Era uma vez uma escola bonita e cara, além de ser grande e bem-cuidada. Ela tinha quatro andares e um grande relógio na frente, cercada por um grande pátio. O portão da frente tem como companhia árvores de flor de cerejeira brancas e um portão cor de creme. Existem quadras de tênis, baseball, futebol, vôlei, basquete, atletismo, além das piscinas para natação e pólo-aquático, e o campo de arco e flecha (tiro ao alvo), e mais as outras salas de aulas complementares e clubes.

Essa é a Chuushin Gakuen.

Os uniformes são bem confeccionados, os alunos são ricos e, na sua boa parte, razoavelmente inteligentes. Os professores são talentosos e sorridentes, mas sempre têm os carrascos que ninguém suporta.

Vamos iniciar a história depois da aula, quando todos já saíam das salas, animados por finalmente poderem ir para casa ou para as aulas complementares. Passando pelo pátio estava um pelotão de estudantes, eles conversavam alegremente, até que pararam ao ver uma figura nada alegre sentada no banco.

— Oi, princesa! — exclamou um deles, em tom de zombaria. — Por que não foi à aula hoje? Sentimos falta de seu... hum... rosto delicado!

E o pelotão riu, então eles começaram a gritar ofensas rudes em bom som. Até que a figura fechou o livro que estava lendo e se levantou. Era um garoto muito bonito, de cabelos negros sedosos arrebitados na ponta e olhos grandes e dourados, os quais a franja ultrapassava. Sua pele era clara e delicada como porcelana. Ele era pequeno em comparação aos outros de sua série, além dos da série abaixo. Parecia uma garota, sim, sem dúvidas. E sempre era confundido por uma e difamado por isso. Seu nome era Hideki Akita, estudante da sétima série. Mais especificamente da 7-A.

Sem dizer uma palavra, virou-se e foi embora, ignorando os assobios e gritos zombeteiros. Todos os dias era assim, por isso não ia mais às aulas, já que os professores nada faziam quanto a isso. Era sofrido ir à escola.

Akita não era um dos estudantes riquinhos que pagavam horrores para poderem frequentar a escola. Na verdade ele morava em um orfanato do centro da cidade. Ele era um bolsista pobre que conseguiu ir para lá gabaritando a prova de aceitação. O primeiro bolsista em cinco anos.

A verdade era que Akita só estava lá de enfeite, já que o diretor pouco se importava com suas notas, e ele não conhecia os professores e se lixava para seus colegas de sala. Sua expressão era sempre indiferente e dura, já acostumado a ser humilhado e ser alvo de chacota pelos outros.

O único que verdadeiramente se importava com Akita era o gentil enfermeiro, Kenichi. Akita sempre passava o turno de aulas lá, conversando com o enfermeiro. Era extremamente agradável passar o tempo com Kenichi, já que ele não achava ele ridículo por causa de seu rosto, muito pelo contrário.

— Você não tem culpa alguma de ter nascido desse jeito — sempre dizia Kenichi. — Eu, por exemplo, gosto da sua aparência. Não acho ruim. Os outros que transformam isso em uma coisa terrível.

E era esse pensamento que ajudava em muito Akita a suportar as gozações. "Não tenho culpa de ser assim", pensou Akita, afastando-se do pátio e subindo ao telhado.

No dia seguinte, as flores de cerejeira estavam mais lindas do que nunca. As pétalas esbranquiçadas caíam em rodopios ao chão, ajudadas pela brisa fresca de primavera.

Akita, como sempre, não foi para a aula. No intervalo sempre ia para os fundos, que era esquecido pelo resto dos estudantes e pelos professores, lembrado apenas pela zeladora. Era um lugar silencioso e bonito, com uma grama verde e bancos de madeira clara, com muitas árvores de flor de cerejeira, como as da frente da escola, fazendo sombra na grama e nos bancos.

Lendo um livro, lá estava Akita. Sentia-se em paz naquele lugar. Estava tão absorto com a leitura e tão distraído pelo vento suave que acariciava seu rosto, que nem notou que alguém se aproximava.

— Por que está aí sozinho?

Levou um susto quando ouviu a voz, fechando o livro rapidamente. Akita levantou a cabeça para identificar o autor de tal timbre bonito e suave. Era um rapaz de altura normal e, bom, Akita teve de admitir, ele era lindo. Os macios cabelos prateados iam até os ombros finos, a franja de volume certo indo até os olhos azulados. Sua pele era clara e bonita. Embora fosse bonito, de forma alguma parecia uma garota. Akita sentiu uma ponta de inveja por isso.

Ao ver que Akita não respondeu, o rapaz continuou.

— Estava te procurando, sabia?

— Se quiser tirar sarro de mim, vai ter que entrar na fila — Akita finalmente abriu a boca, revelando uma voz aveludada e ligeiramente aguda, mas que atribuía um imenso charme.

O rapaz sorriu e se sentou ao lado de Akita.

— Sabe como te encontrei? — disse ele, decidido retomar a conversa. Sem esperar resposta, continuou: — Me disseram que o outro bolsista era uma garota em uniforme masculino. Eles ainda acrescentaram que nunca a encontram durante o turno de aulas, então só pude supor que estivesse aqui, onde ninguém nunca vem.

Akita não esboçou nada, sem desviar o olhar do livro — sim, ele achou novamente a página e recomeçou a ler.

— Mas eu não encontrei essa garota — continuou o rapaz, mirando o pedacinho azul de céu que dava para ver atrás das flores brancas. Aquelas palavras forçaram Akita a levantar o rosto para o albino, surpreso e espantado. — Quando cheguei aqui só achei um garoto bonito e de ar solitário se isolando do resto do mundo.

Os olhos dourados de Akita se arregalaram ligeiramente. Era muito difícil alguém arrancar aquela reação dele.

— Agora que você assumiu um ar um pouco menos solitário e parece disposto a escutar o que digo, posso me apresentar — disse o rapaz, com mais um sorriso. — Meu nome é Raiden Hayato, mas me chame apenas de Hayato. Estudo na 8-C.