O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 20
Aceitação




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XX

ACEITAÇÃO

O silêncio era insuportável.

Severo Snape sempre foi um homem que gostou do silêncio – era apenas assim que ele conseguia se concentrar em seus pensamentos, geralmente complicados, e encontrar soluções para seus problemas.

Ironicamente, naquele momento, tudo que ele queria era ouvir algo. Ou alguém. Ela.

Severo fechou os olhos e suspirou. Em sua mente, a imagem perturbadora de Linda deixando o quarto deles com uma pequena mala se passava repetidamente.

Era quase engraçado; ele estava com Linda há dez anos e, de alguma forma, ele sempre soube que aquela hora chegaria. Desde o primeiro momento, ele soube que, cedo ou tarde, chegaria o dia em que ela faria as suas malas e iria embora da sua vida – ela era diferente demais; era rica demais, esnobe demais, exigente demais... e Linda era boa demais. Especialmente quando comparada a ele. Quando a beijou pela primeira vez, Severo soube que teria sorte se conseguisse mantê-la ao seu lado por uma semana. E ele conseguiu por dez anos.

Por ter a mais absoluta certeza de que qualquer dia passado ao lado da sua esposa poderia ser o último, Severo pensou estar preparado para aquele momento. Mas não estava. Ele não estava preparado para aquele aperto agonizante em seu peito... O que ele faria agora?

Desejou ter alguém com quem conversar. Mas ele apenas conseguia conversar com três pessoas: Alvo – a quem ele sinceramente odiava no momento –, Narcissa – a quem ele também estava odiando – e Linda – que o odiava.

Ainda assim, mesmo que ele tivesse alguém com quem conversar, de que adiantaria? Ele jamais falaria uma só palavra do que estava se passando em sua mente.

Mais uma vez, ele suspirou, olhando de relance para uma garrafa de uísque que descansava numa estante de vidro à sua esquerda. Decidiu ignorá-la – o álcool não o anestesiaria, e certamente sequer conseguiria passar pelo nó em sua garganta.

Duas batidas na porta quebraram o silêncio – ele quase agradeceu por isso. Com um menear da varinha, a porta da sala da direção se abriu... e Severo se arrependeu imediatamente.

Era Narcissa.

Severo moveu-se desconfortavelmente na cadeira, e não conseguiu evitar que o seu rosto quase imediatamente se contraísse em exasperação.

- O que você quer?

Narcissa rolou os olhos e entrou, logo se sentando numa cadeira de frente a Severo. Com o seu semblante superior, disse:

- Pare de me tratar assim, Severo. Você foi para a minha cama ontem porque quis; se agora está arrependido, o problema não é meu.

Severo crispou os lábios.

- Não, Narcissa, eu fui para a sua cama porque eu estava bêbado.

- Você pode negar o quanto quiser, mas desde que nós nos aproximamos você quis fazer amor comigo. Eu sou experiente, Severo, e você não é um ator tão bom quanto imagina. Se as pessoas que te rodeiam quisessem ler você, eu garanto que elas o fariam com certa facilidade.

- Eu nunca---

- Desde o dia em que fizemos o voto perpétuo. Sabe, Severo, você pode amar a sua esposa e querer ir para a cama com outra mulher. Isso acontece com uma freqüência absurda! Linda Marie não precisa ficar sabendo do que nós fizemos ontem. E, caso essa seja a sua preocupação, eu não tenho nenhuma intenção de contar a ela!

Ele quis dizer que a sua mulher já sabia, e que por isso tinha deixado-o. No entanto, a sua resposta foi um pouco mais sarcástica.

- Então você pretende continuar trepando com o marido da sua sobrinha em segredo?

- Linda Marie não é minha sobrinha; ela é sobrinha de Lúcio. E eu também não tenho a menor intenção de manter um caso com você. Sabe, Severo, tudo o que eu quero é que você seja feliz. E eu não preciso ser empata para saber que o nosso pequeno... encontro de ontem não lhe fez bem.

- Conclusão genial.

- Eu apenas vim pedir para que isso não afete a nossa amizade.

Severo ergueu uma sobrancelha.

- O que você quer de mim, Narcissa?

Ela desviou o olhar, finalmente perdendo o seu ar superior.

- Eu tenho uma dívida enorme com você. Não posso simplesmente---

- Considere-a quitada!

- Você salvou a vida do meu filho! O que eu fiz para retribuir?

- Me deu o prazer da sua companhia. Pronto.

Narcissa bufou.

- Eu sou uma Black, Snape. Eu não gosto de dever favores. E não vou ficar devendo um a você.

- É por isso que você está sempre por perto?

- Apenas esperando uma oportunidade.

- Eu não quero você perto de mim!

- E eu não me importo. Como eu disse, Severo, eu sou experiente. Eu conheço muito bem homens como você. Cedo ou tarde, você vai me cobrar esse favor! Você vai me pedir algo difícil... quando esse dia chegar, eu quero ter uma lista de pequenas benfeitorias para poder negar o seu pedido e manter a minha dignidade.

Mal Narcissa terminou o seu pequeno discurso, a porta da sala da direção abriu-se novamente. Para a grande surpresa de Severo, era Linda.

A mulher parou ao chegar à porta e, por um segundo, olhou atônita de Severo para Narcissa. Ele esperou que ela começasse uma cena desagradável, mas, ao invés disso, Linda apenas sorriu – friamente, mas sorriu.

- Oi, Cissy. Eu pensei que você não voltaria à escola hoje.

- Eu vim te procurar, na verdade. Eu não fui às compras; fui à casa do meu decorador e peguei alguns projetos para ver se você concorda.

- Nós já combinamos que você será a principal responsável pela festa. Eu sinceramente confio no seu gosto.

Narcissa sorriu, levantando-se.

- Mas eu gostaria de ter a sua ajuda.

- Nesse caso, se você ainda quiser is às compras, estou à sua disposição!

- Ótimo! Venha comigo, Linda Marie – Narcissa disse, levantando-se. – Vamos deixar o seu marido trabalhar um pouco.

- Na verdade, eu gostaria de ter uma palavrinha com Severo. Você pode me esperar no salão principal? Eu apenas demorarei alguns minutos.

- Claro. Até logo, Severo.

E, com isso, Narcissa deixou o local. Severo apressou-se em se explicar para a esposa.

- Linda, eu ape---

- Cale a boca.

- Narcissa esta---

- Eu não quero saber – Linda respirou fundo, olhando nos olhos de Severo. – Eu vou ficar. Mas não quero que você fale comigo, se aproxime de mim ou sequer olhe para mim. Quando eu estiver pronta, procurarei você. E mais: você não vai mencionar para ninguém o que aconteceu; o seu comportamento me envergonha! De acordo? – Ele apenas conseguiu assentir. – Ótimo. Agora eu vou falar com a sua amante. Com licença.

E ela o deixou só. Apesar de tudo, Severo viu um sorriso se formar em seus lábios – Linda ficaria. E aquilo era suficiente.

XxXxXxX

A semana que se seguiu serviu para testar o sangue frio de Linda. Afinal, não bastava ela visualizar repetidas vezes em sua mente a traição de Severo, ela ainda tinha que se manter impassível na companhia diária de Narcissa.

Apesar de tudo o que a sua mãe lhe dissera, ela não conseguia esquecer. Ela não conseguia ignorar. E, naquela manhã, se viu escrevendo uma carta para o advogado de sua família, pedindo que ele encontrasse maneiras de fazer um divórcio rápido, silencioso e no qual Severo terminasse sem nenhum bem dos Malfoy e sem a casa de Hogsmeade. Ela não tivera coragem de enviá-la... ainda. A carta estava em seu bolso, como uma bomba relógio que anunciava a decisão óbvia que Linda ainda se recusava a fazer.

Suspirando, ela meneou a sua varinha, fazendo flutuar uma estrela dourada, que prontamente postou-se no topo de uma das árvores de natal que se encontravam enfeitando o salão comunal.

Narcissa sorriu, olhando para cima.

- À meia noite eu enfeitiçarei o teto e começará a nevar dentro da escola... ficará lindo, não?

Linda bufou e fez um breve ruído com a garganta, como se assentisse. A outra mulher a olhou com desconfiança.

- Aconteceu alguma coisa?

Linda olhou-a. Apesar de um sorriso impregnar o seu rosto, os olhos acinzentados não o acompanhavam. Fato que jamais passaria despercebido para uma mulher como Narcissa Malfoy: ela era a mulher mais experiente do mundo em sorrisos falsos.

- Não – Linda respondeu monossilabicamente.

Narcissa rolou os olhos, desviando a sua atenção para as caixas de enfeite.

- Eu comprei um presente para o seu marido – Linda deixou de respirar e teve de fechar os olhos para controlar o seu ciúme. – Na verdade não comprei; pertencia ao seu bisavô e eu decidi que Severo faria melhor uso do que Lúcio. Abotoadeiras de ouro. Você acha que ele vai gostar?

Os olhos de Linda perfuraram Narcissa.

- Não sei. Você está tão amiga dele ultimamente, que começo a pensar que talvez você conheça os gostos dele melhor que eu!

Narcissa deu um sorriso debochado.

- Está com ciúmes?

- Não, Narcissa. Eu não estou com ciúmes, porque Severo e eu vamos nos divorciar.

Narcissa riu-se.

- Por que você---? Ah. – A mulher pareceu congelar. Pela primeira vez, a etérea Narcissa Malfoy parecia demonstrar um pouco de pânico. – Ele contou, não contou? Aquele idiota te contou!

- Que vocês dormiram juntos? Sim.

- Apenas aconteceu uma vez, Linda Marie.

Foi a vez de Linda dar um sorriso debochado.

- Uma vez não é suficiente?

- Eu o provoquei! Não quero que você e Severo tenham qualquer tipo de indisposição por causa da minha atitude! E, por Merlin, ele estava bêbado! A culpa foi toda minha!

- Como?! – Ela rolou os olhos. – Você está falando sério, Narcissa?! O que você espera?! Que eu tente ignorar o que ele fez, justamente como você faz com as inúmeras puladas de cerca de Tio Lúcio?!

- Não diga isso!

- É a verdade! Eu tentei! Por uma semana eu tentei! Mas eu simplesmente não tenho sangue-frio!

- Claro que tem! Se passou uma semana na minha companhia, Linda Marie, você tem muito sangue-frio! Mas se acalme! – Narcissa disse seriamente, olhando para os lados. – Você não sabe que as paredes têm ouvidos, nessa escola!? Seja razoável, Linda Marie! Seu marido te ama.

Linda fechou os olhos, impaciente.

- Ele me ama?! E quando exatamente ele te confessou isso, Cissy?! Enquanto te comia?!

- Não seja infantil, Linda Marie! Vocês tinham brigado feio, ele estava bêbado e eu estava com vontade de dormir com ele! Mesmo assim ele não parou de falar de você a noite inteira! Você nunca deveria ter dito a ele o disse naquela noite!

Por um momento, Linda sentiu-se ultrajada apenas pela imagem de Severo e Narcissa discutindo o casamento deles... Mas logo teve outra idéia: como Severo pudera contar a sua discussão a Narcissa, se os motivos que levaram àquela discussão não podiam ser revelados a ninguém?

- Ele contou porque nós brigamos?!

Narcissa olhou para os lados antes de responder:

- Sim. Como eu disse, ele estava muito bêbado.

Linda, com a voz um tanto trêmula, pensou em perguntar o que exatamente Narcissa sabia; mas foi interrompida pela voz estridente de Rita Skeeter, que se aproximava das duas loiras.

- Por Merlin, o que eu vejo? Um desentendimento entre as duas mais ilustres Malfoy?

Linda não mudou a sua expressão, mas Narcissa, buscando controle, tentou sorrir.

- Uma Malfoy e uma Snape, para ser mais precisa... certo, Linda Marie? – Ela perguntou, olhando Linda de esguelha.

A vontade de Linda era revidar, revelando a traição do seu marido à reporte; mas, ao invés disso, apenas disse, com os dentes cerrados:

- Claro. Uma Malfoy e uma Snape.

A repórter sorriu.

- E posso saber o motivo da briga?

- Não foi uma briga – Narcissa respondeu. – Linda Marie e eu apenas discordamos sobre os laços... a ser colocados nas árvores. Eu estou afirmando veementemente que nada é mais importante que os laços, mas Linda Marie discorda e quer se desfazer deles! Eu particularmente acho que é uma decisão precipitada e absolutamente equivocada!

Linda deu um sorriso sarcástico.

- Em certas ocasiões, Cissy, eles são dispensáveis. – Ela olhou para a repórter. – Com licença.

E, sem mais, encaminhou-se para o seu quarto. Precisava ficar sozinha.

No caminho, não conseguiu para de pensar nas perigosas informações que Narcissa poderia ter. Se Narcissa sabia das dúvidas que durante parte daqueles últimos meses permearam a cabeça de Linda, ela não deveria ter reportado imediatamente ao Lorde das Trevas? Ou, caso o seu acesso ao Lorde fosse limitado, ela não deveria ter ao menos falado com Lúcio? Linda sabia muito bem que o seu tio não perderia uma oportunidade de desprivilegiar Severo na tentativa de voltar a ser o Comensal da Morte mais importante.

De uma coisa, no entanto, Linda tinha certeza: nem Severo e nem Narcissa faziam favores. E, se ela estava mantendo a boca fechada, isso significava que ela estava em dívida com Severo. E se Severo se dera ao trabalho de fazer um grande favor àquela mulher, certamente existia mais entre eles que uma simples noitada...

Talvez Linda pudesse conviver com uma breve traição do marido... mas com certeza não conseguiria dividir o coração dele com mais uma mulher.

Linda chegou à porta que levaria à sala de direção e parou por um momento, dando um longo suspiro. Primeiro Lílian, depois a lealdade a Voldemort e, por fim, Narcissa... E ela continuava ao lado dele. Linda riu-se, amarga: no fim, assumira justamente o destino que um dia jurou que jamais seria seu; tornara-se uma mulher com um casamento de fachada, com um marido que seguia à risca a ideologia dos seus antepassados e que a traía, enquanto ela apenas fechava os olhos. Linda estava cansada. Realmente não podia deixar aquilo continuar...

Respirando fundo e tomando coragem, a mulher aceitou que estava na hora de pegar as suas coisas e voltar para o convívio dos Malfoy... com ou sem a anuência de Severo; Assim, ela entrou na sala da direção.

O seu marido parecia até a esperar, sentando em seu gabinete e com o seu olhar perfurando-a.

- Eu tenho que conversar com você.

Linda suspirou.

- Sim, temos. Mas não agora. Agora eu estou com uma terrível dor de cabeça e pretendo me deitar até a hora da festa.

Severo bufou, levantando-se.

- Até quando você vai fazer isso? Por Merlin, Linda, cresça um pouco! Eu quero tentar---

- O que você espera que eu faça? Severo, você trai a minha confiança dia após dia, e espera que eu não faça nada? Desculpe-me, mas eu acho que dessa vez você foi longe demais!

Ele cerrou os dentes, nervoso.

- Você não entende---!

- Eu entendo, Severo! Quem não entende é você! Eu voltei para Hogwarts pensando que um dia eu conseguiria esquecer o que você fez, mas esse dia ainda não chegou! E eu cansei de esperar por ele! Eu não quero ter essa conversa enquanto estou nervosa; eu não quero nos machucar mais que o necessário! Então eu vou para o meu quarto, agora! E, caso você ainda esteja com vontade de manter as aparências, sugiro que vá ajudar a sua amante com os preparativos da festa e dê algumas satisfações à Rita Skeeter! Eu fugi dela; desculpe-me... é que Narcissa me tirou do sério, você deve imaginar por quê!

E, sem mais, ele viu a sua mulher desaparecer de vista, batendo a porta atrás de si.

"Severo?"

Fazia uma semana que ele não ouvia aquela voz. E ainda não estava preparado para ouvi-la. Lentamente, quase perigosamente, voltou-se para o quadro de Dumbledore.

- O que foi?

"Acho que já está na hora de você contar o que aconteceu à sua esposa."

- Eu já disse mais de uma vez que não vou colocar a vida de Linda em risco.

"Perdoe a minha indiscrição, Severo, mas você colocou a vida de Linda Marie em risco no momento em que a convidou para a sua vida pela primeira vez! Você sabia que ela era uma Malfoy e por isso proibida para você!"

Ele fechou os olhos – ninguém falaria a ele que havia algo de proibido na sua relação com Linda.

- Você não faz idéia---

"Eu sei o que se passa no círculo dos comensais, Severo" O ex-diretor interrompeu severamente. "Eu sei com que olhos eles viriam a sua união e sei o quão perigosa ela é, para você e para Linda Marie. Você também sabe e, talvez, seja hora de admitir!"

Ele bufou.

- O que você espera que eu faça?

"Se você não consegue compartilhar a sua missão com a sua própria mulher, talvez seja mesmo hora de deixá-la ir."

- Linda não vai querer o divórcio.

"Você não ouviu Linda Marie, Severo?! Ou está tão desesperado que realmente acredita no que você acabou de dizer?"

Severo fechou os olhos e suspirou, sabendo que Alvo estava certo. Como sempre, ele estava certo. Ele não queria ouvir mais nenhuma palavra – ele não conseguia pensar em outra coisa, e não conseguiria se concentrar em nada antes de...

Ignorando a imagem do antigo diretor, Severo se levantou. Lentamente, ele entreabriu a porta que levava à saleta que antecedia o quarto do casal, sem esperar encontrar a esposa lá...

Mas ali ela estava, esparramada no sofá enquanto fitava o teto pensativa. Linda suspirou quando ele entrou – mas esse foi o único sinal que a mulher deu de que havia notado a presença de Severo; o resto do seu corpo permaneceu imóvel.

- Linda – ele disse cautelosamente.

Linda fechou os olhos e disse, com um tom amargo:

- Eu não consigo mais, Severo.

Ele assentiu, recostando-se à porta. O coração latejava dolorosamente... os seus olhos procuravam desesperados pelos olhos dela, mas Linda se recusava a devolver o olhar. Apenas naquele momento Severo percebeu que ela não conseguia mais olhá-lo; algo entre eles havia se quebrado... de maneira irreparável.

- Eu não sei o que dizer.

Linda deu um meio-sorriso e assentiu.

- Mas eu sei. – ela suspirou. – Eu pensei muito nesses últimos dias... sobre nós; sobre o que nós estamos fazendo... Eu preciso ficar longe de você!

Ela finalmente o olhou, esperando uma resposta. Os olhos frios, duros... Que impediram Severo de encontrar qualquer palavra.

- Eu ainda amo você... – ela continuou, depois de um momento. – Mas eu sinto que isso está morrendo. E eu prefiro me afastar de você agora, antes que passe a te odiar! Eu preciso ter pelo menos a sua lembrança, Severo! Eu preciso pensar que eu não perdi esses anos ao seu lado! Eu preciso lembrar que, antes desses meses, nós realmente fomos felizes! Eu não quero esquecer...

Foi a vez de Severo desviar o seu olhar. Ele começava a sentir as desagradáveis sensações que lhe fizeram nunca mais querer amar, depois da morte de Lílian: as mãos frias, suadas e ligeiramente trêmulas, a angustia, o coração palpitando dolorosamente... a vontade irracional de pedir que ela não o deixasse.

Mas ele não conseguia.

- Linda...

Ela o olhou, esperando... mas ele não continuou.

- O natal é uma festa familiar, e por isso eu ficarei aqui: você é a minha família. Mas amanhã eu vou embora.

Ele fechou os olhos. Virou-se, para que ela não visse a expressão dolorosa em seu rosto.

- Eu quero que você saia do país, então. Será mais seguro.

Ela deu um sorriso amargurado, finalmente sentando-se no sofá e deixando transparecer dor em seus olhos.

- Pare! Pare de atuar, Severo! Seguro?! O Lorde das Trevas não vai me matar; eu sou uma Malfoy! Eu sou inofensiva! E, se ele quisesse me fazer algum mal, não seria o nosso casamento que o impediria! Ele pouco se importa com o que você pensa ou sente! E, não se preocupe, a nossa separação também não será nada perigosa para você! Mesmo que o Lorde vasculhe todas as minhas lembranças! Mesmo que ele reviva cada segundo da minha vida! No máximo, ele vai concluir que eu sou uma idiota por ter acreditado por anos que você tinha um pouco de decência!... Não! Eu não vou viajar! E eu também não vou me esconder na barra da saia de Cécile Malfoy! Eu vou voltar para a minha casa, em Hogsmeade; e espero que você não me procure lá!

Ele apertou os olhos e respirou fundo... a angústia era cada vez mais forte; mas ele não se entregaria.

- É justo.

- Eu... eu--- – Linda parou, soluçando. – E eu vou entrar com o pedido de divórcio.

Ele não conseguiu falar nada. Apenas assentiu; e felicitou-se quando ouviu o barulho dos saltos de Linda ecoarem no chão e a porta do quarto fechando. Sozinho, ele não precisava disfarçar seus sentimentos.

XxXxXxX

Severo não voltou a ver a esposa antes do início da festa de natal.

Às nove horas da noite, o salão principal de Hogwarts estava impecavelmente decorado, exatamente como era esperado, já que a festa fora organizada por uma Black e uma Malfoy. Havia muito branco, além de enormes árvores de natal que aparentemente representavam a integração entre as quatro casas do castelo.

Aos poucos, os alunos que permaneciam na escola chegavam acompanhados dos seus monitores e começavam a tomar lugar na grande mesa redonda que fora colocada no centro do salão, em frente à mesa dos professores.

Como convidados especiais, Severo pôde ver ao longe os Lestrange, Yaxley e os Malfoy – tanto os seus sogros quanto Lúcio e Narcissa. Mas ele não estava em clima festivo. Assim, ao invés de simplesmente ir ao encontro dos companheiros Comensais e suas esposas, ele apenas limitou-se a tomar o seu lugar na mesa dos professores, ao lado de Minerva McGonagall.

- Espero que nenhum aluno estrague essa festa! O Lorde não ficaria muito satisfeito! – Amico comentou, amargo. Severo simplesmente o ignorou.

Ao longe, ele observou Narcissa resmungar qualquer coisa ao seu marido e começar a encaminhar-se em sua direção; mas, de repente, os passos da loira morreram e o seu olhar fixou-se no canto esquerdo do salão. Curioso, Severo olhou naquela direção.

Lá estava Linda, trajando um vestido longo verde-musgo com detalhes dourados. O vestido era drapejado na cintura, acentuado-a, e solto nos seios, fazendo-os aparentar serem maiores. Os longos cabelos loiros estavam presos, revelando que ela usava nas orelhas uma das jóias dos Malfoy... e, em seus lábios, um inesperado sorriso.

Severo sentiu o seu coração disparar: não fosse pelos olhos frios e distantes, ele até poderia pensar que nada acontecera; que eles ainda eram o mesmo casal do natal anterior, que quase não tinham problemas.

Ela não se encaminhou diretamente para ele; ao contrário encaminhou-se para os alunos e para os Comensais convidados. Ele a observou apontar alegremente para os presentes nas árvores, como se disse aos colegas que ela lembrara-se deles. Aos pais, Linda reservou abraços afetuosos e mais ou menos meia-hora de uma conversa descontraída. Por fim, depois do que pareceu uma eternidade, ela começou a se aproximar da mesa dos professores.

Elegantemente, após cumprimentar os professores, Linda se sentou ao lado de Severo. Mas não o olhou. Ao invés disso, apenas voltou-se para Minerva.

- Aposto que o salão estaria mais bonito caso você tivesse me ajudado com a decoração.

A velha bruxa olhou-a.

- A Sra. Malfoy fez um trabalho impecável.

- Sim, ela fez. Mas Narcissa não trabalha bem em equipe.

- Talvez na próxima festa, Sra. Snape.

Linda sorriu.

- Talvez.

Estranhando as atitudes de Linda, Severo tocou levemente o braço da esposa.

- O que houve?

Linda riu-se, aproximando-se dele e falando muito baixo.

- Não sei. Acho que estou em negação... ou finalmente aceitando.

Severo apenas assentiu.

E não foi uma surpresa para ele que mais nenhuma palavra fosse trocada entre os dois durante a festa de natal.

XxXxXxX


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