Fui ao trabalho sem dizer uma palavra e trabalhava sem dizer uma palavra. Estávamos no mesmo corredor, e Zachary me olhava daquele jeito.
Ah, você sabe né Zacky... Você sabe...
- O que tá olhando Haner? – Ele me perguntou. – Você tá me encarando desde que chegou.
- Não finja que não sabe Zacky. – Fiz meu olhar reprovador.
- Mas eu não sei! – Continuou arrumando as coisas.
Você sabe sim... Essa boca na minha barriga... Me dá até vontade de rir.
- Do que você tá rindo? – Me perguntou.
- Do meu sonho. – Olhei para ele. – Ah, deve ter sido os piercings...
- Você está me assustando Brian. – Ele arqueou uma sobrancelha.
- Zacky, aonde nós guardamos a chave lá em casa?
- Err... Na minha época era debaixo na terceira pedrinha perto da porta, por quê?
- Você sabe Zacky... Você sabe...
Ele falou algo que eu não entendi e mudou de corredor. Eu fiquei sozinho e com medo de ser estuprado. Eu tenho esse medo sempre que ele está por perto, e agora quando ele não está também.
Se a Kenna não tivesse me acordado, eu teria batido nele no meu sonho. Eu teria feito o nariz dele ficar pequeno a socos, iria arrancar a barriga dele com a unha, eu ia... Ficar ainda mais excitado...
PORRA BRIAN!
Resmunguei alguma coisa e fui trabalhar. Eu ainda tinha que descarregar a mercadoria, parece que eu vendo drogas, e arrumar o estoque. Trabalhei e matei tempo como sempre e logo eu estava arrumando o estoque e desejando que essa uma hora passe rápido para eu ir embora.
Ah, eu deveria ter feito faculdade viu... Ô trabalhinho chato!
E por mais que eu me distraia arrumando o mercado, aquela bosta daquele sonho não sai da minha cabeça. Oras como eu vou esquecer um sonho daqueles? Era nojento, estranho e intrigante. Sorte que a Kenna me acordou para falar a verdade... Okay, me deixa trabalhar!
E eu trabalhava tranquilo até ouvir aquela voz e dar um pulo olímpico.
- Que isso Brian? Que pulo gay foi esse? – Ele perguntou.
- Eu estava te imitando. E agora finge que tem um terremoto. – Sorri e ele virou as costas.
Eu sou irritante eu sei, e eu também sei que um dia ele vai explodir e eu vou apanhar, mas eu não consigo parar. Parar vai contra as minhas regras.
Ah, por que eu fiquei excitado, alguém me responde?! Isso é nojento e contra as minhas regras também, além de isso ser gay é zoofilia com a baleia ali. Se alguém souber disso eu estou fudido, mas eu vou cometer suicídio se eu não contar pra alguém.
Estou com um serio problema aqui...
- Brian? O que você tá fazendo? – Zacky me perguntou. Quando eu percebi, eu estava tirando tudo que eu tinha colocado no lugar certo e colocando em outro lugar.
- Ah caralho! É tudo culpa sua! – Comecei a arrumar de novo.
- Por que raios a culpa é minha?  - O olhei raivoso.
- Se eu estou dizendo que é sua, a culpa é sua e não te interessa o motivo.
- Você continua louco. – Continuou arrumando a mercadoria também.
- Não aja como se me conhecesse. – Empinei meu belo nariz.
- Mas eu te conheço lindo... Mais do que você imagina. – Ele deu aquele sorriso de novo.
VOCÊ SABE NÉ SEU PUTO, VOCÊ SABE!

Terminei o meu expediente e fui para casa. Hoje James realmente sairia com a Leana, até me convidaram, mas eu acho melhor não. Eu não vou muito com a cara dela.
Cheguei em casa e não tinha ninguém e então o universo começou com as gracinhas dele.
Procurei a chave no lugar de sempre e não estava, fui ligar pros meus pais e meu celular estava sem bateria. Aonde que eles vão a essa hora?!
Então eu teria que fazer algo que eu nunca pensei que faria novamente. Ir a casa dos Bakers.
Caminhei lentamente até lá, abraçando meu corpo, pois hoje também está frio, mas hesitei quando cheguei à porta. Virei às costas e pensei em voltar para casa e esperar, mas um pingo de chuva que caiu no meu nariz me obrigou a voltar, engolir o meu orgulho e tocar a campainha. Universo 4 x Brian 0.
Fiz o que tinha que fazer e a senhora Baker atendeu a porta.
- Brian? O que você quer?
- Meus pais saíram e eu tô sem a chave e meu celular sem bateria, e começou a chover. Eu posso entrar e ligar pra minha mãe? – Fiz minha cara de cachorro que ficou na chuva. Era uma cara verdadeira.
- Claro, entra, mas acho que você vai ter que esperar aqui.
Lá estavam o Baker e o Sanders olhando televisão. A senhora Baker se arrumava e o senhor Baker estava com terno e tudo. Acho que eles vão sair.
- Nós temos um jantar para ir hoje, provavelmente o mesmo que seus pais foram Brian, sinto muito. Fique aqui com os meninos até eles voltarem. E sem brigas.
Sentei no sofá, com medo da cara de bravo do meu patrão, e fiquei olhando em silencio para a televisão. Os pais do Zacky saíram e ficamos apenas eu, Matt e Zacky em casa. Sentados nessa mesma ordem no sofá. Sem dizer uma palavra, até Matt rir e levantar.
- Vou tomar um banho. Boa sorte ai BriBri. – Riu e subiu as escadas. Medo...
- Quer ver o quê? – Zacky perguntou pegando o controle.
- Qualquer coisa me diverte. – Ele me olhou de canto. Isso teve algum duplo sentido pra ele?
 Colocou no canal de desenhos e foi para a cozinha. Voltou com dois copos de refrigerante e uma tigela de salgadinhos. Sentou do meu lado e colocou a tigela em seu colo, me entregando um dos copos.
- Foi garçom em Newport Beach? – Perguntei graças à habilidade dele de trazer tudo aquilo e não derramar nada.
- Não, quando se é gordo a gente aprende a ser habilidoso com essas coisas. - Riu.
Estávamos em silêncio olhando televisão, até a eletricidade faltar. Ótimo.
- AH CARALHO DE AGUA FRIA DO DEMÔNIO! – Matt gritou e eu tive que rir.
A casa estava totalmente escura, pois as janelas estavam fechadas e bem, a rua toda estava sem luz, então se estivesse aberta, seriamos iluminados pela lua e seria muito gay.
- O jantar vai ser ótimo. – Falei irônico.
- É em outro bairro, talvez lá tenha luz.
- Zacky... Tá ai né? – Estapeei o sofá. – Zacky?
- Eu tô aqui Bri...an. – Ele pegou a minha mão e pôs no nariz dele, digo, no rosto dele.
- E vai ficar aqui né?
- Ainda tem medo do escuro? Você tem vinte anos Brian! – Ele riu.
- Não é engraçado okay? Eu sou traumatizado e é culpa de vocês.
Quando nós éramos crianças, nós vimos aquele filme O Exorcista e dormimos todos na casa do Jimmy. Eu fiquei com medo, claro, e os animais ficaram fazendo brincadeiras à noite toda comigo e com o Johnny, como bater embaixo da cama, puxar os pés e fazer barulhos estranhos. O anão superou, mas eu nunca mais dormi como antes.
- Eu sou legal, diferente de você, e não vou a lugar nenhum okay?
- Valeu... – Me aproximei mais dele.
EU TÔ COM MEDÃO OKAY?!
- Que horas são? – Perguntei.
- Como eu vou saber?
- Celular.
- Vê você, o meu não tá aqui.
- O meu tá sem bateria.
- Espera que eu vou buscar o meu. – Ele quis levantar, mas eu não deixei.
- Não me deixa aqui sozinho.
Ele suspirou e eu senti o braço dele envolta dos meus ombros, mas não fiz nada. O meu medo do escuro agora é maior que o meu medo de ser estuprado.
Se passaram uns dez minutos e toda aquela escuridão estava me dando sono. Deitei a cabeça no ombro do Zacky e... Isso é estranho. Eu nunca fiz isso, é sempre ao contrario e bem ao contrario mesmo, por que é sempre uma garota.
- Ai que romântico. Vou contar pro seu namorado Zacky. – Matt desceu as escalas iluminando a sala com o celular. Levantei como o Flash do ombro do Zacky.
- Porra Matt, tem que estragar né? – Zacky disse. Como assim?
- Como assim? – O ogro perguntou indo pra cozinha.
- Nada armário. – Levantou e foi pra cozinha.
- ZAAAAACKY! – Me encolhi.
- Ah, espera. – Ele demorou um pouco e voltou com uma vela dentro de um copo.
- Vai me deixar aqui?! – Perguntei quando ele me entregou o copo e saiu.
- Vou. – Voltou para a cozinha.
Coloquei o copo na mesa de centro e deitei no sofá, escutando as brincadeiras dos dois idiotas na cozinha. Como que eles deixam um homem indefeso sozinho?!
Meus olhos foram ardendo e eu estava com sono, mas estou com medo de dormir. Vai que o sono vira realidade e com o Matt junto? Os dois eu não vou aguentar, além de estupro vai ter um homicídio também.
Mas eu estava com muito sono mesmo, então eu fechei os olhos e dormi rezando para ninguém me arrombar.

Okay... Essa não é a minha cama e esse não é o meu travesseiro, é macio demais e o meu parece um travesseiro dos Flinstones. Levantei e vi que não estava nem na minha casa, ou então nós tínhamos um quarto secreto e eu não sabia.
Eu estava com as mesmas roupas então decidi sair do quarto e claro, eu ainda estava na casa dos Bakers, que óbvio. Fui ao banheiro do corredor, lavei o rosto e desci. Todos estavam tomando café da manhã.
- Bom dia. – Matt e a Sra. Baker responderam, o resto não. – Eu dormi no sofá? Por que eu não me lembro de ir para o quarto.
- Eu te levei. – Matt sorriu. Ele não me odeia?! Estou chocado. – Seus pais chegaram juntos com os Bakers e eu disse que conseguia te levar para um quarto aqui, mas um quarto na sua casa não.
- Obrigado. – Me sentei ao seu lado. – Você é bem forte hein? – Isso soou gay?
- É... Eu já carreguei o Zee muitas vezes! – Riu e eu acompanhei.
- Então você é BEM forte! – Ele riu mais. Olhou para o Zacky e parou.
A Sra. Baker me deu um pedaço de bolo e ficamos em silêncio. Logo eu já me despedia deles e agradecia por eles terem me deixado dormir ali.
- Err... Zacky? – Chamei baixinho já do lado de fora da porta. Torci para ele não ouvir, mas ele se aproximou e se escorou na porta.
- Fala rápido que eu tenho que colocar o uniforme e escovar os dentes.
- Obrigado por ontem, por não me deixar sozinho, ou no escuro.
- Eu não sou filho da puta como você. – Ouch.
- Err... Okay, mas obrigado mesmo assim. Você continua o mesmo Zacky... – Abaixei a cabeça.
- Não aja como se me conhecesse Haner. – E então ele fechou a cara na minha porta.
Eu fiz alguma coisa pra ele?
Quando eu tento ser legal, você me dá patada! Foda-se também, não vou cansar minha beleza com você.