua virilha machucada e sair correndo.

                Meus olhos se abrem e demoram alguns minutos para focalizarem que estou dentro de uma espécie de caverna? Não sei como posso chamar isso, tem uma espécie de mini túnel perto de uma árvore caída, aqui dentro é quente e quase invisível para todos.

                Passo a mão na nuca e sinto um corte, mas não fundo e já tinha parado de sangrar.

                - Dylan? – minha voz sai quase como um sussurro.

                Nada, ninguém responde. Levanto-me assuntada e saio do pequeno túnel, olho ao redor para a mata seca e enegrecida, então o vejo sentado em uma rocha grande, me aproximo devagar e me sento na sua frente na grama seca.

                A calça de Dylan estava rasgada e ensopada de sangue na parte em que Dickon o havia cortado. Vejo que ele conseguiu uma faca e uma mochila, pego a faca e corto a parte cheia de sangue para examinar o ferimento, não era tão profundo e já tinha parado de sangrar, mas devia estar bem dolorido.

                Reviro a mochila tentando procurar alguma coisa de primeiros socorros, mas não encontro nada além de frutas secas, tirinhas de bife, óculos noturnos, dois sacos de dormir três garrafas vazias.

                - Está doendo muito? – pergunto me sentindo culpada.

                - Não, daqui a pouco isso some. – ele força um sorriso e faz sinal para eu me sentar ao seu lado, mas eu podia ver a dor em seus olhos.

                - Me desculpe. – falo me sentando ao seu lado. Já estava amanhecendo e estava muito frio.

                - Pelo o que? Você praticamente me salvou, ele iria me matar.

                - Me desculpa por não ter te encontrado a tempo, se eu tivesse... se eu não tivesse gritado e chorado daquele jeito, eu... – ele me corta nesse momento.

                - Gritado e chorado? – ele esquenta minhas mãos geladas e me olha no fundo dos olhos.

                - Quando eu vi a arena, eu lembrei daquele dia na floresta, que eu saí sem rumo, chorando e você me encontrou, foi lá que o pesadelo começou, isso é idêntico, você não percebe? – vejo que estou gritando e segurando firme as suas mãos, então eu suspiro e as solto.

                - Não precisa se desculpar por isso. Não foi culpa sua. – ele sorri e segura novamente minhas mãos.

                - No que estava pensando? – pergunto.

                - Gabriela – ele se vira e me olha com os olhos alertas e preocupados. -, prometa que vai voltar pra casa, seja lá o que acontecer comigo, por favor.

                - Por favor, não quero falar sobre isso, nós sabemos que nenhum dos dois pode prometer isso ao outro. – digo me levantando quando começa a chover. – Venha para dentro. – Dou mais um passo quando uma pontada do lado da barriga me faz cair de joelhos.

                Dylan vem correndo até mim e me ergue no colo, levando-me para dentro. Sinto tudo virando, eu estava tonta e suando, devia estar com febre.

                - Você está bem? O que houve? – ele me deita por cima do saco de dormir com a cabeça no seu colo enxugando minha testa.

                - Eu não sei. – minha voz soa muito rouca. - Minha barriga está... doendo muito. – finalizo.

                - Onde? – pede ele com certo brilho nos olhos.

                - Hã... aqui. – coloco a sua mão onde eu senti a dor antes.

                Ele sorri largamente a passa a mão na minha bochecha.

                - O que foi? – pergunto confusa.

                - Devia ter notado que estava tão... emotiva ultimamente. – ele sorri e beija minha testa.

                - Não entendi.

                Ele apenas sorri e passa a mão na minha barriga, mas seu sorriso logo some.

                - O que foi, Dylan? – pergunto me sentando.

                - Eu queria conhecer meu filho.

                - Você vai, a gente vai voltar para casa, vamos ter um filho. – falo passando a mão no seu cabelo.

                - Gabriela, você está grávida. – diz ele. – E apenas um sai vivo, você sabe que vai ser você.

                - Não estou grávida, eu queria estar, mas não estou. E nós dois vamos voltar vivos. – falo deitando a sua cabeça nas minhas pernas.

                - Está sim. – ele sorri e faz carinho na minha mão. – Você precisaria de um ato de rebelião enorme para sairmos vivos daqui.

Fico imóvel por um tempo, apenas procurando um indício de que minha barriga havia crescido, então eu agradeço por não ter câmeras no túnel.

- Dylan, eu preciso terminar o que a minha mãe começou. Ela disse pra mim não ser quem não era, e eu vou fazer isso, ser quem eu sou, não vou ser mais um peão no jogo de xadrez da Capital, eu não vou lutar para o rei se manter protegido, a Capital vive dos distritos, que são os peões e as outras peças quase inúteis, e ela é o rei, que apenas fica observando tudo e foge nas últimas horas, mas todos os peões e as outras peças inúteis juntas, formam belas jogadas, juntas elas podem dar um xeque, depois um xeque mate. Eu sempre fui uma mera pecinha, você também, todos foram, todos são e está na hora de mudarmos isso.

- Gabriela, você não vai colocar a sua vida e a do bebê em risco, estamos falando de uma rebelião, não um tapa na cara como o que deu no dia da entrevista. – fala Dylan se virando para me olhar.

- Aquilo não foi um tapa na cara, foi o início de um levante. – digo olhando em seus olhos e aquela Gabriela selvagem de um ano atrás quase volta a minha realidade.

Mas então Will pula dentro do nosso abrigo esbaforido me puxando pelo braço.

- Ei! O que foi? – grito tentando me soltar.

- Corram. Mutações. – ele grita me puxando para fora, Dylan vem correndo ao meu lado e então eu avisto linces enormes de olhos dourados correndo atrás da gente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado xoxo



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