O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 22
A Velha Ideologia




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XXII

A VELHA IDEOLOGIA

Janelas de vidro.

Depois de passar anos e anos praticamente morando nas escuras masmorras de Hogwarts, Severo jamais se acostumaria com as malditas janelas de vidro, que não impediam a incômoda invasão da luz do sol.

Naquela manhã não foi diferente: mal os primeiros raios solares – anormalmente fortes para um dia de inverno – atingiram o seu rosto, ele se sentiu despertar.

Enterrou a sua cabeça no travesseiro, primeiramente dando um gemido aborrecido; mas, ao lembrar o que ocorrera na noite anterior, não conseguiu conter um pequeno sorriso. Quase como um impulso, jogou o seu braço no outro lado da cama, esperando encontrar a sua esposa... mas Linda não estava lá.

Alarmado, ele se sentou.

- Linda?

Nada. Nem mesmo o barulho dos poucos pássaros que ainda resistiam ao rigoroso inverno europeu. Os olhos negros imediatamente procuraram no chão as malas que a sua esposa arrumara na madrugada anterior; mas elas também não estavam lá. Severo teve de respirar fundo algumas vezes para aceitar o terrível fato: daquela vez, Linda estivera falando a verdade. Ela se foi.

Freneticamente, desesperado para que alguém lhe provasse o contrário, ele se levantou, jogando sobre o corpo nu as primeiras peças de roupa que viu pela frente. Rapidamente, deixou o quarto, atravessou a ante-sala e apenas parou quando chegou à sala da direção.

- Dumbledore! – Ele chamou, sem conseguir reconhecer a sua voz. – Dumbledore, apareça!

A imagem de Dumbledore apareceu, com um semblante sombrio.

"Eu sinto muito, Severo."

- Quando?

"Há meia hora, mais ou menos."

Atônito, Severo tentou controlar as suas ações na frente do falecido amigo.

- Ela disse alguma coisa?

"Não. E também não quis me escutar."

Severo assentiu pesadamente, desabando na sua cadeira e ficando de costas para o quadro de Dumbledore. Enterrou o rosto entre as mãos, tentando suprimir o nó na garganta; tentando ignorar a dor lancinante no coração. Sentia-se sufocado, pequeno e impotente.

"Severo, você quer um conselho de amigo?"

- Não.

"Com tudo que você está passando, será que ainda não percebeu que Linda Marie é o que te mantém são? Procure-a, meu amigo. E faça o que você já devia ter feito há muito tempo: contar a ela a verdade."

- Alvo, você sabe Linda não é uma oclumente suficientemente boa. E, desde que ela ganhou a marca, está muito perto do Lorde das Trevas. Seria imprudente contar qualquer coisa a ela.

"Então o que você vai fazer? Tentar esquecê-la?"

Severo respirou profundamente.

- Nunca.

XxXxXxX

Aquele foi, provavelmente, o dia mais longo da vida de Linda.

Ela suspirou, tentando não se incomodar com o silêncio sepulcral da casa. Os seus olhos vagaram por cada detalhezinho da sala, procurando qualquer ponto que não estivesse reluzindo perfeição, mas não o encontrou. E não era uma coisa admirável, tendo em vista que ela passara as últimas quatorze horas limpando e arrumando, numa tentativa frustrada de se distrair. De não pensar.

Olhou-se no espelho que ficava perto da mesa de jantar.

Quem a visse naquele momento, certamente não imaginaria o estado de espírito em que Linda se encontrava. Depois de terminar com a casa, Linda decidira que tinha que se arrumar. E, de fato, lhe fez bem olhar para a sua própria imagem e ver que ela não era mais a visão desastrosa da manhã, quando chegara à sua casa. Agora Linda estava maquiada, bem penteada e bem vestida; e o seu rosto não estava mais inchado e avermelhado pelo choro – agora ela tinha olhos frios e vazios, como se estivessem paralisados pelo choque; engraçado era que aquilo combinava com ela.

Linda rolou os olhos, rapidamente pegando um casado de peles que há alguns anos ganhara da sua mãe e saía de casa – precisava de uma distração. Precisa estar fazendo alguma coisa para se impedir de voltar ao castelo e... Ela nem queria pensar naquela possibilidade.

As ruas de Hogsmeade estavam vazias, silenciosas e totalmente tomadas pela neve... era difícil encontrar qualquer pessoa que por elas vagasse; e as poucas que Linda encontrou evitavam o seu olhar – talvez temendo a fama do seu marido nestes tempos de guerra. Surpreendeu-se quando encontrou o Três Vassouras aberto, apesar do feriado. Procurando fugir do frio, entrou.

Penelope Jane Rosmerta a recebeu com um sorriso; ela era a companhia favorita de Linda quando tentava fugir da solidão – quando o seu marido estava longe, fosse na escola ou enfurnado no casebre da Rua da Fiação. Linda logo se encaminhou para perto da mulher, sentando no balcão.

- Linda Marie!

Linda tentou sorrir, tirando o casaco e jogando-o sobre uma cadeira.

- Oi, Jane.

- Algo para espantar o frio?

- Uma dose de gim me cairia muito bem.

A atendente logo pegou um copo limpo e procurou entre as suas bebidas uma garrafa de gim.

- Desistiu do uísque de fogo?

- Gim sempre teve o poder de me anestesiar rapidamente, então...

Rosmerta riu, colocando algumas pedras de gelo no copo de Linda e, em seguida, pegando um segundo copo – talvez, pela falta de fregueses, aproveitaria a oportunidade para acompanhar a amiga.

- Procurando anestesia no dia do natal? Hmm... por que isso me cheira a briga conjugal?

- Você sabe bem como relacionamentos são complicados...

- Licor de menta? – Rosmerta perguntou, depois de misturar o líquido verde no seu próprio copo. Linda assentiu. – Relacionamentos não são complicados, Linda Marie. O seu marido é complicado!

Linda tomou um gole da sua bebida. O arrepio que ela experimentava sempre que tomava gim não veio – o sabor forte da bebida fora cortado pelo licor de menta, deixando-a, de fato, doce e agradável. Combinação perigosa.

- Sim, Severo é complicado.

- Sabe, eu sempre tive a teoria de que o casamento de vocês dava certo por causa da distancia... Quer dizer, já é bem difícil manter um relacionamento quando o homem é o mais carinhoso, gentil e simpático do mundo... com um cara como Snape, deve ser impossível!... Sem ofensa.

- Eu não me ofendi. De fato, não é fácil conviver com ele. Nenhuma outra mulher conseguiria! Eu não acho que ele deixaria outra pessoa conhecê-lo tão bem quanto eu...

E, ainda assim, não podia dizer que conhecia o homem com quem casou – Linda pensou.

Rosmerta tomou um grande gole da sua taça.

- Mas, então, vocês brigaram? O que houve? O presente de natal não agradou?

- Nós... Nós não brigamos – ela mentiu. – Eu apenas achei que precisava de um tempo para mim e, por isso, decidi voltar para a minha casa.

- Linda Marie, se você realmente acha que eu vou engolir essa história?

Linda respirou fundo. Desesperada para mudar de assunto, ela espiou o balcão – onde encontrou uma carta endereçada a Rosmerta com uma letra miúda muito parecida com a do seu marido.

- Que carta é essa?

O olhar de Rosmerta logo se voltou para o envelope fechado. Ela o pegou.

- Não sei; ainda não abri. Chegou essa manhã. Por quê?

- A letra... parece ser de Severo.

- Bem, vamos descobrir... – Rapidamente, Rosmerta abriu a carta. Os seus olhos rapidamente passaram por ela. – Não. É de um ex... – O rangido da porta do bar chamou atenção dela. Rapidamente, a atendente colocou a carta em seu bolso. – Droga! Cliente!

Linda virou-se, voltando a sua atenção para a porta. E, pela primeira vez naquele dia, o seu sorriso se abriu com sinceridade.

- Não é cliente! É apenas o Andrew!

Andrew – o antigo namorado que, pouco antes de ir para Hogwarts, Severo havia tentado intimidar – sorriu assim que olhou para Linda. Rosmerta rolou os olhos, pegando uma terceira taça, enquanto ele se aproximava e sentava-se ao lado de Linda.

- Isso é uma surpresa! Linny, ou melhor, Sra. Snape! – ele acrescentou a última parte em tom jocoso. – De volta à Hogsmeade?

Linda assentiu, bem-humorada, convidando-o a sentar ao seu lado.

- Por um tempo. E, enquanto Severo não estiver aqui, eu aceito a ousadia de me chamar pelo apelido de quando eu era adolescente.

- Então, o que você está fazendo aqui, Linny?

Ela deu de ombros.

- Tomando gim com licor de menta.

- Ah. Quer companhia?

Rosmerta riu-se.

- Andrew, Linda Marie não tem opções! Já servi um copo para você!

- Oh! Pena! Quando você chegou?

- Essa manhã.

- E passou o dia inteiro trancada em casa? – Linda deu de ombros, resignada. – Bem, isso não está certo! Aposto que você tinha milhões de coisas para fazer em Hogwarts; como vai se acostumar novamente a passar o dia em casa, sem fazer nada?

- Eu não tinha muito que fazer lá! E não pretendo ficar em casa! Eu quero retomar os meus cursos ou trabalhar! Trabalhar seria uma coisa boa! Sabia que eu tenho quase trinta e cinco anos, e nunca trabalhei em minha vida?!

Rosmerta assobiou, impressionada.

- Eu trabalho aqui no bar desde os meus treze anos!

- Exatamente! Que tipo de pessoa chega aos trinta e cinco sem jamais ter trabalhado?!

- A sua mãe? – Andrew apontou. Linda sorriu, assentindo. – Imaginei... Mas e esses cursos? O que você pretendia fazer da sua vida?

- Eu queria ser medibruxa. Eu estava, na verdade, tentando me especializar em varíola do dragão, já que foi essa doença que matou o meu avô. Eu estou pensando em retomar as minhas pesquisas, mas...

- Mas...?

- Mas quem me ajudava com elas era Severo. E ele não mais tem tempo para isso.

Andrew e Rosmerta se entreolharam, sabendo que o motivo era outro.

- Bem, Linda Marie – Rosmerta disse. – Você tem que conhecer outros pesquisadores, então. Você poderia trabalhar no St. Mungus! Seria complicado conseguir uma vaga direto na ala das doenças infecciosas, se você não fosse filha de Marco e Cécile Malfoy!

Linda negou com a cabeça, terminando a sua bebida – e tendo o seu copo imediatamente preenchido por Rosmerta.

- Não! Eu não quero envolver os meus pais nisso!

- Isso mesmo, Linny! – Andrew disse, batendo o seu copo contra o de Linda. – Você pode conseguir a sua vaga sozinha, se estiver lá!

- E como eu faço para estar lá?

- Trabalhando? É difícil, Linny. Eu ouvi falar que eles só aceitam como voluntários estudantes de bruxaria medicinal ou de curandeirismo... mas, como você já foi uma estudante, talvez consiga.

Linda suspirou.

- Não custa nada tentar.

- Exatamente! Quer que eu te leve lá amanhã?

- Está combinado!

XxXxXxX

"Caro Professor Snape,

Primeiramente, informo que demorei a responder sua carta porque apenas tive tempo de abri-la esta manhã. O senhor conhece bem as comemorações natalinas no Três Vassouras; o dia 25 sempre é cheio de afazeres – temos que repor os estoques, limpar o bar, consertar móveis e utensílios quebrados durante a festa etc.

Sobre o seu pedido, quero que saiba que não me sinto nem um pouco confortável tendo de espionar a sua esposa. Se o senhor deseja tanto saber o que ela está fazendo aqui no vilarejo, por que não a pergunta? Tenho certeza que, pelo que eu conheço do caráter de Linda Marie, ela não hesitará em lhe passar um relatório completo.

Dito isto, e tendo em vista a ameaça – desculpe-me a sinceridade – covarde de fechar as portas do meu estabelecimento, informo que Linda Marie esteve no bar ontem à noite. Passou um tempo comigo, mas não falou absolutamente nada sobre seja lá o que está acontecendo no casamento de vocês... Depois passou umas duas ou três horas conversando com Andrew Weiss. Não sei dizer sobre o que eles falavam, pois não tenho o hábito de escutar as conversas dos meus clientes. Eles não saíram do pub juntos: antes da meia-noite, Linda já estava em casa e Andrew me fez companhia até quase três da manhã.

A única coisa que eu sei é que Linda Marie vai tentar se empregar em St. Mungus.

Espero sinceramente uma resposta reconsiderando o seu pedido. Tenho muito carinho pela sua mulher, e não gostaria de trair a sua confiança relatando os seus passos para o senhor.

Atenciosamente,

P. J. Rosmerta."

Severo bufou, amassando a carta em suas mãos e começando a se perguntar se tinha sido uma boa idéia ordenar que Madame Rosmerta lhe mantivesse informado sobre os passos de Linda.

Jogou o pedaço de pergaminho sobre um cinzeiro, tentando não se sentir muito irritado pelo fato de que a sua mulher já estava sendo vista com outro homem, apesar de mal ter lhe deixado... E esse homem, aliás, era um ex-namorado sangue-ruim que insistia em manter uma relação amistosa demais com Linda!

- Incendio.

A carta rapidamente consumiu-se em chamas, mas aquilo não o acalmou.

Dane-se! Dane-se o que Linda pensava, ou que ela queria, ou que ela achava que sabia! Ela era a mulher dele e o seu lugar era ao lado de Severo! E Severo a traria para o castelo, ainda que contra a vontade da esposa! A arrastaria, se necessário fosse!

Rapidamente, começou a se levantar; mas foi impedido pela voz calma – quase aborrecida – de Alvo.

"Espiar Linda Marie não é a melhor solução, Severo."

Severo cerrou os dentes e respirou fundo, em busca de controle. Alvo Dumbledore era, ainda, a última pessoa que ele queria ver no mundo.

- Eu já disse que não quero você aqui. E desse assunto, cuido eu! Não vou permitir que ela fique sozinha em Hogsmeade, sendo vista com aquele---

"Aquele o quê? Pelo que eu me lembro, Andrew Weiss é uma boa pessoa."

- Você devia ver como ele a chama – O rosto de Severo contorceu-se no mais puro asco. – Linny. A mulher é uma Malfoy, filha de um dos homens mais importantes e influentes do mundo bruxo, e aquele--- fruteiro tem a ousadia de chamá-la de Linny!

Dumbledore franziu o cenho.

"E por que não? Ele não é digno de chamá-la por um apelido carinhoso?"

- Não! – Severo responder sem pensar.

"No entanto você é digno; não apenas de chamá-la do que quiser, mas também de dividir o leito com ela?"

Severo finalmente olhou Dumbledore, da forma mais fria possível. Como estivesse apontando algo óbvio, disse:

- Eu sou o marido dela! E, apesar do meu pai, eu sou um Pr---

"Um Prince?" Alvo o interrompeu, olhando-o duramente. "Severo, você está prestando atenção no que está dizendo? Você não percebe que está pregando mesmas as idéias que renunciou há anos, quando prometeu me ajudar a proteger Harry?"

Severo piscou duas vezes. Dumbledore tinha razão.

- Eu---

"Há algum tempo você me disse que estava sentindo o poder de Voldemort voltar a lhe seduzir... mas apenas agora eu vejo que é verdade. Será que eu preciso lhe lembrar mais uma vez o que essas idéias causaram à sua vida? O custo dessa ideologia?"

- Não! Eu não quis dizer isso---

"Você nunca faz de propósito! Mas, sem querer você afastou Lílian... e agora faz o mesmo com a sua esposa! Espero que você não decida também quebrar as promessas que fez a mim, e fugir da responsabilidade que lhe confiei!"

Dumbledore parecia querer continuar a falar; mas não pôde. Pois, naquele segundo, eles não estavam mais sozinhos. A imagem de Phineas Nigellus chegava apressado em seu quadro.

"Diretor!" Phineas começou, olhando para Severo. "Eles estão acampados na Floresta do Dino! A sangue-ruim..."

- Não use essa palavra! – Severo disse aborrecido, pensando na conversa que estava tendo com Alvo.

"A garota Granger, então, mencionou o lugar quando abriu a mochila e eu a ouvi!"

"Bom. Muito bom!" Vibrou o quadro de Dumbledore, como se tivesse acabado de achar uma forma de fazer Severo se lembrar do seu papel naquela guerra. "Agora, Severo, a espada! Não se esqueça que ela deve ser pega sob condições de necessidade e valor--- e ele não deve saber que foi você quem deu! Se Voldemort ler a mente de Harry e ver você agindo por ele..."

- Eu sei – Severo respondeu asperamente, enquanto se levantava e se aproximava do retrato de Dumbledore, afastando-o da parede e revelando a cavidade escondida atrás da qual Severo pegou a espada de Gryffindor. – E ainda assim você não vai me contar porque é tão importante dar a espada a Potter? – ele continuou, colocando uma capa de viagem sobre as vestes.

"Não, acho que não" disse o quadro de Dumbledore. "Ele saberá o que fazer com ela. E Severo, seja muito cuidadoso, eles não o receberão bem após o acidente de Jorge Weasley..."

Snape virou-se para a porta.

- Não se preocupe, Dumbledore – ele disse friamente. – Eu tenho um plano...

Rapidamente, furiosamente, Severo deixou a sala da direção, batendo a porta atrás de si. Passou como um raio pelos corredores da escola, sem parar para dar explicações a ninguém. Em sua ingenuidade, pensava que Potter na posse da espada, ajudaria a guerra a chegar ao seu fim rapidamente. E, a julgar pela conversa esclarecedora que acabara de ter com Dumbledore, quanto mais cedo ele deixasse a influência do Lorde das Trevas, melhor.

Do lado de fora da escola, Severo pôde desaparatar.

Chegou à Floresta do Dino.

O frio era quase insuportável, mas o vento cortante não passava por entre os troncos das árvores – o que era uma benção, já que Severo deixara o castelo tão consternado que se esqueceu de pôr agasalhos mais potentes. Pacientemente, ele procurou um lugar que representasse algum perigo a Potter – tinha que reproduzir a maldita circunstância de valor, afinal.

Não demorou a encontrar um pequeno lago congelado – com um sorriso maléfico, Severo pensou que seria interessante observar o garoto tomar um banho de água fria; uma pequena e irônica vingança por todos os anos que ele certamente passou dizendo que Severo precisava tomar um banho. E, se bem conhecia Potter, o garoto seria obtuso demais para sequer considerar usar um feitiço para manter a temperatura corporal.

Severo olhou para o céu, quase desafiante.

- Está bom para você, Dumbledore? Uma hipotermia por uma espada é de suficiente necessidade e valor?

A superfície do lago estava congelada; coberta por uma grossa camada de gelo que Severo teve de quebrar com um feitiço aquecedor.

Com cuidado, Severo utilizou a varinha para colocar a espada no centro do pequeno lago. Breves encantamentos foram suficientes para deixá-la impossível de ser movida por feitiços convocatórios – novamente, a obtusidade de Potter certamente o faria tentar algo óbvio, para não ter que usar a cabeça pensando numa maneira mais inteligente de se aproximar do objeto mágico. Por fim, completando a sua armadilha, ele congelou novamente a superfície do lago – desta vez criando uma camada muito mais fina que a original... e os flocos de neve que caíam logo salpicaram a superfície espelhada do gelo, deixando o cenário aparentemente intocado.

Agora tudo que Severo precisava fazer era encontrar o local onde Potter estava acampando – o que também não foi difícil. Há apenas alguns metros de distância do lago, havia uma clareira de onde vinha a luminosidade de uma fogueira. Sentado ao redor dela, Severo viu Potter e Hermione Granger.

O casal feliz teimou em ficar junto pelo que pareceram horas – era fácil para eles, já que tinham cobertores sobre os ombros e uma fogueira esquentando-os. Severo, por sua vez, estava congelando – o feitiço para manter a temperatura corporal não fazia absolutamente nada sobre a sensação térmica. Tremendo-se, Severo sentou-se na neve e esperou.

Finalmente, a irritante Sabe-Tudo Granger deixou o garoto sozinho. Pelo que Severo podia observar, ela fora dormir enquanto deixava Potter como vigia – pelo menos uma coisa de inteligente eles estavam fazendo. Severo podia apostar todo o seu ouro que a idéia viera da Sabe-Tudo, e não de Potter.

Severo esperou mais um tempo, apenas para se certificar de que ela não apareceria mais. Quando finalmente decidiu que o garoto estava realmente só, tratou de se concentrar num momento feliz – o único possível, enquanto a culpa de ter causado a morte de Lílian o consumisse: o rosto dela na foto roubada da casa dos Black... o sorriso dela.

Com um sorriso aflorando no seu próprio rosto, Severo fez o seu feitiço:

- Expectro Patrono.

A corsa prateada logo deixou a sua varinha. Não demorou muito para que Potter a percebesse. Aparentemente sem sequer desconfiar que aquilo pudesse ser obra de um inimigo – apesar de ele estar sendo perseguido pelo próprio Lorde das Trevas – o garoto logo pareceu ficar muito amiguinho do patrono de Severo – ele rolou os olhos.

Com um menear da sua varinha, Severo fez com que a corsa começasse a caminhar pela floresta, guiando Potter para o lago. Querendo que aquilo terminasse logo, fez-la acelerar – sempre mantendo entre si e o garoto uma distância segura, para que, combinado com o feitiço da desilusão, Potter jamais o percebesse.

Logo o menino chegava ao lago – Severo desfez o seu feitiço. Sinceramente pensou em voltar para o Castelo, mas percebeu algo: Potter podia morrer. Ele estava sozinho, começando a se despir (depois de fazer um feitiço convocatório, tal qual Severo previra) para entrar numa água congelada, da qual era muito provável que ele não conseguiria sair.

- Inferno – ele murmurou.

Severo viu o garoto suspirar e começar a entrar na água, fazendo uma careta ao sentir o gelo o atingir... e logo Potter estava totalmente submerso. Apreensivo, finalmente esquecendo-se de todos os outros problemas, Severo observou a quietude da superfície do lago. Nada.

Ele prendeu a respiração. Nada.

- Merda! – Ele exclamou um pouco mais alto do que a situação permitia.

Começou a se encaminhar em passos firmes para o lago. Em sua cabeça, mil estratagemas se passavam – obliviar Potter não faria sentido; o Lorde das Trevas descobriria mesmo assim. Conversar também não adiantaria – Potter não o escutaria. Talvez, ele pudesse estuporar Potter e falar com a Sabe-Tudo; ela, sim, o escutaria antes de tentar azará-lo, e talvez Severo conseguisse convencê-la de editar esse pedaço de memória... depois ela teria que convencer Potter a fazer o mesmo e nunca mais poderiam falar sob---

Os seus pensamentos foram interrompidos por um estalo alto. Perto do lago, Severo viu Ronald Weasley aparecer do nada, portando o antigo isqueiro de Dumbledore e imediatamente providenciar o resgate do garoto.

Severo sorriu e, suspirando aliviado, desaparatou.

XxXxXxX


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