Capítulo 20 Daniel Gonzales

Estava quase na hora e eu estava terminando de me arrumar com as roupas que Luanne havia me dado. Eu achei estranho, afinal, Noah usaria um smoking e iria. Eu, não. No momento em que Luanne entrou no quarto para ver se eu já estava pronto, eu ainda olhava para a blusa com uma certa estranheza. Ela era branca e tinha um tipo de babado na frente e o botão acabava muito antes de cobrir totalmente o meu peito.

A calça era preta e reta e o sapato social. Eu penteei o cabelo para trás, deixando os meus olhos cinzas a mostra e peguei a máscara preta. Segurei um xingamento quando a manga bufante saiu do lugar e a puxei de volta. Não podia reclamar demais, afinal essa era a roupa que usavam na época de Ray. Pus a máscara e me olhei no espelho, quase não me reconhecendo.

Você está perfeito, Luanne disse.

Eu me virei, a vendo ao lado de Noah, que tinha uma expressão não muito feliz por trás da máscara. Me lembrei vagamente de Ray comentando que Noah não gostava de festas, tanto quanto ela. Eu não era contra, nem a favor. Mas, por Ray, eu faria qualquer coisa. Isso me fez lembrar de uma coisa.

Eu não tenho um presente, lamentei tanteando os bolsos inexistentes.

Pode deixar que isso nós resolvemos em um segundos, Luanne disse e sorriu. O que você tem um mente?

Eu sorri.

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Eu já estava dentro da festa e me surpreendi ao ver a quantidade de vampiros presentes. Não deveria depois do que Luanne me contou. Ray era importante, era um desrespeito não vir a festa de aniversário dela. Percebi que a maioria estava na festa da filha de Dorian e a outra parte esteve presente no julgamento. Alguns me olharam com curiosidade, por ter me visto como humano.

Atravessei o salão escoltado por Luanne e Noah. Luanne sempre elegante, sorria para todos, até para quem não conhecia. Noah mantinha o seu rosto vazio, como sempre. Eu tinha os olhos e ouvidos atentos para qualquer sinal de Ray. Mas, o salão estava tão cheio, que era fácil eu perdê-la de vista. Ao longe, escutei uma música se iniciando, mas nem deu atenção.

Luanne também escutou e sorriu para Noah. Ele balançou a cabeça, quase desesperado. Eu prendi o riso. Luanne e Noah eram muito diferentes. Ela estava sedenta por uma dança, enquanto ele preferia ficar em casa, apenas ... fazendo as coisas que Noah normalmente fazia. Avistei Filipe e Kayla em um canto. Filipe, incrivelmente alto estava inclinado para frente e dizia muitas coisas rapidamente. Kayla apenas revirava os olhos.

Eu poderia chutar o motivo da discussão. Kayla estava com um vestido tão curto e apertado que eu duvidava que tivesse pertencido a época de Ray. Ou talvez fosse da época, mas não das mulheres da sociedade. Filipe gesticulava para o vestido com raiva e Kayla apenas o ignorava. Quando ela ameaçou ir embora, Filipe puxou-a pelo braço e a beijou. Meus olhos se arregalaram por um momento.

Meu Deus, eu deixei escapar.

O que houve?, Luanne perguntou. Ela seguiu o meu olhar e deu um pequeno sorriso. Ah, isso. Já era para ter acontecido a muito tempo.

Eles dois estavam se encontrando as escondidas?, Noah perguntou olhando sério para a cena na nossa frente.

Não, Luanne disse com frieza e lançou um olhar de aviso a Noah. Ele recuou alguns passos. Eles nunca realmente tiveram algo, mas trabalham a muito tempo juntos. Isso estava premeditado a acontecer. Além disso, Kayla gostava de atiçar Filipe.

Ficamos mais alguns segundos vendo a cena, até que recomeçamos a andar. Minha mente estava tão longe, que nem me dei ao trabalho de pensar nas palavras de Noah e o olhar que Luanne deu a ele. Vi uma pequena reunião de conhecidos e suspirei aliviado ao ver Dorian, Patricie com a pequena Laura no colo, Dália e Pietro. Eles também nos viram e sorriram.

Está bonito, Daniel, Dália disse movendo seus olhos completamente brancos por meu corpo. Parece um típico cavalheiro.

Hum, obrigado, eu disse, sabendo que, se ainda fosse humano, estaria corando. Olhei para a pequena Laura, me surpreendendo como ela tinha crescido rápido. Ela se inclinou na minha direção e pegou o meu dedo, levando-o a boca. Mas Patricia a interrompeu.

Não, meu amor., ela tirou o meu dedo das pequenas mãos de Laura. A pequena ficou frustrada. Patricie olhou para mim com um sorriso. Me desculpe, mas ela parece ter um apego sobrenatural com você e Dinnie Ray. Nem parece que eu e Dorian somos os pais dela.

Oh, querida, isso me lembrou., Dorian disse, pondo um braço em volta do ombro da esposa. Ela levantou os olhos castanhos para o marido e sorriu, sabendo o que ele falaria. Eu fiquei confuso. Daniel Gonzales, eu e Patricie queríamos convidar a você e a Dinnie Ray para serem o padrinho e a madrinha de Laura

O que?, eu disse arregalando os meus olhos. Então olhei para a pequena Laura que se mexia e remexia no colo de Patricie tentando me acalçar. Mas, Dorian existem tantos vampiros que dariam suas presas para serem padrinho dessa pequena vampirinha.

Mas, nenhuma que Laura seja tão apegada e confie tanto quando vocês dois., Patricie disse olhando do marido para mim. Ela sorria. Então, aceita?

Olhei para a pequena Laura. Ela tinha um sorriso nos seus lábios. A pele escura do pai, os cabelos escuro da mãe, lisos caindo um pouco em seu pequeno rosto redondo. Os olhos, também do pai, eram de dourado tão brilhante que parecia ouro. Ela tinha os braços gordinhos na minha direção. Assim como ela era encantada por mim, eu era hipnotizado por ela.

Claro que eu aceito, eu disse, acariciando o rosto de minha afilhada. Olhei para os outros vampiros. Vocês viram Dinnie Ray?

Obviamente, a vimos., Pietro disse. Ele tinha um braço em volta do ombro de sua mulher, Mirella. Ela foi dançar com Doug. Não podia te esperar para sempre e...

Antes que ele terminasse a frase, eu já estava indo para a pista de dança. Meus ossos queimavam de ciúmes e meus olhos estavam cada vez mais atentos. Então, aquela música que estava tocando era de Doug e Ray? Uma grande multidão estava na beira do centro do salão. Nem mesmo eu ficando na ponta do pé, conseguia enxergar Ray.

A música mudou e eu resolvi dar a volta pelo salão. Tantas pessoas mascaradas. Minha sorte era que Luanne tinha me mostrado o vestido de Ray, e a mexa dela, que se destacava em qualquer lugar. Se bem que, do jeito que meu sentimento por ela era forte, não precisaria de nenhuma indicação de sua localização. Eu sentia que estava perto dela.

Dar a volta no salão extremamente cheio foi um pouco complicado. Mas, eu vi por algumas frestas o vestido violeta de Ray se movimentando pelo salão. Quando eu estava quase chegando ao ponto que eu queria, vi Dinnie se mexendo para longe do centro do salão. Fiquei alerto e fui atrás dela. Ficava na ponta do pé e via deslumbres de sua aparência. Até a hora em que a perdi de vista.

Droga, eu rosnei.

Comecei a olhar em volta, procurando. Andando sempre em frente e olhando para os lados. Senti alguém esbarrando em mim e estava pronto para rosnar, quando eu vi o vestido violeta e a máscara escondendo parcialmente sua mexa vermelha em meio aos cachos. Ela tentou passar por mim, mas eu a segurei pelos antebraços.

A vi ficando tensa e levantando a cabeça lentamente. Quando os seus olhos violetas pousaram nos meus, ela relaxou e suspirou. Eu sorri. Minha vontade era de beijá-la, ali mesmo, mas me segurei. Ela era tão linda e estava viva. Meu coração, antes pesado e ansioso, se aliviou. A pele pálida dela brilhava e ficava em contraste com seu vestido e os cabelos escuros.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me puxou para a pista de dança. Fiquei um pouco incomodado, afinal não tinha aprendido a dançar ainda. Ray tinha um sorriso aliviado no rosto, mas tinha apreensão em seus olhos. Ela pôs um braço meu em sua cintura e pegou minha mão, colocando a sua outra mão em meu ombro, e começou a se mover. Pensei que seria difícil, mas a dança era fácil.

Feliz aniversário, eu disse.

Estou feliz por você estar aqui, ela disse quase em um sussurro. E vivo, ela suspirou, desviando o olhar por alguns segundos, então voltou a me olhar. Você não sabe como eu fiquei quando vi Francesca enfiando aquela estaca em você, Daniel.

E você não sabe como eu fiquei quando a vi quase te matando, eu disse, em seguida a fiz dar uma volta. Ela voltou a me olhar e desviar os olhos. O que aconteceu? Você está preocupada com alguma coisa., ela suspirou e abriu a boca para dizer algo, sempre desviando o seu olhar do meu. Exatamente como na época em que ela estava escondendo que meu pai estava vivo. Então, eu entendi. Marco.

Ela olhou para os lados, apreensiva, enquanto eu ficava tenso. Era Marco quem estava dançando com Ray antes de eu chegar? Mas, como ele tinha conseguido entrar nessa festa? Olhei para os lados também. Ray tirou as mãos de mim e deu um passo para trás. Voltei a encará-la, confuso.

Vamos sair daqui. Não quero chamar atenção.

Eu assenti, concordando com as palavras dela.

Dinnie Ray me puxou em direção as escadas. Nós passamos pelos convidados sem prestar atenção, em estado de alerta. Pelo canto do olho, pude ver Noah em sinal de alerta, se movendo na nossa direção, mas foi impedido por Luanne. Eu assenti na direção de Luanne, e ela fez um sinal em resposta, séria.

Chegamos até um quarto no segundo andar. Enquanto Ray andava de um lado para o outro, preocupada, eu estudava o quarto. Era muito grande. Quase que do tamanho do apartamento inteiro da Luanne. As paredes eram de um marrom e tinha alguns símbolos antigos. Uma penteadeira no canto, perto da grande janela. Um enorme espelho. E a cama era maior ainda. Com cortinas em volta da cama, tão escarlates quanto os olhos de Ray.

A vi parando em frente a janela e se inclinando para fora. O vento bateu em seu rosto e fez seus cabelos voarem para trás. Ela segurou a máscara com raiva e a puxou para fora. Eu andei até onde Ray estava e parei a sua frente. Ela me olhou de cima a baixo e suspirou. Sabendo, o que tinha que fazer, a abracei. Senti o cheiro de sua pele, fez a minha formigar. Fechei os olhos, aproveitando o momento.

Daniel, ela suspirou em meu pescoço. Eu me afastei. Ela sorriu e tirou a minha máscara. Sem máscaras dessa vez. Sem mentiras.

Tudo bem, eu disse devagar. O que aconteceu?

Marco estava aqui

Eu não me surpreendi, mas isso não me fez ficar menos tenso e alerta. Passei a mão por meus cabelos escuros, os deixando despenteados. Ray apenas me encarou, parecendo esperar que eu tomasse alguma decisão. Eu não sabia o que dizer, afinal eu não sabia o que Marco estava aprontando. Primeiro, tenta me matar. Depois, nos salva. Eu balancei a cabeça.

Temos que avisar aos guardas, Ray., eu disse solene. Ele ainda pode estar por aqui.

Não, ela quase berrou.

Eu a encarei, surpreso. Depois de tudo o que ele tinha feito conosco ela ainda tinha coragem de defendê-lo. Acho que minhas palavras ficaram bem destacadas em meus olhos, por que ela andou até mim, lentamente e pôs a mão no meu peito exposto. Eu encarei aqueles olhos violetas sem expressão. Antes que eu pudesse dizer algo, ela se inclinou e me beijou.