Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 21
Um canto lacrimoso


Notas iniciais do capítulo

Nada a declarar.



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O dia ainda estava fresco, apesar do sol dourado que subia lentamente. Indo em direção à praça de flores de cerejeira brancas, estavam Akita e Hayato. O pequeno não estava acordado, na verdade estava sendo carregado nas costas do albino, que também levava as mochilas de ambos.

À distância Hayato já conseguiu identificar os cabelos unicamente escarlates de Daichi.

— Ah, vocês chegaram! — exclamou o ruivo.

Ele estava com roupas casuais de passeio, assim como os outros dois. Usava uma calça jeans desgastada e uma blusa preta com listras finas cinzentas na horizontal, com uma mochila enxadrezada no ombro.

— Desculpe, acabei chegando mais cedo — disse Daichi quando chegaram mais perto. — É que o zelador acorda muito cedo, então tive que sair de lá quatro da manhã.

— Sem problemas — falou Hayato. — Desculpe a demora também. Akita acordou só para trocar de roupa e voltar a dormir. Tive que arrumar as nossas coisas, limpar o quarto para não deixar vestígios, cancelar as matrículas, devolver os livros e os cadernos, levar os uniformes para a tesouraria, colocar as chaves no depósito e despistar a bibliotecária. Ainda tivemos que sair escondidos.

— Hã? Escondidos? Por quê?

— Não te contei? Desde que chegamos aqui em Terrae estamos sendo seguidos.

— Então é por isso que estou sentindo aquela presença estranha o tempo todo!

Hayato colocou Akita no banco ao lado para que acordasse, antes de responder:

— É. Sabe, por um tempo pensei que era você. Fui um completo tonto. Sua presença é completamente diferente.

Daichi parou por uns momentos, pensativo. Até que desanuviou a expressão e disse:

— Estava pensando em irmos para a casa desse tal visconde de táxi ou ônibus. Aliás, as passagens hoje estão com desconto.

— Vamos de ônibus — disse Hayato imediatamente, no exato momento em que Akita despertava. — Se essa pessoa que está nos seguindo estiver planejando uma emboscada, não iram o fazer se tiver muita gente normal em volta.

— Boa ideia! Então vamos rápido para a rodoviária, o próximo ônibus para Caeli, se perdemos esse agora, sai só de noite.

Hayato afagou a cabeça de Akita, chamando a atenção do mesmo — que nesse instante bocejava abertamente.

— Acorde direito e vamos, sim?

Akita balançou positivamente a cabeça e colocou sua mochila nos ombros, levantando-se. Mas ainda estava com o corpo amolecido nessa hora. Não demorou nada e ele caiu para trás, sentando-se novamente.

— Ai — disse ele baixinho. — Bati meu bumbum.

Daichi riu e ajudou-o a se levantar.




Já estavam na metade do caminho. Ainda bem que haviam poucas nuvens no céu, então não estava quente. E, por sorte, o ônibus não estava lotado.


Akita não queria ficar separado dos outros, então sentou-se bem no meio dos dois mais velhos, acomodando-se confortavelmente. Como era pequeno, cabia perfeitamente na maioria dos lugares. Ele e Daichi dormiam a sono solto, o menor encostado em seu ombro e o ruivo na cabeça do outro. Ambos soluçavam baixinho algumas palavras no meio do sonho, mas nem mesmo Hayato entendia o que falavam.

O albino lia um grosso livro de capa de couro, cujo título fosco quase não podia ser lido. Embora o veículo desse chacoalhadas, não o atrapalhava nem um pingo. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto, com alguns fios soltos no rosto.

Na metade do caminho houve uma parada em um restaurante à beira-estrada. Era bonito, limpo, claro e confortável. Hayato acordou os dois dorminhocos, supondo que estariam com fome. Acertou na mosca. Ambos saíram quase correndo do ônibus, com os cabelos bagunçados e as roupas amarrotadas, para a lanchonete.

Foi uma bagunça ao quadrado, pois Akita prendeu a barra da blusa na cadeira e não conseguia soltar de jeito nenhum. Foi um estardalhaço enorme, onde a cadeira foi arrastada para lá e para cá, jogada no chão, batida na parede e chacoalhada. Enfim, quebraram a cadeira e saíram do restaurante deixando o pagamento em cima da mesa, mais uma gorjeta para tentar cobrir os custos de uma nova cadeira.

Chegaram em Caeli uma hora depois. Na verdade não foi dentro da cidade, propriamente dizendo. Foi na entrada que tinha uma parada de ônibus, onde os rapazes desceram.

— Então, como chegamos na casa do visconde? — indagou Daichi.

— Mandei uma carta uns dias atrás — disse Hayato, procurando em volta. Eles estavam perto da confeitaria em que Theo sempre ia. — Pelo que vi na resposta, temos que encontrá-lo aqui...

— Ele está ali! — exclamou Akita de repente, apontando no amontoado de gente uma cabeça loira. — Visconde Khaaan! Estamos aqui!

Theo, como sempre acompanhado de Bethany, parou na porta e virou-se na direção do chamado. Seu rosto se iluminou ao ver Akita pulando para ser enxergado e acenando e Hayato ao lado, procurando o visconde. Ele partiu em direção à eles, com passos largos e rápidos.

— Que bom que chegaram — disse ele, parando à frente dos rapazes. Vendo Daichi recostado à parede de uma das casas, continuou: — E fico feliz que tenham encontrado um aliado.

— Sim, ei, podemos sair da rua? — perguntou Hayato distraidamente. — Não podemos nos demorar demais aqui, sabe, tem alguém atrás de nós.

— Ah, sim. Claro. Vamos para a carruagem então. Bethany, se puder ir na frente...

A criada assentiu, abrindo graciosamente caminho entre as pessoas até a carruagem.

Com o sacolejar do veículo elegante, Hayato contou exatamente como o plano seria executado. Akita não disse absolutamente nada e Daichi opinou muito pouco. Bethany simplesmente não ouviu, enquanto o visconde fazia algumas perguntas no meio da explicação. Ao fim, disse:

— Por qual motivo quer tanto assim ir àquela festa, Hideki? Não vejo razão para tanto esforço.

— Sei lá... — Akita falou pela primeira vez desde que entraram na carruagem, e já estavam na frente da mansão. — Intuição.

Após essa última palavra ser dita, a carruagem parou na frente da porta da mansão, onde desceram e entraram. Ray, a empregada, lustrava meticulosamente o corrimão da escadaria com um pano. Levantou a cabeça quando a porta se abriu.

— Ah, mestre! — disse ela, interrompendo os movimentos circulares e cuidadosos que fazia no corrimão. — Se puder esperar um pouco, já irei lhes fazer um pouco de chá. Bethany, pode ir separando as xícaras e o bule, por favor?

— Estão no armário do canto? — perguntou a criada.

— Sim.

— Já volto. Com licença.

Com mais uma inclinação, Bethany entrou na segunda porta à direita, fechando-a silenciosamente. Nessa hora, o jardineiro Vincent — que nesse dia usava uma camisa de flanela gasta — saiu por outra porta com uma grande tesoura de podar em mãos. Abriu um sorriso ao ver o visconde e seus convidados.

— Mestre — falou ele —, queria saber se prefere rosas azuis ou margaridas vermelhas no jardim.

— Tente colocar as rosas no jardim de trás e margarias no da frente — respondeu o visconde, pendurando por si mesmo o casaco no cabideiro. — Se puder colocar aqueles girassóis brancos espalhados seria ótimo.

— Estou indo então.

Vincent saiu porta afora para o jardim para podar as árvores, e já pensando na maneira com que iria dispor as flores.

— Vamos para um salão maior dessa vez — propôs Theo. — Creio que Takeshi já esteja nos aguardando.

Dessa vez ele conduziu os rapazes para outra porta, que deu direto para um cômodo grande e alto. Quatro sofás no centro tinham uma mesinha baixa no meio, uma escrivaninha maciça no canto — longe da janela com grandes cortinas — tinha uma pilha pequena de papéis em cima, duas estantes do outro lado estavam cheias e cheias de livros. Mesas longas nas paredes continham vasos de cristal fino e pequenas esculturas de pedra bruta,

Deitado em um dos sofás estava Takeshi, lendo um livro de capa verde. Na mesinha à sua frente havia uma bandeja de prata com um prato de biscoitos de chocolate. No canto estava Ayumu, que guardava alguns outros livros nas prateleiras das estantes.

— Tio Theo — disse Takeshi sem nem mesmo erguer a cabeça para saber que era o visconde —, por que você guarda esses livros chatos? E por que eu tenho de lê-los?

— Porque sim e — falou Theo, respondendo às perguntas — porque sim. Por favor, sentem-se.

Akita se encaminhou ligeiramente encolhido para um dos sofás, sentando-se ao lado de Hayato. Daichi, por sua vez, acomodou-se perto do visconde. O ruivo não parecera impressionado ao entrar na mansão, agindo como se aquilo tudo fosse comum de se ver todos os dias.

— Acho que devo dizer-lhes uma coisa antes de começarem o plano maluco de vocês, seja lá qual for — começou Takeshi, fechando o livro e se endireitando —, mas sabem aquele velho pedófilo que mora naquela casa enorme lá longe?

— Sei — responderam Daichi e Hayato em uníssono.

O pequeno não sabia, só que mais tarde lhe disseram que era um marquês privilegiado de Caeli.

— Ele tem um filho igualmente pervertido — continuou Takeshi —, e é ele que está dando a festa. Na verdade, tem uma lógica deveras burra nisso tudo, e óbvia. Os convites são mandados apenas para moças bonitas, por um motivo muito simples: essas moças sempre vão acompanhadas por rapazes bonitos também, ou na maioria das vezes.

— Ótimo, agora Akita não pode nem pensar em recuar — comentou Daichi de repente.

— Um amigo meu vai vir tirar suas medidas hoje mesmo, Hideki — informou o visconde, pescando um dos biscoitos da bandeja.

Akita assentiu.

— Certo, então, como o convite foi mandado para Akita — disse Hayato —, pensam que ele é uma garota. E com certeza ficarão felizes se descobrirem que não é, mas não pretendo deixar que isso aconteça, porque vai desencadear uma coisa muito ruim. — Alguém aqui entendeu qual é essa coisa ruim? Akita em si nunca descobriu o que era, mas se pensar um pouco acho que você descobre. — Vamos vestí-lo de garota, como ele já concordou, e Daichi será seu acompanhante. Eu irei como servente, porque vai facilitar meu acesso aos lugares.

Um momento de silêncio se seguiu.

— Akita tem quase certeza de que esse tal filho do marquês Mountbatten esconde algo podre — falou o albino. — Por isso, ele vai abordá-lo de alguma forma, enquanto Daichi dá umas olhadas no saguão e eu vou tentar me infiltrar nos aposentos interiores. Esqueci de algo?

— Não que eu tenha percebido — disse Daichi. — É simples e fácil. Ficaremos aqui até o dia?

— É — respondeu o visconde.

A porta se abriu e Bethany entrou com outra bandeja de prata, com xícaras e um bule de porcelana em cima. Ela depositou-a na mesinha, puxando para o lado a bandeja com biscoitos. Quando ia colocar o chá nas xícaras, Ayumu a interrompeu com uma exclamação gentil:

— Deixe que eu sirvo, Be-san!

Bethany assentiu e deixou o cômodo. Ayumu se adiantou para o bule e, com uma delicadeza admirável, serviu o cheiroso chá — um tipo diferente que você com certeza não conhece, que é um meio termo delicioso entre chá preto e chá verde (sim, cores, cores) em medidas exatamente iguais nas xícaras. Só então que deu para notar que a franja não estava mais nos olhos, estava presa no alto com um grampo, deixando aparecer seu rosto gentil. Também estava mais sorridente do que da última vez, quando chorou profusamente um bocado de tempo.

— Takeshi-sama — disse Ayumu, entregando as xícaras —, não esqueça-se que temos de ir buscar aquela roupa no alfaiate da cidade. Não planeje nada para ocupar a tarde.

— Certo, certo — falou Takeshi desinteressado. — Pegue um desses biscoitos, estão uma delícia.

— Ah, não, não posso.

— Pegue logo!

— Mas...

— Venha aqui então.

Ayumu deu uns passos em direção à Takeshi, que colocou um dos biscoitos na boca do criado. Ayumu sentiu o gostinho do chocolate ainda derretido.

— Viu como está bom? — disse Takeshi. — Agora termine logo de comer isso e deixe de frescura.

O menor não respondeu, mas começou a mordiscar timidamente o biscoito.

Eles terminaram de discutir sobre o plano, sobre como fariam cada detalhe, antes de irem se retirando um a um do cômodo. Ayumu disse que ia organizar as coisas de Takeshi para que pudessem ir logo para o alfaiate. Sobraram só o nobre e Daichi ali. Não trocaram palavras por uns segundos, até que Takeshi decidiu quebrar o silêncio.

— Você deve ser tão louco quanto eles. Concordar com uma coisa ridícula dessas... fala sério!

— Louco?

— É!

Daichi não retrucou, apenas recostou-se no espaldar do sofá.

— O que é a sanidade senão a própria loucura? — disse ele.

Takeshi não esperava aquilo, arqueando a sobrancelha. Por fim, deu um "hn" e um sorrisinho de lado.

— Talvez... — murmurou.


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Hayato acompanhou Akita até o quarto que seria do pequeno pelo tempo que ficariam ali. Ao abrirem a porta, ouviram um canto afinado, notas apenas. Akita reconheceu o tom certamente lacrimoso que tocava.


Correndo os olhos pelo quarto, vizualizou ao lado da janela um pássaro bonito. Ele cantava para o céu do outro lado do vidro, mas não aparentava querer sair. Uma de suas asas estava com um curativo e um pequenino e fino bastãozinho para os ossos frágeis não piorarem, e sim melhorarem.

Era o pássaro ferido que Akita viu, na primeira vez que estava indo para a mansão.


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Notas finais do capítulo

Hum, tá uma merda, eu sei. Deve ter um monte de coisa errada, eu sei. Caso não tenha entendido algo, onegai, coloque no review porque é melhor do que continuar com uma dúvida. Kissuss!!! ♥.♥



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