Junko entrou na cozinha.Os rapazes pararam de falar e fingiram estar comendo sossegadamente.Ela pegou algumas coisas e levou para a mesa onde Sakura estaria.Assim que saiu,eles voltaram a falar.

[...]

–aqui está querida,torta e suco,quer que trago mais coisas?-ela perguntou.

–não precisa,eu sei que não vou comer muito mesmo...-ela olhou para a torta.

–o que houve?-Sakura levantou o rosto e sorriu.

–na verdade ando sem fome.-confessou.

–e por quê disse que estava com fome?-ela não entendeu.

–bem...-olhou de lado.-...mesmo que eu não esteja com vontade de comer,eu sei que preciso me alimentar bem.Ando muito fraca ultimamente e tonta.

–por quê não me disse antes?-Junko se abaixou e pegou em suas mãos.

–não queria preocupá-la!

–minha filha...deveria ter me dito...eu iria fazer um agrado maior pra ver se a fome voltava.-Sakura riu.

–talvez seja ainda pelo trauma...

–quero que se alimente bem agora tudo bem?-Sakura assentiu.Junko deu um beijo em seu rosto e se levantou.- vou estender as roupas,está um dia lindo lá fora!

Ela passou pelos rapazes que pararam de falar de novo e foi para fora da casa.

–então Sasuke,onde eu estava mesmo?

–da época da escola...-o cara relembrou.

–ah sim! Sakura e Karin antes eram amigas inseparáveis. Tanto que a Karin fazia tantas coisas,que ela foi influenciada.

–tipo...o que?

–as duas praticavam bullying com outros alunos.

–bullying?

–sim. Ela era uma peste!

–fala pra ele,de quando ela foi parar na delegacia!-disse o outro.

–por quê? –Sasuke ficou curioso.

– as duas roubaram umas coisas numa loja de roupas – o outro ria enquanto este falava.- era pra elas terem ficado uns dois meses na cadeia,mas o pai de Karin e Isao pagaram a fiança. Depois disso Sakura ficou de castigo por um mês sem sair de casa,teve que lavar as próprias roupas na mão.-agora os dois riam.

–a verdade é que...-continuou o outro,ainda em risos.- Sakura sempre pensou que o mundo gira em volta do umbigo dela. Quando ela humilhava nós,nós nem ligávamos.Pedíamos desculpas e depois a gente ria.A gente sempre pensou que ela teve probleminhas da cabeça mesmo.-voltou a rir.

–o que acham dela agora?-Sasuke queria saber a opinião deles.

–bem,depois que ela e a Karin brigaram,ela sossegou mais o facho. Começou a se aproximar mais daquela loirinha...-tentava lembrar o nome- Ino e um tal de Naruto,ai ela melhorou um pouco,agora só tá quietinha porquê não tem ninguém pra aprontar junto!- Sasuke ficou pensativo.

–mas Ino e Naruto já eram amigos dela!- um deu tapa na cabeça do outro.

–eu sei estúpido! O que eu disse é que ela se aproximou mais dos dois!-fez um gesto dando uma martelada na testa,como se o outro fosse burro.- Sasuke olhava os dois,pensando em algumas coisas sobre ela.

–ah,não se assuste se um dia ela te mostrar força bruta Sasuke.Ela é magrinha,pequenininha,mas não se engane não!-brincou.- logo ele se lembrou do soco que recebera naquele dia da praia.Riu mentalmente.

–o que mais tem a dizer sobre ela?-ele ficava cada vez mais curioso.

–hum....-pensava um deles.- uma vez ela jogou uma menina da escola dela dentro da lata de lixo.

–aaah,eu me lembro disto!-disse empolgado.

–“eles lembram como se fosse algo super divertido...”-pensava.

–aiai...-suspirou- ela já fez tantas coisas que não posso contar agora porquê já deu na nossa hora.-falou olhando para o relógio de pulso.Sasuke também fez o mesmo e decidiram se retirar.

Enquanto fazia seu trabalho,ele refletiu por um bom tempo,as mudanças dela desde o dia que chegou pra cá.Ela estava diferente,talvez mais madura.Talvez...

[...]

–tédio!-bufou ela,deitada no sofá,passando vários canais da TV.-E o pior é que não conheço nada por aqui...-olhou em sua volta.Se levantou,pegou uma bolsa e saiu.

–Kintaro!-gritou ela pela casa.

–pois não?-ele apareceu depois de alguns segundos.

–mande um motorista para mim.

–sim,com licença.-se retirou.

Quando foi para fora,um motorista a aguardava.Entrou no carro e falou:- me leve para dar uma volta,quero conhecer por aqui.-Colocou óculos escuro.

–Sim,Sakura-sama.-Ele deu partida no carro.

Enquanto o carro andava,Sakura via a paisagem da janela,relembrando de novo,de tudo,desde a sua infância até agora.

Pensou em como era diferente de seu pai em tudo,e sempre se perguntava como era a sua mãe,como pessoa.

–“talvez ela fosse meiga,sorridente e uma excelente mulher!”-pensava.Pensou também em como odiava ser a filha única.Queria que seu irmão mais velho estivesse vivo,talvez ele cuidaria melhor dela do que o pai. A imagem de Isao,para Sakura,não era de pai,e sim de alguém que bancava suas futilidades.Nunca foi presente na sua vida do jeito que quisera.Era alguém apenas para chamar de “pai”. Se preocupava sim com ele,não nega,afinal,querendo ou não ele ainda era seu pai.Mas seus sentimentos por ele diminuíram ao passar dos anos até a sua atual idade.

Talvez por isso tivesse se tornado mesquinha,querendo chamar atenção de Isao com as bobeiras que ela aprontava com Karin,quem sabe ele não percebia a sua existência,não é mesmo? Após se afastar de Karin pela traição que ela cometera,se tornou alguém melhor.Se lembrava de como as pessoas do colégio a olhava depois.Todos surpresos pela mudança.Ela parou de praticar bullying e ficou mais reservada.Mas ainda continuava metida,narizinho empinado e cheia de razão.

–“meu Deus...só de pensar que eu era assim,me sinto horrível!”-levou suas mãos às bochechas,se sentiu envergonhada.

[...]

–o que está fazendo Ino? Você está viajando na maionese...-Naruto perguntava,enquanto ambos estavam sentados em um banco da praça perto de seu apartamento tomando suco de caixinha.Ino olhava para o céu,pensativa.

–pensando...

–você é sempre tão pensativa....-ele olhou ao céu,tomando um gole no canudinho.

–estou lembrando de como era a Sakura antes,e depois que parou de andar com Karin.Ela ficou mais próxima da gente.

–isso foi bom,não foi?-Ino pensou um pouco.

–sim,mesmo que ela tenha mudado,ela continuou louquinha.-soltou um riso,Naruto sorriu de canto.

– aos poucos ela amadurece!-comentou ele.

–acho que já está acontecendo isso...-ela olhou para Naruto.-hei,você ainda não me respondeu!-ela deu um soquinho em seu ombro.

–o quê?-ele a encarou.

–se ainda gosta dela!-ela sorria feito criança.Ele corou,olhou de lado e pensou um pouco.

–não sei...

–foi a única coisa que me disse daquela vez!-ainda cobrava.

–Ino,eu não sei! Eu estou confuso! Talvez eu só a veja como amiga agora,eu sei que ela nunca vai gostar de mim!Por que me pergunta?

–Porque eu quero te apresentar uma amiga!

–amiga?-estranhou.

–sim!

–se for patricinha,não quero!-virou a cara.

–larga a mão Naruto! Ela trabalha em uma cafeteria,a família dela não é rica,milionária,mas tem uma boa renda,mas é uma ótima garota e tenho certeza que vai gostar dela!

–sei não....-A olhava desconfiado.

–venha!-se levantou e pegou em seu braço,o puxando.

–hei!

[...]

Eles pararam diante da cafeteria

–ok,vamos fingir que viemos apenas tomar um café e conversar.

–e não é isso que viemos fazer?-ela o olhou,sem paciência.

–não seja idiota! Eu vim mostrar ela a você.Como eu sou boazinha,vamos fingir que viemos tomar café,mas na verdade nós viemos pra você ver como ela é!

–ai,isso não vai prestar....

–larga a mão de ser negativo!-exclamou.

–tudo bem,vamos então!-eles entraram na cafeteria e sentaram em uma mesa. Ino reparou que a menina a reconheceu e fez um sinal com a mão para que ela viesse até a mesa.

–Olá Ino,tudo bem?-a menina se aproximou.

–Sim Hinata,e você?

–estou bem!

–este é o meu amigo,Naruto!

–oi...-ele olhou para ela envergonhado.

–olá....-ela corou.Ino percebeu.

–Hinata,você pode trazer um americano e um cappuccino pra gente?

–sim,já trago!-saiu.

–o que achou?-ela se apoiou na mesa e aproximou seu rosto.

–bonita....-ficou mais vermelho.

–você gostou né?-ela riu maliciosamente.

–ela é bonita,só isso!

–huuuuuuum......-cerrou os olhos,ainda sorrindo.

–para com isso Ino!-virou o rosto,incomodado.

–você vai adorar o americano! Agora sempre que der você vai vir aqui e pedir alguma coisa pra tomar,o resto é contigo.

–sério isso?-incrédulo.

–ué,quer que eu beije ela por você? Se vira,a minha parte eu fiz!-fez bico.

–não te forcei a nada,sua louca!-reclamou,ela riu.

–larga a mão de ser xarope! Você é bonito,engraçado,quando quer é um cavalheiro....logo logo ela cai na sua rede!-brincou.

–eu sou tudo isso?-perguntou,estranhando.

–sim,você ainda não percebeu suas próprias qualidades,não é mesmo?-Naruto ficou um pouco pensativo.Hinata chegou com as xícaras na bandeja e as colocou na mesa.

–tomem cuidado,está muito quente!-ela disse.

–obrigada,Hinata-chan!-agradeceu Ino,logo ela olhou para o amigo,apontando com o olhar para a menina,para ele agradecer também.

–er....obrigado.-a menina corou,abaixou a cabeça e se retirou.

–foi difícil?

–não,eu acho....-olhou para o café.-este é qual?

–troca comigo,o que está aqui é o americano.-ela trocou as xícaras.

–isto é chantilly?

–sim,algum problema?

–não,eu gosto de chantilly,só achei estranho....

–isto é muito bom!-se referindo ao café.

[...]

–para naquele shopping pra mim por favor?-ela apontou da janela do carro.O motorista parou em frente.-pode dar uma volta,na hora que eu precisar do carro eu te ligo!

–sim,Sakura-sama.-ela fechou a porta e o carro andou. Ao entrar no shopping,se deparou com uma muvuca.

–o que é aquilo?-se perguntou.Se aproximou e perguntou pra uma senhora.

–é uma promoção de cosméticos,é uma cesta cheia de produtos por preço baixo!

–entendi.-Ela se afastou e ficou observando,achou engraçado a reação das pessoas se empurrando para pegar as cestas.Deu uma volta por lá.Não viu nada de interessante.Foi para o andar de cima,tinha um game Center lá. Jogou alguns jogos para se distrair e tentou jogar 5x na máquina de pegar brindes.na última tentativa conseguiu pegar um conjunto de pulseira,colar e brincos.Ficou feliz,era a primeira vez que conseguiu algo em máquinas assim. Guardou o brinde dentro da bolsa e continuou andando. Passou algumas horas por lá,só observando as coisas,nem comprou nada,não estava afim,só queria andar mesmo.Ao descer no térreo,ela ligou para o motorista.Deu mais um tempo e saiu do shopping. Viu outra muvuca e perguntou para um jovem ao seu lado.

–mas o que houve?

–a mulher foi assaltada e levou um tiro.

–morreu?!-ela olhou assustada para o jovem.

–não sei,o resgate chegou agora mesmo.- Sakura apoiou um braço no outro,levando a mão à boca,incrédula.

–e eu achando que Japão era o país mais pacato....o que está acontecendo neste país?-se perguntou.Sentiu seu braço sendo puxado e olhou assustada para o dono da mão que a segurava.

–Sakura-sama,vim lhe buscar,vamos.-ela demorou um pouco mas percebeu que era seu motorista. Ele a arrastou até o carro e em seguida entrou.

–Tam,quero uma arma.-falou depois de um tempo.

–posso saber o por quê?-olhava para ela pelo retrovisor.

–eu não tenho segurança suficiente.-afirmou.

–mas nós não somos suficiente,Sakura-sama?

–eu digo em casos que eu estiver sozinha...

–o problema é o detector de metais tocar quando você entrar em uma loja,pode ser presa por porte ilegal.

–mas quero aprender a me defender sozinha,quero ser mais independente!-Tam suspirou e logo disse:

–a verdade é que,estamos sujeitos a quaisquer situações,Sakura-sama.Tanto quem tem uma arma,quanto quem não tem.Se não é a violência,é a doença.Pense bem antes de tomar qualquer decisão.-ela parou para refletir um pouco,geralmente em lugares públicos como shoppings não costuma ter detector de metais,costuma ter em bancos de grande porte,pelo menos era o que ela sabia.Como os seguranças entrava nos lugares com seu pai então? Veio a ideia de pedir a Sasuke,mas se lembrou que estava muito magoada com ele.

Ao chegar em casa,tomou banho e foi dar uma volta pela mansão,tomar um ar fresco.Estava quase chegando outono e as noites ficavam mais frescas.Andava e pensava na vida.Logo se lembrou daquela cena de tarde: uma senhora estirada no chão,ensanguentada,cercada por dezenas de pessoas e o resgate.Viu que a vida não vale nada,carne é carne e um dia vira pó.Sem notar,estava no campo de treinamento da mansão. Entrou e foi até a área onde eles treinavam mira e tiro.Uma área totalmente coberta de paredes cinzas,um único balcão mas dividido em 8 partes com vidro e fones protetores por cima.O treinado mirava na mira,uma forma humana com vários círculos vermelhos e brancos espalhado pelo “corpo”. Em uma das divisas,tinha uma arma.Curiosamente a pegou e observou cada detalhe da arma,com muita cautela.Viu que embaixo do balcão havia um óculos transparente.Pegou e colocou em seu rosto,logo colocando o fone protetor.Mirou em uma parte qualquer,segurando a arma com uma mão apenas.Tentou mirar na cabeça e puxou o gatilho.Com a força da arma,foi empurrada para o chão.

–“meu deus o que foi isso?”-se perguntou ao perceber que caiu sentada no chão.Ficou assustada e viu as mãos tremerem.Nervosismo?susto?...

–Tem que segurar com as duas mãos se você não sabe manuseá-la.-Ouviu uma voz masculina.Olhou para a porta,era ele,Sasuke.Levou um leve susto ao ouvir sua voz e se aliviou quando percebera que era ele.Sem dizer nem uma sequer palavra,viu ele vindo em sua direção e estirando a mão para ajudá-la a levantar.

–não quero sua ajuda.-disse seca,olhando para o lado.

–então o que faz ainda no chão?-ela arregalou os olhos,esqueceu completamente que ainda estava no chão.Mesmo que sem querer,automaticamente sua mão segurou a dele,e com uma força só ele a puxou,fazendo ela parar quase encostada em seu corpo. Sua respiração ofegou-se,e a dele,se manteve calma,apesar dele achar que sentiu seu coração pulsar mais forte.-aliás,o que faz aqui?-queria cortar aquele clima. Antes dele fazer a pergunta,ela havia fechado os olhos para sentir o seu cheiro,e ao notar que ele fez uma pergunta à ela,ela os abriu,tentando disfarçar.

–er...eu tava dando uma volta e...-tentava se explicar,mas gaguejava.

–quer aprender a atirar?-ela se calou.Não esperou muito,segurou em seus ombros e a fez virar para frente do alvo.Pegou as suas duas mãos e juntou-as,as segurado,apontando a arma para frente.O coração da menina quase foi pela boca quando sentiu-se envolvida pelo corpo de Sasuke novamente,principalmente a hora que ele chegou perto de seu ouvido e disse:- olhe fixamente para onde você quer atirar.Agora feche o seu olho esquerdo,pressione mais suas mãos na arma e puxe o gatilho.-ele apertou suas mãos para que ela segurasse mais forte a arma.Criou coragem e puxou o gatilho. Com a força,se não tivesse suas mãos sendo segurada por ele,talvez levaria soco dela própria.- tem que segurar bem para não se machucar.-sussurrou.Sentiu seu corpo se arrepiar da cabeça aos pés.Ele a soltou e se afastou um pouco,ficando do seu lado.

–por que está me ajudando?-olhava fixamente para o alvo,com os braços esticados.

–é bom que saiba atirar,quem sabe mais pra frente não precise mais de mim.-sorriu de canto.Por dentro ela se entristeceu,não gostava da ideia dele partir e abandoná-la.Apertou seus lábios e deu outro tiro.Dessa vez foi mais esperta e colocou mais força para não ser atingida pelo próprio braço.