Atração Perigosa escrita por Lilas Oliveira2005


Capítulo 4
Capítulo 4




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O caminho foi turvo, não prestei muita atenção à conversa enquanto Cris dirigia, sentia um nó na ponta do estômago a cada quilometro que nos aproximávamos, que piorou quando ergui os olhos para a fachada da boate, minhas pernas estremeceram e por pouco não me desequilibrei dos saltos, o batimento cardíaco aumentava a cada segundo, minha boca ficou seca e senti que fiquei prestes a ter um novo desmaio. Comecei a temer novamente quanto a realizar ou não meu plano.

Xavier havia colocado na entrada o mesmo cartaz utilizado na minha primeira apresentação, isso me fez pensar em qual seria a real intenção dele. Será que os policiais pediram ou realmente ele sabia que aquela noite seria minha ultima aparição e o cartaz representava o fim de um ciclo? Estava em total estado de choque, imóvel agora de frente ao anúncio, li novamente cada palavra que dizia Sagaz, misteriosa e deslumbrante, são alguns adjetivos para a Dama da Noite, nesta noite um show especial os aguarda – NÃO PERCAM a estréia de Samantha”.

_Nossa Sam o que foi? – Cris não tinha notado o cartaz.

_Olha! Eu não entendo porque ele fez isso! Se o Xavier estiver aprontando alguma pra mim, ele me paga! – disse num tom em que somente ela poderia ouvir.

_Calma, talvez ele tenha seguido orientações você sabe de quem, pensando bem pode ser uma maneira para atraí-lo e outra você tem clientes assíduos que só aparecem quando você é a atração, vamos entrar e perguntar para o Xavier.

O comportamento calmo de Cris me deixou intrigada, mesmo assim a acompanhei, ela trazia consigo aquele embrulho. Novamente a vontade de desistir do show e do plano me veio a mente.

Enfim chegamos ao meu camarim, à minha espera estavam Xavier e os dois investigadores já disfarçados, mal entrei e já fui bombardeada com perguntas. Queria entender porque todos os policiais são afoitos, se achando donos soberanos da razão. Começava a me irritar com a prepotência daquele baixinho, caminhei até meu chaise de tecido aveludado púrpura e antes que me acomodasse gritei a procura de silencio.

_CHEGAAA! Eu não responderei nada até que vocês me expliquem o que é aquele cartaz lá fora. O que é, querem mais espectadores para a minha morte? Que eu me lembre era para ser algo discreto, me enganei? – virei o rosto encarando o baixinho, meus olhos faiscavam de raiva e também medo, que logo escondi dentro de mim mesma.

_Ei ei, não precisa ficar alterada dessa forma, nós resolvemos colocar o cartaz pois, com a casa cheia não seriamos notados, entende? Segundo o Xavier hoje é um dia de pouco movimento, portanto o assassino teria um campo de visão mais aberto e certamente desconfiaria de nossa presença. Fique tranqüila, está tudo sob controle. – falou ele com a testa molhada de suor.

Respondi no mesmo tom, desviando o olhar novamente para a roupa.

_Fala isso porque não será você lá em cima daquele palco.

Tentava controlar a raiva e aceitar que haviam tomado a melhor decisão, por um lado, estavam certos, pois ele não seria tão burro de me matar ali com dezenas de pessoas, mas ter mais pessoas para vigiar ou desconfiar durante a apresentação, faziam-me pensar pela terceira vez em desistir. Respirei fundo, decidindo ir adiante e colocar o plano em prática.

_Bom senhores, como eu disse essa tarde foi deixado um presentinho na minha casa, eu...

_E o que tem na caixa, boneca? – fui interrompida por várias vozes em questionamento.  

_O que tem ai de interessante?

Estranhei a denominação que recebi do Sr Sanches, e o tom malicioso do detetive baixinho, porém sabia que estava deixando aqueles homens desconcertados, era de se esperar que perdessem o controle, mesmo que minimamente diante do meu vestido curto com as pernas a mostra, o salto alto torneando minhas pernas e arrebitando meu bumbum, mas esperava que isso não os atrapalhasse em seu dever.

_Cris, por favor, vamos ver o que tem aí dentro, abra com cuidado. – os ignorei.

_Espera! Coloque aqui sobre esta mesa, deixe que o Sargento Roger a abra, pode ser perigoso. – Sanches disse com a voz firme.

O sargento desfez o laço com cuidado, eu achava desnecessário  pois se houvesse uma bomba ali, ela já teria explodido, porém deixei-os prosseguir. Esperamos ansiosos, o Sr Roger fez questão de ser o mais lento possível para abrir a tampa, ele a retirou, também o papel de seda branco que envolvia o conteúdo, naquela caixa havia uma roupa preta de couro e para nossa surpresa abaixo da roupa tinha outra embalagem de veludo. A curiosidade me fez passar por cima do braço do detetive, agarrei a caixa pequena de veludo e a abri, havia uma gargantilha de ouro branco cravejada com pedras preciosas, prendi o ar com a beleza da jóia, as pedras pareciam com pequenos rubis e diamantes. Junto a ela um novo bilhete que li em voz alta.

Nesta noite nos uniremos para sempre. Você é minha Samantha. Despeça-se de seu publico, pois será sua última apresentação”.

_Ele está decidido, armou tudo para me encurralar, não irá desistir até conseguir  realizar sua maldade! – respirei fundo encarando aquelas pessoas – Não sei o que fazer, o plano dele deve ser bem articulado, será que vocês conseguem pegá-lo? – estava apreensiva quanto a capacidade daqueles homens, eu não podia ficar a mercê deles, tinha que pensar em um plano B, estava decidida em acabar com o Derek a minha maneira.

_Claro que sim, faltam poucas horas. E então você vai prosseguir com o plano, irá dançar para nós?

_Não cheguei até aqui para desistir, vou até o fim.

_E qual a sua brilhante ideia? – Sr Sanches proferiu ironicamente, eles estavam duvidando da minha capacidade e eu odiava isso.

_Vocês me pediram para dançar, então é isso que eu farei. Façam a parte de vocês e  fiquem atentos aos espectadores e não com os olhos grudados em mim. – fui incisiva em, a voz firme demonstrava segurança, diferente do que pressentia em meu intimo, pois as palavras do Sr Sanches e os olhares maliciosos dos dois me deixaram com o pé atrás.

_Está certo, eu e Sargento Roger ficaremos no bar ao fundo do salão, se suspeitar de alguém nos faça um sinal jogando uma peça de roupa na direção do suspeito.

_Ok, agora, por favor, saiam, está quase na hora e preciso me arrumar. – não questionei, mas tinha absoluta certeza que não havia mais policiais na boate, algo me dizia que eles estavam a procura de outra coisa e não me pareciam preocupados com minha segurança, já que eu era uma forte candidata a vitima de homicídio.

                Entre tantos pensamentos conturbados, que mal prestei atenção enquanto me arrumava, quando meus olhos focaram o espelho me surpreendi com minha capacidade de, a cada maquiagem, me transformar em uma personagem diferente. Nesta noite eu usaria minha fantasia habitual a mesma da minha primeira apresentação, um biquíni dourado com detalhes no mesmo tom bordados com lantejoulas e miçangas, cobertos por um mini vestido preto, torneando cada contorno do meu corpo, completando o visual coloquei aquela linda joia e uma máscara. Eu poderia dar duas definições a ela: seria minha perdição ou a minha vitória, se saisse dali com vida. Me despedi do espelho e segui em direção ao palco.

O momento tão temido havia chegado e eu não podia mais me esconder atrás das cortinas, escolhi uma das músicas da Alicia Keys – Fallin, uma melodia envolvente que utilizava em meus ensaios para trazer inspiração, em todos eles me entregava por inteiro como se o ritmo fosse capaz de conduzir meu corpo sem o menor esforço.

_Sam, você está linda e então preparada, posso anunciar sua entrada?

_Pode, que Deus me proteja a partir de agora. – respondi.

Observei os olhos de Xavier sobre mim, percebendo que ele esteve distante em quase toda a discussão em meu camarim.

Respirei fundo enquanto assistia Cris se afastar em direção ao DJ para entregar a música, fui anunciada por ela, como na minha primeira apresentação. Os assovios aumentaram todos gritando pelo meu nome, ouvir aquilo me arrancou um sorriso perverso do rosto, as cortinas se abriram e a dama de preto estava lá inteira para ser devorada pelo olhar de desejo carnal daqueles homens.

Aproveitei a introdução lenta para fazer uma inspeção 360º pelo salão, casa cheia mais do que nos dias anteriores, muitos rostos diferentes, homens de várias idades, estilos, raças. Na primeira fila, como não podia deixar de ser, os mesmos tarados de sempre, eram clientes assíduos, não perdiam meu show por nada, sorri para eles e pude sentir a empolgação de cada um por esse simples gesto, a sedutora Samantha estava de volta era hora de começar.

A cada movimento, a excitação se espalhava pelo salão, todos estavam eufóricos.

_Não acredito que essa mulher existe, ela é gostosa demais. – ouvi um homem gritando no meio do salão.

Todos queriam me ver sem roupa, mas desta vez seria diferente, quando aproximei as mãos no feixe do bustiê, desisti por uma idéia maluca que tive na hora, seria tudo ou nada, após essa minha atitude a empolgação tomou conta do salão e como uma torcida organizada ouvia as súplicas.

_TIRA, TIRA, TIRA!

Parei no centro do palco já de posse do microfone, fiz um sinal negativo com o dedo indicador observando aqueles rostos com ar malicioso.

_Nã nã ni nã não. Hoje vocês terão muito mais e quem se comportar ganhará um prêmio.

Eles ficaram em estado de choque nos primeiros segundos, pareciam não acreditar, eu nunca havia falado com eles, a curiosidade tomou conta de todos e faziam vibrar o salão em êxtase.

_SAMANTHA, SAMANTHA, SAMANTHA!!!!!! – em todo meu tempo de dançarina, jamais tinha presenciado tamanha demonstração de testosterona. Gritavam meu nome completamente enlouquecidos.

Desci do palco lentamente olhando o rosto de cada um, pé ante pé deixando o salto fazer seu papel eficaz no manejo do meu quadril. Caminhei até o fundo, batendo em algumas mãos atrevidas que insistiam em me tocar, escolhi aleatoriamente alguns deles, fazendo um zig zag entre as mesas. Dancei em volta de quase todos sem me demorar muito com movimentos sob a mesa e cadeiras. A excitação tomou conta daquele lugar.

Quando me aproximei do bar, avistei Derek sentado me observando com o mesmo olhar de desejo que me é conhecido, senti toda a sensação de medo retomar e por pouco não corri para o camarim procurando proteção, meu coração saltava tão forte que o som suplantou a música nos primeiros segundos e a pressão em minha cabeça parecia imensa a ponto de sentir as veias pulsando. Sentia raiva e desespero, pois no fundo tinha esperança de não ter passado a noite com um assassino, mas se ele estava ali e era um forte indício dele ser o Sr DH. Meu estomago gelou quando o olhar dele encontrou o meu,  minha pele arrepiou, as pernas estremeceram, as mãos gelaram, percebi o quanto eu ainda o desejava naquele momento, não acreditei naquilo, como podia me sentir tão atraída a alguém que poderia estar tramando contra minha vida. Derek tinha o poder de me tirar o chão.

Respirei fundo me recordando que estava em apresentação, virei de costas tentando não demonstrar minha aflição e nem o impulso que senti de ir até ele, continuei a dançar, meus pensamentos estavam confusos, ao mesmo tempo em que o medo me assombrava meu corpo queria que ele me tomasse, me fizesse mulher novamente, pedia desesperadamente por ele.

Que atração é essa?” – pensei comigo mesma.

Senti alguém me segurar forte pelos braços, só conseguia pensar que havia chegado ao fim, de repente aquelas mãos começaram a alisar o meu corpo, perceber que era as mãos dele fez meu corpo arder em chamas, tentava não demonstrar, mas era em vão, ele sabia que me tinha nas mãos. Me virei para ver seu rosto e como eu imaginava era Derek novamente me deixando em completo transe. Deslizei minha mão em seu peito, contornando cada músculo por sobre a camiseta, dancei roçando meu corpo no dele sentindo de imediato a reação masculina entre minhas coxas. Aproximei meus lábios dos dele,  suas mãos fortes me seguraram com posse, mas ao invés de beijá-lo deslizei a boca até sua orelha e sussurrei

_Te espero no camarim.

Ele afastou as mãos cautelosamente e com um olhar malicioso confirmou sua presença.

Quando voltei para o palco notei o protesto da platéia, o delírio daqueles que imaginavam qual era o prêmio que o escolhido do bar ganharia, só então me dei conta que me entregara de bandeja para o meu assassino.  Iniciei o streep procurando os policiais para avisá-los sobre Derek através do sinal que combinamos, mas não os vi em lugar nenhum, nem Xavier, nem sequer a Cris. Retirei cada peça lentamente deixando-os ainda mais alvoroçados, as pernas estavam perdendo as forças, porém agüentei firme. Antes de concluir o show, me chamou a atenção uma pequena confusão no fundo do salão, logo controlada pelos seguranças, como costume fui coberta pelo roupão de veludo branco e retirada do palco sob os assovios dos que ficaram para trás.

_Ai Xavier, está me machucando, pode me soltar agora consigo andar sozinha.

Para minha surpresa quando olhei para trás não era Xavier quem me segurava e sim um homem alto, vestido de preto e encapuzado, o corredor estava vazio, o que não era comum.

_Quem é você? Cadê todo mundo? – minha voz saiu trêmula, meus passos vacilaram e ele me prendeu contra o corpo – Socorr...! – ele tapou minha boca com brutalidade.

_Cala a boca e nada vai te acontecer! – aquela voz grossa, firme e imponente não me era estranha, mas não consegui identificá-la, estava apavorada demais para raciocinar.

Fui levada para a adega que fica no subsolo da boate, ele colocou a mão em uma das garrafas e afundou, ouvi um clique e o barulho de uma porta se abrindo; acreditava que passagens secretas só existiam na ficção, mas fui surpreendida que havia uma bem ali, embaixo do meu local de trabalho. Ele me empurrou violentamente trancando a porta depois de passarmos. Meus olhos demoraram a se acostumar com a luminosidade e o cheiro era forte de mofo e umidade, estávamos em um corredor estreito onde passava apenas uma pessoa por vez.

_Se você colaborar não terá o mesmo fim de sua companheira. – a voz ressoou pelas paredes, tão forte quanto antes.

_O que você quer de mim? – sussurrei, lágrimas brotaram em meus olhos.

_Pare de chorar, odeio mulher melindrosa. Ande! – ele me empurrou mais uma vez.

Engoli o choro e continuei a caminhar, tropeçando em alguns obstáculos, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, ele armou direitinho e eu cai como um pato. Burra!!!!

Caminhamos até o fim do corredor, senti um odor forte de esgoto, meu estomago embrulhou e comecei a tossir me dobrando sem perceber sobre meu estomago.

_Cubra o nariz com isso Samantha, vai se sentir melhor.

_Nossa que gentleman. – ironizei, ao colocar o lenço no rosto um cheiro estranho me deixou zonza e então tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

O plano de Samantha deu errado e agora qual será o seu destino daí pra frente?
Queridos leitores, em breve capitulo 5 pintando por aí. :)
Grande bj
Eli