Valerie olhou para trás e viu olhos azuis, apenas isso, mais nada. Logo depois eles desapareceram, mas ela continuou olhando o nada, como se esperasse que eles aparecessem de novo, mas não aconteceu.

Pollyanna olhou para ela.

_Algum problema?_perguntou-lhe a loira.

_Não, nada. Vamos continuar.

Por um momento, achou que era Charlotte. Mas talvez estivesse apenas ficando paranóica.

Que isso, Valerie, Charlotte não sabia que você está aqui.

Era um segredo e ninguém sabia que ela e Polly estavam subindo a montanha.

Tyler estaria lá em cima com certeza e Rick também, ela e Polly estariam com os dois em alguns minutos.

Não parecia tão errado assim. Não era pior do que muita coisa que já tinha feito. Quer dizer, aquela vez que tinha roubado 300 dólares de Trisha McCarter tinha sido muito pior.

Não que ela ou Pollyanna precisassem roubar. Muito pelo contrário. Eram das famílias mais ricas da pequena cidade. Faziam isso só pelo prazer que lhes dava. As duas eram as mais novas das famílias. E tinham irmãos brilhantes que as deixavam para trás e, além disso, só seguiam as próprias regras.

A maior delas era: tudo o que acontece é de total sigilo, só podendo ser compartilhado entre as duas amigas.

Tudo tinha começado quando tinham 6 anos.

Era o primeiro dia de aula no jardim da infância. Nenhuma das duas queria ficar na escolinha e assim, sendo as únicas que ficaram sozinhas no recreio, fizeram amizade.

_Oi, meu nome é Pollyanna.

_Sou Valie._ a ruiva não sabia falar o nome na época.

Mas se conheciam a muito mais tempo, de todas as festas que as mães freqüentavam e levavam as pequenas, mas nunca tinham se falado.

A primeira travessura as uniu de vez.

_Ei, Polly, aonde você vai?

_Pegar aquela maça, a professora não vai nem perceber.

E assim, juntas, invadiram a sala na hora do recreio quando estavam no 2º ano e pegaram a maça da professora.

Desde então, as duas tem quase duas casas, vivem tanto na casa de Polly quando na de Valie. E fazem tudo juntas, desde trabalho da escola até pequenos crimes. Eram melhores amigas e cúmplices, uma sabia todos os segredos da outra e os guardava como se fossem os seus próprios, juntas, eram invencíveis.

Às vezes, Charlotte, a irmã mais velha de Valie, ficava sabendo de uma coisa ou outra e até as ajudava, mas nunca sobre os pequenos furtos.

O que encorajava a loira e a ruiva a continuar com toda essa rebeldia, era que nunca tinham sido pegas. Talvez, se tivessem sido, não fariam mais isso, mas eram muito boas.

Quando viu, elas tinham alcançado o topo da montanha e lá estava Tyler. Se tinha alguém com ele? Valie não saberia dizer. Só conseguia vê-lo.

Ele tinha o sorriso mais lindo do mundo. O cabelo loiro mais lindo do mundo. O rosto mais lindo do mundo. O nariz mais lindo do mundo. O queixo mais lindo do mundo. Os braços mais lindos do mundo. O tanquinho mais lindo do mundo. Tudo nele era o mais lindo do mundo.

_Oi, vermelhinha._ Disse ele sorrindo, fazendo piada com a cor do cabelo de Valie.

_O-o-o-o_ Gaguejou ela.

Polly deu um tapa forte em suas costas e, dando um pulo para frente, Valie soltou:

_Oi, Tyler. Você é tão lindo.

Polly e Rick (que ela percebeu que estava ali também) caíram na risada. Tyler só alargou ainda mais o sorriso. Valie ficou tão vermelha quanto o cabelo.

_Obrigado, vermelhinha. Eu te acho tão_disse ele enquanto estendia a mão para ela.

Sem se dar conta, Valie tinha pegado a mão que ele estendia.

No imediato momento que a mão dela ficou segura entre os dedos de Tyler, ele puxou-a com força e ela caiu em seus braços.

O loiro, imediatamente a beijou nos lábios.

Os outros dois aplaudiram e gritaram.

Sem tirá-la dos braços, mas dando um fim ao beijo, Tyler falou:

_ Tão gostosa, vermelhinha.

Valie sorriu para ele.

Olhando para o lado por um momento, Valie viu a amiga e Rick (um moreno não tão lindo quanto Tyler) se agarrando. Ela arrancava tufos do cabelo dele, mas ele nem ligava, afinal, estavam ali para isso.

Tyler e Rick tinham fama de pegadores por isso nunca assumiam um namoro. Mas se namorasse, podiam consideram Polly e Valie suas namoradas.

Tá bem que sempre ficavam com outras garotas e Valie tinha um ciúme louco delas. Mas ela sempre se vingava. Roubara Trisha por isso.

Fazia algum tempo que os quatro estavam lá, se beijando. Tinham assistido o por do sol e as estrelas já estavam aparecendo.

_Tyler?

_Que foi?_disse ele enquanto beijava seu pescoço.

_Tyler, eu preciso...

_Do que você precisa?

_Preciso ir embora

Tyler, rapidamente, se afastou de Valie, como se ela tivesse uma doença contagiosa e mortal.

_Por quê?

_Porque eu disse que estaria na casa da Polly, minha mãe concordou, com uma condição, que eu voltasse antes do jantar. E já está tarde, então

Ele sorriu docemente para ela e lhe beijou.

_Tudo bem, então, amanhã, no mesmo lugar e horário?

_Amanhã? Amanhã no dá, Ty. _ Ela viu o sorriso dele se desfazer._ Pode ser na sexta?

E Tyler sorriu de novo.

_Claro que sim, ruiva._ disse, dando-lhe mais um beijo.

Valerie se levantou e viu Polly e Rick aos amassos. Os dois pareciam estar colados pela boca.

Valie riu.

_Polly! Ei, Polly, vamos! Vem logo! VAMOS!

A loira se afastou de Rick e sorriu para Valie.

_Que isso, amiga, estou curtindo aqui, você devia estar fazendo a mesma coisa

E dizendo isso, voltou a beijar Rick.

_Pollyanna Taylor! Temos que ir embora.

Valie, um pouco irritada, pegou o braço da amiga, a levantou e a arrastou para longe.

_Ei! Me solta! Valerie!

_Tchau, meninos_ despediu-se Valie, docemente e deu um único selinho em Tyler.

Polly beijou a mão, soprou o beijou para Rick e silenciosamente, pediu que ligasse para ela. Rick ainda não tinha se recuperado do susto de ter a amada arrancada de seus braços, e as olhava, como um demente.

As duas desceram a colina devagar, caminhando lado a lado.

_Que horas não?_perguntou Polly, entediada.

_São_ Valie olhou para o relógio de pulso._ Ai, meu Deus, são dez para as oito!

_O que?_disse a loira, visivelmente preocupada.

_Ai, meu Deus_ repetiu ela._ Temos que correr!

E as duas começaram a corre em direção ao carro da ruiva.

A Ferrari Califórnia vermelha estava esperando as duas, encostado na estrada. Flowers Street era uma cidade tão pacata e tranquila, que Valerie não tinha medo que a roubassem.

Dirigiu em alta velocidade para a linda mansão moderna afastada da cidade.

_Não quer entrar?

_Eu? Eu não. Minha mãe vai me matar, disse que chegava antes do jantar e o jantar já foi a um tempão! Meu Deus

_Tá bom, então. A gente se vê na escola.

_Até!

E novamente, Valerie saiu em alta velocidade pela estrada.

Assim que chegou em casa, entrou devagar, tentando não fazer barulho, para não chamar atenção dos pais.

Mas, por algum motivo estranho, a porta bateu com mais força que o habitual.

_Onde você esteve? Estava tão preocupada!_ e sua mãe a abraçou.

_Eu? Bom, eu estava na casa da Polly.

_Mentira. Liguei para a casa dela e você não estava lá. Estava a ponto de ligar para a policia ir atrás e você

_ disse ela, se afastando de Valie.

O pai logo apareceu também e abraçou a Sra. Smith, que parecia a ponto de chorar.

_Onde você estava, mocinha?

Valerie fechou os olhos com força.

_Eu já disse. Estava na casa da Polly. Tínhamos nos trancado no quarto dela e talvez por isso a Sra. Taylor não tenha nos visto._ insistiu Valie.

E dizendo isso, saiu correndo para o próprio quarto. O quarto era o último do corredor, a direita, era espaçoso e no centro encontrava a cama de casal da garota. O closet era separado por um painel de madeira e um espelho em seu centro. Valerie podia ser tudo, mas se tinha uma coisa que não era, era bagunçada, sendo até um pouco perfeccionista, a ponto de irritar Polly, que era a bagunça em pessoa. Os lençóis violeta e branco estavam devidamente arrumados e um ursinho marrom se encontrava descansando sobre as almofadas da cama. No canto oposto, estava uma escrivaninha com um computador azul claro ligado.

Valie se jogou na cama com um grande suspiro. Tinha sido por pouco.

A transição do real para o sonho, foi tão gentil, que Valie nem percebeu que estava dormindo, até que começou a sonhar.